BRASILEIRÃO DE 1971, A DESCOBERTA DE UM GÊNIO CHAMADO ROBERTO DINAMITE
por Erismar Silva
No ano de 1971, iniciava a era Campeonato Brasileiro em nosso futebol. No ano em que o Clube Atlético Mineiro conquistou seu único título do Brasileirão até o momento, o que não faltam são histórias e curiosidades. Após 1 ano da conquista da Copa do Mundo de 1970, os olhos se voltava para o nosso futebol, a qual, tínhamos um “Brasileirão” se iniciando.
Nas temporadas anteriores a competição tinha nomes diferentes, e claro, o formato também eram outros. Vale lembrar também, que mesmo com esse novo nome, os formatos da competição dificilmente se repetiram. Nos gramados brazucas daquele ano, desfilava a maestria futebolística de um gênio da bola, chamado Dadá Maravilha, craque do Atlético Mineiro.
A famosa “subida no ar” de Dadá contra o Botafogo no jogo decisivo, calou mais de 84 mil torcedores no Maracanã. Dadá era um verdadeiro gênio. Naquele ano, ele foi o artilheiro da competição balançando as redes 15 vezes e, consequentemente, eleito o craque daquele ano. Com 20 clubes representando oito estados, o Brasileirão se consolidava com grandes disputas e rivalidades.
Nos embalos da canção mais tocada daquele ano, “Detalhes” do Rei Roberto Carlos, o nosso futebol também embalava a galera. Nas arquibancadas, 80 mil era o mínimo em vários estádios. O charme do Campeonato era a disputa, a rivalidade e a busca incessante da vitória. No Clube Atlético Mineiro, além de Dadá, a base do time mineiro era essa: Renato, Humberto, Grapete, Vantuir, Odair, Vanderlei, Humberto Ramos, Ronaldo, Beto, Dadá Maravilha e Romeu. Técnico: Telê Santana
O ano ficou marcado pela última partida do Rei Pelé com a camisa Seleção Brasileira. No Estádio do Maracanã, o Brasil encarava a antiga Iugoslávia, o jogo terminou empatado em 2×2. No momento em que o país ainda estava no regime militar, sob o comando do General Medici, amargava o mais terrível momento da nossa história, conhecido como os “Anos de Chumbo”, em que a repressão era pesada. Para muitos, o futebol e a música, eram o refúgio para fugir das tensões do Regime Militar.
Naquele ano, foram marcados 419 gols por 20 clubes, com uma média de público de aproximadamente 20.300 torcedores por jogo. No jogo entre a Portuguesa e o Palmeiras, válido pela primeira rodada do Brasileirão, ocorreu a primeira expulsão do campeonato, aos 47 do segundo tempo, Eurico do Palmeiras e Tatá da Portuguesa foram expulsos.
E as curiosidades não param por aí. Naquele ano, o futebol conhecia um dos maiores jogadores da história do nosso futebol, artilheiro vascaíno, Roberto Dinamite. Em um jogo entre Vasco da Gama e Internacional de Porto Alegre, o então garoto da base foi chamado para integrar o time principal do Cruzmaltino, assim, fazendo a sua estreia como profissional. Em uma entrevista ao Portal Uol, Dinamite relata como surgiu o apelido que o consagrou no futebol.
Na partida contra o Colorado, o garoto entra no segundo tempo, recebe a bola na entrada da área, dá um corte no zagueiro Ferretti, e solta um “foguete” para balançar a rede. No Jornal dos Sports no Rio de Janeiro, o jornalista Aparício Pires, destacava seguinte Manchete: “Garoto-Dinamite, explodiu no Maracanã”. De lá para cá, Dinamite veio fazendo história no futebol, artilheiro em praticamente todos os campeonatos que disputou, no Brasileirão, por exemplo, ninguém fez mais gols que ele até o momento, 190 gols. Depois dessa manchete, o apelido de “Dinamite” ficou eternizado na história do Vasco e do futebol brasileiro.
