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JOGAVA DE “TEIMOSO”

por Ivaneguinho

por Alex Ribeiro

“É CAMISA DEZ DA SELEÇÃO! DEZ É A CAMISA DELE, QUEM É QUE VAI NO LUGAR DELE? DEZ CAMISA DEZ DA SELEÇÃO…”

Segunda-feira, pela manhã, já havia terminado a minha caminhada, resolvi passar na Sapataria Alzira, aqui em Santa Cruz, pertencente ao meu amigo, vascaíno “sadio”, Francisco. Um dos grandes admiradores e incentivadores do meu futebol, principalmente quando eu, ainda com 17 anos, jogava no Piranema.

Lembro que precisava comprar um sapato social marrom, número 37, dificílimo de encontrar. Escasso! Contudo, ele sempre resolve essas situações e faz pra mim um precinho camarada. Enquanto ele pediu um dos seus funcionários para ver se encontrava no estoque, fiquei observando uma família jovial, constituída do papai, mamãe e um filho com idade aproximada de uns 8 anos de idade. Os pais pareciam orgulhosos e otimistas. Compraram quase todos apetrechos que fazem parte do uniforme de atletas de futebol. Chuteiras, meiões, caneleiras, bola… Só não comprou calções e camisas, porque já estavam vestidos a caráter. Camisas Cruzmaltinas!

Gostando da iniciativa dos pais, aproximei-me e passei a ouvir o assunto futebolístico. Aproveitei uma “brecha”, e disse para o meu amigo Francisco:

– Hoje as coisas estão mudadas. Antigamente, a molecada primeiro jogava descalço para pegar intimidade com a pelota.

A primeira vez que eu coloquei chuteiras para jogar (treinar) estava com quatorze pra quinze anos. Jogava no Infanto do Oriente, quando o nosso técnico Atanásio anunciou:

– Semana que vem, todos tragam chuteiras, pois iniciaremos nossos treinos calçados.

Lembro que o nosso Infantil tinha diversos “craquinhos”: Lúcio, Valtinho, Bigure, Quinha lateral, Noel também era lateral, Paulo Ruço, Djalma, Zigriu, Mário, Canarinho, Antônio e outros. Porém, naquele dia, só quem desenvolveu o seu futebol e se sentiu à vontade foi o Antônio, ponta-direita e um dos mais novos entre nós.

Curioso e impressionado, indaguei ao menino:

– Você joga em qual posição?

Respondeu-me prontamente que era atacante. Diferentemente do meu tempo, quando se faziam essa pergunta, o garoto ou os garotos, respondiam: meia-direita, meia-armador, centroavante, lateral-esquerda ou direita, alfo direito, beque central, quarto zagueiro,… Sorri-lhe, desejei boa sorte, fingi que me afastaria, fiz pose atleta, andei para um lado e para o outro e “emendei” para o guri:

– Adivinha de que eu jogava?

Ele me olhou de cima embaixo e “soltou”:

– Lateral!

Brincando com o pirralho, Eu ri e respondi:

– Não. Errou! Eu jogava de teimoso! Eu era amigo do treinador e irmão do dono da bola!

Todos, sem exceção, riram! Sem mais, nem menos, o Francisco “tomou” a palavra e passou a proferir pra mim:

– Ele está brincando. Ele jogava demais. Acompanhei a trajetória dele lá no Piranema, quando ele tinha apenas 17 anos…

Daí passou a me elogiar para os fregueses, dizendo o que eu fazia com a bola no campo. Até eu duvidei:

– Será que eu jogava assim mesmo?

Amenizei-me, pois recordei das palavras do Ratinho do Guanabara. Cracaço. Um dia ele disse-me as mesmas coisas do Francisco, e até mais! O Francisco falou tanto do meu extinto futebol, que somente um fã, um admirador e, acima de tudo, um amigão pode apreciar. Palavras tais, eu ouço dos meus irmãos e do meu cunhado Tico. Outrora ouvia do meu pai! Abaixei a cabeça e discretamente, com o olhar abaixado, eu espiava a família, que me olhava com encantamento!

