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TRIBUNAIS DE PADARIA

por Zé Roberto Padilha


Em 5 de outubro de 2017, Paolo Guerero, jogador de futebol, então gripado, utilizou uma medicação para melhorar sua respiração. E ganhar fôlego para enfrentar a Argentina em busca da classificação do seu país, o Peru, para a próxima Copa do Mundo de Futebol. Jogo decisivo, segundo ele, não poderia lhe faltar uma só partícula de oxigênio parta lutar pelo seu país.

Em outubro de 2009, na Dinamarca, segundo o jornal Le Monde, Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, recebeu a propina de 1 milhão de euros pela compra de votos para a escolha da cidade do Rio de Janeiro como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Segundo Nuzman, que não estava gripado, não poderia faltar um só corrupto a ser comprado para não perdermos esta oportunidade única de receber a festa maior do esporte. “Custe o que custar!”, afirmou.


Guerrero, que vive dos seus salários e gratificações, queria apenas, segundo ele, respirar melhor. Já Nuzman, que violou os desígnios olímpicos pregados pelo Barão de Cobertin, segundo a imprensa, e leva uma vida abastada acima dos seus rendimentos, não quis se pronunciar. Mas enquanto um acaba de ser condenado em um café da manhã na padaria ao lado (“Certamente era cocaína, disse um torcedor!”; “Logo desconfiei de tanta luta e correria”, afirmou um vascaíno), o outro, embora preso preventivamente, foi solto porque quem se interessa, nos bares e nas esquinas do nosso país, pelos rumos do vôlei, basquete, handebol, judô e natação?

Somos latinos e passionais. Capazes de convocar às pressas, nas cadeiras de uma padaria, uma sessão extraordinária para julgar um jogador de futebol. E esperar, passivamente, quatro anos para que a chama olímpica seja acesa, ilumine nossa consciência e exija exames de fezes, porque urina é pouco, dos nossos dirigentes esportivos. A questão é: quem fez falta, anteontem, no comando de um ataque para dar orgulho, não vergonha, a uma nação? Paolo Guerrero ou Carlos Nuzman?

GOL DE ARTISTA

Se a pelada for com golzinho de chinelo, uma coisa é certa: em algum momento surgirá a polêmica se a bola entrou ou não. Como a maioria dos jovens, Artur Porto estava exaurido da faculdade no último período, mas precisava entregar um trabalho de conclusão de curso para se formar em Design, na PUC-Rio, Foi aí então que precisou recorrer à grande paixão da sua vida: o futebol.

Após quatro meses de pesquisa e mais quatro de execução, sob a orientação do professor Celso Santos, o flamenguista desenvolveu um golzinho que não tombaria nem com as pedradas de Roberto Dinamite e, por conta disso, recebeu o convite para uma exposição em Dubai.

Diante de tanta intolerância entre as pessoas, Artur foi em busca de uma solução que unisse o povo e nada mais agregador do que a boa e velha pelada de rua. Como suas pesquisas de campo apontaram que os peladeiros carecem de muitas soluções de design, o jovem decidiu colocar a mão na massa.

– Procurei um produto que ajudasse a proteger e alimentar nossa marca registrada que é o futebol-arte. Ele surge, originalmente, nas peladas de rua. A ginga, o drible, a irreverência e a criatividade estão sempre presentes, mas eles jogam em condições adversas, precárias e improvisadas. Desenvolvi esse projeto pensando neles.



A fala é de quem vivenciou todas essas condições nas peladas da Rua General Glicério, em Laranjeiras. Na infância, descia para jogar diariamente com os amigos e improvisava os golzinhos com chinelo, gelo-baiano, portões etc.

Alguns anos mais tarde, agora formado com louvor, Artur vai ter o privilégio de ser um dos representantes do Brasil na Dubai Design Week, a maior exposição de design universitário do mundo. O evento ocorre entre os dias 13 e 18 de novembro e, de malas prontas, o jovem não consegue esconder a felicidade.


– É como se fosse uma convocação para uma Copa do Mundo, né! Vou poder representar o futebol moleque lá em Dubai. São 70 faculdades, com uns três projetos de cada uma.

Quando voltar ao Brasil, Artur pretende correr atrás da produção dos golzinhos. Segundo ele, o projeto exige um alto investimento porque precisa de uma produção em larga escala para ser viabilizado.

