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NEYMAR E A FALTA DE PROFISSIONALISMO

por Luis Filipe Chateaubriand

Eis que Neymar estava com uma contusão relativamente preocupante. Era aconselhável que descansasse no Carnaval para se recuperar e enfrentar o Corinthians.

Qual o quê!

Nosso craque optou por ir à Marquês de Sapucaí, interagir com os desfiles das escolas de samba. Agravou a contusão, não jogou contra o Corinthians, e o Santos foi eliminado do Campeonato Paulista.

Como diria minha falecida sogra: novidade…

Desde 2016, quando fez seu “canto do cisne” em exibição espetacular na final do futebol nas Olimpíadas do Rio de Janeiro, Neymar nunca mais foi o mesmo.

Farras, bebida, mulher, cruzeiros e muito, mas muito poker, foram a tônica. Nosso craque passou a dormir muito tarde e a ter poucas horas de sono. Assim, foi enfraquecendo seu sistema imunológico.

As contusões se tornaram cada vez mais frequentes e cada vez mais graves. E suas atuações em campo, cada vez mais raras e cada vez mais pífias.

Em forma, Neymar seria tecnicamente melhor que Cristiano Ronaldo. Sem forma, não é comparável, em nenhuma hipótese, ao português.

Há quase dez anos, Neymar desperdiça seu incrível talento com falta de profissionalismo.

E, como diria meu amigo Sergio Pugliese: estamos conversados!

A VOLTA DO NEYMAR

por Elso Venâncio

O saudoso João Saldanha, técnico que se tornou “o comentarista que o Brasil consagrou”, diria: “Coloca o Flamengo com a camisa amarela, reforçado de Neymar, Vinicius Júnior e mais um ou dois”.

A forma como o Flamengo joga atualmente chama a atenção, com um futebol intenso, ofensivo, pressionando o adversário em seu campo. Enquanto isso, persistimos dizendo que a Seleção Brasileira não pode atuar retrancada, com ranços de treinadores anteriores e sendo a quinta colocada nas Eliminatórias da Copa do Mundo. A partir da semana que vem, teremos duas provas de fogo: contra a Colômbia, na quinta-feira, dia 20, em Brasília, e na terça, dia 25, visitando a Argentina, nossa maior rival e atual campeã do mundo.

Depois de um ano e cinco meses, o craque Neymar está de volta ao futebol. Ele programou seu retorno se readaptando ao futebol brasileiro, para jogar sua quarta e última Copa, ano que vem, nos Estados Unidos, Canadá e México. O camisa 10 do Santos disputou sete jogos em 25 dias, ocasionando um desconforto na coxa esquerda, que o impediu de enfrentar o Corinthians pela semifinal do Campeonato Paulista.

Neymar ficou no exterior por 12 temporadas, atuando pelo Barcelona, da Espanha; Paris Saint Germain da França; e Al Hilal, da Arábia Saudita. Possui mais de 700 gols na carreira. Seu grande momento foi na temporada 2014/15, quando se destacou no Barcelona, conquistando a Liga dos Campeões da Europa ao lado de Messi e Luis Suárez. Pela Seleção Brasileira, disputou os Mundiais de 2014, 2018 e 2022, além de três Copas Américas, sem chegar ao título. Conseguiu nos Jogos Olímpicos de 2016, como capitão e líder do Brasil, a inédita conquista da medalha de ouro.

Na atual Seleção, o quarteto ofensivo anima, com Neymar, Rafinha, Rodrygo e Vinícius Júnior. Merecidamente lembrado na convocação, o lateral-direito Wesley tem que ser titular. Danilo, que é zagueiro no Flamengo e lateral na Seleção, terá 35 anos na próxima Copa. Ninguém entende por que foi convocado. Dorival Júnior fez lembrar o gaúcho Tite, que sempre relacionava Daniel Alves, a ponto de levá-lo ao Catar, com 39 anos.

O tempo corre, e a cada dia o torcedor está mais distante da Seleção. Antes, o país parava não só nos jogos, mas também nas convocações. Hoje, o regulamento das longas e cansativas Eliminatórias facilita a classificação.

Ainda sobre Neymar… Vocês acreditam que ele recupera a forma para ser protagonista do Brasil na corrida pelo hexacampeonato?

NÃO DEVE SER FÁCIL JOGAR PARA NINGUÉM

por Zé Roberto Padilha

Não faltou vontade política, de divulgação e investimentos, para dar um impulso ao nosso futebol feminino. Até a FIFA e a CBF concentraram esforços para dar uma revitalizada na modalidade.

Em vão.

Assisti à Supercopa Feminina, entre Real Brasília e Flamengo, e escutando cada grito vindo das arquibancadas, juro que ouvi um “Vai, minha filha!”. Algo que só na nossa escolinha de futebol seria possível.

De tão vazio o o estádio do Gama, em Brasilia, (capacidade de 60 mil espectadores) que havia mais gente trabalhando na partida do que torcedores.