INCOMUM: NUNCA COMPREI UMA CHUTEIRA. CERTA VEZ, GANHEI UMA COM TRAVAS, QUE O SEU NASCIMENTO ME PRESENTEOU. EMPRESTEI-A AO “CB MARÇAL” QUE NUNCA MAIS DEVOLVEU-ME!

IVANEGUINHO, O PELADEIRO!

O AZIÃO

por Zé Roberto Padilha

Azião, aqui onde moro, é todo aquele sujeito que você, ao cruzar o seu caminho, lhe dá bom dia, pergunta se está tudo bem e ele…para para explicar.

Se mal temos tempo para um cumprimento, imagine para ouvir depoimentos?

Certa vez, em Três Rios, terra que criou e batizou aziões, notáveis frequentadores de um bar, da Ana, resolveram fazer uma lista dos mais qualificados. Se reuniam todo sábado depois das 11h00 com papel e caneta. E chegaram a 100 nomes em uma cidade que tinha apenas 50 mil habitantes.

A lista vazou, chegou aos meios de comunicação não oficiais, alcançou a Boca Maldita e causou estragos nas relações entre parentes e amigos. Você poderia ser infeliz, fracassado e traído. Azião, nunca. Mas a expressão se manteve porque gente enjoada e sem noção permaneceram circulando sem máscaras.

Se Tite morasse por aqui, seria sério candidato à braçadeira aziã. No lugar de se focar nas suas funções, resolveu ser o Padre Terezo de Calcutá. E realizar boas ações por onde passa. Não são gestos ocultos, como deveriam, mas com a arquibancada cheia.

Na Copa do Catar iniciou seu jeito Samaritano de ser. Um torcedor que ajudou seus netos a chegar ao estádio foi convidado a participar do treino. Fez de um gesto nobre a entrega do Premio Nobel da Paz. Tinham muitos holofotes.

Mas agora aziou de vez: deu sua medalha para o técnico perdedor na final do estadual e, ontem, contestou, diante das câmeras, a expulsão do técnico adversário, o Jair Ventura.

Entre o bom Samaritano e o Falso Profeta caminhava uma civilização. Em meio aos dois, eis que surge no comando de uma nação um aziào.

Menos, Tite.

DINAMITE, PELÉ E OS ARCANJOS

por Rubens Lemos

Pelé e Roberto Dinamite, Roberto Dinamite e Pelé enfrentaram-se duas vezes e a vantagem é de Roberto, uma vitória e um empate. Em 14 de outubro de 1973, Maracanã com 44.590 torcedores, os dois deram show. Roberto, aos 21 anos, fez um golaço de sem-pulo. Pelé empatou de falta(1×1).

No quadrangular antes da Final do Brasileiro de 1974, conquistado pelo Vasco, Roberto fez o gol da vitória por 2×1 aos 43 minutos do segundo tempo, Maracanã com cerca de 100 mil pessoas, 13 minutos após Pelé, outra vez de falta, balançar as redes de Andrada.

Meus maiores ídolos no Vasco foram Roberto Dinamite e o meia-armador Geovani, o Pequeno Príncipe. Roberto Dinamite, o artilheiro do sorriso triste, é dos tempos de supremacia flamenguista. Símbolo – ele, Roberto, de dias tristes e raras vitórias obtidas por ele em clássicos contra a seleção comandada por Zico.

O Vasco, gerido por lusitanos de mão fechada, fazia times medíocres, nos quais brilhava a luz solitária de Roberto Dinamite. Ele era um estoico, apanhava sem reclamar, dividia espaço com coadjuvantes de baixo nível e, ainda assim, endurecia os confrontos com o rubro-negro.