Voltando a falar do Club Atlético Mineiro, foram 27 jogos disputados com 39 gols marcados e 22 sofridos. 12 vitórias, 10 empates e 5 derrotas. Fatos curiosos desse emblemático campeonato de futebol, não deixaram de acontecer. No clássico entre Botafogo e Vasco da Gama, o zagueiro Brito cometeu um pênalti. Ofendeu o árbitro José Aldo Pereira e foi expulso, não contente, agrediu o juiz com um soco no estômago e foi parar na delegacia. Pegou um ano de suspensão, depois, teve sua pena reduzida, levando em conta seus serviços prestados à Seleção Brasileira. A confusão voltou a acontecer na rodada final da competição, no jogo entre Botafogo e Atlético-MG, Nilton Santos perdeu a cabeça e agrediu o árbitro Armando Marques.
O Brasileirão começava a ganhar forma, e a competição ficava cada vez mais acirrada. As rivalidades se intensificaram entre os clubes locais e também entre os estados. O mundo passava a conhecer ainda mais o nosso futebol, que naquele ano, já tínhamos três títulos de Copas do Mundo. O nosso Campeonato, até hoje é reconhecido como um dos mais disputados de todo o mundo.
EX-LATERAL PROMOVE REEDIÇÃO DE CAMISAS DE CLUBES EXTINTOS
por André Luiz Pereira Nunes
Através de dois artigos anteriores, mencionei a atual febre de lançamento de camisas retrô pertencentes a times de futebol extintos do Rio de Janeiro que tomou conta dos aficionados das saudosas agremiações de bairro.
O ex-lateral-esquerdo Luiz Fernando, conhecido como Caldeira, é um dos protagonistas dessa iniciativa. Atuando como ponta-esquerda, fez parte do time titular do Mesquita, comandado por Renê Simões, que se sagrou vice-campeão da segunda divisão do Rio, em 1985, feito notório que representou a ascensão inédita de um representante da Baixada Fluminense no Campeonato Estadual. Após pendurar as chuteiras, Caldeira ingressou nos Correios em busca de uma vida mais confortável e segura. No entanto, jamais se desvencilhou de sua antiga paixão. Por conta disso, há cerca de alguns meses, decidiu reeditar camisas de times extintos, a começar pela do Quintino Futebol Clube, equipe de pelada de seu bairro. A satisfação foi tão grande que passou a investir em outras reedições. Uma delas foi a do hoje pouco conhecido campeão carioca da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), em 1933, o Sudan Athletico Club, de Cascadura. A outra pérola é o Manguinhos Football Club, campeão da Liga Brasileira de Desportos, em 1921.
E Luiz Fernando não pretende parar por aí. O Modesto Football Club, de Quintino, bicampeão carioca, em 1926/27, pela mesma Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), é um dos próximos alvos.
De acordo com o equivocado entendimento da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) quando o Vasco, último grande, foi aceito na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), os torneios jogados por equipes menores passaram a ser estaduais não reconhecidos pela entidade, uma injustiça que precisa ser urgentemente corrigida. Existem, portanto, seis campeões cariocas “esquecidos” e não reconhecidos: o Engenho de Dentro A.C., em 1925, o Modesto F.C., de Quintino, em 1926 e 1927, o S.C. América, de Lins do Vasconcelos, em 1928 e 1929, o Sportivo Santa Cruz, em 1930, o Oriente, em 1931, e o S.C. Boa Vista, da Tijuca, em 1932.
Falta ainda à FFERJ reconhecer os títulos cariocas vencidos, em 1933, pela Viação Excelsior (LMDT), São José de Magalhães Bastos, em 1934 (LMDT) e pelo São Cristóvão, em 1937, organizado pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD), além dos certames da segunda divisão conquistados, em 1932, por parte do Engenho de Dentro; de 1933 vencidos por São Cristóvão (LCF) e Anchieta (AMEA); 1934 através do Brasil Suburbano (AMEA) e Modesto (LCF); 1935 ganhado pelo Engenho de Dentro e, finalmente, o de 1936, cujos campeões foram Carbonífera (LCF) e Benfica (FMD).