Fico pensando não apenas nos patrocinadores, sem retorno, no Sportv, sem audiência, mas nas atletas em campo. Jogar sem torcida é como treinar para uma partida oficial que nunca vai acontecer.

E como um ator subir ao palco e encontrar 90% das cadeiras do teatro vazio. Como buscar inspiração diante da frieza daqueles que deveriam emocionar?

Um dia após o Dia Internacional das Mulheres, o país do futebol continua a conceder o descaso, a indiferença, a essas heroínas que poucos sabem onde jogam, como surgem, e como encontram forças diante do silêncio que insiste em ser pano de fundo em suas caminhadas.

FUTSAL E O AMÉRICA

por Rubens Lemos

O Palácio dos Esportes estava superlotado e o empate no clássico levaria a decisão do Campeonato Metropolitano a uma partida extra. Restando cinco segundos para o fim do jogo, o ABC vencia por 2×1 e a torcida alvinegra festejava na lata de sardinha em que se transformara o ginásio.

Os abecedistas entoavam cânticos vitoriosos até que Gileno faz a quinta falta no monstro Sílvio, verbete de craque da bola pesada. A falta foi na defesa do América e seria cobrada em tiro direto. Foi quando a petulância virou farofa de ovo.

O goleiro Fábio demonstrou confiança, se colocando em duelo mortal com Sílvio. O capitão e camisa 6 do alvirrubro corre e bate um morteiro que explode nas redes do ABC, lá do outro lado do ginásio. América 2×2, América tetracampeão em 1989.

Em certo tempo de minha vida, quando as quadras eram povoadas por gente habilidosa e malandra, cheguei a gostar de futsal na mesma proporção com que amava o futebol de campo. O salão é um teste coronariano quando os jogos eram da época do gol de Sílvio.

Tínhamos, além de Sílvio, sua cara-metade no ABC, o clássico camisa 10 Dennis Lisboa, que, muito mais cedo, me apresentou as maravilhas que anos depois seriam exclusividade de Falcão.

Havia Agamenon, a Esperança Morena, Juca, o operário requintado, o falecido Josinaldo e sua técnica e pivôs letais: Gileno, do ABC e Marquinhos, do América, Uirandé, hábeis na girada sobre os beques ou simplesmente fulminantes nos chutes de média e longa distâncias.

O futsal, antes futebol de salão, foi responsável por boa parte das minhas alegrias juvenis, assistindo a cada jogo no Palácio dos Esportes.

A seleção brasileira esteve lá em 1978 e tomou 5×2 da equipe Emserv, do ex-presidente do ABC, Rui Barbosa. Em 1984, em amistoso, a poderosa formação do escrete bateu em nosso time por 4×1. Sílvio e Dennis não jogaram juntos.

O futebol de salão mais antigo todo ano tinha uma Taça Brasil e a primeira que assisti foi a que o Sumov do Ceará, uma máquina, amassou o Monte Sinai do Rio de Janeiro por 7×5, enquanto nosso representante, o ABC, ficou na primeira fase.

Sou amigo da turma de futebol de salão e de futsal. Nada como se servir da cerveja mais gelada ouvindo as resenhas do passado que jamais será repetido. Na mesa de bar, o voleio vira bicicleta, o chute de canhota se transforma numa curva indefensável para o goleiro.

O futebol de salão em Natal foi a Assen de Plínio, Geraldo Melo, Chiquinho e Ivo. Também foi o ABC de Nilson, Beto Coronado, Leonel, Clóvis e Cabral Macedo. O América vinha de Sérgio Boinho; Lola, Sílvio, Agamenon e Marquinhos. O ABC com Pedro; Juca, Josinaldo, Gileno e Dennis. E havia Paulinho de Tarso, Franklin, Mário, Kido, Cláudio Bezerra, Djavan, Gama e Aladim, dentre tantos.

Depois da experiência do ABC/ART & C, com a geração 1990 e 2000 – foram 19 títulos em cinco anos, o futsal deu uma mergulhada e entrou em depressão até o América decidir voltar no ano passado. Um novo América, sem qualquer vestígio do seu ícone Arturzinho e dotado de jogadores desconhecidos.

Passada a empolgação inicial, que durou até o campeonato estadual conquistado pelo clube, todos esperavam disputar o Campeonato Brasileiro para se mostrar ao país, pois os jogos costumam ser transmitidos pelo canal Sportv da Globosat, vem a ducha fria, ducha de iceberg: O América desistiu do campeonato brasileiro por conta do imbróglio de sua dívida com a Prefeitura de Natal por conta do IPTU.

A saída do América faz mal e sepulta o esporte que é praticado de Norte a Sul, de Leste a Oeste onde houver uma quadrinha de cimento batido. A decisão do América chocou até porque o voleibol e o basquetebol continuam. O lugar do América é no futsal e é real.

