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LEMBRANÇAS QUE O VENTO TRAZ

por Marco Antonio Rocha

As bandeiras cortam o ar e, a cada movimento, revelam-se de uma forma diferente. Como a capa de um super-herói, ganham vida no vento em um balé que poderia não ter fim. E pouco importa se são pequenas, médias, grandes, gigantes, bandeirões… todas escondem um mistério que hipnotiza até mesmo os olhos menos atentos.

As bandeiras coloriram toda minha infância, adolescência e juventude, como lembranças de épocas mais leves como seus tecidos. Estavam na varanda de casa durante as Copas de 82, 86, 90 e 94, devidamente acompanhadas de fitilhos verdes e amarelos, cuidadosamente cortados e amarrados a fios, como rabiolas de pipas que tentavam conquistar a companhia do azul do céu.

Estavam na janela do Chevette do meu pai, cortando a Avenida Brasil, a caminho do São Januário. Aqueles poucos quilômetros esculpiam uma inesquecível mistura de sons… O pano amarrado no bambu, tremulando ao vento, com a Cruz de Malta impecavelmente esticada; o rádio informando o panorama do estádio na chegada dos times; o barulho das buzinas a cada vascaíno que cruzava com a gente…

Os anos se passaram, perdi meu companheiro de estádio e ganhei outro. A vida perdeu grande parte da leveza de seus tecidos, mas conservou uma boa dose de plasticidade e romantismo. Foi só meu filho crescer um pouco que, igualmente apaixonado por bandeiras, um dia me fez um pedido no estádio: “Pai, será que eles me deixam tentar?”. Deixaram! E lá estava o moleque sacolejando um enorme pano branco, com o desenho de uma Cruz de Malta maior que ele. A descoberta virou hábito e a cada partida passamos a conjugar o verbo bandeirar.

Mas neste sábado, antes de irmos para Vasco x Atlético-MG, pela primeira vez ele manifestou o desejo de levar uma bandeira de casa. Improvisamos um cabo de vassoura que encontramos na garagem e seguimos para São Januário. Uma moto passou e buzinou, alguém no ônibus gritou Vasco! No rádio, os repórteres falavam da movimentação da torcida e o barulho do pano invadia o carro. Entramos em São Januário e, como nunca havíamos feito, nos abraçamos longamente, emocionados. Um rapaz que via a cena de longe se aproximou, elogiou o carinho mútuo e aconselhou o moleque a sempre me ouvir, porque sou seu herói. Sim, pais são heróis que usam capas feitas de bandeiras, que ganham vida no vento em um balé que poderia não ter fim.

O PROFESSOR DE GEOMETRIA

por Zé Roberto Padilha

Didi, para muitos, foi o Rei da Folha Seca. Jogando pela seleção brasileira e pelo Botafogo, desenvolveu uma técnica única de bater uma falta.

Batia na bola por baixo, num ponto G, com uma rosca sutil. E ela, ao ultrapassar a barreira, descia plainando sobre a meta como uma folha seca caindo de uma árvore. Para desespero dos goleiros.

Como treinador, no Fluminense, nos concedeu uma lição de Geometria. Felizmente, para o Flamengo, Ramon Diaz, técnico do Corinthians, não teve acesso a essa aula nos vestiários.

No Brasileirão de 1975, era titular da Máquina Tricolor e enfrentávamos o Sport, num sábado à tarde no Maracanã. Eles, como o Corinthians, tiveram um jogador expulso. E Didi me trocou no intervalo pelo Mario Sérgio.

E deu explicações inquestionáveis: como ponta esquerda, eu fechava o meio-campo, Mário Sérgio abria nas beiradas procurando a linha de fundo. Ele pegou o quadro negro e disse uma máxima que nenhum comentarista esportivo percebeu em caso de uma expulsão.

– A gente só vai levar vantagem se abrirmos os espaços. Abrindo o Gil e o Mário Sérgio nas beiradas, estaremos abrindo o leque. Ampliando o campo e criando dificuldades para quem tem um a mais. Comigo jogando, disse, vamos encurtar o espaço e aí não pesará tanto o fato de ter um a mais.

Que eu saiba, Didi não estudou na PUC, não se aprofundou em cálculo para a bola descair, muito menos se enveredou pela Geometria para entender de ocupação de espaços.

Estudos nos fornecem conhecimento, mas aos nosso professores de futebol, autodidatas, como Pelé, de fibras fortes, antepassados do Príncipe Ivair, que aprenderam a driblar a escravidão, e do Garrincha, que gingavam e dançaram Capoeira para se livrar da marcação, bastou uma bola, um campinho de pelada e liberdade de criação para o Brasil apresentar ao mundo toda a sua inteligência e genialidade.

Uma pena que vivem a fechar os campos de peladas que são o nosso Vale do Silício. Outro Bill Gates, tão cedo.

O CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO E A LISTA DOS 128 CLUBES PRINCIPAIS

por Luis Filipe Chateaubriand

Em texto anterior a este, argumentava que 128 clubes deveriam ter calendário a temporada inteira, sendo considerados os 128 clubes principais de nosso futebol.

Mas quem seriam eles?

Eis a lista:

·         Dezesseis Clubes de São Paulo: São Paulo, Santos, Corínthians, Palmeiras, Bragantino, Bragantino, Guarani, Ponte Preta, Portuguesa de Desportos, Inter de Limeira, Santo André, São Caetano, Ituano, Audax, Botafogo de Ribeirão Preto, Água Santa, Paulista de Jundiaí.