– Meu maior interesse é levar esse golzinho para projetos sociais ou campos de refugiado. Acho que tem tudo a ver! – completou.

ALMA DE FRAQUE E CARTOLA

por Rubens Lemos

O homem antiquado é um observador sem teorias para explicar a si próprio. Sou um dos tais a nunca me imaginar velho, dando trabalho aos outros. Procuro não infortunar ninguém em mais um tempo invadindo como um intruso a minha vida. Escolhi viver como se fosse um passageiro do meu saudosismo. Quando a ele retorno, é para lembrar o que ele me guarda de bom.

Só sei fazer o que faço aqui, todos os dias, e mais algumas pequenas variações do jornalismo. Considero-me de alma sossegada por haver passado pelos dois lados da moeda, o ataque e a defesa, na máquina de moer gente que é uma assessoria de imprensa de órgão público. Não me arrependo por saber na pele que foi preciso, para aprender.

Antiquado, sou um conservador, mas não me vejo, num divertido exercício de banalidade, um homem de longas horas em basílicas ou arcadas gregas , ou de detrás de balcões de quinquilharias. Gosto dos sebos, de visitá-los. É a minha tecla de retroceder espiritual.

O que me sobra de antigo é meu e não abro mão. Gosto de papéis, filmes sem atrativos atuais, modelares para comparar o tempo do meu tempo com o tempo do tempo do meus filhos e dos seus amigos. Que eles não saibam, mas o meu tempo foi muito melhor.

Menos moderno, menos acessível à tecnologia, porém superior no quesito gente. Sempre gostei mais de gente do que de me mostrar com dinheiro e patrimônio e talvez não tenha me tornado um rico pela própria vocação de achar mais agradável um livro, um disco, um jogo de futebol ou um suspense instigante.

Sou obrigado a dizer, nesta demorada delonga, que os meninos atuais viram bem menos do que assisti e hoje falam com aspectos de certo modo arrogantes. O futebol é a minha base de analogia. Comparo-o a qualquer assunto e termino com razão. Na vida, como no futebol, quem prefere se defender ou se esconder, perde por omissão, medo ou covardia. Quem tem coragem de lutar, é como um time jogando no ataque, driblando para frente, alegrando a platéia.

Tenho dó dos meninos com direito à TV paga que não se assemelham aos pobres frequentadores de campos interioranos, calvos de grama, imensos de paixão. Os pequenos do mato, das agruras e do pão contado têm no futebol a alegria bem mais autêntica do que o discurso teórico de algumas décadas passadas, quando, entre queijos e vinhos, sem riscos de delação ou tortura, falsos profetas discursavam para ouvidos imbecilizados.

Recitavam Neruda, bebiam bons vinhos e sentenciavam: o povo brasileiro gosta de pão e circo. E olhavam para os interlocutores, todos embevecidos pela falta de opção melhor. A retórica dos catedráticos punha o circo como guarda-chuva de todas as culturas consideradas inúteis por eles, os sábios que, ao passar dos anos, se transformariam em sabidos, no sentido sem graça da esperteza.

O circo dos intelectuais de festa impunha o futebol como ópio das classes dominadas. Esse tipo de arrogante continua achando assim. Com todas as minhas limitações antiquadas, nada é mais cultural do que o futebol, na sua prática que envolve a dança, a literatura expressada por nomes menos pedantes: Nelson Rodrigues, Armando Nogueira, Carlos Drummond de Andrade, Carlos Heitor Cony, João Máximo, João Saldanha, Luís Fernando Veríssimo, José Lins do Rêgo.

O futebol é uma cultura primordial de massa. Os gurus que tomavam vinho e teorizavam o que outros sentiam na pele e na prática perderam seu manifesto verbal e pedante: O futebol acabou para os humildes.

Nos ingressos a preços absurdos, em clubes proibitivos e na substituição do amor dos torcedores de verdade, pela baba elástica e odienta dos mentecaptos que escolheram um time para destilar suas frustrações de placenta. Palavra de antiquado. De uma alma de fraque e cartola.

