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UM TANGO INACABADO

por Paulo Escobar


No primeiro texto que escrevi sobre aquele jogo inesquecível da primeira final, terminei dessa forma: “Até depois do dia 24 para falarmos mais disto que é mais que um clássico. Até…”

Gostaria de ter escrito hoje sobre um jogo épico como o primeiro, de ter falado de uma partida elétrica ou ter citado uma final inesquecível. Mas não foi o que vimos.

River e Boca costuma ser um clássico cheio de história e rivalidade, de muitas confusões, de todo tipo de loucura possível, do inimaginável tanto dentro como fora de campo. Se esperávamos ver um grande jogo no sábado, nos enganamos. Depois das pedradas da torcida do River no ônibus Xeneize, vimos jogadores feridos e uma final jogada para domingo de novo.

E depois de mais um tango, cheio de dramas e reviravoltas, chegamos ao grande dia e a diferença daquele jogo adiado na Bombonera é que em Nuñes não tivemos o jogo tão esperado. O Boca se recusou a jogar com jogadores feridos e disse que com a diferença de condições esportivas em relação ao River não jogará.


River e Boca mexe com questões além do jogo, mexe com as classes sociais, mexe com a história, as derrotas viram hinos e são marcas profundas. Pra quem já foi a Boca ou passou por Nuñes sabe o que significa perder um jogo comum num superclássico. O que se viu foi não querer perder aquela que tem sido dita como a última final em dois jogos da história da Liberta, pois ano que vem seremos uma cópia europeia.

Tevez lembra aquela eliminação que o Boca sofreu quando a torcida Xeneize jogou gás de pimenta nos jogadores do River. O que se pede é a anulação do jogo e a diretoria do Boca pede os pontos da partida no tribunal.

A torcida do River, na saída do jogo deste domingo, cantava “Bocagón” insinuando que os Xeneizes não queriam entrar no jogo por medo do confronto. E mais uma vez os torcedores que estavam neste domingo no estádio sofreram com a desorganização da Conmebol, que tirou o corpo fora dos incidentes.

Não vou fazer análises daquelas que colocam torcedores como bandidos e nem juízos morais, pois entendo que o futebol faz até o mais calmo dos seres humanos perder a noção. Vale lembrar que pela paixão ao futebol já se fez de tudo neste mundo, e entendemos também que a revolta social é uma questão um pouco mais ampla e que está bem além do futebol. Também não vou cair naquele “punitivismo” que faz com que se proíba de tudo nos estádios.


Fiquei triste por querer ver esse jogo, e se é pra apontar culpados jogo na conta das federações, pois entre AFA, CONMEBOL e CBF não se tem muita diferença.

Lembremos que aqui já tivemos uma final que começou em 2000 e terminou em 2001 ou times que subiram da terceira pra primeira ou títulos reconhecidos por interesses políticos estranhos, ou VAR que funciona para alguns e para outros não.

As federações, entre elas a FIFA, são as grandes culpadas pelo pior que vemos no futebol e sempre movidas por interesses financeiros que fazem do esporte um simples instrumento para o lucro das pessoas por trás destas entidades. Quem num Boca e River joga o ônibus Xeneize para passar no meio da torcida dos Millionarios?

Gostaria de deixar algumas dúvidas no ar:

A quem interessa este tumulto na última final ida e volta? Será que não se quer fortalecer a ideia de campo neutro e jogo único?

A quem interessa esticar mais o jogo e as incertezas?

A quem interessa criminalizar e generalizar as torcidas como bandidos?

Há problemas estruturais e profundos no futebol mundial, movido por interesses políticos e financeiros de empresas, algumas pessoas e instituições por trás e nos bastidores que se mantêm ocultos.


Gostaríamos de ter visto um jogo épico no monumental, queria poder escrever aqui sobre o futebol e a paixão que nos move e faz viver isto que é muito mais que um esporte. Mas ainda nas incertezas mal sabemos o que virá pela frente e o que acontecerá pode ser qualquer coisa. Até a decisão sair não diga que já viu de tudo, pois há coisas que você ainda verá e duvidará.

Terça feira, dia 27, às 10h, assistiremos o que a CONMEBOL decidirá, e posso lhes garantir que tudo pode acontecer. E infelizmente este tango de tanto drama não foi cantado por inteiro, mas nós, os amantes do futebol, esperamos que tudo se resolva dentro de campo e não nos bastidores do futebol, que ali sim é onde moram os bandidos e os sujos que estragam nossa paixão.