G DE GENUÍNO, DE GÊNIO, DE GEOVANI

por Marcos Vinicius Cabral

Quando Gérson, o Canhotinha de Ouro, tricampeão mundial em 1970 pela seleção brasileira declarou certa vez que “A medalhinha que o negão (Pelé) carregava no pescoço nos gramados mexicanos, ficava marcada em seu peito. E o responsável por aquela marca fui eu”, ninguém contestou.

Até que em 1980, um jogador pequeno em estatura, exímio cobrador de faltas e pênaltis, habilidoso e dono de uma visão privilegiada dentro das quatro linhas, surgiu.

Não no Rio de Janeiro, de Zico e Roberto de Dinamite. Não em São Paulo, de Pelé e Rivellino. Nem no Rio Grande do Sul, de Falcão e Renato Gaúcho e nas Minas Gerais, de Toninho Cerezo e Éder Aleixo. Muito menos em Niterói, onde Gérson deu os primeiros chutes em uma bola de futebol no valente Canto do Rio.

Mas foi em outro canto, mais precisamente no Espírito Santo, que Geovani Faria da Silva, aos 16 anos, tornaria-se ídolo do Tiva.

Troncudinho, o cabelo grande, as espinhas no rosto e o corpo preparado denunciavam que era ainda pequeno. Muito pequeno. Mas já ali, nos treinamentos, percebia-se um futebol grande. Ou melhor, GIGANTE!

Destaque da Desportiva Ferroviária, o talentoso meia conquistou os estaduais das categorias juvenil, júnior e profissional capixaba. As atuações, umas melhores do que as outras, enchiam os olhos dos torcedores e dirigentes do clube.

Surgia ali, ao alcance de todos, um lançador tão bom quanto Gérson, um exímio cobrador de falta e pênalti como Zico e Roberto e, genioso, como dois gênios não menos famosos e baixinhos como ele: Maradona e Romário.

A essa altura, com todo respeito a Desportiva Ferroviária, o modesto clube já era pequeno demais para o talento do menino. As chuteiras, surradas e desgastadas, transbordavam qualidades pelos campos ruins do Espírito Santo e ultrapassaram as arquibancadas do Estádio Engenheiro Alencar Araripe.

Geovani queria brincar, brincar de jogar bola como fazia Eli, que atuou e fez história no Rio Branco-AC e era o ídolo dele. Tanto que Beto Pret, treinador da Desportiva Ferroviária, dizia para ele na preleção antes das partidas: “Menino, não leve o futebol a sério. Divirta-se!”.

E foi o que ele fez de 1980 a 1982, quando a diversão começou a ganhar contornos de seriedade. Foi nessa época que o Vasco apostou no jovem de 18 anos e o trouxe para o Rio de Janeiro. A relação com o clube de coração começava a ficar intensa, tão intensa, mas tão intensa que o coração quase ‘saiu pela boca’ quando adentrou pelos portões imponentes e histórico de São Januário pela primeira vez.

E foi esse mesmo Vasco, repleto de grandes jogadores, que exigiu determinação e foco do jovem capixaba. A rivalidade com o Flamengo, que contava com jogadores excepcionais como Leandro, Junior e Zico, começava a aflorar a ponto de ter feito excelentes jogos com a Cruz de Malta no peito.

Que o digam o bicampeonato Carioca em cima do Flamengo e o vice-campeonato nas Olimpíadas de 88, em que mesmo perdendo a final para a URSS foi um dos destaques da seleção brasileira. Ou você que é fã de futebol vai esquecer aquele golaço contra a Argentina, que mostrou a visão de jogo e a genialidade do camisa 8.

Mas Geovani não viveu apenas o paraíso na carreira. A passagem pelo Bologna, da Itália, a não convocação para disputar uma Copa do Mundo – principalmente a de 90 – e times de menor expressão que jogou, mesmo assim, não ofuscaram o brilho de um craque que fez história.

Geovani bailava em campo, enquanto os demais jogadores corriam. Era bom ver aquele baixinho ocupando o círculo central com tamanha desenvoltura.

“Meu cansaço era mais psicológico do que físico”, confidenciou Zico certa vez.

Geovani era o jogador que costumava ficar com enxaqueca infernais após os jogos. Pensava o jogo. Era pensador. Era diferente.

O Sul-Americano pela seleção brasileira em 1983, em que foi eleito o melhor jogador da competição, era apenas o começo de uma carreira que tinha tudo para ir mais longe.

Recentemente Geovani enfrentou problemas de saúde. Um dos remédios foi a ovação que recebeu por meio da homenagem que recebeu no começo de fevereiro no Estádio Kleber Andrade em Cariacica.

“Ele é um patrimônio para todos nós. O famoso ‘Pequeno Príncipe’ que na minha infância tive oportunidade de chegar dos treinos e ver o profissional treinando ali, com Geovani no campo. E quando eu subo para o profissional ainda pego um pouquinho dele comigo lá. É um ídolo pra gente. Tá na história do Vasco, um dos maiores camisas 8 que nós tivemos”, comentou Pedrinho.

Sem dúvida, Pedrinho. O futebol agradece por tudo o que Geovani fez como jogador profissional.