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A Pelada Como Ela É

SKANK QUE SE CUIDE

por Sergio Pugliese


O que falar sobre Henrique Joriam (o de calça jeans na foto)? Ex-comissário de bordo, ele é inquieto, adrenalina pura!!! Passou a vida pelos ares, conheceu o mundo todo, poliglota, fotógrafo, bom centroavante, sócio do Brothers Hostel, albergue-bar bacana de Botafogo, escritor, guia turístico, empresário e agora vocalista da banda Farani, composta por ele, Mario Vitor e Philipe Joriam. O trabalho do grupo é bem legal e se levarem a sério podem fazer frente a bandas consagradas. Nos enviaram a letra de Pelada Terça-Feira, e como hoje é aniversário do Henrique, resolvemos dividir com vocês!

 PELADA TERÇA-FEIRA
Henrique Joriam, Yuri Nasser e Philipe  Joriam
 
 
Redonda no peito, no pé a chuteira.
Pelada sagrada na terça-feira.
Na beira do mar, no sol de rachar.
Onde rolar ela está satisfeita.
Dada a saída, bola pra frente.
É o jogo da vida, da vida d’agente.
 
Da linha de fundo
Para o zagueiro.
Cobrou lateral.
Até o artilheiro.
Carrinho na bola.
Ele entrou de sola.
 
Empurra pra lá e pra cá.
“Qual é!”, de cá e de lá.
3 passos para traz.
Por cobertura chutouuuuuuuu…………
 
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
É o gol (gol)
Atirou, entrou.
 
Quadra de grama, asfalto ou poeira.
Seja o que for, tô de bobeira.
Par ou ímpar, campo ou bola?
É dez ou dois, tem time de fora.
Dada a saída, bola pra frente.
É o jogo da vida, da vida d’agente.
 
Do tiro de meta.
Pra cabeçada.
Matada no peito.
O drible da vaca.
Passe de letra.
Pro ala direita.
 
Respeito com o adversário.
Não existe peladeiro otário.
Dado um toque pro lado
De bate pronto chutouuuuuuu (gol…gol…gol…gol…)………..
 
É o gol (gol) 
Atirou, entrou. 
É o gol (gol) 
Atirou, entrou. 
É o gol (gol) 
Atirou entrou. 
É o gol (gol) 
Atirou, entrou. 
E o jogo, acabou

A SEGUNDA PELE

por Sergio Pugliese


A professora vascaína do Externato Coração Eucarístico, no Flamengo, curiosa em saber os times de coração de seus pimpolhos iniciou uma enquete: “Vascão!!!”, gritou o risonho, “Fred!!!”, animou-se o tricolor bochechudo, “Mengoooo!!!”, caprichou o comprido, “Loco Abreu!!!”, acenou o botafoguense, “Ajax!!!!”, bateu no peito Diego Parente, de 4 anos. A “tia” enrugou a testa e pediu mais detalhes.

– É o melhor time do mundo – resumiu. 

A pueril marrinha era apenas reflexo da assumida marrona do paizão Victor Parente, de 41 anos, pioneiro do Ajax do Aterro, time fundado em 1988 por amigos do Colégio Santa Úrsula em homenagem ao esquadrão holandês. De cara, ganharam o Campeonato do Aterro, na fase pós Jornal dos Sports. Participaram de 106 torneios, ganharam 50, jogaram 1.500 vezes, venceram 1.085, empataram 179 e “foram prejudicados” em 236. Marcaram 7.815 gols e sofreram 4.204.

– Quase todos irregulares – afirmou o goleiraço Fábio Guimarães, o Mamão, há 20 anos defendendo as cores do azul e vermelho. 


Acir retoca a tatuagem de Mamão. No fundo, os irmãos Alex e Victor ao lado de Simão exibindo o seu escudo tatuado no braço.

