Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Vozes da Bola

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA BIRO-BIRO


Filho de um portuário e de uma dona de casa, Antônio José da Silva Filho nasceu naquele reduto holandês da cidade de Santo Amaro, Pernambuco, em 18 de maio de 1959. De origem humilde, desde cedo começou a enfrentar as adversidades que a vida colocava em seu caminho e vencê-las no peito e na raça.

Foi na raça que enfrentou a traumática separação dos pais. Teve que aprender a subir em árvores para apanhar mangas e cocos para sua mãe fazer bolos. O sustento da família vinha da venda desse alimento à base do carinho com que ele era feito por mãos encarquilhadas pelo tempo. Em dado momento, parou de subir nas árvores, não por ter melhorado de vida, mas porque sua mãe encontrou, em São Paulo, uma oportunidade para trabalhar e deixou ele, seus dois irmãos e uma irmã com a avó.

Tempos depois, aos 11 anos, morando em uma casa de palafita com o pai, a forma de sobrevivência foi a pesca de caranguejo. Muitas vezes ficava com a ponta dos dedos esfolados de tanto receber pinçadas deste crustáceo decápode. Ainda era o pequeno Antônio, até o dia em que seu pai subiu numa árvore para pegar o doce de uma fruta chamada Biri Biri. Ficou conhecido entre os amigos da região como Biri Biri.

Antônio, que parecia muito com o pai, logo herdou sua alcunha e passou a ser chamado de ‘Biri Biri Filho’, e depois com o tempo, passaram a chamá-lo de Biro Biro sem motivo aparente. Antônio agora tinha a raça como qualidade, e o Biro Biro como nome. Começou nas peladas e era sempre considerado o craque da turma. O desempenho logo o impulsionou a tentar jogar futebol em um time grande.

Na ‘peneira’ do Sport Recife foi aprovado. Passou a fazer parte do time, e numa partida amistosa contra a Seleção Brasileira de novos, seu desempenho surpreendeu até os ateus da bola. Foi então que a visão aguçada foi colocada à prova pelo presidente do Sport Club Corinthians Paulista, Vicente Matheus, que quis contratá-lo, e mesmo com a alta pedida, não diminuiu o interesse em ter o garoto em seu time.

O Corinthians havia quebrado o jejum de 22 anos sem grandes conquistas com o título de 1977, e Vicente Matheus fazia constantes promessas à torcida de montar um grande time para buscar o bicampeonato.

Em 10 de agosto de 1978, o lendário ex-presidente mosqueteiro apresentou a segunda contratação do time que já havia trazido o desconhecido Sócrates, do Botafogo de Ribeirão Preto. E na entrevista coletiva à imprensa, Vicente Matheus soltou: “Eu falei que ia montar um time para brigar pelo título. Já trouxe o Sócrates e agora está chegando um garoto novo, que jogava em Recife. O nome dele é ‘Lero Lero’. Silêncio fúnebre. Cochichos de uns, burburinhos de outros. A verdade é que o futebol de Biro Biro não era ‘lero lero’, e três meses depois, o camisa 5 ganhou espaço no time.

Aplicado, Biro Biro tinha o costume de fazer mais exercícios do que o preparador físico exigia e gostava de ficar no campo depois dos treinos. Passou a voar em campo como se as chuteiras tivessem asas de gaviões.

Do primeiro título conquistado com a camisa do Timão, ao derrotar a Ponte Preta por 2 a 0 na final do Campeonato Paulista de 1979, ao último em 1988, quando era capitão: “Erguer a taça de campeão pelo Corinthians é uma emoção que não tem palavras para defini-la. Nunca senti algo igual”, disse emocionado, ciente de que havia conquistado o coração da Fiel torcida.

Quinto jogador que mais vestiu a camisa do Corinthians – foram 589 partidas, com 265 vitórias, 199 empates e 125 derrotas. Em 11 anos de clube, Biro Biro disputou 11 títulos, chegou a sete finais e ganhou quatro: 1979, 1982, 1983 e 1988.

Notabilizou-se por ser, o pulmão do time e conquistou o coração dos torcedores, em especial, Luciana, sobrinha de Vicente Matheus, com quem mantém um amor eterno como o amor que ele tem pelo Corinthians.

O Vozes da Bola traz aos saudosistas torcedores uma entrevista com quem deixou sua alma em campo vestindo a camisa do time de maior torcida em São Paulo. É a vez daquele que faz aniversário nesta terça-feira (18) e marcou o coração dos corintianos com seu empenho, luta, raça e gols decisivos.

*Por Marcos Vinicius Cabral*

*Edição: Fabio Lacerda*


Como foi a infância do menino Antônio José da Silva Filho em Olinda, Pernambuco?

A minha infância foi em Recife e depois em Olinda, onde passei jogando aquelas peladas nos campeonatos que todo moleque disputa. Certa vez, um olheiro me viu jogando e acabou me levando para fazer teste no Sport. Mas a minha infância foi boa dentro dos padrões da nossa família, e apesar de não ser mil maravilhas, foi boa. Graças a Deus surgiu a oportunidade. Como eu falei de fazer o teste, fiz, fui aprovado, e a partir dali, a situação deslanchou.

Como se deu o início de sua carreira no Sport?

Foi tudo muito rápido! Após ser aprovado no teste que fiz no Sport, em seguida assinei o famoso contrato de gaveta, que nem existe mais, e acabei sendo integrado ao juvenil do clube. Daí, passei pela categoria júniores até chegar no profissional.

Descreva como aconteceu o interesse do Corinthians por você quando jogava no Sport? Lembra como recebeu a notícia do interesse do time do Parque São Jorge por você quando tinha 19 anos?

Se não me engano, eu estava treinando quando fiquei sabendo que o presidente Jarbas Guimarães queria falar comigo sobre o interesse de um clube de São Paulo na minha contratação e que era para eu arrumar minhas coisas e viajar no dia seguinte. Em princípio, relutei muito, pois o meu objetivo era ficar no Leão, mas o presidente foi na minha casa e tratou com meu pai essa viagem. No dia seguinte, viajei com o presidente e um advogado do Sport sem saber qual era o time que me contrataria. Ficamos hospedados em um hotel e fiquei preso quatro dias no quarto sabendo que seria contratado por um time de São Paulo, mas não sabia qual. Depois me contaram que vários clubes estavam interessados na minha contratação e fiquei pensando quem seria. Até que o presidente do Corinthians, Vicente Matheus, chegou lá e se reuniu com o presidente do Sport, Jarbas Guimarães, e ficou acertada minha contratação. Imediatamente, comunicaram a imprensa através de uma coletiva anunciando minha chegada ao Parque São Jorge.

Em 1978, ao ser contratado pelo Corinthians, o presidente Vicente Matheus deu uma declaração engraçada à imprensa ao dizer que teria contratado um tal de ‘Lero Lero’. Como foi essa situação, Biro Biro?

Foi engraçado essa história do presidente quando ele reuniu a imprensa e falou: “Contratei o novo reforço para o Corinthians, que é o Lero Lero! O pessoal, sem entender nada, achou estranho. Um repórter não se conteve e perguntou: “Ué, ‘seu’ Vicente Matheus, não é Biro Biro, o nome do jogador”? Ele olhou para o repórter e disse: “Olha, na verdade, Biro Biro e Lero Lero, são as mesmas coisas. Assim esta história ficou famosa e hilária (risos).

O Corinthians ficou 22 anos sem títulos. Em 1977, o jejum foi quebrado com o gol do Basílio. E dois anos depois, você conquistou o Paulistão pela primeira vez em menos de dois anos no Corinthians. Sua adaptação foi menos difícil pelo fato do clube viver dias aliviados pela quebra do tabu de mais de duas décadas sem título regional?

Isso ajudou e muito. O Corinthians estava no sufoco e muitos anos sem ganhar. De repente, o título veio em 1977. É lógico que as coisas melhoram. O torcedor passa a ficar mais confiante, os companheiros acreditam mais e o ambiente se torna mais leve, pois assim é o futebol. Eu lembro que cheguei no final de 1978 e, em seguida, conseguimos o título de 1979. Eu acho que dali para frente o Corinthians começou a disputar os títulos. Muito se deve a importância da conquista do título do Campeonato Paulista de 1979.

Dos quatro títulos do Campeonato Paulista conquistados por você, dois foram contra times de Campinas e dois sobre o São Paulo quando o Corinthians foi bicampeão em 1982 e 1983. Qual teve um gosto mais especial embora todos tenham sido importantes para você?

Todos os títulos são importantes sem exceção. Mas o título que mais me marcou foi aquele em 79. Fiz um gol de canela contra o Palmeira na semifinal.

Antes de você chegar ao Parque São Jorge, o último bicampeonato paulista do Corinthians foi em 1951/1952. É motivo de orgulho para você ter quebrado este jejum de bicampeonato com dois títulos consecutivos contra o São Paulo sendo que você marcou dois gols na decisão de 1982, algo raríssimo para um volante?

Rapaz, nem fale. Sem dúvida. É raro um volante fazer dois gols numa final e quando isso acontece sempre marca, né? Mas foi uma das maiores alegrias no Timão ter sido campeão. Além disso, marcando os gols. Inesquecível para mim.

Seu conterrâneo Givanildo foi campeão em 1977. Existe alguma relação com sua chegada em 1978 ao Corinthians?


Não! Nenhuma. Quando cheguei no Corinthians, o Givanildo havia saído e tinha também o Luciano, que era do Santa Cruz. Mas na verdade, nem jogar com eles eu cheguei a jogar.

Além de ter conquistado títulos estaduais pelo Corinthians, você participou com maestria do famoso time chamado ‘Democracia Corintiana’ que era um posicionamento político que clamava por voto direto. Como foi esta relação que mostrava um Corinthians em ascensão e a participação na política do país?

Foi um movimento importante, não só para o Corinthians, que aderiu o ato que acabou se tornando histórico, mas para o Brasil. Nós, jogadores, não esperávamos pela proporção que o movimento tomou, pois não nos preocupávamos. Essa é a verdade. Mas a ‘Democracia Corinthiana’ foi importante, fez o Brasil mudar e até hoje é lembrada e considerada um movimento de grande importância para todos. Eu me orgulho de ser parte viva deste momento na história do país.

Você é o quinto jogador da história de 110 anos do Corinthians a vestir mais vezes a camisa do clube, e o volante com o maior número de gols (75). Acha que algum jogador da sua posição, no futebol atual, pode superar sua marca, jogando no Timão?

Difícil. Algum volante chegar a números tão expressivos como os que tive no Parque São Jorge? Sei não, mas vamos ver. O Paulinho poderia chegar, e certa vez, o Elias brincou dizendo que chegaria aos gols que fiz, mas ele estava com 32 anos. Mas o futebol mudou muito, e hoje um jogador de meio de campo marcar tantos gols por um clube é tarefa muito difícil.

Você jogou por dez anos no Corinthians atuando 590 vezes, uma média de 59 partidas por ano, que é um número alto de atuações. Estes dados são demonstrações que você não sofria com lesões?

Era difícil eu me machucar mesmo e jogava todas as partidas do campeonato. Se eu ficasse fora de algum jogo era por causa de cartões amarelos que eu levava, mas era difícil também eu ser advertido. Lembro, inclusive, que é legal você abordar na entrevista, que eu vim a ser expulso no Corinthians após 10 anos jogando, ou seja, numa posição de marcador. Isso é um fato curioso e merece ser divulgado. E vou ser síncero! Acho até que os torcedores gostavam de mim por causa disso, pelo fato de não frequentar o Departamento Médico. Eu mantinha uma regularidade em campo sem expulsões e sempre aplicado, mostrando a raça que a torcida gostava.

Na carreira do Biro Biro faltou vestir a camisa da Seleção Brasileira? E se tivesse que ser convocado, qual ano acredita que poderia ter sido chamado? Você poderia ter jogado uma Copa do Mundo, como a de 1982 ou 1986?

Olha, na Seleção Brasileira eu fui convocado e fiquei entre os 25 jogadores que foram com o Telê Santana em 1982 e 1986 também. Mas lembro que na Copa do México, o treinador era o Rubens Minelli, e em cima da hora, mudou o comando. O Telê aceitou o convite para dirigir a Seleção. E mais uma vez acabou me deixando fora, mas pelo menos fui lembrado, o que foi muito significativo para mim. Já na Copa da Itália em 1990, apesar de estar cotado para fazer parte do plantel, acabei tendo uma fratura na tíbia jogando pela Portuguesa e levei 240 dias me recuperando. Isso me atrapalhou muito. Mas seleção é isso, é questão de momento. Cada treinador tem os seus jogadores de confiança e foi o que o Telê fez em 1982, na Espanha, e em 1986, no México, e acabou me deixando de fora.

Qual foi o melhor meio-campo do futebol brasileiro na sua opinião?


Essa faixa do campo é privilegiada por ter tantos jogadores bons de bola. O nosso futebol brasileiro é rico em jogadores técnicos e habilidosos, e o meio de campo de cada time, é o setor em que o jogo é ditado. É por ali que a bola passa, é trabalhada, e é por ali que saem as principais jogadas ofensivas. Tivemos muitos meios de campo inesquecíveis, talentosos e insuperáveis, mas Biro Biro, Sócrates e Zenon, para mim, marcou não só o Corinthians, mas o futebol brasileiro.

Escale o Corinthians de todos os tempos na sua opinião?

Cada time jogou um futebol que marcou época para o torcedor. Mas na história no Corinthians é impossível não falar do time da ‘Democracia Corinthiana’ que era uma equipe muito boa, que se encontrava em campo. Os jogadores sabiam o que queriam, jogavam para frente e praticavam um futebol objetivo em busca do resultado. Eu colocaria esse time como sendo o de todos os tempos. Obviamente, outros jogadores de outras equipes que vestiram a camisa do Timão, eu poderia incluir nesse time. Mas o time da ‘Democracia Corinthiana’ foi, na minha opinião, o melhor de todos os tempos.

Na sua opinião, qual foi o melhor técnico com quem você trabalhou?

Eu trabalhei com vários treinadores bons e que me ensinaram muito como o Osvaldo Brandão e o Rubens Minelli, por exemplo. Mas o melhor deles todos foi o Mário Travaglini. Com ele, eu tive a oportunidade de absorver seus conhecimentos e foi ele que conseguiu extrair o melhor de mim dentro de campo.

Como surgiu o apelido Biro Biro?