Espero poder escrever o desfecho com a bola no campo e um jogo épico, mas lembre-se que tudo pode acontecer…

DOMINGO ERA DIA DE ZICO

por Zé Roberto Padilha


Ate nós, jogadores, ficamos assustados com o tamanho daquele burburinho. Não era a final do Carioca ou do Campeonato Brasileiro de futebol. Muito menos, havia uma Copa Libertadores em disputa. Era apenas o primeiro Flamengo x Vasco pelo primeiro turno do estadual de 1976. Se ficamos assustados em campo, os torcedores não. Estes foram avisados pelos Deuses do Futebol: “Vão para o Maracanã, meus filhos, assistir um ser quase humano em extinção”. E eles, 174.770 torcedores, que se transformou no quinto maior público da história do maior estádio do mundo, se espremeram entre a geral, cadeiras e arquibancadas. Era um domingo, dia 4 de abril de 1976. E domingo era dia de Zico.

A ficha só caiu diante daquela profusão de gente quando ele, Zico, fez um corta luz para o Luizinho e correu para receber à frente. Aos 25 minutos do primeiro tempo. Nosso camisa 9 tocou mal e a devolução subiu mais do que devia. Pouco importava, ele acertou o corpo na corrida e, de primeira, desferiu um sem pulo improvável e jogou a bola no ângulo esquerdo do Mazarópi. Era um lance raro até para o futebol arte praticado no país naquela ocasião. Mas era um domingo de futebol no Rio. E domingo era dia de Zico.


Quem jogou aquela partida, como eu, precisou, desde então, adotar como os sobreviventes de Hiroshima, as testemunhas da queda das torres gêmeas, do terremoto de San Francisco, um psicólogo e um otorrino. As cenas e os zumbidos permaneceram acesos e nos fazem abrir os olhos assustados de madrugada diante de um silêncio que, nos parece, preceder a chegada de uma enorme explosão. Nenhum público do atual Campeonato Brasileiro atingiu 77.770 espectadores. Se alcançassem, imaginem mais 100 mil pessoas com seus isopores, fogos, apitos e bandeiras.

O Maracanã, que era nosso, era um estádio ocupado por um povo feliz e miscigenado antes da chegada do padrão sectário da FIFA. E nossos templos sagrados viraram arenas, os espetáculos se tornaram dramas e os dribles, os gols, toda a magia foi desaparecendo junto à multidão. Só ficou mesmo no Rio o domingo. Com praia, sol, gente bronzeada e bonita, mas nunca mais se viu uma tarde sua igual aquela. Um domingo que era dia de Zico.

Super Zé

SUPER ZÉ

entrevista e texto: Paulo Escobar | vídeo: Johnny Escobar e Ruth Santana

Estávamos a caminho do Parque São Jorge para encontrar um dos maiores laterais da História do Futebol. Nos dias de hoje talvez você imagine uma assessoria que te faça passar por mil burocracias para chegar até o ídolo, e do outro lado um ídolo que te olhe com desconfiança ou de cima para baixo.

Ao chegarmos de frente daquele que foi campeão do mundo com aquela seleção de 70, mesmo que muito novo e no banco, foi ali que aprendeu com aquela legião de deuses. O mesmo que foi campeão com o Corinthians em 1977, e que jogou naquela Copa de 1974, chega com um sorriso e uma humildade sem tamanho.


Ali estávamos no memorial do Corinthians apertando a mão e abraçando o Super Zé, irmão de outros 4 jogadores de futebol e que naquela mítica final de 77 enfrentou um deles, Tuta, de uma velocidade tremenda e que deu trabalho ao Timão naquela final. Zé Maria, que entre os desejos que a vida não lhe brindou foi de ter tido seu pai vivo naquela final, mas como ele mesmo disse de algum lugar ele assistia e vibrava com aquela conquista, seria um divisor de águas na história do clube. Seria o Corinthians o mesmo sem aquele título?

Zé Maria que conseguiu juntar a raça e a técnica que o fez um ídolo da fiel torcida. Como esquecer daquela cena emblemática do sangue na camisa, o qual continuou no jogo mesmo que ferido? O mesmo Zé que viria ser parte daquela Democracia Corintiana e que seria mesmo que por um breve período técnico deste time tão recordado.

Um dos maiores laterais da história do futebol nos dá uma aula de história e posicionamento dentro e fora de campo. Fora de campo continuou talvez fazendo o que muitos destes jogadores poderiam fazer, a diferença na sociedade com os menos favorecidos, que foi o caminho que Zé seguiu ao fazer parte de um projeto com a molecada da Fundação Casa, projeto no qual trabalha até hoje, acreditando através do futebol naqueles que quase ninguém acredita.

Sem mais, os deixamos com esta grande figura dentro e fora de campo e esperamos que tenham o prazer de ver e ouvir o Super Zé.
 

 

OS DEUSES DO FUTEBOL LAVARAM BUENOS AIRES

por Marcelo Soares


Desde quando começamos a entender sobre futebol e torcer pelo nosso time do coração, torcemos de qualquer jeito para que o nosso clube participe da tão famosa Copa Libertadores da América e brigue para conquistar o sonhado título. Esse talvez seja o campeonato que mais represente o povo Sul-Americano.

