BONITO É VENCER JOGOS (E CAMPEONATOS)
por Mateus Ribeiro
Um dos assuntos mais falados em debates esportivos (seja em qualquer canal esportivo, seja na mesa do bar) é o tal do “jogo bonito”. Comentaristas e palpiteiros vivem discutindo sobre a maneira que os times e seleções mundo afora jogam.
O teor da conversa, geralmente, gira em torno de times que se preocupam “apenas” em vencer, e não em dar espetáculo. Começando pelos que esperam que o mundo do futebol seja um Barcelona gigante, com Messis e Neymares tabelando a todo instante, passando pelo saudosista que exige que todos os jogos tenham 300 oportunidades de gol, chegamos até o mais insuportável de todos: aquele que desmerece toda e qualquer vitória do time que baseia seu esquema de jogo no sistema defensivo.
Como se nas regras do futebol existisse algo que proíba o time de dar chutão, ou de terminar o jogo com menos posse de bola. Como se fosse pecado “jogar por uma bola” (a nova menina dos olhos dos comentaristas charlatões). Como se a FIFA fosse mudar as regras do futebol porque um time foi campeão apenas vencendo por 1 a 0.
A beleza do jogo pode ser vista por várias óticas. Um time não precisa encarnar o Ballet Bolshoi para encher os olhos da torcida. A eficiência também pode encher os olhos. Ainda mais no futebol dos dias atuais, onde talentos são escassos, e o coletivo manda.
É claro, óbvio e evidente que eu gostaria de ver um time que desse espetáculo. Porém, me deixa muito mais feliz uma vitoria simples com o mínimo de posse de bola possível. Afinal, o que ganha campeonatos são vitórias, e não apenas triangulações ou dribles.
Não temos mais tantos talentos surgindo como surgiam em outros tempos. E isso não é saudosismo. É um fato. Pode ser que na base os atletas sejam “podados”, proibidos de exibir seu pseudo talento em nome do “sacrifício” de jogar para o time. Aí, fica a critério do torcedor. Se ele preferir ver seu time perder com 300% de posse de bola do que ganhar dando apenas um chute no gol, azar o dele. Digo isso porque acredite, existe quem pense assim. Graças aos deuses do futebol, conheço poucas pessoas assim. Espero manter minha retranca social para evitar o convívio com quem tem esse pensamento, aliás.
Não, isso não é conversa de saudosista que acha que o futebol só prestava antigamente, antes que a patrulha do lacre futebolístico apareça com pedras coloridas e dando botinadas com chuteiras sem cadarço. O futebol continua legal, apesar de muitos problemas. E posso garantir; o problema não é o Chelsea de 2012, o Corinthians de 2017, o Atlético de Madrid dos últimos anos. O problema não é ganhar retrancado. O problema é achar que existe um Bergkamp em cada esquina e achar que todo time tem a obrigação de dar espetáculo.
Quem quer plástica, que vá para alguma exposição de arte. Por enquanto, a beleza do futebol reside em vitórias e títulos.
Até a próxima, fãs do 4–2–3–1.
FUTEBOL É MOMENTO
por Zé Roberto Padilha
Zé Roberto Padilha
Esta frase sintetizava o pensamento do nosso professor da bola, João Baptista Pinheiro, que nos treinou dos 16 aos 20 anos nas divisões de base das Laranjeiras. Entre seus alunos, a nossa turma de 68 tinha, entre outros, Nielsen Elias, Abel Braga, Rubens Galaxie, Carlos Alberto Pintinho, Erivelton, Kleber, Marco Aurélio, Gilson Gênio, Marinho, Té, eu, e que se tornaram profissionais. Para ele, Pinheiro, quem estava melhor jogava. Quem não estava no ponto, que sentasse no banco e esperasse a sua vez. Porque o futebol não pode esperar. Futebol é momento, afirmava todo santo dia.
Hoje, vendo o Fluminense disputar um campeonato presente com um time futuro, pergunto: será que o Abel esqueceu as lições do nosso mestre? Contra o Corinthians entramos em campo novamente com os meninos do amanhã que só lhe abastece de desculpas. “Calma, gente, são garotos!”. Até quando? Mas e a torcida e as gozações? E a zona de rebaixamento se aproximando perigosamente no presente?
No domingo, no natural impulso adolescente que corre em suas veias, correram também com a bola e erraram o dobro dos passes do time adversário. No lugar de valorizar sua posse, rifam a criança por impulso, só mesmo o tempo do Jô, a rodagem do Fagner, a experiência do Romero para mostrar a cada um a importância de mantê-la sob sua guarda e posse. Ao perdê-la vem contra-ataque, e mesmo tendo a juventude ao seu lado para tentar recuperá-la, muitas vezes vão buscá-la no fundo das suas redes. E dar nova saída para outras precipitações da idade. Novos erros de passe. Sei que faz parte do aprendizado, mas os torcedores tricolores não querem mais bancar este estágio. Querem um time concretado em bases sólidas, que o defenda no momento presente. E volte a sonhar com uma vaga na Taça Libertadores da América.