Essa história é curiosa e engraçada ao mesmo tempo. Antes de jogar as ‘peladinhas’ em Recife, meu pai gostava de subir nas árvores e comer uma fruta chamada biribiri, que na aparência externa lembra mais um pepino e no sabor, um limão, de tão azeda. O pessoal começou a associar esse fruta ao meu pai porque eles ficavam pedindo para ele descer da árvore para jogar. Entretanto, de tanto falar biribiri para lá e biribiri para cá, acabaram errando a pronúncia e chamaram Biro Biro. E como acabou passando de pai para filho, o apelido surgiu dessa forma.

Depois que saiu do Corinthians, você vestiu as camisas da Portuguesa, Coritiba, Guarani e Paulista. Como foram essas passagens?

Claro que o Corinthians me marcou por tratar de um gigante do futebol brasileiro, e o Sport, por onde eu comecei, mas minha passagens por esses clubes foram com profissionalismo, dedicação, amor à camisa, à torcida, e a consciência de que me doei ao máximo nessas equipes. Foram experiências bem legais.

Biro Biro, você também foi bicampeão (1993/1994) estadual pelo Remo. Fale um pouco da sua experiência no futebol paraense, do gol feito no clássico contra o Paysandu e a queda do muro do estádio da Curuzu no dia 29 de julho de 1993. Você fez parte de uma equipe nortista melhor colocada na série A do Brasileiro.

Verdade. Minha passagem pelo Remo foi muito boa, foi legal. A gente tinha uma boa equipe que o remista não esquece até hoje. Este time foi campeão invicto, e esse gol marcou muito, pois além de derrubar o muro do estádio da Curuzu, até hoje esse gol é festejado por diversos motivos. No entanto, mais importante que a vitória no clássico contra o Paysandu, e a queda daquele muro, foi a nossa campanha naquela edição do Campeonato Brasileiro. Inesquecível.

Se você fosse o técnico da Seleção Brasileira no lugar do Tite, quais seriam seus dois volantes titulares?

O Paulinho teve uma passagem boa na seleção brasileira, merece que o seu futebol seja olhado com carinho, mas acho que o momento é do Casemiro e do Fernandinho.

Quem foi o meia-atacante mais difícil que você marcou na sua carreira?


Poxa, foram vários craques difíceis de serem marcados, mas o Zico mereceu sempre uma atenção especial. O Zico era o jogador que você tinha que vigiá-lo 90 minutos do jogo. Bastava um descuido, um piscar de olhos, para complicar tudo.

Qual volante inspirou sua carreira?

Foram dois. O Clodoaldo, do Santos, e o Falcão, do Internacional. O Clodoaldo eu vi pouco, confesso, mas o Falcão, como eu adorava vê-lo em campo, observar o seu estilo, admirar a classe, a elegância com que desfilava no gramado. E a habilidade? Meu Deus, que coisa fantástica! Vou confessar uma coisa aqui: eu pedia aos treinadores para jogar com a camisa 5 em homenagem ao Falcão.

Como tem enfrentado esse isolamento social?

Estou enclausurado como forma de prevenção. Estou me cuidando com álcool em gel, máscara, distanciamento e sabendo que não pode vacilar com esse vírus. Só saio em extrema necessidade. Quando estou em Guarujá, tenho saído um pouco mais, porém, apenas para caminhar ou fazer uma corrida de leve. Cuidem-se sempre!

Defina Biro Biro em uma única palavra?

Definir Biro Biro em uma única palavra? Só pode ser raça.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA LEANDRO


Certa vez, em 1987, sentado na bola, Leandro chamava a atenção pela forma que observava seus companheiros correndo no gramado da Gávea. Apesar de um belo par de olhos esverdeados e difíceis de não serem notados como seu futebol, o olhar escondia, até aquele momento, uma tristeza – a mesma que lembrou o episódio quando foi considerado acabado para o futebol e reprovado nos exames médicos no Internacional, em 1979, numa transação de empréstimo – que abalaria mais ainda o jogador de 20 anos à época.

Vítima de problemas crônicos nos joelhos – artrose no direito e tendinite no esquerdo – o imortal camisa 2 e 3 rubro-negro poderia ter ido mais longe na carreira. Como todo craque, era diferenciado. Tanto que não treinava em dois turnos como os demais. Fazia apenas exercícios específicos de peso, como por exemplo, fortalecimento muscular em que levantava 25 kg com a perna direita e 15 com a esquerda, 250 vezes.

“Cada partida disputada por Leandro é uma obra de arte do departamento médico do clube”, diria certa vez com semblante leve o falecido e lendário médico rubro-negro, doutor Giuseppe Taranto, sublinhando que Leandro se submetia às ondas eletromagnéticas – a famosa corrente russa -, laser, ultrassom e gelo, muito gelo em ambos os joelhos.

Tudo isso para combater (ou tentar) o “Mal de cawboy”, que segundo especialistas, só seria possível se o jogador tivesse usado gesso com aparelho ortopédico entre os dois e cinco anos, além de ser submetido a uma cirurgia até os dez. Embora com todas essas dificuldades, não lhe faltaram adjetivos, elogios, aplausos e títulos, muitos títulos, que se devem porque Leandro era dotado de uma qualidade técnica inesgotável e de infinitos recursos.

Clássico, jamais desleal – em 415 jogos na carreira, foi expulso uma única vez, naquele 23 de novembro de 1983, quando se desentendeu com o ponteiro Ado do Bangu, no Campeonato Carioca daquele ano -, Leandro é o típico jogador que tinha a lisura e a lealdade como aliadas à sua incontestável habilidade com os pés, pernas, cabeça, peito, ombros, menos as mãos.

Encerrou sua brilhante carreira vestindo apenas a camisa do Flamengo – com exceção da Seleção Brasileira – ao longo de 12 anos como profissional. Mas Leandro merecia mais. Muito mais! O futebol também. O torcedor do Flamengo e o apaixonado pelo esporte bretão mereciam vê-lo por mais tempo em campo. A bola chorou por essa separação quando o Peixe-Frito, desamarrou os cadarços de suas chuteiras e deixou ali em um canto qualquer do vestiário no estádio Proletário Guilherme da Silveira Filho, popularmente conhecido por Moça Bonita. Era a despedida de um craque que por ser tão leal na execução das regras e lisuras do jogo, saiu de cena de forma simples, coisa que o seu futebol nunca foi.

O Vozes da Bola traz um dos maiores laterais-direitos de todos os tempos. Não somente no Brasil. E sim no mundo. Leandro, cabofriense de carteirinha, é nosso 32° personagem, que em março deste ano, soprou velinhas e comemorou 62 anos de vida. E de muitas histórias.

Texto: Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda

O que representou o Fla-Flu de 1969 na sua vida? Você ouvia o jogo pelo radio na companhia do seu pai e foi no banheiro rezar pela virada. Fale sobre esse momento quando você tinha dez anos.

Eu já acompanhava jogos do Flamengo, mas acho que ali senti algo diferente no meu coração e na alma com aquele gol do Dionísio. Eu falei para o meu pai que ia no banheiro fazer xixi e acabei me ajoelhando na sala, rezando, pedindo a Deus para o Flamengo empatar e alegrar o meu pai. Na minha volta do banheiro, o Flamengo acabou empatando, mas infelizmente, depois levamos o terceiro gol que culminou na perda do título. Mas lembro que quando eu ouvi o Jorge Curi narrando aquele golaço do Dionísio, pô, me deu uma emoção tão grande em ver meu pai tão feliz que ali nasceu esse sentimento forte com o Flamengo.

Relate sobre sua chegada ao Flamengo. Deu frio na barriga sair de Cabo Frio para chegar à Gávea?


Eu morava na Praça da Bandeira, Zona Norte do Rio, e fui fazer o pré-vestibular na época. Aí, pegando o ônibus com um primo chamado Nonato, o ponto final era na Praia do Leblon, praticamente, em frente ao Flamengo. E aí esse meu primo teve a ideia de sugerir para eu pedir para fazer um teste na Gávea. E como eu era muito envergonhado, falei que se ele pedisse eu treinaria sem problemas. Como ele era insistente, fomos lá e ele pediu para eu treinar. Aí, o “seu” Orlando, diretor de esporte amador, perguntou: “Você joga em que posição?”. Respondi que jogava de lateral-esquerdo. Ele continuou: “Mas você é canhoto?”. Disse: “Não, eu sou destro”. Aí meu primo se intrometeu e falou: “Seu Orlando, ele bate com as duas e muito bem”. O “Orlando” olhou assim, meio desconfiado, mas marcou um treino às 14h do dia seguinte. Compareci, e apesar da dificuldade de arrumar uma chuteira, pois eu fui pego de surpresa, e como não tinha, consegui com muito custo uma par emprestado com dois números acima do meu. Enchi com algodão molhado e fui para o teste. Me saí bem, fiz dois gols e fui aprovado para voltar no dia seguinte. Foi aí que começou minha história até chegar nos juniores.

Há uma curiosidade que pouca gente conhece envolvendo você e o Júnior. Quando você chegou ao Flamengo, em 1976, jogava na lateral-esquerda e acabou sendo deslocado para a direita, e o Júnior em 1974 era lateral-direito e foi deslocado à esquerda. Você já imaginou disputar posição com o Júnior?

Jamais! Caramba, eu nunca pensei nisso. Na verdade, quando eu cheguei no Flamengo, eu já sabia que o Júnior jogava na lateral-direita, tanto que até hoje lembro daquele golaço que ele fez do meio de campo na decisão do Campeonato Carioca contra o América, em 1974, na vitória por 2 a 1. Mas eu cheguei na Gávea como lateral-esquerdo, porque eu era lateral-esquerdo em Cabo Frio, entende? Mas te confesso que ia ser uma complicação enorme ali na disputa pela titularidade. Ainda bem que o professor Américo Faria teve uma visão boa quando se machucou o lateral-direito, e ele me deslocou para a posição oposta da minha origem. Fui bem, me adaptei e graças a Deus não precisei disputar nada com o Júnior, pois te confesso, ia ficar muito complicado.

Você ganhou quatro títulos brasileiros pelo Flamengo (1980, 1982, 1983 e 1987). Qual foi o mais difícil?

Nenhum título é fácil. Todos os títulos têm suas dificuldades e seus pesos. O Flamengo de 1980, 1982, 1983 e 1987, só enfrentou timaços. Em 1980, eu participei muito pouco, quer dizer, quase nada. Fiquei uma ou duas vezes no banco, apesar de ter concentrado. Fiz parte do plantel. Em 1983, foi um campeonato difícil e na reta final da partida eu fiz um gol importante na final contra o Santos. O time estava muito bem, mas já não era o mesmo e tínhamos as entradas do Júlio César e do Élder. Em 1987, já foi uma equipe mais mesclada com experiência de alguns como eu, Edinho, Andrade, Zico e Renato, com jovens promessas como Zé Carlos, Jorginho, Leonardo, Ailton, Bebeto e Zinho, e lembro que começamos a Copa União muito mal e depois melhoramos e partimos para a conquista do título. Mas eu acho que o de 1982, foi pancada, porque nós pegamos o Grêmio em duas partidas seguidas, no estádio Olímpico. Empatamos por 1 a 1, no Maracanã, depois por 0 a 0, em Porto Alegre, e ficamos uma semana para disputar o terceiro jogo lá no Olímpico. Fizemos 1 a 0, gol de Nunes, depois sofremos uma pressão enorme, torcida em cima, um Grêmio com jogadores técnicos e de grande habilidade, mas conseguimos vencê-los. Esse título de 82 foi sofrido, foi complicado. Vamos dizer assim, porque todos os títulos de Campeonatos Brasileiros tiveram suas dificuldades.

Como foi ter jogado numa geração tão vitoriosa do Flamengo que começou na reta final da década de 1970?

Isso aí é uma coisa que muita gente fala, pergunta: Se não era melhor ter nascido agora e jogar com esses jogadores atuais que estão ganhando tanto dinheiro? Uns falam que eu estaria milionário, que eu jogaria em alto nível, que seria isso, conquistaria aquilo, mas vou te confessar uma coisa: eu agradeço a Deus por ter nascido naquela época, por ter convivido com tantos jogadores maravilhosos e jogado numa geração fantástica. Antes de 1976, joguei com muita gente boa de bola, vi muito ‘cracaço’ jogar, e se tivesse nascido agora, ou fizesse parte agora do futebol, não teria esse privilégio. Então, eu posso revelar para vocês do Vozes da Bola que foi uma honra, um privilégio imenso e eu só tenho que ficar grato por todos esses jogadores dos quais fizeram parte da minha história e eu da história deles.

Qual foi o melhor time do Flamengo que você jogou?

Essa pergunta não tem nem como não ser o time de 1981, né? Nem é preciso pensar muito: Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes e Lico.

Como foi ganhar a Bola de Prata, prêmio concedido pela revista Placar em 1982 como melhor lateral-direito do Brasileirão e em 1985 como melhor zagueiro?


Pois é, rapaz, a concorrência era grande em 82 e 85, assim como em outros anos também. Para ganhar esse troféu é necessário você jogar em uma equipe boa, ser regular na competição toda, já que é um campeonato longo, mas Bola de Prata é Bola de Prata, né? Já a Bola de Ouro era complicado, mas cheguei a disputar com o Marinho do Bangu, que só foi decidido no último jogo entre Flamengo e Bangu, no Maracanã. O Marinho levou com méritos e foi escolhido o melhor jogador de 1985. Mas eu tenho as duas aqui na minha pousada com muita honra e muita satisfação em ter sido escolhido entre os melhores dos Campeonatos Brasileiros de 1982 e 1985.

Quem foi o ponta-esquerda mais difícil que você marcou? E também o centroavante?

Talvez não tenha sido o mais habilidoso, porque nós tivemos muitos, mas eu achava o Zé Sérgio fantástico. Um ponta que driblava para dentro e para fora com a mesma facilidade, mas esse eu nunca marquei, ainda bem. Mas marquei muitos outros enjoados, O mais chato, o mais carrapato, o mais perturbado era o João Paulo, do Santos, que depois jogou no Flamengo. Esse não tinha medo de porra nenhuma! Vinha para cima, dava uns tapas no fundo para correr, cruzava de efeito por trás das minhas pernas. Esse era complicado de marcar. E centroavante, marquei muitos e bons, foras de série. Mas o Roberto Dinamite, o Careca e o Romário, no início de carreira, foram os atacantes mais difíceis.

