TEMPO É DINHEIRO
por Idel Halfen

Em sua coluna de 10 de dezembro no portal Inteligência Financeira, o economista Cesar Grafietti, que considero uma das maiores autoridades em finanças no futebol, nos brinda com um assunto de elevada importância: a tendência queda nas receitas advindas dos direitos de transmissão.
Em seu artigo, Grafietti cita o novo contrato da Premier League, cujo aumento para o período dos próximos cinco anos cresceu apenas 4%, percentual abaixo da inflação. Coloca também que, enquanto no passado as renovações costumavam ser por três anos, agora passaram a ser de cinco como ilustra também a Serie A da Itália e a La Liga da Espanha, o que parece denotar um entendimento de que não há um cenário promissor de aumento de valores. Enfim, o artigo traz várias informações interessantes que me fazem recomendar a leitura.

Diante das conclusões concernentes à perspectiva de crescimento dessa importante fonte de receita para o clubes, faz-se necessário jogar luzes sob o prisma de marketing para um melhor entendimento do que vem acontecendo e aqui não faço referência à capacidade de investimento e respectivas análises de retorno, pois isso é óbvio.
A intenção aqui é chamar a atenção para a ocorrência de um fenômeno que, aparentemente tem passado despercebido pelos gestores e, foi denominando por Herbert Simon – ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1978 – de “economia de atenção”, onde preconiza que a riqueza de informação cria pobreza de atenção.
Se num passado recente, o advento da mobilidade e da internet nos proporcionou a impressão de que o tempo estava farto, afinal não havia mais limitação de “local” para acessar mensagens e demais formas de comunicação, hoje notamos que está faltando tempo.
Nesse contexto, é inegável o mérito dos geradores de conteúdo. Hábitos foram incorporados ao dia a dia, “dependências” foram criadas e novas formas de entretenimento passaram a fazer parte do cardápio de diversões. Tudo ótimo, só faltou antever que a crença de que basta produzir para vender é ilusória.

A propósito, essa característica nos remete ao que Kotler chama de Marketing 1.0 (são 5 as fases ou eras, segundo ele – por enquanto). Essa fase tinha como foco o produto e como objetivo principal o desenvolvimento dele, de forma a fazê-lo atrativo para vender, gerando assim uma cultura em que se consumia mais do que efetivamente se necessitava.
Qualquer semelhança com o momento atual da geração de conteúdos não é mera coincidência.
Ainda que caminhe para a fase 2.0, na qual o marketing se volta para o consumidor, buscando entender e satisfazer suas necessidades, pouco efeito surgirá se não pensarem na disponibilidade de tempo de cada consumidor, até porque, no caso do futebol e esporte de forma geral, os eventos são perecíveis, isto é, a atratividade de uma competição ao vivo é infinitamente superior às reprises.
Essa visão do mercado talvez explique os movimentos mais parcimoniosos nos investimentos dos players responsáveis pelas transmissões. Por outro lado, vemos a Netflix, por exemplo, incorporando às suas opções de entretenimento, eventos esportivos, tal qual o que ocorrerá em abril de 2024: uma partida exibição entre Rafael Nadal e Carlos Alcaraz.
Cabe aos clubes e às ligas entenderem que a briga por atenção está cada vez mais acirrada e que precisam buscar uma maior atratividade para seus produtos, afinal o conceito de concorrência não se esgota nas competições, fazendo parte, entre outros, verbas, audiência, satisfação e tempo.
SEJA O QUE ALAH QUISER
por Marcos Eduardo Neves

Deu a lógica. O Fluminense enfrentará o temido Manchester City na grande final do Mundial de Clubes. O time inglês, sem fazer força, passou o trator no Urawa Reds: 3 a0. Mas, mesmo tendo feito praticamente dois gols contra, os japoneses não ficaram vermelhos de vergonha. Afinal, quem ousa encarar de frente uma das equipes mais fortes do planeta?
Tenho um carinho especial por Pepe Guardiola desde que ele leu meu livro sobre a passagem do Loco Abreu pelo Botafogo, foto que posto aqui. Meu filho, faz alguns anos, também me presenteou com a biografia deste vitorioso treinador. Conheço Guardiola desde que jogava e sei que, só como técnico, já é tricampeão mundial de clubes – duas vezes pelo Barcelona, outra pelo Bayern de Munique –, contudo, minha torcida, não vou negar, é pelo Tricolor.
Por três motivos. O primeiro: quero que meu filho tenha a mesma alegria que eu tenho, de poder dizer a qualquer um:
‘Eu sou campeão do mundo!’
Depois, faz tempo que essa taça não vem para o Brasil, passou da hora. Por fim, o Rio de Janeiro merece, após tantas notícias de crime, corrupção e violência espocando dia após dia, ano após ano, no noticiário.
Não sei se verei o jogo ouvindo ‘Anunciação’, música que mais gosto do Alceu Valença, ou se ouço uma das bandas que meu filho mais adorava na infância, o Oasis. Devo ir de Alceu. Até porque meu moleque deve estar querendo distância, hoje em dia, de Noel e Liam Gallagher. Afinal, os irmãos que nunca se deram bem são fervorosos torcedores do City. Quem sabe até voarão para a Arábia, para assistir à partida no estádio.
A verdade é que vencer o campeão europeu será um verdadeiro oásis para os tricolores. O único problema é que o líder dos Stones, Mick Jagger, adora futebol. E torce para o outro Manchester, o United. Fica a dúvida, se ele torcer contra o City, vence o Fluminense?
Bom, que os artistas do espetáculo joguem por música na sexta-feira. E que ao fim do espetáculo os famosos irmãos briguem entre si enquanto o pai aqui parabenizará carinhosamente seu filho.
É por isso que torço. E que seja o que Alah quiser.
O FLU NO TOPO DO MUNDO
por Paulo-Roberto Andel

