BERG, UM ANJO ALVINEGRO
por André Felipe de Lima
(Foto: Reprodução)
Na década de 1980, o torcedor do Botafogo chegou ao limite da paciência com o desempenho do time. Desde 1968, e nada de troféus, nada de alegria. Na arquibancada prevalecia uma incômoda melancolia. Mas havia um jovem manauara chamado Ninimberg, ou, simplesmente, Berg, que começaria a mudar aquele cenário tristonho dos alvinegros. Um camisa dez muito habilidoso e com um carisma invejável. Hoje, dia 16, Berg faria 54 anos.
Sua estreia no Fogão foi sob o comando do técnico Sebastião Leônidas — ídolo botafoguense nos anos de 1960 —, no dia 26 de junho de 1983, em Barbacena, na vitória de 4 a 0 do Botafogo sobre um combinado da cidade mineira. Mas o jogo “à vera” que marcou o primeiro encontro da torcida com Berg foi realizado no dia 24 de julho, de 1983, em um clássico eletrizante com o Vasco. O Fogão saiu de campo com uma vitória heroica (3 a 2) e Berg, que fizera um dos gols do Botafogo, foi aclamado após uma atuação impecável.
(Foto: Reprodução)
No dia seguinte após a vitória sobre o Vasco, o jornal O Globo definiu Berg como o craque do jogo: “O melhor da equipe. Sempre bem colocado, participou praticamente de todos os lances de ataque, ajudou na marcação e abriu a defesa adversária, além de ter feito o primeiro gol. Cansou no final. Nota 9,5”. Berg cansou. Tudo bem. Mas o cara só faltou fazer chover naquela tarde, no Maracanã.
(Foto: Reprodução)
Embora o Botafogo somente encerraria o jejum em 1989, a paixão do torcedor botafoguense por Berg jamais foi abalada. Mesmo quando o time jogava mal, o ídolo era sempre poupado. Quando o craque esteve parado por mais de um ano, cartas e mais cartas chegavam ao clube. Todas desejando que o craque se recuperasse logo para injetar no elenco alvinegro a tradicional garra que marcou seu estilo nos gramados. “Devo muito a essa torcida, que até hoje grita meu nome, mesmo quando estou mal.”
No dia 11 de julho de 1996, Berg, contando apenas 33 anos, sentiu-se muito mal quando jogava uma pelada em uma quadra, no Recreio dos Bandeirantes, na orla do Rio de Janeiro. Foi levado para o hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca, mas a parada cardíaca lhe roubou a vida e deixou muito tristes todos os alvinegros que se encantaram com aquele craque, que, ao ostentar uma cabeleira loura e encaracolada, parecia-se mais com um anjo que propriamente um jogador. Um anjo redentor do amor alvinegro pela Estrela Solitária.
(Foto: Reprodução)
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A TARDE EM QUE RIVA SENTOU NO BANCO
por Zé Roberto Padilha
Riva e Zé Roberto no banco de reservas
Tinha mesmo que estudar História. No mínimo, para agradecer. Ela sempre foi gentil comigo ao conceder-me um lugar privilegiado na trajetória do futebol-arte há algumas décadas praticado no país. Com a 11 coadjuvante, então, com os olhares das arquibancadas e das cabines voltados à genialidade dos camisas 10 que nos cercavam, pude perceber um espetáculo que poucos viram de perto. Algum estudioso do nosso universo esportivo, com pós na UFRJ, mestrado na PUC, poderia afirmar que Roberto Rivellino, no auge da sua forma, capitão da máquina tricolor, sentou uma tarde no banco de reservas?
Pois é, não só vi esta incoerência da bola, como sentei ao seu lado nesta tarde e tratei de pedir a um fotógrafo que registrasse. Muita gente poderia não acreditar. Aproveitei aquela cena inusitada, cortei um pedaço do cadarço da chuteira para imitar o seu bigode, já que dar o elástico e chutar daquele jeito há muito já havia desistido. O treinador autor da proeza? Jair da Rosa Pinto, o Jajá, que os cronistas esportivos afirmam ter sido um dos melhores jogadores de todos os tempos.
Jair da Rosa Pinto
Naquela época, ser um ex-jogador de futebol como ele o credenciava a iniciar uma nova carreira esportiva. Ainda não havia a patrulha corporativa do CREF exigindo uma formação teórica que acabou afastando das divisões de base treinadores que formaram gerações de campeões, como Pinheiro, Neca, Célio de Souza, Andrade, Gilson Gênio e Rubens Galaxe. A discussão é para dias de debates, simpósios, mas se as preleções de Carlos Alberto Parreira e do Coutinho eram escutadas no mais absoluto respeito, com overlaping de um lado, concordâncias verbais do outro, bastava um deles colocar as chuteiras e participar dos dois toques que as risadas ocorriam a cada canelada. Ao contrário, as discordâncias gramaticais de Jair da Rosa Pinto desapareciam, transformavam ironias em admiração quando atuava entre nós. Um domínio absoluto da bola e nenhum passe errado. E ainda profetizava: “Façam o que eu faço, não o que eu digo!”.