Certa vez você disse o seguinte sobre Brasil x Itália de 82: “Vira e mexe me pego pensando no que podia ter feito a mais. De vez em quando revejo o jogo, mas paro quando o placar está 2 a 2. Não consigo ver o terceiro gol deles, nem o final da partida”. Na sua opinião, o que vocês fizeram de errado naquela derrota conhecida como ‘Tragédia do Sarriá’?

Cometemos erros naqueles 90 minutos. Mas é bom ressaltar que jogamos contra uma equipe muito técnica e que cresceu dentro da competição. Sinceramente falando, pelo nosso time tinha jogadores fantásticos com um quarteto magnífico no meio de campo, laterais que apoiavam muito, um zagueiro que saía sempre para explorar a jogada aérea como Luizinho. Apenas Waldir Perez e Oscar ficavam lá atrás. O Brasil era um time que jogava para frente o tempo todo, mas eu acho que se nós tivéssemos entrado com um pouquinho mais de consciência, vamos dizer assim, que o empate já nos dava a classificação, acho que se segurássemos um pouquinho mais e esperássemos a Itália, a gente teria mais espaços e eles ficariam nervosos e o resultado teria sido outro. Mas o time do Brasil era aquele negócio de querer ir para cima, para cima, para cima, e se fizesse três queria fazer quatro. Mas era o estilo de futebol praticado pelos seus jogadores. No entanto, eu acho que tinha de ter um pouquinho mais de preocupação nessa hora. Ainda mais naquela fase que era mata-mata e passando ali era semifinal. A gente se descuidou nesse sentido.

A eliminação da Seleção no Mundial de 1982, e a renúncia à Copa de 1986 em solidariedade ao corte de Renato Gaúcho, são os capítulos mais tristes na sua carreira?

Pode ser. Acho que derrotas são tristes, contusões nos deixam tristes, perdas de companheiros de profissão nos marcam a vida e deixam um vazio triste na gente. A Copa do Mundo de 1982, a tristeza foi por diversos motivos. O povo brasileiro com aquela alegria toda, a gente muito confiante na conquista do título e muitos jogadores do nosso time que mereciam ser campeões do mundo pelo tanto que fizeram pelo futebol brasileiro. Com certeza foi uma tristeza muito grande naquele dia lá, foi um silêncio que machucou de verdade. Em 1986, a tristeza foi por não ter participado, porém, sem remorso da decisão que tomei naquele episódio. Não me arrependo de nada e faria tudo da mesma forma, entendeu? Mas a eliminação de 82 foi brabo.

Voltando a falar da sua ‘primeira pele’, a rubro-negra: e o golaço no Fla-Flu de 1985?

“Golaço aço aço aço!” Foi assim que Jorge Curi narrou, resgatando aquele gol do Dionísio de 1969 narrado por ele também. Naquele jogo, o Flamengo massacrando o Fluminense no segundo tempo e a bola não entrava. Eu lembro que fomos para cima, eu atacando, o Cantereli jogando praticamente no meio-campo, a gente procurando, insistindo e eu sabia que ia acontecer alguma coisa. A todo instante eu falava com Andrade para continuar tentando, incentivava o Jorginho a não desistir, só não sabia que ia acontecer comigo e que seria predestinado. Mas aquela bola, quando o Andrade cruzou para a área e o Washington rebateu de cabeça para a intermediária, ela veio quicando e, tinha o Jorginho na direita, eu pensei em tocar para ele mas vim com tanta confiança que aquele chute ou vai lá fora do estádio ou na gaveta, sabe? Mas pegou na veia e ia entrar direto, mas o Paulo Victor ainda tocou nela e a sorte foi que bateu na trave e nas costas dele e entrou mansamente. Não foi o gol mais importante, é verdade, mas foi o mais emocionante. Esse Fla-Flu foi um dos dias mais importantes na minha vida dentro do futebol.


Uma semana depois, o locutor esportivo Jorge Curi, faleceu em um acidente automobilístico quando ia passar o Natal na cidade de Caxambu-MG. Rubro-negro, ele narrou o último gol do Flamengo marcado por você no Fla-Flu. É verdade, que um parente dele te ligou e disse que o radialista era seu fã? E pediu que você mandasse uma camisa para velar o corpo?

Naquela época, quando a gente viajava, era normal ficar no saguão dos aeroportos ou nos hotéis e encontrar esses ícones do radiojornalismo. A gente conversava muito com o Jorge Curi, com o João Saldanha, com o Waldir Amaral, era uma coisa normal encontrá-los nesses lugares. Mas eu não sabia dessa admiração do Jorge Curi por mim e fiquei sabendo quando ele faleceu. Um parente dele ligou para minha casa dizendo que ele era muito meu fã, que falava muito de mim, que como rubro-negro era apaixonado pelo meu futebol e que aquele gol havia emocionado muito ele. Perguntou se eu podia ceder a minha camisa para o corpo dele ser velado. Pô, imagina! Eu quase chorei com esse pedido. Isso era uma honra para mim e entreguei a camisa para este parente do lendário e saudoso locutor esportivo. Foi isso. É verdade essa história.

Qual foi o gol mais importante que você marcou pelo Flamengo ao longo dos seus 12 anos como profissional?

Fiz um gol contra o Sport em 82, lá em Recife, que foi importante na campanha do título de 82. Na verdade fiz dois, mas um foi anulado. Se a gente perdesse por 2 a 0, estaríamos eliminados, e com esse meu gol, o jogo terminou 2 a 1 e acabou nos classificando. Mas o gol na final do Campeonato Brasileiro de 83, sem dúvida, foi o mais importante. E o engraçado é que na manhã do dia do jogo, eu havia falado que venceríamos por 3 a 0, com um gol meu, do Adílio e do Zico. Não foi nessa ordem mas acertei o placar e os autores dos gols (risos).

Você foi campeão da Copa União, em 1987, ao lado do Edinho. O ex-tricolor foi um dos seus melhores parceiros na formação do miolo de zaga em toda carreira?

Edinho foi um ‘cracaço’, jogador de três Copas do Mundo pela Seleção Brasileira. Foi uma honra ter jogado ao seu lado e ter sido campeão em 1987. Mas joguei com muita gente boa, como Figueiredo, Aldair, Guto, Zé Carlos II, mas para mim o Mozer foi o meu melhor companheiro de zaga. Lembro que quando passei da lateral à zaga, essa transição complicada para todo jogador, ele me ajudou muito e nos entrosamos rápido. Para de ter uma ideia, a nossa dupla foi tão boa que o saudoso João Saldanha escreveu numa coluna no Jornal do Brasil que foi a melhor dupla de zagueiros que ele viu jogar. Mas o Edinho foi um monstro como zagueiro e quando acertamos, crescemos juntos com o time e acabamos conquistando o Brasileiro de 87.

Quem foi sua grande inspiração no futebol?

Até então eu não tinha nenhuma inspiração, nenhum jogador que eu me espelhasse ou coisa parecida. Mas a partir do momento que o Zico começou a surgir no Flamengo, eu com meus 13 anos comecei a admirá-lo. E acabou se tornando fonte de inspiração.

Qual foi o treinador que você teve mais afinidade a ponto de achá-lo o melhor?

Eu nunca tive problema com treinador não! É lógico que a gente se dava melhor com um ou com o outro, em termos de empatia mesmo. Posso dizer que muitos treinadores foram importantes na minha carreira como o professor Américo Faria, o meu primeiro treinador, um cara fantástico, a quem devo muito a ele, o Lazaroni, que se tornou um grande amigo, o Carpegiani, que foi além de treinador, meu companheiro de time, o Cláudio Coutinho, que me lançou no profissional, o Joubert, outro excelente treinador. Como não falar do Carlinhos, o grande Violino, outro extraordinário treinador! Mas em termos de afinidade, eu cito o Carpegiani e o Lazaroni, mas o Telê Santana, apesar de não ter muita afinidade por ele ser um cara fechado, foi, ao lado do Américo Faria, os melhores deles todos, sem dúvida!

Na sua opinião, quem foi o maior lateral-direito do futebol brasileiro?

Rapaz, que pergunta complicada. Nós tivemos grandes laterais no futebol brasileiro, jogadores que eu nem vi jogar, ou se vi, foi pouco e que a gente sabe pela história contada. Como falar de grandes nomes da posição em que joguei sem citar o Djalma Santos e o Carlos Alberto Torres? Eu peguei no final de carreira o Nelinho e o Toninho Baiano, por exemplo, que foram maravilhosos. E o Carlos Alberto, que veio do Joinville, chamado de Mão Branca por nós? Cracaço de bola e que em recente conversa com o Tita, nos lembramos de um golaço que ele marcou na vitória por 4 a 3 contra o Coritiba, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro de 1980. Mas tivemos outros espetaculares como Paulo Roberto, Luís Carlos Winck, Josimar, Cafu, que disputou três finais de Copas do Mundo. Da geração mais atual tivemos dois baitas laterais que foram o Maicon e o Daniel Alves, mas de todos eles, com todo respeito, o Jorginho para mim foi o melhor.

Como foi marcar o Romário iniciando a carreira e você prestes a pendurar as chuteiras na sua?

Enfrentei o Romário no começo da carreira dele e eu já no final da minha, já com problemas acentuados nos meus joelhos. Mas mesmo assim, que eu me lembre, nas vezes em que nos enfrentamos, dei uma única vacilada (risos) quando pisei em falso e fui recuar para o Zé Carlos e ele se antecipou. Como era rápido chegou antes do Zé, deu um balão e fez o gol. Mas era um jogador muito rápido e extremamente inteligente. Mas na época, o mais temido era o Roberto. No entanto, o Baixinho dava trabalho demais. Mas não queria enfrentar esse Romário mais maduro não, e ainda bem que isso não aconteceu. Eu parei antes. (risos).

Qual time você mais gostava de enfrentar? O Zico disse que foi o Botafogo, enquanto o Júnior citou o Vasco.

Eu acho que o Fla-Flu sempre teve a mística de ser charmoso, aquela história de ter surgido 40 minutos antes do nada, como dizia Nelson Rodrigues. Já Botafogo tinha aquela rixa da época do Garrincha e anos depois o 6 a 0 que o Zico pegou muito mais do que eu. Mas o Vasco, foi o clube que eu mais gostava de enfrentar. Recordo do Maracanã lotado, rivalidade e provocações de lado a lado, dois clubes com camisas de peso e tradicionais no futebol, além é claro, dos jogadores maravilhosos que os dois clubes tinham. Nessa eu estou com o Júnior, é o Vasco.

Como surgiu o apelido Peixe Frito?

Certa vez, eu estava de férias, e passou uma pessoa e me viu tomando uma cervejinha e comendo um peixinho numa barraca de um amigo em Cabo Frio. Coisa normal, já que eu estava na praia de férias do Flamengo. Só que essa história chegou aos ouvidos do Waldir Amaral ou Jorge Curi, como se a barraca fosse minha. Aí, começaram a me chamar de Peixe-Frito. E o apelido acabou pegando.

Qual foi sua reação quando foi colocado seu busto na entrada da sede social do Flamengo?


Emocionante demais! Minha família toda lá, meu pais, esposa, filhas, amigos de infância e ali você vê que todo seu esforço valeu a pena. A gente não faz nada pelo Flamengo pensando em algo em troca mas aquela homenagem em vida fica eternizado. Tenho que agradecer aos envolvidos neste busto que foi uma das maiores emoções que eu pude ter na vida (olhos lacrimejados).

Escale para os leitores do Museu da Pelada o Flamengo de todos os tempos.

O Flamengo de todos os tempos é complicado escolher, pois são muitos craques que vestiram a camisa rubro-negra. Agora se for para escolher o time, é o de 1981.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?

No início, reuni todos os familiares e ficamos na pousada, por cinco meses. Depois que as coisas foram se normalizando, aos poucos, saíamos apenas o necessário, como fazer compras, por exemplo. Mas estou até sentindo falta dos filhos que moram no Rio, dos tempos que passávamos juntos. Mesmo na pandemia, a oportunidade que tive de reunir todos aqui na pousada mantendo nossos cuidados, com álcool em gel, distanciamento, máscara. Nada de aglomeração.

Jornalistas esportivos de todo o mundo totalizando 140 escolheram o Cafu como o melhor lateral-direito da história do futebol de todos os tempos. Achou justo a escolha?

Cafu é sensacional. Em números, é inquestionável, imbatível, inalcançável. Queria poder um dia apertar a mão dele e lhe parabenizar por tudo o que ele representou para o futebol brasileiro e mundial. Ele é força e perseverança, e tem uma história fantástica.

Defina Leandro em uma única palavra?

Tenho que pensar. Sensível, emotivo (risos), amigo. Essa eu deixo para vocês.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA DADÁ MARAVILHA


Dá, dá, se deu! E se deu em maravilha, de corpo e alma, por completo, e nos 15 clubes em que jogou foi amado, exaltado, reverenciado, idolatrado, e por incrível que pareça, foi convocado para uma Copa do Mundo pelo general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), presidente do Brasil em 1970 nos tempos de regime militar.

Mas, se Dario José dos Santos não fosse jogador de futebol, seria um frasista. Não um qualquer, mas um feitor de frases antológicas como os tantos gols que fez em 20 anos de relacionamento com a pelota.”Bola, flor e mulher, só com carinho”, diria certa vez ao ser alçado ao posto de primeiro romântico no futebol brasileiro. Mas o camisa 9, ídolo no Atlético Mineiro de 1971 e Internacional de 1976, amou a bola de uma forma intensa, genuína, sincera.

Alguns artistas, sejam do cinema, da música, da TV, das artes cênicas ou plásticas, da literatura, ou até mesmo os de rua, populares e impopulares brasileiros até a medula, conseguem transformar a própria precariedade numa chama divina da invenção. Assim foi Dario, ou Dadá, como gosta de se chamado toda vez que escuta seu nome visitando seus ouvidos e retribui com um sorriso largo de orelha a orelha.

Mas se Dadá foi generoso, foi um químico quando inventou minuciosamente a fórmula P=gat2, onde P = persistência, gat2 = gols, artilharia e títulos elevado ao quadrado, fórmula tão eficiente quanto a E=mc2, considerada a mais célebre equação científica do século 20 que fora desenvolvida pelo cientista alemão Albert Einstein (1879-1955).