Para o ex-lateral-esquerdo a ação promove um importante resgate da memória, não só do futebol, como também dos bairros que sediavam essas agremiações.
– A resposta tem sido muito boa, o que é ótimo, pois essa iniciativa precisa de fato ser corroborada por um determinado contingente, haja vista que a fábrica exige um mínimo de 20 camisas. De qualquer forma, estou bastante empolgado e espero que tenhamos novas surpresas, declarou.
Oportunidades não faltarão. No rol de Luiz Fernando se encontram muitas outras equipes que praticamente caíram no esquecimento. Estão cotados Nacional de Guadalupe, Cascadura, Municipal de Santo Cristo, Atilia, Adélia, Piedade, Palmeiras de São Cristóvão, São Paulo-Rio, São Tiago de Inhaúma, Penha, Onze Rubros, de Quintino, Mavilis, Galitos, Sampaio, São José de Magalhães Bastos, Del Castilho, Abolição, Oposição, entre outros.
Quem estiver interessado em participar da confecção das camisas, o telefone de Luiz Fernando é 21 99645-0999.
REINALDO
por Zé Roberto Padilha
Passei uma tarde tentando explicar para meu filho quem foi Reinaldo. Se Raul, goleiro do Cruzeiro, batido e desolado na foto, que estava em campo e o enfrentava todo domingo, não sabia em que canto batia, em que ângulo cabecearia…
Um atacante de 1,72, que defendeu o Atlético MG por quase toda a carreira, de pura genialidade, que tirou o sono dos zagueiros, o emprego de treinadores adversários e levou ao desespero os goleiros que enfrentava.
Sem uma referência atual, achei mais fácil explicar porque parou tão cedo de, aos 31 anos, continuar dando shows que o futebol merecia eternizar. Se jogava há anos-luz, a medicina esportiva vivia na idade das trevas.
Seriamente caçado em campo, rompeu os meniscos e os médicos dos clubes, mais torcedores do que referendados pela classe, retiravam todo esse importante gel que protege e amortece cada movimento.
Alguns, homens da caverna, aproveitavam a lesão de um interno e retiravam o externo. Hoje, em que a artroscopia permite retirar apenas a parte lesionada, e dar vida longa ao atleta, teriam seu diploma cassado. Se não fossem presos.
Uma pena que, diante da genialidade explícita, as ferramentas disponíveis não eram as ideais. A bola de couro pesava 10 kg, quando chovia, 25. As camisas de malha, no dry-fit, retiam água, o short era de pano e as meias grossas toda a vida.
As chuteiras, de travas, deixavam marcas profundas nós pés, quando vemos as Nikes de hoje a vontade é de chorar. De pedir perdão aos nossos pés.
Enfim, toda essa genialidade não foi a campo no tempo em que a arte merecia. Foram tantos súditos a amar uma bola de futebol, e poucos Reis a entender, como ele, os rumos que ela merecia.
Coisas do futebol.
A SANTA FÉ
por Zé Roberto Padilha
Ter fé é acreditar nas coisas até contra as evidências.
Eles superaram, e a condenaram, toda a ditadura de Videla. Não cruzaram os braços diante da covarde invasão inglesa em suas Malvinas. Mas daí um time seu entrar em campo e enfrentar um adversário sem banco de reservas e sem goleiro?
Argentina é a minha segunda pátria. Como ponta esquerda, sempre admirei sua fábrica de revelar os melhores jogadores canhotos do mundo. E tinha em sua história de luta a Evita, Perón, e ainda nos concederam o melhor dos Papas.