O arquivo ambulante do grupo é Alex Parente, de 33 anos, irmão de Victor. Ele também tem sido o responsável pela renovação do time, mas quem continua fazendo comida boa é a rapaziada da panela velha. O vascaíno Victor é o artilheiro e marcou 1.428 gols nesses 24 anos de estrada, “quase todos merecedores de estátua”. Não, eles não são marrentos! A frase “O melhor time do mundo”, estampada no verso da camisa, é apenas uma lição de humildade. Eles não têm qualquer culpa por não encontrarem adversários a altura e não perderem há 18 meses!! Só após muita insistência revelaram cinco grandes rivais: Ellite, do talentoso PH, Ark, dos geniais irmãos Duda e Lelê, Geração 2000, de Dudu, Leo, Aureliano Bigode e Reyes de Sá Viana do Castelo, hoje camisa 13 da equipe A Pelada Como Ela É, Bussanha, do Roberto, e Juventude do Aterro, do craque Fábio. Sobre esse último, a lembrança da memorável final, em junho de 2011, às 22h, no campo 4, pela final do Campeonato da Liga do Aterro: 4×4 e vitória de 3×1 nos pênaltis.

– Foi um dia especial em nossa história – comentou Luiz Sabino, o Simão, autor de um dos gols e outro panela velha do grupo, há 21 anos no Ajax. 


Os outros foram marcados por Rafael, Luís Perna e Antônio Jr. Nos pênaltis, Perna, mais um, Batista e Rodrigo He Man liquidaram a fatura. A comemoração na barraca do Gaúcho, no próprio campo, varou a madrugada, mas para Simão partida marcante mesmo foi contra o Dínamo. O primeiro tempo terminou 4×0 para os rivais. No início do segundo fizeram outro, mas o jogo terminou 6×5 para o Ajax, com cinco gols de quem? Claro, do próprio! Como costuma dizer Seu Walter, craque dos saudosos Vasquinho de Olaria e Cruzeiro do Sul, de Petrópolis, “quem não tem dinheiro, conta história”. Ricardo Gaspar, Marcelinho, Vitinho, Claytinho, Batista Lambreta, Eduardo Parada, Diego Camargo, Luís Augusto, Miguel, Breno e Marcos Marreco se divertem! E tem mais, hein!

– Disputamos um campeonato em que a fase final foi no Maracanã e ganhamos quatro jogos lá – contou, orgulhoso, Alex, observado pela mulher Michelle, grávida.

Melhor pular a parte em que o craque aproveitou uma soneca da amada e foi jogar bola em plena lua de mel. Bem, o que importa é que ela está grávida! Ah, também teve o jogão contra a banda Iron Maiden, em 2001. O baixista Steve Harris marcou três, mas levou uma sacola cheia para a Inglaterra: 13 gols. Certamente pagou por excesso de bagagem. Volta e meia o Ajax também joga contra peladeiros argentinos, numa espécie de intercâmbio. Doze a zero foi o menor cartão de boas vindas. Uma história rica dessas, claro, foi gravada em DVD e exibida em sessão prive, no Artplex, de Botafogo. 

– Um espaço cult porque somos cults – explicou Victor, que gaba-se por ter convencido o radialista José Carlos de Araújo a gravar num estúdio um de seus gols.

Na site do time o número de acessos já atingiu a marca de meio milhão, mas eles não têm limites e querem muito mais. Na verdade, essa marra é amor. Um amor avassalador! Na semana passada, marcamos com eles num salão de beleza, no Flamengo. Iam retocar as tatuagens com o escudo do Ajax desenhadas por Acir. Estavam no estúdio, Alex, Victor, Mamão e Simão, mas Marco Aurélio, Daniel, Otair e Neto também rasgaram a pele com a marca dessa incontrolável paixão, que passam adiante na escolinha da Tavares Bastos, um belo trabalho social. O líder do grupo, Victor Parente, já enfrentou seis cirurgias no joelho, mas continua correndo atrás da bola, provocando os rivais com divertidos desafios. Agora, finaliza um livro, sonho antigo que pode até não superar Paulo Coelho na lista dos mais vendidos, mas contará a fantástica história de amigos de infância que cresceram obcecados por vitórias, ganharam fama no Aterro do Flamengo e hoje formam o maior time do mundo.