Cabelada

REI DO APITO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | vídeo e fotos: Daniel Planel

 

“Todo juiz é ladrão, Cabelada não”. Quem acompanhou o futebol carioca nos anos 70 e 80 conhece bem esse frase, que é sempre seguida de gargalhadas. Há tempos a equipe do Museu da Pelada queria conhecer de perto esse personagem folclórico. E foi no Beco do Rato, na Lapa, na comemoração dos 50 anos bem vividos da jornalista Marluci Martins, que estava acompanhada do maridão Moacyr Luz, lenda do samba, e de um punhado de amigos, muitos companheiros de redação, como Renato Maurício Prado, Eucimar Oliveira, Dácio Malta e Denise Nascimento. Animando a roda de samba, o boleiro Leandro Samurai. E foi nesse clima descontraído que batemos um papo com Luiz Carlos Gonçalves, o Cabelada, um dos árbitros mais hilários do cenário nacional.


Carioca típico, malandro de Vila Isabel, cliente assíduo do antigo Petisco da Vila, não dispensa uma boa gelada e sempre foi figurinha carimbada nas ruas da cidade. Dessa forma, antes mesmo da sua chegada, um balde com cervejas trincando já estava sobre a mesa. Era o cenário perfeito para o árbitro soltar o verbo sobre as polêmicas em que se envolveu.

– Vocês querem ouvir uma história boa? Vou começar pela melhor! – disparou assim que chegou, já com o copo devidamente cheio.

Tratava-se de uma confusão nos minutos finais da partida entre Bangu e Goytacaz, pelo Campeonato Carioca. O Bangu vencia com facilidade e o jogo caminhava sem polêmicas até o goleiro Gilmar, do alvirrubro e da seleção brasileira, fazer cera.

Cabelada correu até ele para aplicar o cartão amarelo, mas um berro ecoou do banco de reservas do Bangu:


(Foto: Reprodução)

– Cabelada, não!! Esse tem dois! – alertou Dr. Castor, do banco de reservas. Mais um amarelo e o goleiro ficaria de fora da decisão contra o Fluminense.

O árbitro, então, mudou a direção e voltou-se para o lateral-esquerdo.

– Esse também tem dois!! – esbravejou o dirigente.

– Então para quem eu dou essa merda, doutor? – rebateu Cabelada, para em seguida punir o lateral-direito.

A confusão foi tema de muita discussão no dia seguinte e estampou as capas de todos os jornais. Sagaz, Cabelada deu o seu jeitinho. De acordo com ele, havia sofrido uma crise de labirintite 40 dias antes daquela partida e utilizou o problema como o grande responsável pela confusão.

– O Dr. Eduardo (Caixa d’água) não queria que o Bangu jogasse o clássico sem seu goleiro titular. Com isso, ganhei umas três ou quatro escalas seguidas. Foi o famoso “cala boca”.

Com tantas polêmicas no currículo, Cabelada revelou os bastidores da Federação:

– Sempre rolou interesse e volta e meia eles me pediam algum “favor”. Eu apoio o sistema. Na minha opinião, Fluminense, Vasco, Flamengo e Botafogo não poderiam ser rebaixados nunca e deveria existir um regulamento para isso. Isso evitaria que os árbitros ficassem em saia-justa.


Mesmo tendo apitado sua última partida oficial há 25 anos, a figuraça afirmou que volta e meia é reconhecido nas ruas. Além disso, está prestes a ser homenageado com um curta sobre sua vida dentro e fora de campo, algo que nunca imaginou. Para o projeto ser viabilizado, no entanto, os diretores do filme criaram uma arrecadação coletiva (https://www.catarse.me/cabeladanao), que segue a todo vapor na internet.

Por fim, o árbitro não titubeou ao falar sobre o seu estilo:

– A minha conduta é um pouco diferente. Sou autêntico, gosto de bebida, gosto de mulher, gosto da noite. No mundo de hoje sou visto como extravagante! – revelou o vascaíno confesso.

Após muitas horas de resenha, deixamos o bar dispostos a marcar outro papo para terminar de ouvir as infinitas e divertidíssimas histórias dessa figura.