Maradona, Conca, Ramon Diaz, Messi, D’Alessandro, D’Atalo, Mario Kempes, Di Maria, Di Bala, Passarela, Sorin…
Os pais do Gerson e Rivelino, certamente, passaram sua lua de mel por lá. Não há outra explicação para serem as duas honrosas exceções mundiais.
Para nossa definitiva admiração, da sedução do tango que nos leva a pista após o samba, ontem o River Plate não tinha uma equipe para entrar em campo. No limite de um time, onze jogadores, sem reservas e sem goleiros, um deles aceitou colocar as luvas e ir para o gol.
Não era um amistoso no Cruzeirinho. Era Copa Libertadores da América. E eles se superaram e venceram seu adversário utilizando o seu nome, Santa Fé, em prol de seus objetivos.
Torcer é bom. Ter fé, melhor ainda. Torcer pelo povo argentino, símbolo de garra e superação, não tem preço. Só orgulho.
Agora, depois dessa, só nos falta ocupar as praças de maio, junho, julho… colocar ordem na casa. Exemplos já não faltam mais.
PROJETO DE MAURÍCIO REVIVE ANO HISTÓRICO DO BOTAFOGO
por Aline Bordalo
“Olha o Mazolinha, entrou na área, o cruzamento, Maurício, goooooooooooooooooool!!! Do Botafogo!!!! Maurício!!!! Camisa número 7!!!!! Aos 12 do segundo tempo de jogo!!! Tem gente chorando no Maracanã!!!”
A narração eternizada na voz do saudoso Paulo Stein marcou a carreira do locutor. Antes de falecer, em março deste ano, ele gravou um depoimento para o livro “1989 – O Escolhido”, da jornalista botafoguense Aline Bordalo, falando sobre aquela final entre Botafogo e Flamengo.
O projeto foi ideia de Maurício, autor do gol histórico que encerrou o jejum de vinte e um anos do alvinegro sem títulos, e estava engavetado havia um tempo. Até que, numa live para o canal Botafogo Nela, o ex-jogador falou sobre ele. Aline, a apresentadora do canal, se propôs a escrever e deu o pontapé inicial a um grande trabalho de pesquisa.
– Eu recorri à internet, assisti a todos os jogos, entrevistas, inclusive aquelas feitas pelo Museu da Pelada, mas a maior ajuda veio de um torcedor. Márcio Lima soube que eu estava escrevendo o livro, conseguiu me achar e me emprestou todos os Jornais dos Sports da campanha. As reportagens foram essenciais para detalhar cada jogo! – revela Aline.
A história é desenhada seguindo a narrativa de Maurício, principal personagem de cada capítulo. Falando sobre aquele ano, ele se emociona em diversos momentos.
– Hoje minha vida é pautada em 89. Foi um ano que me concretizou como um jogador diferenciado. Um divisor de águas, um ano que revolucionou minha vida.
Jogadores que participaram da campanha, jornalistas que cobriram o dia a dia do Botafogo e personagens marcantes, como a gandulinha Sonja, também abriram o coração e falaram das emoções vividas naquele ano.
As vendas começaram esta semana, através de crowdfounding, uma espécie de vaquinha virtual, onde o interessado adquire uma cota, cujo valor varia, dependendo da aquisição. Além do livro, há outras recompensas incluídas, como a camisa e o boné de 89, e uma pelada com alguns dos jogadores campeões, que acontecerá assim que a pandemia acabar.
Falando sobre o livro com amigos botafoguenses, Aline descobriu que muitos tinham histórias pessoais maravilhosas e decidiu dedicar o último capítulo a elas. Torcedores anônimos mandaram relatos sobre os momentos vividos por eles, seus amigos e seus familiares enquanto assistiam ao fim daquele incômodo jejum.
– É um livro que com certeza vai emocionar os botafoguenses que testemunharam tudo aquilo e também os que nasceram depois. Várias vezes eu cheguei às lágrimas enquanto escrevia. No fim da história, o leitor vai ter certeza de que ele também é um escolhido.
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