 

O SALVADOR DA PÁTRIA

por Sergio Pugliese


O temporal desabou sem aviso prévio e encurralou Roberto Carlos no terreno onde plantava árvores frutíferas. Em minutos, poças se formaram, barreiras caíram e o lamaçal cobriu os principais acessos à área. A única saída para alcançar a estradinha principal era arriscar-se numa pirambeira, escalar um muro, abrir trilhas com a enxada, proteger-se dos raios, ultrapassar duas cercas de arame farpado e uma muralha de bananeiras. Homem do campo experiente, superou os obstáculos. Na pista, avistou um, dois, três, quatro carros entrando num sítio vizinho. Porto seguro, imaginou! Sem preocupar-se com possíveis cães de guarda, invadiu o local. Trôpego e guiado pelos gritos “é feito de açúcar?”, “futebol é para macho!” e “quantos faltam?”, Roberto Carlos acreditou ser miragem aqueles vultos tocando bola num campo totalmente encharcado e ainda sob chuva intensa.

— Estava fraco, podia ser fruto de minha imaginação — recordou, na divertida resenha, pré-pelada, da rapaziada do Águias FIR (Fraternidade, Igualdade e Respeito), no Sítio do Rogério, em Vargem Grande.

João do Muquiço não foi, mas chegaram o parceirão Preguiça; Caê, da Banda Brasil; Guerreiro, segundo-tenente do Corpo de Bombeiros; Seu Acácio, de 71 anos; Dudu; Jacaré; Ronaldo Fernandes, presidente da Unido das Vargens; Baiano; César; Valdir; Roni; Mazinho; Tchola; Claudio; Elias; Badu; Lobo e Junior. O ortopedista Paulo Amaral aproximou-se da rodinha e não acreditou que a história de Roberto Carlos estava sendo contada novamente. São anos e anos ouvindo a mesma ladainha. Mas é bom demais! O ouvidor de nossa equipe, Reyes de Sá Viana do Castelo, explicou que precisava de mais detalhes.

— Continua, Roberto Carlos! — incentivou Mirunga, artilheiro das multidões.

— Pega uma enxada ali, Serginho, vamos deixar a história mais real — sugeriu Rogério Appelt, o dono do sítio, da bola e da pelada, ao lado de Paulista, o fiel escudeiro.

— Reconstituição fica mais caro — avisou Roberto Carlos.

Mas ele foi em frente e, segurando uma enxada e um ancinho, relembrou seus primeiros momentos no sítio invadido, na verdade o Sítio do Waldyr, em Vargem Grande. Saudoso Waldyr! Após esfregar os olhos e constatar que o grupo de marmanjos ensopados não era miragem, caminhou em busca de uma marquise. Numa varanda coberta, apoiou a enxada e a foice, e viu alguns atletas tirarem par ou impar e outros pagarem a mensalidade. Os raios maltratavam as árvores e assustariam qualquer ser humano normal. Mas peladeiro não é normal.

— Na divisão dos times, notaram que faltava um — contou Roberto Carlos.

E, automaticamente, todos os pescoços voltaram-se para ele, um desconhecido! Mesmo totalmente enlameado e abatido, ninguém perguntou se precisava de ajuda, mas em qual posição jogava.

— Lateral direito — respondi.

E jogou! Até hoje, 15 anos depois, Roberto Carlos faz parte da rapaziada. A pelada começou há 30 anos, no Iate Clube Guanabara, na Ilha; de lá, foi para o Sítio do Waldyr; depois, para o Tio Patinhas; e, agora, está no Sítio do Rogério, quarta, à tarde. Os amigos pulam de galho em galho, mas não se desgrudam e arrastam as histórias com eles. Os causos, lendas ou não, ajudam a temperar o churrasco do Bira, a adoçar o refresco de goiaba do Serginho, a afinar o cavaco do Márcio e a manter viva e jovem a memória do Águias FIR.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É, do Jornal O Globo, em 26 de fevereiro de 2014.

ARTILHARIA PESADA

por Sergio Pugliese

O folclórico Perácio guardava ótimas lembranças de sua última viagem de navio. Afinal, após belas apresentações pelo Botafogo estava entre os selecionados pelo técnico Adhemar Pimenta para representar a seleção brasileira na Copa do Mundo de 1938, na França. Logo na estreia deixou o seu nos 6 x 5 contra a Polônia, mas assim como os parceiros de equipe preocupava-se com o prenúncio de uma nova guerra. Na competição, os italianos jogaram de uniforme negro, cor oficial do fascismo, e os alemães usaram a suástica como escudo. Que medo!!! No retorno, mesmo amargando o terceiro lugar, o craque sentiu um baita alívio ao pisar em solo brasileiro.