Bem, entre um treinador teórico como Paulo Emílio, campeão da Taça Guanabara, e um gênio da bola, Didi Folha-Seca, que iria nos dirigir no Campeonato Brasileiro de 75, a Máquina Tricolor um breve período ficou sob o comando do Jajá. E logo no primeiro compromisso fora de casa, Sampaio Corrêa x Fluminense, no Maranhão, ele fez o que nem Zagallo ousou: colocou Roberto Rivellino no banco de reservas. Procurado pelos repórteres, justificou: “Estou testando uma nova formação tática!”
Francisco Horta (Foto: Reprodução SportTV)
O resultado? 1×1. Após a partida, nosso supervisor, Domingos Bosco, comunicou o ocorrido ao Presidente Horta, que ficara no Rio de Janeiro. Irritado, o eterno presidente tricolor nem deixou quicar do outro lado da linha: “Demita este Jajá daí mesmo!”. Jair da Rosa Pinto nem desembarcou no Galeão, seguiu sua vida ocupando seu merecido lugar na história do nosso futebol, e quando os repórteres procuraram o presidente na ocasião ele justificou a sua demissão: “É para testar uma nova comissão técnica!”. Quanto a Rivellino, limitou-se a sorrir ao meu lado. Sua genialidade estava acima dos testes submetidos pela incoerência humana.
QUE PAIXÃO É ESTA?
por Zé Roberto Padilha
Um Whisky antes, um cigarrinho depois. Esta era a receita do cinema brasileiro da década de 70, de Roberto e Reginaldo Farias, para se alcançar uma paixão que se colocava no meio do filme. A música era a Bossa Nova e a garota a ser conquistada era a de Ipanema. A outra paixão, o futebol, aparecia antes na tela como aperitivo. Era o Canal 100, de Carlos Niemeyer, e as jogadas, cadenciadas e esculpidas, pareciam passar em câmera lenta para acompanhar a trilha sonora. De repente….
O dá-lhe Ô, O dá-lhe Ô!! O dá-lhe Ô, O dá-lhe Ô!!
De repente, este grito se tornou mais forte por toda a cidade de Três Rios. Bares adotaram as cores rubro-negras, embaixadas foram inauguradas e vários ônibus partiram antes das 17h para o Maracanã em meio a uma enorme euforia. O filme que passava naquela quarta-feira tinha Flamengo antes, durante e depois. E eu me perguntava: de onde veio esta súbita comoção? Do gramado para a sociedade impossível, porque o nível técnico por lá emanado despencou. Seu craque maior, Diego, saiu do Brasil quando a 8 lhe cabia e, tal como Nenê, recebeu a camisa 10 na volta para reger músicos à altura da sua batuta. E se não veio do gramado, de onde eclodiu esta paixão?
O dá-lhe Ô, O dá-lhe Ô!! O dá-lhe Ô, O dá-lhe Ô!!
O torcedor ganhou com a Internet uma poderosa ferramenta de confronto, não de interação social. Facebook e WhatsApp têm colocado fogo alto nos debates políticos e esportivos, e jogado banho maria sobre postagens ao amor e ao idealismo. Se enviam mensagens à mulher amada poucos compartilham, mas se sacaneiam um tricolor, debocham de um vascaíno, alcançam milhares de seguidores. Sendo assim, no lugar da camisa Lacoste, da calça jeans da Fórum e uma pitada no pescoço de Azarro, o traje da conquista foi substituído pela camisa do Flamengo sobre uma calça ou bermuda surrada. A namorada? Que espere o resultado depois.
O dá-lhe Ô, O dá-lhe Ô!! O dá-lhe Ô, O dá-lhe Ô!!
Sou saudoso. E não saudosista. Como tricolor carrego um enorme orgulho de ter defendido um ano esta nação. Mesmo assim, tenho o direito de sonhar que no CD do carro do meu filho vá tocar Tom Jobim. Que seja poupado da musica da Anitta, não da presença da morena ao lado, mas que ouça um dia Chico Buarque de Hollanda. E que numa quarta-feira à noite da Libertadores da paixão, leve minha futura nora para jantar à luz de velas, e esquecer, nem que seja por uma partida, refletores midiáticos que transformaram Trauco em Junior, Rômulo em Adílio e Diego em Zico.
CULPA DA BOLA
por André Felipe de Lima
Em outubro de 1998, estava este jornalista de repórter da Folha de S.Paulo, no gramado do estádio Caio Martins, em Niterói, acompanhando um “chuvoso” clássico entre Botafogo e Palmeiras, treinado, na época, pelo Luiz Felipe Scolari.