São quase sete da noite a poucos dias do Natal. Mesmo sem a expectativa de ceia ou um presente, estou sonhando acordado. Mesmo.
Ah, o futebol. Só ele para virar nossos fusos horários da alma.
Esperei cinquenta anos pelo que aconteceu hoje à tarde. O Fluminense volta a disputar o topo do mundo, depois de bater o egípcio Al-Ahly por 2 a 0, gols imortais de Jhon Árias e John Kennedy.
Nesta tarde de segunda-feira, o Fluminense honrou os heróis do Mundial de 1952, numa longa lista de monumentos que vão de Castilho e Pinheiro e vão a Didi, Telê e Waldo, para citar alguns nomes.
O Flu também honrou os gigantes de sua história secular, que só cabem numa enciclopédia com uma dezena de volumes. São muitos, muitos. Pense em Marcos Carneiro de Mendonça, Welfare, Brant, Preguinho, Batatais, Romeu, Tim, Russo, Denilson, Altair, Jair Marinho, Samarone, Flávio Minuano, Manfrini, Félix… Assis e Washington, Romerito, Branco… Ézio, Renato, Fred, Deco, Thiago Neves. A Máquina inteira. As Máquinas. É Rivellino, é Carlos Alberto Torres, é Edinho, Pintinho, Cleber, Rubens Galaxe…
E honrou seu maior patrimônio: sua torcida, imensa torcida espalhada pelo Brasil, marcada por uma característica em qualquer situação: a elegância. O charme. Romário sempre diz que a torcida do Fluminense é a mais charmosa de todas e tem razão. Beleza, todas têm. Charme vai além da beleza.
[continuo sonhando acordado
Vi este jogo sozinho. Eu e minha bandeirinha de mão, meus botões, minhas lembranças e saudades. Quanta gente deveria estar aqui para ver isso? São muitos nomes também. Ah, minha família, o Jefferson, a Marina, o João Carlos, o Alberto Lazzaroni. Quis o destino que fosse assim. Eu, minha bandeirinha e um copo de Coca-Cola. Tudo bem: fiz assim muitas vezes no Maracanã, torcendo por Neinha, Baiano, os falecidos ngelo e Wander Luís, o falecido Zezé, ora no concreto das arquibancadas, ora na fabulosa geral, um laboratório de antropologia.
Eu queria dizer que, para chegar até esta final do Mundial de Clubes, o Fluminense percorreu uma longa estrada, cheia de nuances. Eu embarquei no ônibus em 1973 e nunca mais larguei. Aos 55 anos, sei que estou mais perto do fim do que do começo, mas ainda parece ter muito chão pela frente.
Assim como eu aprendi a respeitar os monstros da Máquina para sempre, as crianças do Fluminense estão se esbaldando com as defesas de Fábio, com a garra de Felipe Melo, com o talento espetacular de Marcelo, os gols de Cano e Arias, os gols de John Kennedy, os combates implacáveis de André e Martinelli. Elas têm motivo para orgulho e exaltação: em menos de dois anos, um time que tinha passado dez temporadas em vão voltou a ser bicampeão carioca, campeão da Libertadores e agora vai com tudo para tentar o bicampeonato mundial.
São pouquíssimos dias até a final do Mundial de Clubes, mas nós, tricolores, vamos vivê-los como se fossem uma vida inteira. Estamos todos juntos, vivos, mortos, saudosos, sonhando acordados com uma alegria que, até bem pouco tempo atrás, era simplesmente inimaginável.
Desde os tempos do campo na Rua Guanabara, o Fluminense tem a vocação de ser régua e compasso do futebol brasileiro. Urawa ou Manchester, podem se preparar: nós viemos de longe, muito longe. Já escrevemos muita coisa e sonhamos com mais páginas.
Há quem diga que é o destino, mas na verdade é sina.
Fluminense, te amamos. Dai-nos a paz.
[o sonho é permanente
EU VOLTEI!
por Zé Roberto Padilha