– O que ele nunca imaginou era que alguns anos depois fosse convocado pelo Exército e acabasse jogando pelada em plena Segunda Guerra Mundial, na Itália – contou Léo Christiano, responsável pela organização e edição fac-similar dos 34 números do Cruzeiro do Sul, jornal bissemanal rodado numa gráfica em Florença e publicado, entre janeiro e maio de 1945, pela tropa do quartel-general da Força Expedicionária Brasileira (FEB) para manter nossos 25 mil pracinhas atualizados no “front” italiano.


Foto | Arquivo

Mas, reza a lenda, Perácio tentou fugir. No porto, a poucos metros da entrada do navio, bateu aquele desespero e ele agiu como se tivesse ouvido a tradicional ordem militar “meia volta, volver”, e sumiu do mapa. A tropa só estava acostumada a vê-lo correr assim nos gramados quando foi peça decisiva no tricampeonato do Mengão, na década de 1940. No segundo título, em 1943, marcou três na goleada sobre o Bangu e entrou definitivamente no coração dos rubro-negros junto com Jurandir, Quirino, Newton, Domingos da Guia, Jaime, Nandinho, Vevê, Zizinho, Biguá e Pirilo. Mas apesar de viver o auge da popularidade, o mineiro de Nova Lima não escapou da marcação cerrada do Exército, foi agarrado logo depois e partiu rumo à incerteza da guerra.

– Pelo menos estava bem acompanhado, num navio recheado de craques – brincou Léo Christiano.

E com tantas feras reunidas, lógico, rolou pelada! Eram vários profissionais, o meia Geninho e o zagueiro Walter Fazzoni, ambos do Botafogo, o goleiro Bráulio, do Atlético (MG), Bidon, centroavante do Madureira, Careca do Fluminense, e Alvanilo, da Ponte Preta, além dos amadores Dunga e Mato Grosso, do Botafogo, Labatut, do Olaria, Juvencio, do Cocotá, Walter, do Ideal, Timbira, do Bonsucesso, Pasquera, do Parque da Mooca, D´Avila e Soares. Juntos, formaram o imbatível time da Quinta Artilharia, sempre mesclado com um francês e quatro americanos, do exército aliado. Juntos, participaram de várias peladas e do Campeonato do Mediterrâneo.

– Esses jogos tinham grande destaque no jornal – disse Léo.


E a penúltima edição do Cruzeiro do Sul foi histórica! Além de noticiar as mortes de Adolf Hitler e Benito Mussolini, também destacou o jogo de Perácio & Cia contra o combinado inglês, RAF (Real Força Aérea) e Marinha. O primeiro tempo terminou 1 x 1, gol de Geninho, mas no segundo Perácio guardou dois e Bidon e Walter fecharam o placar em 5 x 3. Perácio não pode comemorar no Café Nice e na Assirio, como fazia após os títulos do Mengão. 

– Esse jogo foi praticamente uma comemoração pelo fim da guerra – comentou Léo.

Dias depois, a Força Expedicionária Brasileira, comandada pelo marechal Mascarenhas de Moraes, aprisionou dois generais, a 148ª Divisão de Infantaria alemã inteira e mais a italiana, totalizando 20 mil inimigos prestes a invadir fronteiras francesas. Gloriosa conquista! Alguns desses guerreiros desfilaram ontem no Dia da Independência. Nos navios que os trouxeram de volta, muita festa, lágrimas, fardas e bolas. O nazifascismo estava derrotado e alguns anos depois o feito seria simbolizado no belo Memorial aos Heróis da FEB, no Aterro do Flamengo. Na chegada, histeria! Perácio novamente disparou pelo porto, mas dessa vez não era medo, mas felicidade. Toda a tropa o acompanhou.

OS PIONEIROS

por Sergio Pugliese


Da mesma forma que o futebol de salão virou futsal e o futebol de praia, beach soccer, o soçaite, criado em 1954, foi rebatizado de Fut7 e transformou-se na modalidade futebolística da vez. Mas se os nostálgicos não se dobram aos modismos, o que dizer dos pioneiros, os precursores do esporte?