O Botafogo enfiou 3 a 1 goela adentro do Verdão. Por milagre, o Alvinegro não sapecou mais gols na “peneira” palmeirense. No papel, é verdade, o time paulista estava em melhor fase, mas era dia do Fogão.
Como repórter de um jornal paulistano, tive de postar-me ao lado do banco de reservas do Palmeiras. Felipão estava louco da vida com o time em campo. Gritava ensurdecedoramente. Eu, quietinho, sofria com a intensa chuva que jorrava sobre mim. Sem capa, sem nada. Resfriado iminente. E foi, na mosca, dias depois. Mas voltemos à peleja.
A cada ataque do Botafogo, Felipão gritava e, em seguida, virava-se para mim com um olhar de reprovação. Jamais saberei se ele me definiu como um seca-pimenteira (completamente encharcado, frise-se) ou se olhava-me como se pedisse um ombro amigo. Considerando o estilo “mimoso” do Felipão, confio mais na primeira hipótese.
(Foto: Gazeta Press)
Mas vamos lá. Terminou o primeiro tempo com o Fogão metendo dois gols (França e Túlio). Paulo Nunes descontou no segundo tempo para o Verdão, mas ainda coube mais um do Botafogo, com Bebeto.
Fim de papo, corri imediatamente atrás dos jogadores do Palmeiras para obter “explicações” para a pífia performance em campo.
Felipão falou educadamente comigo e disse, evidentemente sem citar nomes, embora eu perguntasse insistentemente para que desse nomes aos bois, que o time foi um bagaço. “Não é assim que se joga futebol. Vi muita coisa que não gostei e não admito isso no Palmeiras. A bola (vejam bem, leitores, a “bola”…) é redonda para todos, e o Botafogo estava mais ligado no jogo.”
Felipão estava injuriado, e com inteira razão. Saquei imediatamente que a figura mais polêmica — aos olhos do treinador palmeirense — era o zagueirão Júnior Baiano. Corri até ele e emendei a clássica pergunta de repórter boleiro: “Ô, Júnior Baiano, a que você atribui um jogo tão ruim do Palmeiras?”. Baiano não se fez de rogado. Foi rápido na resposta como se estivesse dando um carrinho em um desavisado: “A bola. A bola foi a culpada. Estavam todas murchas”.
Foi a primeira vez que vi um jogador culpar a bola após uma derrota. Esse é o grande Júnior Baiano. Zagueirão, boa praça e, queiram ou não, ídolo de muitos palmeirenses e, também, de rubro-negros, sãopaulinos e até mesmo de alguns vascaínos.
Hoje é aniversário do zagueiro Júnior Baiano. Parabéns ao ídolo!
VIVA O GOL!!!!
:::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
Existem dois tipos de goleadas, a do time que joga ofensivamente, parte para dentro e se desguarnece na defesa e a dos que se acovardam tentando garantir um resultado. Ah, mas esses medrosos quando levam o primeiro gol, a porteira se abre e aí vira festa.
Unai Emery, técnico do PSG, foi covarde e pagou por isso. Ele achou que ainda treinava o Sevilla, onde esse tipo de esquema pode até funcionar. Mas o PSG não é Sevilla e não merecia uma postura covarde dessas.
O Barcelona é maravilhoso porque não muda o seu esquema de jogo. Na verdade, muda de ofensivo para muito ofensivo, dependendo da circunstância. E como pode um time que nem jogou tão bem assim dar de seis no PSG, um gigante do futebol mundial?
Porque quando gigantes são comandados por mentes apequenadas o resultado é esse. Vivemos isso anos e anos com a seleção brasileira e investir no futebol retranqueiro deu no que deu.
Será que essa dupla de zaga brasileira, Thiago Silva e Marquinhos, continuará sendo tratada como a melhor do mundo? Dante, David Luiz e tantas outras estrelas inventadas continuam por aí enganando os trouxas, não a mim. No final do jogo, Thiago Silva disse que não se envergonhava. Tá maluco?
Quando estava no Flamengo tomei de seis do meu Botafogo e nem conseguia sair na rua, mas não chorei sentado na bola, não!!! Perder faz parte, goleadas fazem parte do espetáculo, mas covardia tem seu preço e o PSG pagou.
À noite, teve o jogo do Flamengo contra um time que está em greve, andava em campo e nem dá para analisar. Espero que a torcida rubro-negra não se iluda com esse jogo, pois o time do Papa foi bem representado por seu goleiro, o papa-tudo, kkkkk!!!!
No mais é dar vivas ao Neymar, Suarez e Messi!!! Viva o Barcelona!!! Viva o futebol ofensivo!!! E tomara Deus que esses vivas um dia voltem a ser nossos!!!
– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 14 de março de 2017.