Foi se reinventando que o camisa 9 do Campo Grande-RJ, em início de carreira, travou duelos sofridos e romanescas com o destino. Desde muito cedo teve uma infância difícil e muito pobre. Foi criado na rua Frei Sampaio, em Marechal Hermes, subúrbio carioca.

Acostumado a incendiar as torcidas com seus 926 gols marcados pelo Brasil afora, foi por meio de uma tragédia familiar que quase lhe custou a vida. Dadá, com apenas cinco anos de idade, se abraçou a mãe com o corpo embebecido de querosene e em chamas querendo morrer com sua progenitora. A mãe, que sofria sérios problemas mentais, num rompante em sã consciência, e em favor do futebol, se desvencilhou do filho e, num ato (im)pensado salvou a vida dele lhe atirando na lama.

Daquela matéria orgânica viscosa e pegajosa, e com o coração partido em mil pedaços, ressurgiu das cinzas para encarar os marcadores implacáveis que o senhor destino colocava em sua vida. Enfrentou todos como os tantos zagueiros que o marcaram. A começar pelo pai, que sem condições de cuidar dos filhos sozinho, colocou ele e seus dois irmãos na Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor (Febem), instituto responsável pela reabilitação de menores infratores no Rio de Janeiro.

Os irmãos não moldaram sua personalidade, no entanto, a convivência com outras crianças e jovens que cometiam crimes não foi das melhores. O Exercito Brasileiro foi o subterfúgio para sair da bandidagem, e aos 18 anos, era considerado “ruim” pelos recrutas, mas conseguia fazer gols compensando a falta de técnica aliada com sua velocidade que compartilhava força e impulsão, qualidades herdadas das ruas em tempos sombrios.

Chegou ao Campo Grande, clube modesto do Rio, se tornou profissional e aos poucos, foi tirando da cabeça os traumas da infância e a vida bandida na adolescência. Mas foi contra o Botafogo, no Maracanã, naquele 19 de dezembro de 1971, que Dario, o Peito de Aço, usou essa mesma cabeça para dar ao Clube Atlético Mineiro o seu primeiro e único título do Campeonato Brasileiro.

“Nunca aprendi a jogar futebol, pois perdi muito tempo fazendo gols”, disse certa vez o irreverente, goleador, frasista, folclórico e campeão Dadá Maravilha, nosso 31° personagem da série Vozes da Bola.

Por Marcos Vinicius Cabral e Gabriel Gontijo

Edição: Fabio Lacerda


Dadá, muitos pensam que você é mineiro, mas na verdade você é carioca nascido em Marechal Hermes. E na tua infância você passou por muitas dificuldades e ainda perdeu tua mãe com o corpo literalmente em chamas. Como foi essa situação para você como criança?

Em primeiro lugar agradeço a Deus e digo a todos que me acompanham que ganhei experiência por ter vivido tantos percalços na vida. Vida difícil, diga-se de passagem, como o triste episódio em que a minha mãe, que era doente mental, se suicidou ateando querosene no corpo. Mas mesmo com o corpo em chamas conseguiu me salvar, pois quando vi aquela cena trágica me agarrei a ela com todas as minhas forças e com meu corpo também em chamas ela me empurrou na vala. O gesto salvou minha vida. Então, minha mãe é um grande exemplo que eu jamais vou esquecer.

Como você já falou em algumas entrevistas, a morte da tua mãe te deixou muito revoltado e foi uma espécie de “empurrão” pra você entrar na criminalidade. Apesar dessa revolta pessoal, qual era o tipo de crime que você se recusava a cometer enquanto estava trilhando um caminho errado?

Eu entrei na vida do crime sim, no entanto, muitas coisas eu me negava a fazer: estupro, botar arma na cabeça dos outros, usar da violência e desrespeitar o cidadão, fazer covardia, tirar a vida de alguém. Isso eu jamais fiz!

O que te motivou a sair do crime foi a fuga de uma tentativa de assalto a um armazém. Você conseguiu escapar vivo porque corria em ziguezague dos tiros disparados pelo dono do estabelecimento, apesar de um comparsa ter sido atingido e morrido na hora. Isso foi o ponto de partida pra você mudar de vida. Como surgiu a oportunidade de ir para o Campo Grande, clube do subúrbio do Rio?

É verdade. Minha vida era muito difícil, tenho que admitir! Quando eu realizava assaltos, eu achava que estava sendo perseguido e que havia chegado o momento de escolher um lado para que eu não fosse julgado como um bandido que eu era. Essa fato foi apenas um dentre tantos outros. Mas o futebol entrou na minha vida no Exército e foi lá nas Forças Armadas que eu coloquei em prática a velocidade louca de correr da polícia, a impulsão de pular muros e subir em árvores. No Exército despertou a vontade de ser alguém respeitado na vida mesmo com estudos defasados – estudei até a oitava série. O Campo Grande foi a porta de entrada no futebol que acabou sendo a solução que o Dadá encontrou para salvar sua vida.

Durante seu período como interno na Escola XV, em Quintino, Zona Norte do Rio, você conheceu Zico e seus irmãos, de quem se tornou próximo. O que a família Antunes representou na sua vida?

Bem, eu era um cara muito confuso ainda. Foi quando dei a sorte no colégio em fazer um jogo contra um time que tinha o Antunes, o Edu e o Zico, três cracaços fabulosos de bola. O Antunes era um centroavante goleador e não tendo um zagueiro, me colocaram de beque-central para marcá-lo. Basta dizer que ele deitou e rolou em cima de mim. Lembro que eles venceram por 4 a 0 e eu bati muito no Antunes nesse dia. E quando acabou o jogo eu me dirigi para falar com o Antunes para pedir desculpa pelos pontapés que eu dei e ele virou e falou: “Garoto, posso te dar um conselho? Você de zagueiro não vai arrumar nada, você é horroroso. Agora você tem uma velocidade boa e uma impulsão melhor ainda. Se treinar, um dia poderá ser um grande jogador!”. E o Zico, que era pequenininho, ficava fazendo embaixadinhas e eu corri para dar uns cascudos nele. Aí o Antunes e Edu me juraram e disse que se eu encostasse no Zico eu apanharia dos dois Aí eu pipoquei, né? (risos). O Antunes me deu uns conselhos que eu segui e virei um jogador de futebol.

Verdade que você só foi aprovado pra jogar no Campo Grande depois do 7° teste e porque o treinador disse que iria te aprovar pela tua insistência, já que você era “muito ruim”?

Foi verdade. Quando eu cheguei na sétima vez para treinar o cara lá que fazia as peneiras torceu o nariz, coçou a cabeça e falou: “Meu Deus, lá vem esse negão de novo, esse garoto é ruim demais”. Aí eu pedi para ele: “Poxa, me dá mais uma chance e que seja a última. Eu preciso dessa chance”, implorei. Aí o treinador chamado Gradim viu e disse: “Traz o menino”. Eu entrei no segundo tempo no time reserva que perdia por 2 a 0 para o titular, e o treinador me deu a chance. Fiz os três gol da nossa vitória de virada. O Gradim ficou impressionado com a minha velocidade e a minha impulsão. Aí, ele foi no presidente e falou assim na minha frente: “Seu presidente, ele é ruim, ou melhor, ele é péssimo,mas com essa velocidade e impulsão, se eu treinar esse garoto eu tenho certeza que ele vai dar resultado. O senhor pode fazer um contrato de curto prazo”, disse acreditando em mim. Aí o Nílson, centroavante titular se machucou e eu entrei no time e comecei a danar de fazer gols. Foi assim.


Como foi sair do modesto Campo Grande e ir jogar no Atlético Mineiro? Quem o descobriu?

O Campo Grande foi fazer uma preliminar no Maracanã de um Fla-Flu e o nosso centroavante Nílson estava machucado. O Gradim, nosso treinador, não tinha quem colocar e esse Nílson pediu para me dar uma chance. Entrei como titular no jogo e o Maracanã tinha mais de 150 mil pessoas. Eu dei a maior sorte porque o Gradim falou na preleção: “Olha, vamos explorar esse menino e cruzar na área para ele. A velocidade e a altura são as qualidades que ele tem de melhor. Vamos aproveitar isso”. Eu fui muito feliz porque o Campo Grande ganhou de 4 a 2 o Bonsucesso, que estava com o moral elevada, pois havia vencido o Flamengo e o Fluminense. Era a zebra do campeonato. E lembro que nesse jogo eu fiz os quatro gols do Campo Grande, e em cada gol marcado, eu saía correndo igual um louco para comemorar com a torcida do Flamengo e com a torcida do Fluminense. E os torcedores não sabiam o meu nome, mas sabiam que eu fazia gols e começaram a gritar: “Dá no 9, dá no 9, dá no 9!”, e aquilo me motivou bastante no jogo. O Campo Grande ganhou. Para minha surpresa quando terminou o jogo, indo para o vestiário, um senhor me cutucou e disse na frente do Gradim, nosso treinador: “O 9, eu acabei de te contratar para jogar no Atlético Mineiro”. Eu olhei assim e tomei um susto, pois naquela mesma semana Atlético Mineiro e Cruzeiro decidiam o título e a Raposa se tornou campeã. Eu lembro que fiz a seguinte pergunta para aquele dirigente: “Esse Atlético Mineiro é aquele time em que a torcida fica igual a uma maluca gritando Galo, Galo, Galo? Ele respondeu: “É. É para lá que você está indo”. Quando cheguei no Clube Atlético Mineiro o treinador Yustrich me contou que o Gradim, nosso treinador no Campo Grande, havia ligado para ele e dado as minhas características. Ele me disse que seríamos campeões e me utilizaria. E foi o que o Telê Santana muito sabiamente fez.

O torcedor atleticano, até hoje, não esquece do gol de cabeça que você fez em cima do Botafogo em 1971 dando o primeiro Campeonato Brasileiro para o Atlético Mineiro (num triangular final disputado por São Paulo, Atlético e Botafogo). Além desses gols, eles não se esquecem do seu retorno, já veterano, em 1979, para suprir a falta de Reinaldo contundido, e conquistar o bicampeonato mineiro que terminaria só em 1983 com o hexacampeonato, maior seqüência em Minas Gerais na era profissional. Como foram esses dois momentos?

Inesquecíveis, posso assim dizer. Eu fico feliz em falar que, em 1971, quando foi a glória maior do Clube Atlético Mineiro na sua história, ou seja, campeão Brasileiro numa época em que os melhores jogadores jogavam no país. Com isso, a responsabilidade de cada jogador aumentava, e eu com esse aumento de responsabilidade, achei que o Atlético Mineiro seria campeão. Tanto que eu dei uma entrevista dizendo que o Galo seria campeão brasileiro, eu o artilheiro, e faria o gol de título. E aí? Tudo isso aconteceu! Eu nunca deixei de ser um profissional e aproveitando a entrevista para o Vozes da Bola do site esportivo Museu da Pelada, eu queria falar de 1978. Naquele ano foi uma campanha maravilhosa para mim, pois o Atlético foi surpreendido pelo Cruzeiro um ano antes, em 1977, e ganhou o título. O Dadá veio para substituir o brilhante Reinado, que estava machucado e já coloquei na imprensa aquela frase. Lembro perfeitamente que me reuni com o Procópio e os jogadores e falei que a gente ganharia aquele campeonato de qualquer maneira. E ganhanos do Cruzeiro que era favorito. Eu quero deixar bem claro para cada um dos leitores que vão ler essa entrevista, que eu sou um homem realizado e muito agradecido ao Clube Atlético Mineiro, onde cheguei sem moral. Mas eu e meus companheiros batalhamos e conseguimos reverter esse cenário. Algumas pessoas se tornaram importantes como o Lola, um amigo pessoal. As duas conquistas colocaram o Dadá no coração dos atleticanos.

Dadá, em toda a entrevista que fazem contigo, falam da convocação para a Copa de 70 após a demissão do João Saldanha. Vou tocar nesse assunto, mas de uma forma diferente. Qual foi a notícia na imprensa sobre isso que mais te machucou e de que forma você conseguiu superar esse assunto consigo?

Numa boa. A minha convocação para a Seleção Brasileira de 1970 aconteceu pelos inúmeros gols que fazia na época. Lembro que era o jogador que mais fazia gols no mundo. Mas teve uma discussão que envolveu o Presidente da República Emílio Garrastazu Médici, queria ver os gols de Dadá na Seleção e repercutiu isso na imprensa. Houve um mal-entendido, pois o presidente expressou a opinião dele como um torcedor e não como um político. Mas a população toda do Brasil queria ver Dadá em gramados mexicanos e que problema há nisso? Eu fui um jogador que dei alegria a todos os brasileiros que gostam de ver o gol que é a parte mais importante desse esporte no qual somos apaixonados. Mas eu penso que tudo aconteceu e me deu experiência para novas conquistas. Depois desse episódio eu me tornei o jogador mais artilheiro do futebol brasileiro.


O bicampeonato do Internacional foi em 1976 com um gol de cabeça e o outro de Valdomiro em cobrança de falta contra o Corinthians. O que lembra desse jogo?

Foi um gol que eu subi e parei no ar. Tive oportunidade de ver os meus filhos e naquele momento disse para mim mesmo: “Eu tenho que defender o leite das minhas crianças”. Dei uma cabeçada de 800 megatons e depois corri, desenfreadamente, uns 100 metros em 10 segundos até o goleiro Manga para comemorar. Mas era preciso tamanho esforço para comemorar um golaço daquele. Eu gostaria de citar o Internacional de 1976 que marcou muito a minha vida. Marcou tanto que acabou sendo considerado o melhor time da década, e nós fomos campeões em cima do fortíssimo Corinthians numa partida sensacional. E o Dadá, sempre ele, fez o gol inicial de cabeça. Depois o Valdomiro fez o segundo e ficamos administrando os minutos tensos daquele jogo e nos sagramos campeões. Agora o Campeonato Brasileiro que terminou recentemente, haviam dois disputando o título: o Internacional e o Flamengo. Em cada rodada a competição se desenhava de uma maneira diferente e quem ganha com isso é o torcedor, pois nesses últimos jogos que a gente tá vendo na TV está havendo um futebol de primeira classe e de uma categoria que merecem aplausos. Uma pena o Colorado não ter saído da fila. Uma pena mesmo!

Em uma partida válida pelo Campeonato Pernambucano de 1976, você marcou 10 dos 14 gols do Sport na vitória sobre o Santo Amaro. A marca histórica superou os feitos de Pelé e Jorge Mendonça, que marcaram oito gols em uma mesma partida. Quais as lembranças dessa partida memorável?