O Vasco nos anos 1970 até 1982, quase sempre esteve em desvantagem, exceto pelo timaço de 1977: Mazarópi; Orlando Lelé, Abel, Geraldo e Marco Antônio; Zé Mário, Zanata e Dirceu; Wilsinho, Roberto Dinamite e Ramon.

O mercantilismo dos homens de São Januário desmontou o esquadrão, sendo vendidos logo Zanata e Dirceu, responsáveis pela criatividade no meio-campo. E o Vasco foi recebendo jogadores medíocres do padrão de Peribaldo, Toninho Vanusa, Osnir, Jáder, Washington Rodrigues(uruguaio), Ticão, Amauri e Zandonaide.

Na retina, Flamengo x Vasco de 1979, daqueles jogos que serviam somente para carimbar a superioridade em vermelho e preto. O Flamengo fez 1×0 com Cláudio Adão e Roberto Dinamite empatou de pênalti.

Transmitido pela TV Educativa, na narração do saudoso Januário de Oliveira, o jogo mostrou a rebeldia de Roberto Dinamite, que resolveu desafiar a lógica, marcando três gols de técnica e raça, partindo da intermediária ao gol de Cantarelli. Vencemos por 4×2 e pude, em rara concessão do destino, desafiar a esmagadora maioria flamenguista em sala de aula da 3ª Série. Os pés de Roberto Dinamite significavam meu desabafo.

Em 1982, a seleção brasileira fez seu primeiro jogo do ano contra a Alemanha Oriental em Natal. Roberto Dinamite estava no grupo de jogadores hospedados no antigo Hotel Ducal, primeiro arranha-céu da cidade e hoje um entulho urbano.

Pelas mãos do meu pai, encontrei Roberto Dinamite à beira da piscina. Eu tremendo de timidez, ele com o aspecto blasé que o padronizava, semblante sempre aberto e alegre. Foi monossilábico o diálogo, o autógrafo ele assinou no meu caderno escolar, inexplicavelmente perdido nas mudanças de casa que eram revoltantes e costumeiras. Perdi um tesouro.

Roberto Dinamite teria classificado o Brasil contra a Itália. Já havia salvo a seleção brasileira em 1978, contra a Áustria, mas a teimosia do técnico Telê Santana e uma certa antipatia inexplicável afastaram o camisa 10 do Vasco das partidas na Copa da Espanha. Roberto Dinamite sorria o sorriso dos resignados nas cadeiras.

Por preconceito, a mídia sempre tratou Roberto Dinamite como um centroavante trombador. Corram ao Youtube e procurem jogos de Roberto Dinamite mais maduro. Ele demonstra categoria nos passes e liderança natural sobre uma turma de garotos que formou um dos melhores elencos do clube: Geovani, Romário, Mazinho, Mauricinho, Bismarck e William.

Roberto Dinamite morre e eu vou no automático, tecendo linhas de saudade e inconformismo. Roberto Dinamite sofreu na vida, perdeu a primeira esposa, a Cabocla Jurema, de problemas renais, chegou a pensar em parar, foi desprezado pelo Vasco em empréstimos para a Portuguesa de Desportos (SP) e Campo Grande(RJ).

O câncer no intestino fez Roberto Dinamite emagrecer e abutres das redes sociais usavam imagens dele combalido. Aquele Roberto Dinamite era miragem do original, explosivo, generoso, fundamental. O homem que me deu mais alegrias na vida em quatro linhas.

Pelé, certamente, faz as honras da casa divina, onde Roberto Dinamite ocupará o ataque em gols sob o som de arcanjos vascaínos. Aqui, me agasalho na solidão das lágrimas aflitivas.

O CARREGADOR DE PIANO

por Elso Venâncio

O locutor esportivo Waldir Amaral, da Rádio AM-RJ, o mais ouvido do Brasil, criava bordões: ‘Deixa Comigo’, ‘O Relógio Marca’, ‘Indivíduo Competente’, ‘Tem Peixe na Rede’. Colocava também apelido nos craques: Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’; Zico, o ‘Galinho de Quintino’; Paulo Cézar Caju, o ‘Craque da Moda’ e Liminha, o ‘Carregador de Piano’.