A última vez que vim ao Maracanã jogava no Bonsucesso, que estava na primeira divisão e enfrentamos o Fluminense. O Flu de 1985, de Branco, Assis e Deley nos derrotou por 3×0.
O cheirinho do gramado, encoberto, pisoteado, era quase o mesmo. Parecia apenas saudoso de quem o anda frequentando. Fica aguardando o “Jogo das Estrelas” para matar as saudades do Zico.
Trinta e oito anos depois, Eduardo, meu neto, 15 anos, nos trouxe de volta. Ele, como o avô, ama os Beatles, e gentilmente nos deu de presente um ingresso para ver e ouvir Paul McCartney.
Eduardo é a prova definitiva que nenhuma banda irá superar os Beatles. Como esse gramado não verá jamais quem irá superar o Rei Pelé.
O FAMOSO CASAL
por Elso Venâncio

Nos anos 50, com Getúlio Vargas iniciando a sua era democrática, um assunto dominava as conversas e o noticiário na capital da República. A união de Waldir Pereira, o craque Didi, do Fluminense, um negro elegante, carismático, cabeça erguida dentro e fora de campo, e a bela Guiomar Batista, jovem e famosa cantora e atriz da Rádio Nacional. O jornalista Fernando Calazans escreveu em sua coluna no jornal ‘O Globo’:
“Didi e Guiomar formavam o casal mais famoso da época, sempre presente nas colunas sociais.”
Didi nasceu em Campos dos Goytacazes e foi, em campo, um dos maiores maestros que o futebol já viu. Marcou o primeiro gol da história do Maracanã e inventou uma batida na bola que ninguém conseguia imitar. Com a parte externa do pé, chutava forte. A bola subia e de repente descia, mudando de direção em pleno ar.
Luiz Mendes, o ‘Comentarista da Palavra Fácil’, apelidou o chute de ‘Folha Seca’. Mendes dizia:
“Didi foi quem ensinou Gerson a lançar.”
O meia criou, também, a paradinha na cobrança de pênalti.
O grande Ary Barroso, locutor esportivo, pianista e compositor de algumas músicas eternas, como ‘Aquarela do Brasil’, namorava Guiomar quando ela se apaixonou por Didi. Ary mergulhou desde então na boêmia e compôs o samba canção ‘Risque’, sucesso na voz de Linda Batista, outra estrela do Rádio:
“Risque meu nome do seu caderno
Pois não suporto o inferno
Do nosso amor fracassado
Deixa que eu siga novos caminhos
Em busca de outros carinhos
Matemos nosso amor passado”
Didi entrava pelo portão principal das Laranjeiras. Aliás, ele e Carlyle, um artilheiro que tinha se destacado no Atlético Mineiro e na Seleção Brasileira. Carlyle era a nova versão de Heleno de Freitas. Galã, brigão, amante da noite e sem depender do futebol para viver. Os demais seguiam em direção à porta dos fundos, na Rua Pinheiro Machado. O ‘badboy’ Carlyle se tornou empresário, vendendo ternos e camisas importadas no centro do Rio.
As brigas, movidas por ciúmes, eram constantes na vida do famoso casal. Didi era marcado de perto pela esposa. Se Didi errasse um passe durante o jogo a torcida gritava em coro o nome de Guiomar, culpando-a pelo lance.
Na Copa de 1958, a antiga CBD, hoje CBF, decidiu proibir a ida de esposas e namoradas dos jogadores ao Mundial. Na verdade, não queria Guiomar na cola de Didi, que quase desistiu de ir à Copa que o consagrou.
Ele foi o primeiro jogador a receber da FIFA o título de “Melhor do Mundo”, após a Copa da Suécia. Da imprensa europeia recebeu o apelido de ‘Mr. Football’. O Presidente Juscelino Kubitscheck, enquanto recepcionava os campeões do mundo no Palácio do Catete, chamou Didi a um canto, para um papo reservado:
“Que honra e emoção poder estar aqui com meu ídolo” – derreteu-se JK.
Didi vestiu, ainda, as camisas do Madureira, Fluminense, Botafogo, seu clube do coração, Real Madrid e São Paulo. Defendeu o Brasil em três Copas – 1954, 1958 e 1962 – sendo campeão nas duas últimas. Treinador de sucesso, dirigiu grandes clubes e a seleção do Peru, na Copa de 1970. Faleceu, aos 72 anos, em maio de 2001, sem realizar o sonho de ser técnico da Seleção Brasileira.