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O GUARDIÃO

19 / novembro / 2025

por Marcos Vinicius Cabral

Uma das máximas do futebol diz que “um grande time começa por um grande goleiro”. O clichê é tão batido quanto verdadeiro para falar de José Carlos da Costa Araújo, o Zé Carlos, camisa 1 do Flamengo entre 1986 e 1991, período em que viveu o auge na carreira.

Zé, do alto dos seus 1,92m, virou quase intransponível não só pelas defesas espetaculares como também pela ‘fome’ de vitórias que alimentava os companheiros de time. Os adversários que o digam!

Nesse contexto, a superstição já existia no futebol. Jogadores se benziam, levantavam as mãos para o céu para agradecer, oravam em silêncio e alguns pisavam sempre no gramado com o pé direito antes de entrar no Tablado Verde.

Zé Carlos era diferente. Gostava de usar a mesma camisa que se tornou uma armadura sagrada de um guerreiro em campo. Sim, falo daquela cinza com listas verticais que contrastava com um outro cinza mais escuro e o CRF vermelho com as três estrelas estampadas no peito. As mangas da blusa, o short e os meiões eram pretos.

Poucos valorizam, mas não sabem quem foi Zé Carlos. Basta perguntar ao funcionário do Patrimônio Histórico do Flamengo que vive de registros e números. Ele dirá, com a frieza de um legista: “Zé Carlos foi o goleiro titular de Flamengo de 1987. Teve a felicidade de jogar em um dos melhores times da história”.

Alguns dirão que “foi sorte”. Pai, perdoai-lhes, não sabem o que dizem! São criaturas de alma pequena!

Aquele Flamengo de 87 não jogava futebol e sim operava milagres ofensivos. Renato, Bebeto, Zinho… todos flutuavam em direção ao gol adversário. Já Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo — o quarteto mágico da defesa — eram o equilíbrio de um time que unia a fome com a vontade de comer. Meio caminho andado para quem quer chegar em algum lugar.

Desde que me entendo por gente, sempre ouvi que “atitude no futebol é o combustível que incendeia o jogo”. E quem sobrava para apagar o incêndio? Quem ficava lá, solitário, ajeitando as luvas ou tirando a grama agarrada nas travas das chuteiras sob as traves do Maracanã, do Mineirão, do Beira-Rio?

Zé Carlos!

Ele não era apenas um goleiro. Ele era uma muralha intransponível, o goleiro que todos queriam ser na pelada de rua. Era a nossa fantasia na época de moleque.

Para que Andrade, Aílton e Zico pudessem criar as jogadas na frente, Zé Carlos precisava ser um gigante atrás. E ele foi!

Dos goleiros europeus, Zé Carlos herdou, sabe-se lá como, a frieza deles. Mas Zé Grandão era povão, o goleiro que despertava debates entre o advogado e o camelô rubro-negros nas segundas-feiras.

Era um garoto de 14 anos e até hoje guardo na memória os dois jogos da final de 87, contra o Internacional de Ênio Andrade. Antes, duas batalhas épicas contra o temido Atlético Mineiro de Telê Santana, vencidas e tendo Renato, o nosso Salvador!

Mas Zé Carlos foi um muro de carne e osso naquela Copa União de 1987. Competição essa conquistada em campo e não no envio de um fax da CBF para o Clube dos 13 ou vice-versa.

Uma Copa União, aliás, vencida por jogadores que suaram sangue e foram o melhor time de um campeonato confuso.

Zé Carlos nos deixou em 2009. Não deu tempo de ver Andrade, seu companheiro de 87 e técnico do Flamengo no Campeonato Brasileiro daquele ano, dedicar a ele, muito emocionado, a vitória contra o Santos, dentro da Vila Belmiro.

A impressão que Zé Carlos deixou é de quem defendeu o gol com a naturalidade de quem fechou as janelas, trancou a porta e apagou a luz de casa antes de dormir. Enquanto houver um rubro-negro lembrando de 87, o nosso camisa 1 estará lá.

Imortal!

Intocável!

Inesquecível!

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