Soluções? Emprestar o Scarpa e o Wendell para buscar experiência fora do clube e trazer o Conca de volta. Sem chances no Flamengo, nada como ter a humildade de reconhecer o valor de um grande ídolo e convidá-lo a vestir a camisa que melhor lhe cabe. Avançar o Henrique para o meio campo para levar sua experiência para uma área de raciocínio habitada por inexperientes, e escalar no seu lugar um zagueiro alto que pelo menos suba com os Balbuenas. Como ele, dez centímetros mais baixo que cada zagueiro que desce nos escanteios, não consegue fazer.
Aprendemos, Abel, com nosso treinador, além do fato do futebol ser vivido no momento presente, que não basta apenas apontar os erros. Temos que, pelo menos, mostrar possíveis soluções. Que tal as minhas? Afinal, estava na carteira ao lado e quem sabe prestei mais atenção naquele momento da preleção do que você?
O QUE NÃO SE PODE EXPLICAR AOS NORMAIS
por Marcos Vinicius Cabral
Em 1981, Alemanha e Brasil entrariam em campo para medir forças.
E se tratando de um clássico mundial, um mero amistoso se tornaria um jogo à vera.
Portanto, naquela terça-feira, 19 de maio, os gramados alemães receberiam um grande jogo de futebol.
De um lado, os anfitriões Muller, Rummenigge, Fischer e Breitner, que arrancavam sorrisos de um povo frio e tão acostumados a não sorrir.
Contudo, vê-los em ação, era sinônimo de vitória, mesmo com um futebol tão arrefecido e ausente em emoções, que são o cerne dessa paixão.
Já do outro lado, oito titulares do time que encantaria o mundo em 82, estavam presentes naquele jogo.
Diante de um gigante do futebol mundial, que jogava em casa e com o apoio de seus quase 72 mil torcedores, o Brasil queria confirmar seu favoritismo para a Copa da Espanha, que até hoje, é motivo de choro, seja pela derrota “vitoriosa” para a Itália ou pela simples lembrança.
Com exceções de Leandro, Falcão e Serginho, os demais entraram no Neckarstadion, em Stuttgart, para uma bela exibição.
Porém, nessa constelação de craques, foi o arqueiro brasileiro Waldir Peres, que fez história.
O Brasil vencia por 2 a 1 (gols de Cerezo e Júnior para equipe canarinho e Fischer descontando para os alemães), quando aos 34 minutos do 2º tempo, Rummenigge cruzou e a bola bateu na mão do zagueiro Luisinho.
Com um apito firme e uma pontualidade britânica, o árbitro inglês Clive White, assinalou penalidade máxima em cima do lance.
Coube ao craque alemão Paul Breitner (acostumado a converter pênaltis), cobrar e comemorar junto aos torcedores o gol.
Mas Waldir Peres defendeu a penalidade.
Não satisfeito, o árbitro mandou cobrar de novo, alegando que o goleiro brasileiro havia se antecipado na cobrança.
Era a redenção para o craque alemão da camisa 8 e parafraseando o ditado popular: o raio não cai duas vezes no mesmo lugar.
Nisso, gol preso na garganta dos milhares de torcedores alemães, até que Breitner cobrou no canto esquerdo e Waldir Peres espalmou para escanteio.
Portanto, o que não se pode explicar aos normais, neste vasto mundo do futebol?
Se todo time memorável começa com um grande goleiro, em 1982, Waldir Peres foi o camisa 1 e homem de confiança do técnico Telê Santana.
Em 20 edições de Copas do Mundo, chegar ao evento de quatro em quatro anos como favorita, era um feito para poucas seleções.
E realmente, o Brasil era favorito para se tornar campeão e costurar a quarta estrela em nosso escudo.
Mas naquele 05 de julho, Waldir Peres e os outros jogadores, sucumbiram diante de uma Itália – que fez o “jogo da vida” – e sofreu como ninguém, pelos três gols que sofreu do camisa 20 italiano.
De quem era a culpa?
Talvez do Telê, que não escalou um time para jogar com o regulamento embaixo do braço?
Talvez do Cerezo, que virou uma bola despretensiosamente no segundo gol dos italianos?
Talvez o Serginho, que atrapalhou o Zico em um lance de gol?
Talvez o Júnior, que não saiu e deixou o Paolo Rossi em posição irregular?
Tantos “talvez”, que talvez nem o mais cético dos especialistas do mundo impiedoso da bola, saberia responder.