 

 

 

 

Válber

xerifão em casa

entrevista e texto: Marcello Pires |  fotos e vídeo: Daniel Planel

Muitos apontam Válber como um dos zagueiros mais habilidosos da história do futebol brasileiro. Outros o consideram um talento desperdiçado por não ter jogado em um grande clube da Europa ou tampouco disputado uma Copa do Mundo. Mas o que ninguém questiona é que o menino que nunca jogou na categoria de base, que conciliava o trabalho pesado durante a semana com os treinos no desconhecido Tomazinho, clube pelo qual se profissionalizou aos 21 anos, e que apareceu no cenário nacional com a camisa do Fluminense jogava muita bola. Jogava tanto que não se destacou apenas na zaga do São Paulo, onde viveu seu melhor momento. Brilhou como lateral-esquerdo do Botafogo vice-campeão brasileiro de 1992, como lateral-direito naquele Vasco comandado por Edmundo que atropelou seus adversários no Brasileiro de 1997 e até mesmo como meio-campista já no fim de carreira no próprio Fluminense, seu time de coração e onde trabalha atualmente ensinando a garotada do sub-15 e sub-17.

O convite veio através de um de seus grandes parceiros nos gramados. Outro zagueiro técnico e talentoso, Alexandre Torres, com quem formou a zaga do Fluminense no Brasileiro de 1991, quando o Tricolor das Laranjeiras foi surpreendido nas semifinais da competição em pleno Maracanã, pelo Bragantino de Carlos Alberto Parreira, que mais tarde ficou conhecido no país como carrossel caipira. 

– É meu time de criança, o time do meu pai, das minhas filhas, e fico bastante feliz com esse convite porque foi onde comecei. Foi meu primeiro clube grande, tenho boas lembranças daqui e retornar para o Fluminense é uma honra. Fiz um curso (de treinador) há um tempo e tive a oportunidade de trabalhar no Audax. Mas o time não foi muito bem e depois fiquei muito tempo afastado do futebol. Estou bastante satisfeito de estar fazendo esse trabalho em Xerém com a garotada – agradeceu Válber, atualmente responsável pelo aprimoramento técnico dos meninos de Xerém. 

– Procuro observar e trabalhar principalmente com os zagueiros a colocação, o passe, o cabeceio, todas as coisas que os zagueiros têm que fazer nos jogos. Procurar tirar os erros e corrigir algumas coisas como a entrada na bola para que eles sejam bem sucedidos nas partidas.

Com uma postura bem mais séria que a dos tempos de boleiro, o ex-zagueiro prefere deixar as polêmicas e as histórias do passado adormecidas na memória. Válber quer olhar para frente. Não que ele se arrependa de alguma coisa. Muito pelo contrário. Para quem nunca jogou nas categorias de base de um clube e se profissionalizou somente aos 21 anos, o saldo dos mais de 20 anos de carreira é considerado por ele mais do que positivo. 


Nem o fato de ter ficado fora da Copa do Mundo de 1994, quando já era bicampeão mundial de clubes pelo São Paulo e titular absoluto do técnico Telê Santana, seu grande mestre no futebol, parece perturbar a paz e tirar o sono de Válber. 

– O sonho de todo jogador é chegar à Seleção Brasileira. Eu cheguei, disputei as eliminatórias de 93, fui titular em dois jogos, mas me machuquei e acabei saindo da seleção. O ponto mais alto é claro que é chegar à Copa do Mundo, eu queria ter chegado, não consegui. Mas fico bastante satisfeito pela participação que tive na seleção e pelos clubes que joguei, demonstrando sempre um bom futebol. Não tenho do que reclamar, graças a Deus fui muito bem sucedido no futebol. Comecei com 21 anos, trabalhava durante a semana e jogava em Jacarepaguá um campeonato empresarial aos domingos. Não tive a oportunidade de jogar mirim, infantil e as demais categorias, por isso converso bastante com os garotos para dar valor a isso, pois é muito importante na carreira de um jogador – afirmou o ex-zagueiro. 

Se a chance de estar entre os 22 tetracampeões mundiais nos Estados Unidos acabou sendo interrompida por conta de uma contusão, o fato de um jogador tão talentoso e vitorioso como ele nunca ter jogado em um grande clube da Europa sempre levantou dúvidas e se tornou um verdadeiro mistério.

Sereno e conformado com seu destino, o ex-jogador que ainda defendeu São Cristovão, Santos, Coritiba, Inter de Limeira e América-RJ tem a resposta na ponta da língua.


– Na época até existiram algumas propostas, mas eu estava muito satisfeito no São Paulo, era uma época de conquistas, vínhamos conquistando vários títulos e acabei optando por ficar. Não me arrependo, no momento você tem que fazer aquilo que tem vontade. Era muito bem tratado no São Paulo, foi um clube que me acolheu muito bem e decidi permanecer. Surgiram rumores quando eu estava na Copa América de 93 sobre o interesse do Milan, alguma coisa assim, mas nada concreto, ninguém chegou até mim. Eu só ouvia falar, mas nunca recebi nenhuma oferta oficial, talvez por isso tenha optado em ficar no São Paulo.