– O nome pode até mudar, mas a essência não morrerá nunca – garantiu Ary David de Almeida, considerado um dos maiores jogadores de soçaite de todos os tempos.

Ary era a grande estrela do Pioneer, primeiro time de soçaite da história, montado pelo saudoso José Luiz Ferraz, dono da construtora Santa Isabel, e que apresentava-se, nas tardes de sábado, no impecável gramado de seu terreno, em Corrêas, distrito de Petrópolis.

– Aquilo era o paraíso e o time deles, praticamente imbatível – reforçou Pedro Tartaruga, ídolo do Santo Inácio, um dos adversários que sofreu nas mãos, na verdade nos pés, dos craques do Pioneer.

Nossa equipe reuniu Ary David, Pedro Tartaruga, os irmãos Paulo e Thomas Sá, também do Santo Inácio, e Zé Brito, do Milionários, boleiros que tiveram o privilégio de participar do nascimento do soçaite, em Corrêas. Imaginávamos um encontro pacato, mas rivalidade é rivalidade e Ary David resgatou do fundo do baú uma goleada de 21 x 3 do Pioneer no Santo Inácio. A casa caiu!!!!

– Sinceramente, não me lembro disso – esquivou-se Paulo Sá.

– Nesse dia, não fui – defendeu-se Pedro Tartaruga.

Thomas Sá preferiu rir, mas Ary David, iniciou uma sessão de hipnose, praticamente uma regressão, e conseguiu ativar a memória de Thomas, que tinha argumentos convincentes, como a falta de hábito de jogar sem o impedimento, uma das regras da casa. José Luiz Ferraz também estabeleceu que as cobranças de falta seriam indiretas, a marca do pênalti ficaria a oito passos do gol e a baliza mediria cinco metros de largura e dois e dez de altura. E se Ary David era uma máquina de fazer gols com linha de impedimento, imagine sem! Naquele dia, fez um caminhão, mas pediu para o árbitro encerrar a partida quando o placar marcou 21.

– Os amigos não mereciam aquele tratamento – divertiu-se ao lado dos companheiros da vida toda.

Mas os craques do Santo Inácio não sofreram sozinhos. O escrete do Pioneer colocou muita gente na roda, inclusive profissionais como Gerson, Ayrton Povil, Pampolini, Carlos Alberto Torres, Zizinho e Zagallo, além de clubes tradicionais, como Juventus, Lagoa, Columbia e Real Constant.

– Também ganhamos do Milionários – acrescentou Ary David.

– Do Milionário, não!!! Esquece!!! – bradou Zé Britto, que numa de suas belas atuações em Corrêas, como adversário, acabou contratado pelo Pionner.

Além de Zé Britto, Ary David e José Luiz Ferraz, o Pionner também tinha Marcos André, Moacir Lobo, Valdir, Ary, Átila, Eurico Louro, Raphael de Almeida Magalhães e Rivadávia Corrêa Meyer e Luiz Fernando Secco. Mas o pessoal da alta sociedade também disputava uma vaguinha na equipe e atraía a atenção da imprensa. Empresários como Tony Mayrink Veiga, Álvaro Catão, Didu Souza Campos, Antônio Piano e o construtor Celso Bulhões de Carvalho, além de Miéle, Armando Nogueira e Luiz Carlos Barreto, eram personagens constantes da coluna de Maneco Muller, no Diário Carioca e Última Hora, e bom goleiro, que aproveitou um termo já existente, o café society, para criar o futebol soçaite.

– Não duvide que a resenha também tenha nascido lá – comentou Ary David, que participou de muitas rodas musicais, pós-pelada, com Adalgisa Colombo e Dorival Caymmi.

A rapaziada aprendeu direitinho e até hoje mantém a garganta em forma, afiadíssimo nas resenhas. Se dependesse de Zé Brito, Ary David, Pedro Tartaruga e dos irmãos Paulo e Thomas de Sá estaríamos até agora brindando uísque e cerveja, no apartamento do artilheiro Ary David, que cobriu a mesa com fotos e recortes da época. Cada imagem, uma lembrança. Sorrisos e lágrimas, heróis e pioneiros.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É em 20 de agosto de 2015.