As lembranças são as melhores possíveis. Se lembrar um gol do Dadá é bom, imagine você lembrar de 10? Mas essa história começou seis anos antes, para ser mais exato. Um bate-papo informal com o Pelé na Copa do Mundo de 1970, o Rei, este que é ídolo do Dadá e de todo mundo. Eu fiquei sabendo de um recorde dele em ter marcado oito gols numa partida e não me contive. “Vou bater teu recorde de gols numa partida, que valer”? Ele riu. E eu gostei desse riso dele, porque o Dadá sempre falou as coisas e quando as pessoas riam, o Dadá ia lá e cumpria. Então eu falei assim: “Negão, e se eu fizer mais gols que você em 90 minutos, você me manda um telegrama”? Ele não titubeou: “Lógico que mando”. O tempo passou e aquilo ficou marcado no coração e na mente de Dadá. Em 1976, no Campeonato Pernambucano, numa partida contra o Santo Amaro, me deu um estalo: “Vai ser hoje”, prometi, e dos 14 gols eu fiz 10. No outro dia liguei para o Pelé e falei: “Negão, aqui é o Dadá, lembra que te falei na Copa do Mundo de 1970, que marcaria mais gols que você numa partida e você disse que me enviaria um telegrama? Pois é, fiz 10 contra o Santo Amaro pelo Campeonato Pernambucano, no dia 07 de abril, na Ilha do Retiro. E agora, vai me enviar o telegrama”? Ele respondeu: “Dadá, eu prometi e vou cumprir”. Dito e feito. O telegrama está no meu livro “Dadá Maravilha”, que foi escrito por Lúcio Flávio Machado, da editora Dele Rey, em 1999, e por ser amigo do Pelé, isso valorizou a história, o recorde dele que foi batido por mim. Hoje me dá um imenso orgulho em afirmar que sou recordista e o jogador que mais gols fez numa partida de futebol.

De todo o grupo de 70 com quem você cultiva uma relação de amizade e mantém contatos até hoje? E, por ventura, com quem você se decepcionou e prefere se manter distante?

Sou amigo de todos e todos são amigos do Dadá. Em 1970, não era só um time, era uma família. A CBF mantém até hoje essa amizade viva entre nós, fazendo reuniões semanais com os jogadores e estamos sempre juntos. A nossa amizade é muito grande e que isso sirva de exemplo para essa juventude.

Você nunca escondeu de ninguém que torce pelo Atlético Mineiro. Mas na tua infância no Rio qual era o time que fazia teu coração bater mais forte?

Eu tenho um carinho muito grande pelo Atlético Mineiro por ter me colocado na prateleira de cima dos grandes artilheiros do futebol brasileiro. Mas em Marechal Hermes, Zona Norte do Rio, eu torcia para o Club de Regatas Vasco da Gama.


E ter jogado no Flamengo, como foi?

A ida do Dadá para o Flamengo foi um momento muito importante da minha vida pessoal e na carreira. Eu havia saído do Campo Grande para o Atlético Mineiro como um desconhecido e quando fui para a equipe Rubro-Negra, eu era tricampeão mundial, campeão brasileiro e cheguei na Gávea com muita fome de gols. Aí, depois joguei com Zico, com Paulo César Caju, com Júnior e outros jogadores extraordinários. Só tenho a agradecer a Deus por tudo que o Senhor fez na minha vida.

Qual a sensação de ser o quarto maior artilheiro do futebol brasileiro com 926 gols, ficando atrás apenas de Romário com 1002 gols, Pelé com 1284 e Arthur Friedenreich, 1329?

Uma sensação maravilhosa, pois ficar entre os quatro maiores goleadores do futebol pentacampeão mundial é muita honra para o Dadá, que foi o máximo como jogador!

Mesmo com uma carreira vitoriosa, com inúmeros títulos, você confessou uma frustração profissional: nunca ter jogado no Corinthians. Teve algum momento em que isso quase aconteceu? E se teve, por que não foi adiante?

Verdade. Joguei nas grandes forças do futebol brasileiro, no entanto, em São Paulo, faltou o Corinthians. Em 1976, eu estava no Internacional e o Corinthians tentou me contratar, mas a torcida Colorada não permitiu. Uma pena!

Dos mais de 15 clubes em que jogou qual é o que você guarda com carinho e o que não gosta de lembrar?

Olha, todos moram no coração do Dadá e lembro deles com carinho. Tive a oportunidade de jogar em 15 clubes no Brasil e a felicidade de ser campeão em quase todos. Mas consegui ganhar algo mais importante do que títulos, vitórias e gols, que foi o respeito do torcedor. Os times merecem que o jogador dê tudo de si, e o Dadá deu o seu máximo por onde passou. Estou feliz!

Quem foi o grande treinador de Dadá?

Na minha carreira esportiva, tive bons treinadores que fizeram a diferença e melhoraram o desempenho do Dadá. Posso citar alguns deles, como: Telê Santana, Zagallo, Yustrich, Procópio Cardoso, Rubens Minelli. Todos deixaram suas marcas no futebol brasileiro.

E o grande ídolo?

Ídolo não, grandes ídolos: Pelé, Falcão, Zico, entre outros.

Como tem enfrentado o isolamento social do Covid-19?

Estamos passando por um momento muito delicado, mas eu confio na vacina. Espero que a gente possa voltar a se abraçar, se aglomerar, se amar e dar e receber carinho, pois é o mínimo que eu desejo a todos. A família está em primeiro lugar e a gente tem que saber que dias melhores virão, porque Deus é Pai.

Como você definiria Dadá Maravilha em uma única palavra?

Máximo (risos).

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA ZÉ MÁRIO


Zé Mário foi um artista. Não o confundam com Dustin Hoffman como Paulo Cezar Caju costumava chamá-lo quando o meia chegava a bordo de seu Fusca azul e passava pelos portões do clube rubro-negro para realizar os treinos nas manhãs na Gávea em1972. O camisa 8 do Flamengo e 5 do Fluminense e Vasco, foi muitos num só. Um líder nato. Uma semelhança com Dunga não seria mera coincidência pelo comprometimento e entrega nas quatro linhas, e sobretudo, fora delas, quando foi um atleta marcado pelo respeito e um agregador capaz de tornar os times campeões por onde passou.

Chegado ao mundo pelas mãos de uma parteira na casa de seus avós maternos no bairro do Cachambi, zona norte do Rio, em campo, Zé Mário chamou a atenção como o Stanley, vivido por Marlon Brando (1924-2004) em “Uma Rua Chamada Pecado (1951)”, que ao gritar por atenção para Blanche, interpretada por Vivien Leigh (1913-1967), tornara o clima entre os dois claustrofóbico nesse pequeno ecossistema da periférica Nova Orleans.

Todavia, o ex-aluno do Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, no Centro, chamado Zé Mário, foi valente no combate aos adversários que enfrentou igual a valentia retratada no filme Taxi Driver (1976), no qual o taxista Travis Bickle, personagem encenado por Robert De Niro, comprou um revólver e olhando-se no espelho numa cena ensaísta buscava proteção das intempéries das ruas perigosas de Nova York.

No entanto, cria do futebol de salão, por onde desfilou sua categoria no Magnatas e na extinta Associação Atlética Vila Isabel, com a bola nos pés, já no futebol de campo, Zé Mário lembrou em cada gota de suor derramada de seu rosto nas partidas em que disputou, a cena icônica na saída do teatro em “O Poderoso Chefão 3 (1990)”, quando o gângster Michael Corleone, interpretado por Al Pacino, abraça sua filha caída no chão após receber um tiro em que o alvo seria ele.

Logo, com a carreira profissional iniciada no Bonsucesso Futebol Clube, Zé Mário emocionou como o filme “Filadélfia (1993)” em que o advogado homossexual Andrew, interpretado por Tom Hanks, chora em seu apartamento ao som de uma ária da soprano Maria Callas (1923-1977), enquanto, ao fundo, Denzel Washington, comovido, não consegue segurar suas lágrimas com seu sofrimento e percebe que seu cliente foi abandonado no momento mais difícil da vida.


Assim, o filho de “Seu” Mário e de “Dona” Avany foi atencioso como Jack Nicholson em “As Confissões de Schmidt (2003)”, no qual interpretou um viúvo chamado Warren, e lê a carta de agradecimento da ONG por sua contribuição de 73 centavos por dia para um garoto da Tanzânia.

Mas dos futebóis de salão e campo, José Mário Barros herdou a habilidade, a visão de jogo, e apesar da baixa estatura, foi um gigante, um líder na essência mais cristalina da palavra. Combativo e distribuidor de passes poucas vezes visto no mundo da bola, o volante de estilo clássico se notabilizou por onde pisou a planta dos seus pés ou as solas das suas chuteiras.

O Vozes da Bola chega ao seu trigésimo personagem e entrevista Zé Mário, presidente do Sindicato dos Atletas de Futebol do Rio de Janeiro (SAFERJ), ídolo de clubes como Flamengo, Vasco e Fluminense e um expert em futebol internacional por onde trabalhou em diversos países.

Por Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda

Como foi sua infância no Méier, Zona Norte do Rio?

Inesquecível. Mas vale contar um pouco dessa infância. Uma parteira me trouxe ao mundo na casa de meus avós maternos no Cachambi, bairro de classe média da Zona Norte do Rio, onde a residência ficava bem próxima do lugar onde o bonde da linha Cachambi-Méier fazia a volta. Minha infância e adolescência foram normais como os meninos daquela época. Jogávamos bola na rua, pegávamos frutas nos quintais das casas dos vizinhos, e muitas vezes, sem autorização do dono, tínhamos que pular o muro e sair correndo. A casa do meu avô materno ficava perto do cinema Cachambi que eu ia de vez em quando para assistir alguns filmes. Às vezes, lembro com saudades. Dava vontade de beber o leite na mamadeira, e aí, saia, bebia e voltava para o final do filme. Isso sem contar os vagalumes que pegávamos na rua e eram colocados em caixas de fósforos para ser soltos dentro do cinema. Era uma confusão enorme com os lanterninhas que ficavam loucos e tentavam a todo custo descobrir os autores daquilo (risos). Naquele tempo a pelada na rua era geral e foi dessa forma que passei a jogar. Morei na Rua Guaiaquil em Maria da Graça, e em frente a nossa casa tinha uma praça que era subida. Muitas peladas fizemos ali com jogadores lá em cima e outros embaixo. Era divertido. Eu já sobressaía jogando futebol apesar de ser sempre o menor deles. Dificilmente jogava com meninos da mesma idade. Sempre mais velhos. Até no gol do futebol de salão eu aprendi a agarrar, porque senão não deixavam jogar com os mais velhos. Tinha que ir para o gol e agarrar bem porque senão eles me tiravam. Aí comecei a jogar futebol de salão quando levado por um tio ao Magnatas. Fui aprovado no teste. Devia ter uns nove para dez anos. Meu pai não sabia, pois ele queria que eu fosse direto para o futebol de campo, e depois me deixou competir no Magnatas. Em seguida, mudamos para a Rua Arthur Menezes no Maracanã e ali as peladas foram intensas. Eu estudava e quando chegava em casa era para jogar bola na rua. Tabelinhas com o meio fio, com o muro da vizinhança, com as árvores e tudo mais. Só parávamos quando era carro ou senhoras passando. Fazia parte do crescimento da gente.


Antes de chegar no juvenil do Fluminense em 1965, o senhor jogou futebol de salão no Magnatas, no Associação Atlética Vila Isabel que tinha excelentes times sendo tricampeão brasileiro. Como foi essa época?

Mesmo jogando no Magnatas não deixávamos de ir assistir os jogos do A.A. Vila Isabel onde Gizo, Aécio, Celso e Serginho, meus ídolos, jogavam. Acabava o meu jogo do juvenil e saia correndo com meu pai para ver o primeiro time do Vila Isabel. Era maravilhoso. Em seguida, me transferi para o Vila Isabel, pois jogar lá era meu sonho. Fui campeão juvenil e ingressei no infanto juvenil do Fluminense com o ex-zagueiro e ídolo Pinheiro, em 1965.

O futebol de salão foi uma boa escola na sua vida de atleta e a convivência com os jogadores Aécio, Serginho, Adilson, Celso, Gizo, foi importante. Se Pelé foi o rei do campo podemos dizer que Serginho foi o rei do salão. É verdade que procurava imitá-lo?

Mas o Serginho, para mim, é o maior jogador da bola pesada de todos os tempos. Igual ao Pelé no campo. Num jogo decisivo, Vila Isabel x Imperial de Madureira, o Serginho chegou atrasado e o treinador Fatinho não colocou ele para iniciar o jogo. A torcida foi à loucura. Primeiro tempo terminou Imperial 2 a 0. A torcida queria matar o treinador. Começou o segundo tempo com o Serginho em campo. Resumindo, o Vila Isabel virou o jogo para 11 a 2. O Serginho fez tudo que sabia e o que não sabia. O melhor do mundo para mim. No futebol de salão aprendi muita coisa que depois apliquei no campo e foi importante na carreira. Noção de cobertura, marcação, passe certo, drible curto. Quem não tinha esses fundamentos não poderia ter êxito no futebol de salão. Isso tudo também era muito importante no campo. Já cheguei com isso desenvolvido. Infelizmente, não joguei junto com esses grandes jogadores do Vila, pois eram mais velhos, e quando ia estourar a idade no juvenil e passar a jogar com eles comecei a me dedicar ao futebol de campo. Profissionalizei-me no Bonsucesso e fiquei só no campo.

Como foi seu começo de carreira no Bonsucesso?