E se as reminiscências daquela partida ecoam como escombros do antigo Estádio Sarriá, implodido em 1997 – onde hoje funciona um condomínio habitacional, na cidade de Barcelona – difícil é não lembrar da seleção canarinho.
Uma pena que o arqueiro brasileiro, não tenha se tornado campeão do mundo com seus companheiros, uma das maiores injustiças do futebol.
Aquela geração de jogadores talentosos, merecia sorte maior na Espanha.
Todavia, Waldir fez história e cravou seu nome na seleção brasileira, com 25 vitórias, 4 empates e 1 derrota (exatamente nos 3 a 2 para a Itália), assim como foi um grande ídolo no São Paulo, com 617 partidas, só perdendo para Rogério Ceni.
Também pelo clube do Morumbi, ganhou o Brasileiro de 77, além dos Paulistas de 75, 80 e 81.
Ainda assim, defendeu o América-RJ, Guarani, Corinthians, Portuguesa e Santa Cruz.
Sobretudo, Waldir Peres foi gigantesco por onde passou, desde o uso das luvas pela primeira vez, na Ponte Preta em 1970, até pendurá-las em 1989.
por Marcos Vinicius
Se o coração do goleiro do escrete canarinho resistiu há 35 anos os 3 a 2 para a Itália, neste domingo, este mesmo coração do nosso eterno camisa 1 foi derrotado por um infarto fulminante.
Nos deixou, indo fechar o gol no céu ou quem sabe, defender alguns pênaltis, no time que tem o Dr. Sócrates na meiuca e o comando do mestre Telê.
Boas peladas aí no andar de cima, e que você continue fechando o gol e defendendo pênaltis, seja dos anjos ou dos craques que já estão aí há tempos.
MAZZOLA, O MELHOR ‘ITALIANO’ QUE VESTIU A AMARELINHA
por André Felipe de Lima
Quem o levou para o Palmeiras, no dia 25 de julho de 1955, foi Idilio Gianetti, sócio na Viação Piracicabana e um apaixonado torcedor alviverde. A ida para o Parque Antarctica foi um presente de aniversário para o então jovem José João Altafini, o Mazzola (apelido que recebera devido à semelhança com Valentino Mazzola, que comemorara o aniversário um dia antes da ida para o Verdão. Dali em diante a carreira do jovem craque evoluiu (e muito!). Tornou-se ídolo da torcida palmeirense e foi convocado para a Copa do Mundo de 1958. Era titular até o técnico Vicente Feola decidir mudar drasticamente o time, escalando, sobretudo, Pelé e Garrincha. Na estreia do Brasil, Mazzola mostrou que estava em plena forma. Marcou dois gols na vitória de 3 a 0 sobre a Áustria. Ninguém gosta de ser barrado. Ainda mais quando se está em uma Copa do Mundo. Mas o craque Mazzola, que tinha apenas 19 anos, conformou-se, mesmo jogando o fino na ocasião:
– Sou uma pessoa com pés no chão. Depois de fazer os dois gols, estava satisfeito com o que estava rendendo. Na verdade, acabei torcendo o tornozelo e não estava 100% para jogar. Não era tão fácil se recuperar como hoje. Por isso, não joguei tão bem com a Inglaterra e depois do empate o Feola precisou revisar o time. Por isso ele colocou o Vavá.
Após aquela Copa e o título conquistado, Mazzola decidiu mudar de vida. Inclusive de nacionalidade. Foi para a Itália, onde, inicialmente, defendeu o Milan, e tornou-se ídolo por lá. Tão ídolo que o clamor dos italianos para que vestisse a camisa da Azzurra convenceu-o a buscar a dupla-nacionalidade. Mazzola tinha a plena consciência do que o aguardava. Disputou a Copa do Mundo de 1962, no Chile, pela Itália e ouviu impropérios da torcida e imprensa brasileiras. Acusado de “traidor”, Mazzola incomodou-se no início, mas, distante do Brasil, foi acostumando-se com as críticas, que aos poucos perderam a intensidade.
Logo que deixou o Brasil e assumiu-se italiano, Mazzola respondia às insistentes perguntas de que lado ficaria se o Brasil decidisse a Copa com a Itália. Respondia invariavelmente enfezado: “Torno a repetir: numa peleja assim, não ficarei inibido. Se houver oportunidade de assinalar o gol da vitória da Itália, mesmo que esse tento custe o bicampeonato ao Brasil, não passarei a bola para nenhum companheiro de equipe. Eu mesmo farei o gol.”