·         Dezesseis Clubes do Rio de Janeiro: Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Botafogo, América, Bangu, Portuguesa, Campo Grande, Madureira, Olaria, Bonsucesso, São Cristóvão, Volta Redonda, Nova Iguaçu, Americano, Goytacaz.

·         Sete Clubes do Rio Grande do Sul: Grêmio, Internacional, Juventude, Caxias, Novo Hamburgo, Brasil de Pelotas, São José.

·         Sete Clubes de Santa Catarina: Figueirense, Avaí, Criciúma, Chapecoense, Joinville, Brusque, Marcílio Dias.

·         Sete Clubes do Paraná: Athletico Paranaense, Coritiba, Paraná Clube, Londrina, Operário, Grêmio Maringá, Cascavel.

·         Sete Clubes de Minas Gerais: Atlético Mineiro, Cruzeiro, América, Villa Nova, Tupi, Caldense, Tombense.

·         Cinco Clubes de Pernambuco: Sport, Santa Cruz, Náutico, Central, Porto.

·         Quatro Clubes do Espírito Santo: Rio Branco, Desportiva, Vitória, Serra.

·         Quatro Clubes da Bahia: Bahia, Vitória, Fluminense de Feira de Santana, Galícia.

·         Quatro Clubes do Ceará: Fortaleza, Ceará, Ferroviário, Guarany de Sobral.

·         Quatro Clubes da Paraíba: Botafogo, Sousa, Treze, Campinense.

·         Quatro Clubes de Goiás: Goiás, Atlético Goianiense, Vila Nova, Anápolis.

·         Quatro Clubes do Pará: Remo, Paysandu, Tuna Luso, Águia de Marabá.

·         Quatro Clubes do Amazonas: Amazonas, Nacional, Rio Negro, São Raimundo.

·         Três Clubes de Sergipe: Sergipe, Confiança, Itabaiana.

·         Três Clubes de Alagoas: CSA, CRB, ASA.

·         Três Clubes do Rio Grande do Norte: América, ABC, Baraúnas.

·         Três Clubes da Paraíba: Flamengo, River, Parnahyba.

·         Três Clubes do Maranhão: Sampaio Corrêa, Moto Club, Maranhão.

·         Três Clubes do Distrito Federal: Gama, Brasiliense, Ceilândia.

·         Três Clubes do Tocantins: Araguaína, Tocantinópolis, Gurupi.

·         Três Clubes do Mato Grosso do Sul: Operário, Dourados, Corumbaense.

·         Três Clubes do Mato Grosso: Cuiabá, Mixto, Luverdense.

·         Dois Clubes do Acre: Rio Branco, Independência.

·         Dois Clubes de Rondônia: Vilhena, Ji Paraná.

·         Dois Clubes de Roraima: São Raimundo, Atlético Roraima.

·         Dois Clubes do Amapá: Ypiranga, Trem.

Esses 128 clubes preferenciais no futebol brasileiro devem disputar as divisões do Campeonato Brasileiro, a Copa do Brasil e as Copas Interestaduais (Copa Rio / São Paulo, Copa Sul / Minas / Espírito Santo, Copa do Nordeste e Copa Verde).

CRAQUE NO CEROL

por Victor Kingma

Naquelas duas cidadezinhas as disputas entre os dois principais times monopolizavam toda a população. E naquele domingo não se falava em outra coisa, pois seria a final do campeonato.

De um lado, a defesa menos vazada, com destaque para o goleiro “Paredão”. Do outro, um ataque arrasador, com o artilheiro “Leo Cerol”, conhecido pela velocidade impressionante. O apelido vinha da paixão que tinha pelas pipas, seu hobby predileto.

Domingo de sol, enquanto a maior parte da garotada se juntava nos campos, era comum vê-lo correndo pelas pastagens, atrás das pipas que cortava com o cerol que ele mesmo fabricava. Nada lhe dava mais prazer.

Para o grande jogo, um problemão: a final do futebol coincidia com um torneio de pipas, tradicional na cidade. Duro era convencer o nosso craque a participar da partida. E numa reunião da qual participaram até o prefeito e o vigário, conseguiu-se, enfim, que ele trocasse as pipas pelo jogo, tão importante para a comunidade.

Chega o grande dia e numa partida truncada, o empate por 0 x 0 se arrasta. “Leo Cerol” parece disperso, olhar perdido no horizonte. De repente o zagueiro dá um chutão e a bola é toda da defesa adversária. Nosso craque inicia então um de seus piques alucinantes…

A torcida se levanta, os locutores se preparam para gritar gol. Leo Cerol passa como um raio pela intermediária, atravessa o campo como um foguete, toma a dianteira na corrida contra os zagueiros, passa pela bola, atravessa a linha de fundo e… 

Diante do olhar estarrecido de todos, pula o alambrado a tempo de chegar segundos na frente da garotada que corria atrás de uma imensa pipa colorida.

os caras do var

por Cláudio Lovato Filho

Os caras do VAR têm cara?

Sei lá, estão sempre de costas.

Nunca dão as caras.

Os árbitros de campo têm cara.

Mas poucos botam a cara pra bater.

Porque existem os caras do VAR.

Está na cara: a melhor política é concordar com os caras do VAR.

Mesmo nos lances de interpretação.

Alguns – isto é raro – discordam.

Hoje em dia, autonomia mesmo não se vê.

Talvez um dia os caras do apito só tenham liberdade para o cara ou coroa.

Ou quem sabe nem isso.  

Porque é possível que os caras do VAR passem a conferir também o toss.

Câmera lenta na moeda caindo no gramado!  

Dezoito câmeras no caraminguá!

Caraca.

Caramba.