Saí do infanto juvenil do Fluminense porque meu pai mandou eu escolher entre o futebol de salão e o de campo. Para eu treinar no Fluminense, eu perdia duas aulas por dia no Colégio de São Bento do Rio de Janeiro, no Centro, e isso atrapalhava meu desejo de ser engenheiro eletrônico. Terminado aquele ano de 1965, o meu pai me mandou escolher e eu, para poder estudar, escolhi o futebol de salão. Por quê? Me dava a condição de continuar estudando. No ano de 1965, passei de ano perdendo duas aulas por dia, fui campeão pelo time da minha sala no colégio, vice-campeão carioca pelo Fluminense e campeão pelo Vila Isabel. Achei que no ano seguinte, em 1966, se eu continuasse naquela batida eu não ia conseguir estudar. Lembro como se fosse hoje! Quando cheguei no carro depois do último treino do ano no Fluminense e meu pai perguntou se eu tinha decidido, falei que sim e que já tinha me despedido do professor Pinheiro e do Fluminense. Ele ficou uma fera e queria me dar uma surra dentro do carro. Mas ele queria que eu decidisse o que ele queria. Bati o pé. Não abri mão e parei de jogar no campo. Começou 1966 e eu estudava e jogava futebol de salão no Vila Isabel, até que um amigo, Marcos Malisia, me chamou para treinar no Bonsucesso. Como era julho e eu estava de férias, aceitei. Fui e o avisei que seria só durante as férias. Treinei, agradei e o treinador me pediu que ficasse. Expliquei a ele o o motivo pelo qual tinha saído do Fluminense e não seria lógico perder duas aulas por dia e ir jogar no Bonsucesso. Falei que só poderia treinar aos sábados. Dito e feito. Ele aceitou e passei a treinar aos sábados e jogar no domingo pela manhã. E fui indo até que fui pegando o gosto e passei a me dedicar mais ao campo. Aos 18 anos, decidi que não seria mais engenheiro eletrônico e que seguiria a carreira de jogador como meu pai vinha exigindo, e quando parasse, seria treinador. A cada dia me afastava mais do futebol de salão, até que em 1970, quase não fui ao Vila Isabel, mas recebi uma ligação pedindo que fosse jogar as últimas duas partidas decisivas contra o Astória do Rio Comprido. Ponderei que não tinha jogado nenhuma partida naquele ano e não seria legal eu chegar e jogar, enquanto, quem foi o ano inteiro ficaria no banco. Falaram que os próprios jogadores pediram que eu fosse. Fui com a condição de começar no banco e só entrar se houvesse muita necessidade. Entrei ainda no primeiro tempo e na primeira bola joguei um jogador deles, folgadinho, em cima da mesa do cronometrista. Foi tudo pelo chão. Sem violência (risos). Foi só com o que eu já tinha evoluído no campo. Atrasar um pouquinho na jogada e ir no corpo do adversário. Só isso. Ele levantou e veio de encontro a mim e eu peguei no gogó dele e falei que ali o negócio era outro. Não era mais só futebol de salão. Era campo também. Não lembro o resultado desse jogo, mas no segundo jogo na quadra do América, em Campos Sales, demos um sacode neles e fui campeão de aspirantes. Para minha surpresa, dias depois saiu uma convocação para disputar o Campeonato Nacional de futebol de salão, em Porto Alegre. Agradeci e disse que estava assinando contrato profissional com o Bonsucesso e seria registrado no dia seguinte. Ainda assim me pediram para ir na apresentação. Fui, treinei e tentaram me demover e ir para Porto Alegre. Não fui e encerrei a minha passagem pelo futebol de salão naquele momento.

Dentre os treinadores das categorias de base, qual foi o mais marcante?

Nas categorias de base o Pinheiro foi o primeiro com quem trabalhei. Excelente. Me ensinou muita coisa. Ele falava que não ensinaria jogar futebol, e sim, ser um jogador honrando a camisa do Fluminense e honrando o futebol com exemplos positivos. Muita informação para mim que carrego até hoje. Depois peguei o Alfredo Abrão no Bonsucesso. Lembro que quando o ponta ia na linha de fundo ele falava que, o pé na hora de bater na bola, tinha que ser igual a uma foice, ou seja, que a bola é que tinha que ir na cabeça do atacante e não o atacante correr atrás da bola. Teve também o major Murilo de Carvalho, ainda no Bonsucesso. Esse me deu o clique na hora certa. Três bolas que vieram para mim no treino devolvi com um passe certinho e ele deu falta contra nas três vezes. Quando perguntei o por quê, ele disse que eu estava fazendo o óbvio e que mais de três milhões de meninos faziam aquilo, e se eu quisesse ficar para sempre no Bonsucesso, que continuasse a fazer aquilo. Um puxão de orelha. Fiquei olhando para ele e ele finalizou: “Quando a bola estiver com seu amigo você já tem que saber quem está livre lá nas suas costas. Quando a bola chegar, você domina e vira o jogo sem olhar. Isso vai ser o diferente e vai fazer você sair do óbvio”. Ficou a lição para mim. Muita gente me pergunta qual foi o melhor treinador que tive. Respondo sempre a mesma coisa. Todos. E graças a Deus, recebi de todos os treinadores que passaram na minha vida as melhores instruções na hora que mais precisava. Isso é o que importa.

Certa vez você disse: “O futebol é uma profissão que os outros é que escolhem você”. Quem escolheu o José Mário de Almeida Barros para ser jogador de futebol?

E é verdade. O futebol é uma profissão que os outros é que escolhem você. Uma hora é o treinador, outra a diretoria, a imprensa, agora, tem o executivo e o torcedor. Se você escolhesse ser engenheiro ou médico, por exemplo, estaria nas suas mãos todo o período de estudo e depois o de trabalho. Jogador de futebol é muita gente dando opinião que acha que sabe. Como já citei, o meu pai foi quem me escolheu primeiro, mas depois enfrentei todos que citei acima. Não quero tocar no assunto, mas tive dirigente e jornalista querendo me prejudicar só porque tinha amigo na mesma posição que eu jogava.


Sua chegada ao Flamengo não foi difícil, mas se tornar titular foi um problema. Tanto que foi testado como lateral-direito e ponta-esquerda pelo treinador paraguaio Fleitas Solich (1900-1984). Acabou não aproveitado e ficou quatro meses treinando em separado com Tião Mendes, preparador físico. Bastou Zagallo assumir e você se tornar titular no meio-campo. Foi um dos piores momentos da carreira?

Cheguei com passe livre por falta de pagamento pelo Bonsucesso. A falta de pagamento foi só coincidência porque o problema foi com um dirigente. Um jogador chegando no Flamengo, vindo do Bonsucesso e com passe livre nas mãos não era fácil. Cheguei em outubro de 1971 e só assinei contrato em fevereiro de 1972. Eu soube depois que o Flávio Costa foi quem deu força para eu ir para o Flamengo. Muitas vezes cheguei na porta do Flamengo e pensei em voltar para casa e estudar. Ficava dentro do carro pensando se entrava ou não. Acabei entrando. Normalmente, ia treinar na pista com o Sebastião Mendes junto com vários jogadores que não estavam nos planos. Fui ficando. Um dia cheguei e o “Seu” Bria me disse que não poderia mais treinar por ordem da diretoria. Eu e alguns outros. Me mandou falar com o Aristóbulo Mesquita. Fui. Cheguei e o Aristóbulo falou que eu ia continuar treinando e me mandou falar com o Bria. Cheguei no Bria e ele disse que meu nome não estava na lista. A explicação do Aristóbulo foi que meu nome não constava na lista porque eu não tinha vínculo oficial com o Flamengo. Seu Bria me mandou voltar para o Aristóbulo, mas fui embora. Cheguei em casa e minha família no meio da rua preocupada porque o elevado Paulo de Frontin, no Rio Comprido, tinha desabado e era a hora que eu passava lá. Justamente passei poucos minutos antes de desabar. Nasci de novo. Não voltei mais no Flamengo até que o Aristóbulo pediu que voltasse e que o Bria já estava sabendo. Voltei e fiquei treinando na pista de novo. Joguei uns dois amistosos pelo Flamengo sem nenhum vínculo. Terminou o ano e falei para o Aristóbulo que não iria mais. De novo conversou comigo e disse que o treinador seria o Zagallo e que ele iria resolver. Primeiro treino coletivo fiquei o tempo todo sentado à beira do campo e não treinei. Era uma segunda-feira e tinha jogo na quarta. Terminado o treino me dirigi ao Zagallo e perguntei se tinha terminado. Ele falou que sim, mas pediu que eu fosse dar uns chutes a gol para o goleiro. Agradeci e disse que ia embora e expliquei a minha situação e que voltaria a estudar. Ele ponderou que tinha um jogo, mas que na quinta-feira faria um coletivo contra os juniores e me daria uma resposta definitiva. Aceitei e fui dar uns chutes desgostosos para o goleiro. Na quinta-feira entrei no coletivo e fiz três gols. Acabou e ninguém me deu papo. Fui embora e fiquei, de novo, na dúvida se voltaria ou não no dia seguinte. Voltei pensando em ficar até sábado. Cheguei em clima de despedida. Seria o meu último treino. Já ia trocando de roupa quando o Aristóbulo chegou e perguntou se eu tinha dinheiro no bolso. Respondi que sim e ele me mandou comprar pasta e escova de dentes para ir para a concentração convocado pelo Zagallo. Isso me animou. Saí para comprar tudo e falei que precisava de roupa para dormir e o Aristóbulo disse que o Flamengo me daria uniforme para a concentração e um calção para dormir. Aí começou a minha virada. O jogo era contra o Santos de Pelé. Joguei uns 20 minutos e ia fazendo um gol. O goleiro era um argentino chamado Augustín Cejas (campeão paulista em 1973). Ele pulou nas minhas pernas e me derrubou. O juiz não deu pênalti. Coisas da vida. Na terça-feira, fui para Salvador, e em cima da hora do jogo, o Arílson passou mal e o Zagallo me colocou no meio campo e deslocou o Paulo Cezar Caju para a ponta-esquerda, fato que o deixou contrariado. Fui o melhor em campo e ficou acertado que o Flamengo compraria o meu passe. Assim foi o meu começo no Flamengo. Muita coisa eu omiti para preservar nomes e pessoas.

Já titular do Flamengo onde jogou de 1971 a 1974, o senhor ganhou títulos e viu subir ao time profissional craques com Júnior e Zico, expoentes da geração mais vitoriosa do clube. Dá para dimensionar essa sensação?

Em 1972, disputei o Torneio de Verão, o Torneio do Povo, a Taça Guanabara, o Campeonato Carioca e o Brasileiro, este inclusive foi o único campeonato que não conquistamos. No mesmo ano, em outubro ou novembro, machuquei o joelho esquerdo e tive que operá-lo. Só voltei no segundo semestre de 1973, quando o Flamengo já havia conquistado a Taça Guanabara, e no ano seguinte, vários jogadores foram lançados como Cantareli, Jaime, Júnior e Zico. Eles deram sorte que os mais experientes estavam há muito tempo no Flamengo e deram todo o apoio necessário que precisavam. Até hoje quando encontro o Júnior, ele agradece por esse apoio que demos quando estava subindo. Já o Zico vinha jogando no time de cima sempre que surgia oportunidade. É muito legal quando você vê jovens subindo e tendo êxito. Vale frisar que esses jogadores, além de jogarem bem, eram responsáveis, tinham qualidades técnicas e objetivos para seguirem em frente. Isso foi o mais importante para eles, e nós, demos apenas o apoio com a nossa experiência.

Qual momento da carreira você achou que poderia ser convocado para a seleção brasileira, já que a convocação nunca saiu mesmo jogando em clubes como Flamengo, Fluminense e Vasco, onde sagrou-se quatro vezes campeão na década de 1970 entre 1972 e 1977 havendo neste período a Copa do Mundo de 1974?

Eu estava na lista do Zagallo para a Copa da Alemanha em 1974. A seleção ia fazer uma excursão e eu fui avisado que estaria nesse relação de convocados. Infelizmente machuquei o joelho e arranquei os dois meniscos. Naquele tempo era assim. Hoje tira só a parte afetada e o jogador volta a jogar em 30 dias ou menos. Mas lembro que fiquei 6 meses parado e isso acabou me atrapalhando um pouco. Naquela época quando se ficava parado por contusão, aparecia vários outros jogadores do mesmo nível ou melhor do que você. E foi assim que aconteceu comigo.

Como foi ser uma peça da engrenagem da Máquina Tricolor?


Saí do Flamengo porque o presidente disse que eu era mentiroso. Respondi que não jogava mais no clube e fui embora. O George Helal fez de tudo para eu ficar, mas não aceitei. Quando já estava treinando no Fluminense, o presidente do Flamengo pediu ao George Helal para me fazer uma proposta igualando o que eu estava ganhando no Fluminense e eu aceitei. Lembro, perfeitamente, como se fosse hoje. Helal pedindo para eu dar a palavra que eu voltaria ao Flamengo, já que o Fluminense ainda não havia pago. Falei que ele tinha que pedir permissão ao Francisco Horta para eu voltar à Gávea. Falaram com o Horta e ele disse que responderia mais tarde depois de se reunir com a diretoria do Fluminense. Antes de fechar a Federação Carioca, o Fluminense depositou o dinheiro do meu passe e eu fui para a Máquina Tricolor. Dessa vez, mais uma vez jogando no meio de craques do mundo do futebol. Não dá para explicar a sensação de jogar com aqueles jogadores. Aquela equipe era tão boa, mas tão boa, que era só jogar as camisas para o alto no vestiário e sair. Quem entrasse daria conta do recado facilmente. Jogar com Rivellino era a realização de um sonho, já que eu havia jogado com o Paulo Cezar Caju e Zico. Meu Deus, mas jogar com o Rivellino era muita emoção! A nível de curiosidade, há uns meses escrevi uma mensagem para o Rivellino no Whatsapp e ele me respondeu em áudio. Quando ouvi a voz dele não me contive e chorei muito. Mandei mensagem para ele que estava emocionado também. Foram momentos maravilhosos jogando e de amizade que fiz com ele na Máquina Tricolor. Minha saída do Fluminense foi por motivos estranhos, pois joguei umas 70 partidas pelo clube como titular em 1975.

“Quero o Zé Mário aqui”, disse o treinador Paulo Emílio (1936-2016), contratado pelo Vasco. Qual a importância do saudoso treinador na sua carreira?

O professor Paulo Emílio foi importante na minha carreira porque acreditava em mim dentro e fora o campo. Ele sabia que podia contar comigo para cobrar dos meus companheiros. Sempre confiou em mim e eu sempre correspondi. O Paulo Emílio não foi só meu treinador, foi além, era um amigo. Nossas famílias se davam. Ele era muito legal.

Sua chegada ao Vasco foi em algum troca-troca promovido por Francisco Horta?