Mazzola tocou a vida. Foi bicampeão italiano (1957 e 59) e campeão da Liga dos Campeões (1963). Naquele ano foi vaiado ao voltar ao Brasil para disputar a final do Mundial Interclubes, contra o Santos. A arquibancada do Maracanã foi impiedosa com Mazzola. Virou um dos maiores artilheiros da história do Milan, com 216 gols. Entrou, portanto, para a história do Calcio como um dos maiores jogadores que o clube “rosonero” já teve e ainda brilhou em outros clubes da “Vecchia Bota”, dentre os quais a Juventus, mas jamais escondeu o amor que nutria (e até hoje nutre!) pelo Palmeiras, como declarou ao repórter Rodrigo Farah, em 2008:
– Meu coração é verde. Minha passagem pelo Palmeiras foi curta, mas foi muito marcante. Queria ter jogado mais pelo time, pois me dá muita emoção lembrar essa época. Tive uma identificação muito boa com a torcida e é até engraçado. Fiquei surpreso com isso já que não fiquei muito tempo por lá. Continuo seguindo o Palmeiras. Vi que eles ganharam o Paulista com o Luxemburgo e fiquei muito contente.
Mesmo amando o Brasil e o Palmeiras, Mazzola fez da Itália sua morada. Jamais deixou a terra na qual é idolatrado até hoje.
NÃO VALE A PENA VER DE NOVO
por Mateus Ribeiro
Não faz muito tempo, e provavelmente todos aqui vão se lembrar de quando Neymar ainda atuava pelo Santos. Qualquer ser humano um pouco mais esperto sabia que mais cedo ou mais tarde, ele iria atuar na Europa. Se para contar com qualquer jogador meia boca que a imprensa inventa, times do Velho Continente abrem a carteira, obviamente que um dia iriam dar um caminhão de dinheiro em cima do último grande talento que nosso futebol apresentou ao mundo.
Dito isso, vamos ao ponto chave da conversa. Lá pelos idos de 2011, alguns boatos começavam a pipocar: “Neymar tem um pré contrato com Barcelona”; “Real Madrid prepara proposta milionária para joia santista”; “Quem dá mais pelo menino de ouro?” eram algumas das manchetes.
Até aí, tudo bem. Não somos bobos, e sabemos que o importante é vender jornal, caçar cliques e tudo mais. O problema começou a ficar sério quando teve início a corrida maluca para ver quem acertava primeiro o destino do atacante. “Neymar acerta essa semana com Barcelona”; “Madrid está a espera de Neymar” e mais algumas notícias desse porte poluíam portais, páginas do Facebook, jornais, e os já então insuportáveis debates. Toda essa movimentação visava apenas encher linguiça e ver quem seria o primeiro a acertar o destino do jogador. Como se existisse algum clube além do clubinho dos ricos nos últimos anos com dinheiro suficiente para bancar uma contratação de tanto peso…
O final todo mundo já sabe: Neymar foi para o Barcelona, ganhou tudo o que poderia, e fez gol de tudo que é jeito.
Confesso que já estava até esperando a reprise da novela “Neymar e seu destino” ser veiculada no “Vale a pena ver de novo”. Não deu nem tempo.
Nos últimos dias, presenciamos o “Grande Prêmio Neymar de Fórmula 1 (71)”. Jornalistas, “jornalistas” e palpiteiros descarregaram a metralhadora do achismo na ânsia de ser a pessoa que descobriu onde o queridinho do Brasil vai jogar. A cada instante uma notícia diferente aparece. Nenhuma certeza. O filme do início da década se repete.
Em que pese o fato de que a especulação (por mais indícios que apresente) é uma das partes mais desnecessárias do já desprezível jornalismo esportivo, ninguém mais tem saco pra isso. Deus, o mundo, eu e você sabemos que se um dia o Neymar sair do Barcelona, ele vai jogar em um time que tenha dinheiro para pagar sua multa, e aparentemente, só o time de Paris tem dinheiro (e vontade) o suficiente para descarregar um caminhão de dinheiro (ainda mais porque gastar dinheiro dos outros é mais fácil).
Eu não entendo nada de jornalismo, absolutamente nada. Mas creio que existam pautas mais interessantes do que saber os motivos que fazem um ser humano querer ganhar muito dinheiro em uma das cidades mais bonitas do planeta. Também imagino que se for pra ficar fazendo fofoca e levantando boatos, eu posso muito bem ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de entendedores de futebol.
Apenas para finalizar, outro ponto que já exterminou a paciência: “Neymar vai para o PSG para ser o melhor do mundo”. TODO O PLANETA sabe que esse prêmio é a coisa mais previsível do mundo, e que se o prêmio não ficar com Messi ou Cristiano Ronaldo, ficará com ele. Toda a galáxia sabe também da linda historia de amizade entre ele e Daniel Alves. Ninguém mais tem saco pra ouvir essas baboseiras que relembram os piores momentos da tenebrosa “Malhação”.
Dito isto, desejo boa sorte para todos que se martirizam acompanhando o noticiário esportivo.
Aquele abraço. É Tóis.