O último dia 03 de novembro era esperado por todos os amantes do futebol, pois aconteceria o primeiro jogo da final do ano de 2018. A Copa que leva em seu nome uma homenagem aos heróis da independência das nações Sul-Americanas teve que aguardar mais um dia para apresentar ao mundo a sua final histórica. Os Deuses do futebol resolveram lavar a cidade de Buenos Aires antes do jogo para se despedir do tradicional formato que conhecemos da Libertadores.

Sabendo que seria o último ano nesse formato, talvez esse místico campeonato tenha tomado a liberdade de fazer algumas escolhas:

Escolheu o país que tem mais títulos, que tem o maior campeão do campeonato e que ainda luta contra a modernização dos estádios e de toda sua história.

O campeonato que já teve campeão invicto e também quem renasceu das cinzas, escolheu trazer um time que se classificou em último na fase de grupos para disputar o título. Contra quem? Seu maior rival.

Boca Juniors x River Plate


Depois de tantas mudanças nos últimos anos, regras, premiações e duração do campeonato, as finais agora passarão a ser decididas em um jogo só em campo neutro.

Podemos invejar o futebol europeu, a qualidade dos jogadores e dos seus jogos, porém a festa fora dos gramados quem inveja são eles. E toda essa festa que vemos nos clássicos foi um dos principais motivos para nos apaixonarmos por futebol.

Em um campeonato onde os países têm a maioria de sua população passando necessidades básicas, torcedores dão a vida para ver um jogo do time. Em mais uma decisão “daquelas” da CONMEBOL, tornaram praticamente impossível o sonho de muitos torcedores de um dia realizar o sonho de ver o time do coração no seu estádio na final da Libertadores. Numa tentativa talvez de tornar o campeonato semelhante a Champions League, já sabemos que não é isso que queremos. Somos torcedores e não espectadores, queremos ir a estádios e não em arenas. Essa não é a nossa essência.

Tamanha estrutura, acesso da maioria da população e fácil mobilidade ajudam para que esses deslocamentos se tornem mais fáceis na Europa em campeonatos como a Champions League. Mas aqui não!


O dia do primeiro jogo chegou e o que vimos foi mais uma festa mágica da torcida do Boca. Se faltava técnica, sobrava vontade para ambas equipes.

No último episódio dessa Libertadores de 2018, hoje, que possamos ser premiados com mais um jogo cheio de emoção que só um clássico é capaz de proporcionar para nós e mais uma festa única, dessa vez da torcida do River.

 O torcedor que saíra mais feliz já sabemos, serão todos aqueles que são apaixonados por futebol!

FINAL E INÍCIO DA LIBERTADORES

por Ruth Santana


Esse sábado teremos a tão esperada final da Copa Libertadores da América. A decisão histórica entre Boca Juniors e River Plate acontecerá no estádio Monumental de Nuñez, depois do empate em 2×2 na Bombonera e promete fortes emoções.

No domingo passado (18), teve início o mesmo campeonato, feminino, em Manaus. Essa é a décima edição da competição organizada pela CONMEBOL. O formato da não tão comentada Copa Libertadores da América de Futebol Feminino é o seguinte: 12 times, compostos pelas 10 equipes campeãs nacionais sul-americanas, o clube detentor do título e uma equipe adicional do país sede.

O Brasil está representado pelo Santos (campeão do Brasileiro 2017), Audax (atual campeão da competição) e Iranduba (representante de Manaus).

Um fato curioso é que, como a parceria da equipe campeã da Libertadores de 2017 Audax/Corinthians acabou após a conquista do título, a equipe de Osasco ficou com a vaga para a competição esse ano, enquanto o time alvinegro manteve a maior parte das jogadoras e da comissão técnica.


O Santos, da ex-técnica da seleção Emily Lima, goleou o chileno Colo Colo por 4×1, com direito a um golaço da volante Brena. A equipe encara o Deportivo ITA, da Bolívia, pela segunda rodada do campeonato nessa sexta-feira, às 22h30.

O Audax estreou com derrota para a equipe equatoriana Unión Española por 1×0. Depois da vitória pelo mesmo placar sobre o Atlético Huila, da Colômbia, o clube ainda acredita na classificação no campeonato.

O forte time amazonense do Iranduba ganhou o primeiro jogo por 2×1 contra o Flor de Patria, da Venezuela. Contra a equipe paraguaia do Cerro Porteño, o empate por 2×2 saiu de uma partida movimentada, com um belo gol de Andressinha, que cobrou a falta na gaveta.


Já viu os golaços das duas primeiras rodadas? Bateu uma curiosidade?

Então aproveite o embalo da épica final da Libertadores na Argentina e continue acompanhando o torneio sul-americano disputado por mulheres. A competição vai até dia 2 de dezembro. Os jogos estão sendo transmitidos pela página da CONMEBOL.