Em 1976, o Didi era o treinador e me chamou num canto e disse que eu seria lateral-direito a partir daquele dia. Fui para casa, raciocinei, pensei nos pontas habilidosos e rápidos que iria marcar e me neguei. Procurei ele e falei que ficaria na reserva tranquilamente, mas de meio-campo. Ele disse que eu só ficaria nas Laranjeiras se fosse para ser lateral-direito. Me neguei e falei que sairia. O presidente Francisco Horta me procurou e queria aumentar o salário para eu ficar. Respondi que não seria bom nem para mim nem para o clube porque se o Didi me mandasse treinar de lateral-direito eu não iria. Se durante um jogo ele me pedisse para ir de goleiro eu até iria, mas me fixar na lateral, não. Nesse impasse surgiu o troca-troca e o Francisco Horta me incluiu em um troca-troca com o Vasco. Eu, Abel e Marco Antônio fomos para o Vasco e Miguel e Luiz Carlos vieram para o Fluminense.

Por várias vezes o senhor e o zagueiro Orlando Lelé (1949-1999), quase se agrediram. Mas sempre se desculpavam e se abraçavam. Como era sua convivência com ele? Tem alguma história para nos contar?

A primeira partida do Orlando no Vasco foi num amistoso em Londrina. O ponta-esquerda deles se chamava Caldeira, driblador e muito rápido. Toda bola o Orlando queria apoiar e eu tinha que cobrí-lo. Reclamei e ele respondeu que era a minha obrigação cobrir. Retruquei que eu estava jogando praticamente de lateral-direito e essa não era a minha posição. Ele respondeu para eu me virar e argumentei que eu era meio-campo e ninguém da defesa podia jogar na minha frente. Se isso acontecesse eu estaria atrasado. E passei a fazer isso. Cada vez que ele avançava, eu também ia e passava à frente dele e com isso o Abel era que tinha que sair da posição dele. Aí fomos para o vestiário e o treinador Paulo Emilio tentou acalmar os ânimos. Eu continuei dizendo que não era lateral. Nem lembro como terminou essa briga, mas fora do campo éramos amigos e saíamos juntos com nossas famílias. Várias vezes brigamos dentro de campo e no vestiário, mas ficava restrita aos jogos e não era pessoal. Mas o Vasco era uma família e existia muita amizade, carinho e respeito entre a gente.

Quando saiu do Vasco e foi jogar na Portuguesa de Desportos, teve um acontecimento que mudou sua vida envolvendo o uruguaio Daniel Gonzalez (1954-1985). Pode nos contar?

Claro! Quando cheguei na Portuguesa, o Daniel estava de férias. Lembro que eu estava procurando apartamento para morar e, um certo dia, acabou o treino e eu fui encontrar o motorista do clube na Administração para ver um apartamento para morar. O Daniel Gonzalez estava lá. Fomos apresentados e ele me perguntou onde eu iria morar e onde eu estava morando. Falei que estava procurando apartamento e estava com minha mulher num hotel no Centro. Ele falou que ia me levar em um lugar para procurar uma moradia. Chegando na hotel onde a gente estava hospedado, ele estacionou o carro e disse que iria subir. Eu falei que a minha esposa estava no quarto e ele insistiu mesmo assim. Liguei pelo interfone avisando que ia subir com o Daniel e subimos. Chegando lá, ele entrou, cumprimentou a minha esposa e foi pegando nossas coisas e jogando nas malas. Perguntei se ele estava maluco, que eu não o conhecia e nem ele a mim. Ele continuou a jogar minhas coisas dentro da mala e dizia que eu iria para a casa dele. Não entendi nada mas fui. Ao chegar em sua casa conheci a esposa dele, chamada Mabel, que assim como eu e minha esposa, não estava entendendo nada. Fomos nos conhecendo e nós tornamos amigos até a sua morte. Ele está no céu, mas a minha família e a dele se tornaram amigas a ponto de trocar mensagens pelo Whatsapp, e inclusive, conheci o neto dele de nove anos que tem tudo para ser craque como o avô foi. Mas assim é a vida. Um uruguaio que saiu lá de Montevidéu e se encontrou com um carioca recém chegado em São Paulo. Até hoje penso nele e de vez em quando me pego chorando.

Quem foi o melhor companheiro de volância no meio de campo?

O meu melhor companheiro foi o Liminha e nos entendíamos muito bem. Dormimos no mesmo quarto na concentração do Flamengo e nas viagens. Éramos amigos de frequentar a casa um do outro.

A paixão pelo futebol o fez apostar na carreira de técnico. No mesmo ano de sua despedida, em 1982, foi o Botafogo, justamente único time grande do Rio em que o senhor não jogou que lhe deu sua primeira oportunidade. Se decepcionou com Flamengo, Fluminense e Vasco, em virtude disso?

Não me decepcionei com os times que tinha jogado porque na minha cabeça já estava definido que os times em que joguei não me interessavam trabalhar. Depois revi essa decisão, mas ninguém me chamou. Mais tarde um pouco vi o Zanatta dirigindo o Vasco e fui ao Maracanã assistir ao jogo. O Vasco perdeu e a torcida entoou o burro para o Zanata. Estava com o meu pai e chorei copiosamente. Decepção. Um ex-jogador do Vasco, ídolo, ser desmoralizado por uma torcida. Na mesma hora voltei a pensar em nunca trabalhar num time em que eu joguei. Foi melhor assim.

Em 1988, veio a primeira chance de comandar um clube árabe e o senhor acertou por três anos com o Al-Ain e ficou bastante conhecido por lá. Como foi isso?

Fui convidado, primeiro, pelo preparador físico Carlos Alberto Lancetta e depois pelo treinador Jorge Vieira para dirigir a Seleção do Iraque, sub-23, que foi jogar a Copa do Golfo. A seleção principal estava se preparando para a Copa do Mundo, e o presidente da Federação Iraquiana de Futebol, Uday Saddam Hussein, era o filho mais velho de Saddam Hussein. Mas foram por apenas três meses. Foi uma loucura. Lembro que chamei ele de idiota e imbecil dentro de Bagdá. Era só ele levantar a mão e me fuzilar, mas graças a Deus, consegui sair ileso dessa. Fui para o Al-Ain também por indicação do Carlos Alberto Lancetta e fiquei dois anos por lá. Estava entendiado com tanta terra. O Al-Ain ainda não era a potência que é agora. Ainda assim ganhamos a Copa da Federação. Foi muito bom trabalhar por lá porque senti que ajudei muito o futebol daquele país.


Como foi ser campeão dez anos depois, treinando o Kashima Antlers, e ter reencontrado o amigo Zico?

Eu estava na seleção do Qatar quando o Zico me ligou. Queria que eu assumisse o Kashima porque o treinador tinha saído e ele estava na França com a Seleção Brasileira. Falei que não podia largar a seleção do Qatar e ai ele falou. Você é meu amigo ou não? Respondi: Quando eu viajo? E fui (risos). Zico é um caso à parte na minha vida e não gosto nem de falar. Mas há pouco tempo fiz uma declaração de amor para ele, no bom sentido, é claro! O Kashima não estava bem na tabela e começamos a trabalhar. Fomos ganhando, ganhando, ganhando, e fomos campeões. Não sei agora, mas até bem pouco tempo, eu era o recordista de vitorias seguidas da J-League. Além de Zico tínhamos o Jorginho, atualmente treinador, o Bismarck e o Mazinho que jogou no Bragantino e Flamengo. Foi uma experiência magnífica trabalhar no Japão. Eles não são desse planeta. Tudo é perfeito, e às vezes, até é perfeito demais.

Você escreveu um livro sobre futebol, não é mesmo?

Resolvi escrever um livro sobre o que sentia sobre o futebol brasileiro daquela época, em 1991. O título ‘Porque Foi, Porque Não É Mais’. Fui escrevendo críticas para todos os segmentos desse esporte apaixonante chamado futebol. Jogadores, treinadores, torcedores, dirigentes de clubes, da CBF e imprensa. Contei tudo que eu sabia e o que estava acontecendo no mundo esportivo. Os seus colegas da imprensa não aceitaram a crítica e me detonaram. Coloquei uma foto de um campo de futebol cheio de tanques de guerra correspondendo aos dirigentes da CBF e por aí adiante. Hoje, o livro só não está atualizado no Dopping que evoluiu bastante. Sobre as críticas eu absorvi bem na medida do possível, mas afetou minha família e tomei a decisão de comprar o restante dos livros da editora com o dinheiro que tinha. Tenho até alguns exemplares aqui comigo. Mas o livro foi um presságio do que está acontecendo hoje com o nosso futebol.

Como surgiu essa história de ser chamado pelo nome do ator americano Dustin Hoffman?

O apelido de Dustin Hoffman foi do Paulo Cezar Caju. Desde que ele chegou no Flamengo ele me chamou e me chama até hoje assim. Um dia fui ao cinema num filme do Dustin e estava na sala de espera e todo mundo me observava e olhava para o cartaz com foto dele. Certa vez, estava num shopping, em Dubai, e o cara da loja me seguindo Eu já estava grilado. Cheguei perto dele para perguntar porque ele estava me seguindo, mas ele se antecipou e perguntou se eu era o Dustin Hoffman. Sempre falo que a única diferença é a conta bancária (risos).

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social?

Nem fale. Foi o pior para mim. Tive Covid-19 e fiquei internado três dias num quarto do hospital. Nunca pensei em morrer. O que senti mais foi o mal estar de estar sozinho. Medo de passar para os outros. Todos na minha casa tiveram. Até o meu neto de 2 anos. Só a minha sogra de 88 anos não teve ou foi assintomática e ela estava junto com a gente. Agora é que estou melhorando.

Como definiria Zé Mário em uma única palavra?

Prefiro que os outros me definam.

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA EDU


Dó, Ré, Mi, Fá, Sol, Lá e Si foram as notas musicais que as pernas de Edu – principalmente a esquerda – extraíram nos longínquos anos em que passou ao lado de sua mãe e professora de piano nas manhãs, tardes e noites em que ficava extasiado vendo-a tocar.

Do pai, um ex-jogador do Esporte Clube XV de Novembro e alfaiate, herdou a habilidade e o gosto por camisas bonitas como a do Santos, onde começou a carreira e a do Clube Esportivo Dom Bosco, de Mato Grosso, quando encantou o torcedor Dombosquino, em 1985.

Nascido na cidade de Jaú, São Paulo, em 06 de agosto de 1949, o menino Jonas Eduardo Américo chegou ao Santos levado por ninguém menos que Pelé. “Tem que mostrar algo para ser aprovado”, decretou o dono da coroa de Rei do futebol. E ele mostrou. Mostrou tanto que, aos 16 anos, foi convocado por Vicente Feola, então técnico da Seleção Brasileira a fazer parte do grupo que disputou a Copa do Mundo na Terra da Rainha, em 1966.

Sagrou-se campeão mundial em 1970 e foi convocado para a Copa de 1974. No Peixe, jogou até 1977 e acumulou títulos dos campeonatos paulistas de 1965, 1967, 1968, 1969 e 1973, a Taça Brasil de 1965, o Torneio Rio-São Paulo de 1966 e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa de 1968.

Em seguida, jogou pelo Corinthians e participou da equipe campeã paulista de 1977, que pôs fim aos 23 anos sem títulos do clube do Parque São Jorge. Logo o Corinthians que sofreu por muitos anos quando o habilidoso ponta-esquerda jogava no Santos.

Foi contratado pelo Internacional, onde ficou pouco tempo. Arrumou as malas para jogar nos EUA pelo Cosmos. Em terras aztecas, defendeu as cores do Tigres, da cidade de Monterrey, e integrou equipes de menor porte, como o Nacional de Manaus, sendo bicampeão amazonense.

O encerramento da carreira profissional não o afastou dos gramados. Participou de equipes de exibição e integrou a Seleção Brasileira de Masters.

O Vozes da Bola da semana e com Edu, ponta-esquerda e considerado uma dos maiores dribladores do futebol mundial, que fazia miséria pelos flancos esquerdo dos campos dando muita dor de cabeça aos laterais-direitos. É o jogador mais novo da história a disputar uma Copa do Mundo e o sétimo maior artilheiro da história da Vila Belmiro.

Por Marcos Vinicius Cabral

Edição: Fabio Lacerda

Fale um pouco da sua infância em Jaú e conte um pouco sobre seus pais e o início no futebol.

Como todo garoto da minha idade que brincava, jogava bola e estudava. Minha infância foi boa e tinha uma família muito unida. Meu pai era alfaiate e jogou no Esporte Clube XV de Novembro. Mminha mãe era professora de piano. Não éramos ricos, porém, a nossa vida era equilibrada.

Reza a lenda que Pelé disse para você: “Não pense que eu te apresentando ao Santos você vai ficar. Precisa apresentar alguma coisa também para ser aprovado”. Como foi essa história?

Quando conheci o Pelé as minhas pernas tremeram. Eu o conhecia apenas pela televisão e quando estivemos juntos, ele falou certa vez: “Não é porque você está sendo apresentando por mim no Santos, que está aprovado. Você tem que apresentar alguma coisa”. Eu acho que eu apresentei (risos). Do contrário, não teria ficado. Mas quando eu sai para disputar os jogos com a Seleção juvenil, com 15 ou 16 anos, comecei a jogar e na volta dessa viagem fomos para Trindade e Tobago e Suriname. Lembro que fui muito bem nessas partidas. e na volta, o treinador disse que me utilizaria nos jogos da equipe principal do Santos. Foi a maior alegria da minha vida e não via a hora de ir para Jaú e contar a surpresa para o meu pai. Naquela época o contato com as pessoas que estavam longe era por carta ou telefone, mas só tinham telefone as pessoas com poder aquisitivo alto. Era época de Carnaval e o Santos me liberou. Fui correndo para Jaú para contar ao meu pai que disputaria os jogos pelo time principal do Santos no Torneio Rio-São Paulo.

Você com 13 anos de idade já jogava no Palmeirinhas, o Palmeiras lá de Jaú, que disputava campeonatos amadores com garotos de 17, 18. Como foi essa experiência?

Muito boa. Comecei muito novo em Jaú, onde fomos campeões infantis. Nessa época eu tinha 13, 14 anos e já jogava no meio do pessoal mais velho do que eu. Depois eu fui para o Palmeirinhas, onde disputei o campeonato amador e precisei de uma autorização da Federação Paulista para poder jogar em carta enviada pelo meu pai.

‘A primeira vez a gente nunca esquece’, diz um famoso ditado popular. Como foi sua primeira vez com a camisa do Santos?

