por Marcos Vinicius Cabral
Edição: Ari Lopes

Vibrei como se fosse tricolor, quando Edinho deu uma ‘agulhada’ na bola e despachou o ataque da Polônia, aos 32 minutos do segundo tempo. Àquela altura, jamais imaginaria que a sequência daquela jogada terminaria em um belo gol do próprio camisa 4, zagueiro titular e capitão da Seleção Brasileira na Copa do Mundo do México, em 1986.
Sabia que àquela Seleção havia herdado traços de mágica de quatro anos atrás, pois era comandada pelo mesmo mago do ‘Escrete Canarinho’ injustiçado pelos ‘Deuses da Bola’ na ‘Tragédia de Sarriá’, em Barcelona: Telê Santana!
Mas, ao ver Careca tocar de calcanhar após receber aquela ‘agulhada’ de 40 metros dada pelo zagueiro recém contratado pela Udinese-ITA, e esperar o momento certo para dar o passe de costas na passagem de Edinho, pulei como um apaixonado torcedor em plena arquibancada do Maracanã num domingo de clássico.
Edino Nazareth Filho, como nos seus tempos de pelada nas ruas de barro, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, quando ainda atuava como centroavante, dominou de direita, deu um corte seco de esquerda para tirar de uma só vez o beque e o goleiro polonês, e com uma batida firme de direita transformou um gol numa pintura que poderia ser eternizada numa tela de Da Vinci, de Michelangelo, ou do espanhol Pablo Picasso. Mais emblemático que o gol é a expressão de Edinho: ele sai pulando, gritando, e de braços abertos à procura de um abraço da arquibancada ou de alguém perdido na sua infância.

O gol, que até hoje é lembrado pelos amantes do futebol, teve início, meio e fim pelos pés de um craque tricolor que pagou um preço muito alto por fazer parte de uma geração de jogadores que arrastavam multidões aos estádios em uma época que o futebol, diferente do que é praticado hoje, era mais talento e menos físico.
O resultado daquele confronto ocorrido numa tarde de segunda feira ensolarada de 16 de junho, no Estádio Jalisco, pelas oitavas de final da Copa do México, foi um passeio. Edinho não apenas fez o gol, mas foi um dos melhores da equipe ‘Canarinho’ e colocou o craque Zbigniew Boniek no bolso.
Sob o comando de Telê Santana, o Brasil mais uma vez não ganhou a Copa do Mundo daquele ano. Caiu nas quartas de final para a França de Michel Platini. Mas, Edinho, preterido nos gramados espanhóis em 1982, mostrou a injustiça que o treinador mineiro cometera ao relegá-lo à reserva de Luizinho.
O hoje senhor Edino Nazareth Filho, que celebrou 70 anos em 2025, tem muitas histórias para contar sobre as poucas e boas que aprontou com as chuteiras nos pés nos gramados da vida. Cria das peladas dos campos de barro da Zona Oeste do Rio, transitou entre Campo Grande e a Praça Seca, em Jacarepaguá, até colocar seus pés nas areias do futebol de praia da Zona Sul, onde ainda adolescente foi aprovado com louvor entre o Leme e o Pontal, marcando ponto e muitos gols, principalmente entre os postos 1 e 3 de Copacabana.
Entre uma onda e outra nas areias de Copacabana, acabou sendo seduzido pelas quadras de futebol de salão do Fluminense, nas Laranjeiras, para onde foi convidado a fazer um teste, em 1968. Logo depois, já trocava a areia e o cimento das quadras pelo gramado de Álvaro Chaves. Fez história atuando nas categorias de base do Tricolor até estrear nos profissionais em 1973. Integrou um dos maiores e melhores elencos do Fluminense, a Máquina Tricolor de Rivellino e companhia.
Anos depois, foi convocado por Claudio Coutinho para jogar a Copa do Mundo de 1978, na Argentina. Mas, para surpresa dos torcedores e analistas esportivos, Coutinho o convocou como lateral-esquerdo, desbancando nomes como Junior, Vladimir, Pedrinho e Marinho Chagas, todos titulares em seus clubes, no Brasil.

Outro feito de Edinho, além de ser o ultimogênito da ‘Máquina Tricolor’, time que teve a vocação para a eternidade, foi ter sido o primeiro jogador a erguer o troféu da Copa do Brasil, pelo Grêmio, em 1989. As atuações com a camisa do tricolor gaúcho o credenciaram a pôr os pés na Calçada da Fama do Grêmio.
Mas o que nem um rubro-negro, assim como eu, esquece, é que Edinho alugou o passe para o Flamengo no começo de 1987 e, ao lado de Leandro, formou a zaga campeã da Copa União.
Edinho está na minha seleção de todos os tempos. Foi, sem sombra de dúvidas, um baita zagueiro que foi privilegiado pela capacidade técnica que tinha dentro de campo.
Uma pena que um jogador como Edinho, não tenha tido a chance de ser campeão pela Seleção Brasileira em algum momento. Apaixonante, o futebol é ao mesmo tempo injusto para alguns craques. Edinho foi um desses injustiçados.
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