Aos 50 anos, completados em maio, Válber está feliz na nova função, mas não descarta uma nova oportunidade como treinador. Sua primeira chance no Audax, do amigo Vampeta, não foi como ele esperava. Sem a estrutura e o material humano que lhe foram prometidos, os resultados acabaram não sendo aqueles que todos esperavam. Mas o futuro do ex-zagueiro como chefe tem tudo para dar certo. Afinal, Válber tem na bagagem ensinamentos preciosos de dois mestres ao longo de sua carreira, Telê Santana e Carlos Alberto Parreira. 

– Com certeza o Telê foi o melhor treinador que tive e o responsável pelo meu melhor momento. Me dava liberdade para jogar, onde me sentia bastante à vontade, tanto no meio, de zagueiro ou como líbero. Me ensinou muitas coisas, sou muito agradecido a ele por tudo que me ensinou e me corrigiu – elogiou. 

Mas ele pegava no seu pé e te dava muita dura, né? 

– Isso ai é normal, ainda mais ele que era um treinador que exigia muito da disciplina, tanto dentro do campo como fora, mas para mim ele era um verdadeiro mestre, me ensinava o que tinha que ser feito e ensinava bem. Isso é bastante gratificante. O Parreira também sempre foi um excelente treinador, mas tive outros grandes treinadores e acho que não tenho nada do que reclamar. 

Se além de Alexandre Torres, Ronaldão, com quem formou um verdadeiro paredão na zaga do São Paulo, foi o outro grande parceiro de zaga citado por Válber, Romário, Ronaldinho e Evair foram apontados pelo ex-zagueiro como os principais tormentos que teve pela frente. Só na hora de escolher o grande craque com quem jogou é que o prêmio não teve bola dividida. 

– Difícil, tem Raí, Romário, mas tem um que não esqueço na minha vida que é o Toninho Cerezzo. Para mim ele é “hors concours”, diferente. Antes dele chegar no São Paulo, o Telê falava que estava chegando um jogador da Itália que ia nos ajudar muito. E não foi diferente. Nós fomos campeões mundiais com ele jogando a mesma coisa. 

Mas a família que fez no futebol e que o deixou com saudade não é a única razão que o fez voltar aos gramados. Com três filhas e uma neta que carregam o seu sobrenome, o pai coruja confesso garante ter uma motivação a mais para tentar retribuir ao Fluminense tudo que o clube lhe proporcionou.


– Senti muita falta quando parei, pois gosto de estar dentro do gramado. Meu dia a dia começa cedo, trabalhando dentro do campo, é onde sempre me senti bem. Venho todo dia feliz para cá para fazer um bom trabalho. A minha filha de 21 anos me pegou jogando aqui no Fluminense em 2002, a mais nova de 8 anos, que é a Maria Eduarda, não teve essa oportunidade, a de 27 também me viu jogando. Sou bem coruja, sou muito apaixonado pelas minhas filhas, agora eu tenho uma netinha. Tudo mulher. É uma coisa nova para mim, mas que me dá uma tranquilidade e uma motivação maior para vir trabalhar – admite, emocionado.

Apesar de ter ficado longe do futebol por muitos anos, Válber jamais ficou longe da bola. Ao contrário da maioria dos boleiros, o ex-jogador não abre mão de jogar uma peladinha sempre que tem um tempo. Se entre os profissionais ele já deitava e rolava, é quase impossível imaginar que entre os peladeiros de plantão ele não faça a diferença.

– Uma peladinha sempre faz bem, né! Não dá para ficar sem jogar. A diferença sempre tem que fazer. Eu acho que quem foi profissional tem que chegar na pelada e se destacar. Se o cara for igual aquele que nunca jogou futebol ele está errado, em alguma coisa ele tem que se destacar. Numa batida na bola, na colocação, num chute no gol, ele tem que estar sempre se destacando senão vai ser sempre visto como mais um. Eu sempre que entrei dentro de campo pensava na alegria do torcedor, que saía de casa para ver um bom espetáculo, ver lances bonitos – afirmou, sem falsa modéstia, um dos artistas do futebol brasileiro.

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