Inesquecível. Vestir a camisa do Santos para mim foi uma honra e um prazer muito grande. Sei que todos jogadores queriam jogar naquele time do Santos e eu fui um privilegiado em ter a chance de agarrar a oportunidade e chegar ao time profissional ainda adolescente.

Como era jogar ao lado de Pelé?

O Pelé estava contundido quando começou o Torneio Rio-São Paulo e aproveitei sua ausência para me manter no time. E foi o que aconteceu. Quando ele retornou pude jogar ao seu lado e era sonho de qualquer um. Quem não ia querer jogar com o melhor jogador do mundo? Dar passes para ele fazer gols? Tabelar? Qualquer jogador de futebol sonharia com essa oportunidade e eu estava podendo fazer isso. E graças a Deus eu tive essa alegria e esse prazer na minha vida.

Quem foi seu ídolo no futebol?

Pelé e Garrincha. Eu tive vários outros ídolos dentro do futebol, mas esses dois se destacam. O Garrincha pelo seus dribles e aquela de deixar a bola e vai e volta. Ele foi inspiração para eu aprimorar meus dribles. Eu assistia, sem exagero, umas 20 vezes o documentário do Garrincha. “Alegria do Povo”, o “Anjo das Pernas Tortas”. Já Pelé, eu pude observá-lo jogando ao lado dele no Santos e fui aprendendo um pouco com ele, como por exemplo, passar em espaços pequenos o que ele fazia muito bem. Mas como que ele conseguia passar ali? Técnica, meu caro. E absorvi isso e me ajudou muito na carreira.

Gostaria que falasse de dois jogos para os leitores do Museu da Pelada: o Rio-São Paulo de 1966, quando o Santos venceu o Bangu por 5 a 2, no Pacaembu, e na goleada por 3 a 0 contra o Palmeiras, em que você fez dois gols e num deles driblou toda zaga adversária. Como foram essas partidas?

Meu primeiro jogo profissional foi contra o Botafogo, no Maracanã, mas o mais importante para mim foi contra Portuguesa de Desportos. O nosso treinador era o Lula e me escalou muito sabiamente na ponta-direita quando faltavam quinze minutos para terminar o jogo. Por que sabiamente? Ele me escalou numa posição que não era a minha e me colocou poucos minutos na partida, ou seja, se eu jogasse mal, ele teria como me defender dizendo que joguei pouco tempo e fora da minha posição de origem. Mas até que fui bem, driblei, dei passes, chutei a gol e depois voltei à ponta-esquerda. Depois veio aquele jogo memorável contra o Bangu, em São Paulo, em que marquei dois gols na goleada por 5 a 2 e fui muito bem contra o lateral Fidélis, considerado um dos melhores da época. Tanto que disputei a Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra. Lembro de um gol de falta contra o Ubirajara, goleiro banguense, em que ele armou a barreira ao contrário e ficava com seu campo visual livre me olhando na cobrança. Mas fui feliz na batida e joguei por cima da barreira e marquei um golaço que foi um dos mais importantes da minha carreira. Mas a partida que selou, definitivamente, a minha convocação para a Seleção e o meu passaporte para a Inglaterra, foi contra o Palmeiras de Djalma Santos, lateral-direito muito respeitado. Mas como eu queria um lugarzinho ao sol, eu não poderia respeitá-lo tanto (risos). Eu participei intensamente desse jogo, partia para cima dele e acabei sendo coroado com um belíssimo gol, driblando toda defesa alviverde. Foi uma pintura que jamais vou esquecer.

Em 1966, você foi convocado para a Seleção Brasileira que disputou a Copa realizada naquele ano com apenas 17 anos. Até hoje, é o jogador mais jovem a ser convocado para disputar uma Copa do Mundo. Como se sente?

Mesmo tendo passado 55 anos, até hoje a ficha não caiu. Quatro anos antes, me encontrava em Jaú, em São Paulo, ouvindo a Copa do Mundo de 1962, no Chile, pelo rádio. Para ser sincero, eu estava impressionado em estar ali com pessoas que eram ídolos para mim. Convivia com Bellini, Djalma Santos, Zito, Pelé, Garrincha, Jairzinho. Aquilo ali era um sonho de um menino de apenas 17 anos. Representar o país ao lado de tanta gente boa foi uma das melhores coisas que me aconteceu na vida.

Umas das críticas à Seleção de 1966 foi a preparação com 45 jogadores. Você acha que, de fato, isso atrapalhou?

Se atrapalhou ou não, se foi boa ou não, sinceramente não sei. O que sei é que ficamos três meses treinando com afinco, e nesses 90 dias, houve cortes e talvez isso tenha prejudicado um pouco. Minha opinião pessoal é que muitos jogadores que foram cortados deveriam ter ido. Mas é a vida de todo jogador de futebol.

Em 1969, João Saldanha assumiu a Seleção como treinador. Se ele não tivesse saído você acha que seria titular do time?

Talvez sim, talvez não. Em 69, quando o João Saldanha nos convocou, ele chamou 22 feras, como ele mesmo dizia. Na minha chegada à Seleção, lembro que ele disse que eu seria, mas que o Paulo Cezar Caju, cracaço de bola, estaria disputando comigo a titularidade. A briga ia ser legal, pois nós tínhamos uma disputa leal, já que sempre tivemos uma relação fraterna. No entanto, quem se beneficiava com isso era o treinador, porque ia ter dois jogadores com fome de bola e com uma vontade enorme de jogar. Nas Eliminatórias, eu sai na frente, e o Saldanha me chamou num canto e disse que queria que eu fosse o Edu do Santos, ou seja, me deixou à vontade. Mas depois disso deu no que deu e a história todo mudou.

O saudoso radialista Jorge Curi (1920-1985) costumava te chamar de ‘Urubu Bonito’. Como você encara a situação e como vê hoje no futebol tantos casos de discriminação racial?


Vejo com tristeza esses casos de racismo. Mas naquela época, não exista isso. Lembro que num Flamengo e Santos, no Maracanã, o Jorge Cury narrando a partida me chamou de Urubu Bonito. Mas veja bem, fui chamado de Urubu Bonito por Jorge Cury transmitindo o jogo para milhões de ouvintes. Mas sei que era um apelido carinhoso. O motivo do apelido, até hoje, eu não sei. Talvez fosse pela maneira de caminhar, bater na bola, carregá-la, driblar o adversário. Mas, antigamente, era bem menos, podemos dizer assim, esse troço chato do racismo que está em evidência em pleno século 21. Mas os negros, no qual eu me incluo, sempre tiveram seu espaço, sua cor e seu respeito adquirido com o suor do rosto de seu trabalho.

Alguns apelidos curiosos dos craques de 70: Gérson era Papagaio, Rivellino, o Orelha, Paulo Cezar Caju, o Nariz de Ferro, Tostão, o Cara de Ovo, Brito, o Cara de Cavalo e você o Zé Bundinha. É verdade?

É verdade (risos). Naquela seleção todo mundo tinha seu apelido. Me chamavam de Zé Bundinha. Eu não sei o motivo, pois minhas nádegas não eram tão avantajadas assim (risos). Mas o apelido pegou. Quando a gente se encontra a gente chama um ou outro não pelo nome mas pelo apelido. Vejo isso como uma maneira carinhosa de nos tratarmos, já que era um grupo muito legal, muito unido e uma amizade sincera. Mas se alguém chiasse com o apelido, aí mesmo que caímos na pele.

Havia o período da ditadura militar na Seleção de 1970 e isso é inegável. Na volta do México, vocês foram direto para Brasília e até almoçaram com o Médici. Como era lidar com essa situação?

Éramos jovens e não percebíamos o problema do militarismo que estava ocorrendo no Brasil. Sabíamos de sua existência, mas não sentíamos tanto, pois estávamos imbuídos no pensamento de conquistar a Copa do Mundo. Em 1970, houve aquela recepção com o presidente Emílio Garrastazu Médici, em Brasília, quando voltamos tricampeões mundiais, que foi um fato marcante para o país. Lembro que durante a Copa do Mundo, minutos antes das partidas, Médici fazia questão de telefonar e conversar com todos os jogadores, um por um, nos incentivando, para conquistar o título. Isso foi legal.

Você disputou três Copas do Mundo (1966,1970 e 1974) e em duas delas,1970 no México e 1974 na Alemanha, foi reserva. Podemos dizer que sua maior mágoa no futebol se chama Zagalo?

A respeito do treinador na Copa do Mundo de 1970 e 1974, eu não tenho mágoa nenhuma, posso te assegurar isso. A minha mágoa é não ter jogado, pois em três Copas do Mundo, sendo duas com ele, não entrei em campo uma única vez. Então, ele contribuiu e muito para que eu não jogasse, pois era o treinador. Não existe mágoa contra esse técnico e sim por não ter jogado. Afinal de contas, eu sou tricampeão mundial igual a ele.

Qual a sensação de ter levado para casa a Bola de Prata da Revista Placar de 1971?

A melho sensação do mundo. Fiquei muito feliz quando fui eleito o melhor ponta-esquerda do campeonato e premiado com a Bola de Prata. Naquela época, era o prêmio que se dava aos melhores durante o ano e isso é um orgulho para mim. Imagina, o Brasil do tamanho que é, um campeonato tão difícil como o Brasileiro, onde há grandes jogadores e você ser escolhido o melhor? É realmente algo extraordinário. E isso me ajudou a pavimentar ocaminho na seleção brasileira ao receber esse prêmio máximo na vida de um jogador.

É verdade que na disputa do terceiro lugar contra a Polônia na Copa do Mundo de 1974, João Havelange ofereceu um estímulo financeiro para vocês ganharem o jogo?


Na Copa do Mundo de 74, o João Havelange ofereceu um incentivo a mais para que nós ganhássemos da Polônia. Ele não queria três países europeus na ponta, mas infelizmente, perdemos o jogo por 1 a 0. Apenas lamentamos a disputa pelo terceiro lugar, pois não tem tanta importância como o primeiro lugar, ainda mais aqui no Brasil. Mas faltou muita coisa naquela partida, e o treinador não fez as mudanças que eram para ser feitas colocando quem queriam jogar para ter conquistado o terceiro lugar. A derrota foi o reflexo disso.

Além do Santos, você jogou no Corinthians, Internacional, Monterrey do México, São Cristóvão e Dom Bosco-MT. Queria que nos contasse um pouco dessas passagens por esses clubes.

A minha saída do Santos foi porque tive um desentendimento com o Modesto Roma, presidente na época, que falou uma coisa para mim e como eu não gostei, disse para ele que não vestiria mais o camisa do Santos. Não achei correto o que ele fez comigo e depois me disse que falou em tom de brincadeira. Falei para ele que não aceitava brincadeira daquela natureza. Em seguida, surgiu o Corinthians, e como minha estrela é muito boa, brilhei no Timão, sendo campeão depois de 23 anos de longo jejum. Mas joguei em poucos clubes e tirando o Santos, onde joguei praticamente minha vida quase toda, e Corinthians, joguei no Internacional, no Tampa Bay Rowdies, na Flórida, e no Tigres, da cidade de Monterrey, onde estive por quatro anos. Quando retornei ao Brasil, passei no São Cristóvão que foi uma furada, e no Nacional de Manaus, onde disputamos um Brasileiro muito bom. Aliás, nesse campeonato, fomos considerados o quinto melhor, onde jogava eu, Dário, Bendelac, Carlos Alberto Garcia e Merica. Era um time muito forte e nós conseguimos essa proeza mesmo sendo um time do Norte. Mas isso foi muito legal e tive uma passagem no Dom Bosco de Cuiabá, que nem dá para te contar como foi.

Como foi conquistar o título Paulista em 77 pelo Corinthians, sabendo que o Timão ficou vinte anos sem ganhar do Peixe?

Já estava acostumado com títulos no Santos, e ser campeão pelo Corinthians foi encarado com naturalidade, mesmo o clube passando por um longo período de 23 anos sem erguer um troféu de campeão. Para mim, ser campeão pelo Corinthians, não foi novidade.

O site Família Santista (https://familiasantista.com.br/santos-fc-108-anos-glorias-veja-como-ficou-selecao-alvinegra-todos-tempos/), fez uma enquete em abril de 2020 para comemorar os 108 anos do Santos e fez a seguinte pergunta: qual o melhor Santos de todos os tempos? O os eleitos foram Rodolfo Rodríguez, Carlos Alberto Torres, Ramos Delgado, Alex, Léo; Zito, Giovanni, Mengálvio; Pelé, Neymar e Coutinho. Técnico: Lula. Nomes como Clodoaldo, Ailton Lira, Pepe, Robinho e você ficaram de fora. O que acha disso?

Cada um tem a sua opinião e o seu ponto de vista. Apenas temos que respeitar a opinião dos outros. O importante é que o Edu está ali fazendo parte da história do Santos e isso para mim é motivo de muito orgulho.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao Covid-19?


Diante deste problema da pandemia, costumo ficar em casa me cuidando, e às vezes, faço uma caminhada pela praia. Mas, infelizmente, a nossa pelada no Pé na Bola, às segundas-feiras, na quadra do Arouca, que jogou no Palmeiras, estás suspensa. É uma alegria grande este encontro. Mas com a segunda onda da pandemia, infelizmente, atrapalhou muito e mexeu com a cabeça da gente. Mas na medida do possível, estamos nos cuidando e aguardando ser vacinados.

Defina Edu em uma única palavra?

Uma estrela. Uma estrela que brilhou e continua brilhando. Um homem que tem sentimentos, que é amigo, vive sempre sorrindo, que é família e que trata todo mundo igual. Esse é o Edu.

Faça uma avaliação deste Santos dirigido por Cuca que chega a mais uma final continental. O que acha desse time?

Esse time atual do Santos é uma grande equipe. Nós, torcedores, não esperávamos chegar à final e nem uma performance tão boa como dessa equipe comandada pelo Cuca. O Santos vive um momento bom e esperamos a conquista de mais um título para a rica galeria de troféus. Com certeza iremos conseguir!

Para fechar com chave de ouro esta tabelinha entre o Museu da Pelada e você, o Santos sempre fez grandes decisões continentais e mundiais interclubes no Maracanã. O senhor acha que está mística do Santos com o templo do futebol brasileiro pode ser um diferencial na busca pelo título da Libertadores?

O Santos tem o Maracanã como a segunda casa. O torcedor carioca gosta muito do Santos desde a nossa época. Esperamos que está mística com o estádio possa trazer o tetra da Libertadores.