Liminha, porém, não era apenas o ‘Carregador de Piano’. Sabia jogar. A bola tinha que passar sempre por seus pés, para chegar ao ataque. Com garra e disposição, Liminha tornou-se um dos ídolos da torcida rubro-negra.

O volante paulista foi titular de 1968 a 1975. Figura entre os que mais vestiram a camisa do Flamengo. Junior lidera esse ranking, com 876 partidas. Zico vem logo atrás, com 730. Liminha é o nono da lista, com 513 atuações.

O Flamengo contratou o talentoso Cardosinho, destaque da Votuporanguense. Liminha chegou ao clube como contrapeso na negociação. Cardosinho não se firmou, mas Liminha virou titular. Carlinhos e Liminha formaram o meio de campo. Carlinhos, o ‘Violino’, despediu-se como jogador em 1970, entregando suas chuteiras ao garoto Zico, repetindo o gesto de Biguá, que em 1954 deu a Carlinhos o seu mais valioso material de trabalho.

Zanata e Liminha passaram a jogar juntos. Logo surgiram os títulos. Campeão Carioca, em 1972 e 1974; Taça Guanabara, em 1970, 1972 e 1973. Torneio Internacional de Verão, em 1970 e 1972. E o Torneio do Povo, em 1972.

Zé Mário e Liminha fizeram História, conquistando os Estaduais de 1972 e 1974. O time campeão de 1972 foi, na época, considerado por muitos o melhor que surgiu desde o segundo tricampeonato (1953-54-55). A escalação era a seguinte: Renato, Moreira, Chiquinho, Reyes e Vanderlei Luxemburgo; Zé Mário e Liminha; Rogério, Doval, Caio Cambalhota e Paulo Cézar Caju. Técnico: Zagallo.

Na finalíssima, um FlaFlu, vitória de 2 a 1. No primeiro gol, Liminha iniciou a jogada em que Doval marcou de cabeça. Paulo Cézar Caju desequilibrava, e após jogada individual o craque deixou Caio na cara do gol. O centroavante comemorou ao seu estilo em campo, com suas impagáveis cambalhotas.

Poucos se dedicaram tanto ao Flamengo como Liminha. Após ser titular por oito temporadas, o jogador ainda permaneceu mais de 30 anos atuando como técnico e olheiro, nas categorias de base. Faleceu aos 69 anos, em 2013, no Hospital TotalCor, em Ipanema, zona sul do Rio, onde se internara com problemas cardíacos.

SUPER CAMPEÃO PRETERIDO NA SELEÇÃO

por Fabio Lacerda

O Campeonato Brasileiro inicia este fim de semana, e a expectativa é que os leitores do Museu da Pelada estejam preparados para uma possível novidade no início de dezembro. Até porque o jogador que é o protagonista do texto joga pelo clube mais vezes campeão e entra como favorito. 

Ele já é um dos quatro maiores campeões do Brasileiro. Aos 31 anos, mineiro de Carangola, Zona da Mata Mineira, cidade com 33 mil habitantes, Mayke inicia a temporada cada vez mais profícuo para Abel Ferreira. Zinho, ex-Flamengo, Palmeiras, Cruzeiro e Grêmio, Andrade, ex-Flamengo e Vasco, e Dagoberto, ex-Athletico-PR, ex-São Paulo, ex-Cruzeiro e ex-Vasco, podem ficar para trás caso Mayke conquiste seu sexto Brasileiro – sem levar em conta o Brasileiro sub-20 quando foi campeão duas vezes em 2010 e 2012.

Parceria de Sucesso: Mayke voltará a ter a companhia de Dudu no decorrer das 38 rodadas. 

Mayke chegou ao juniores do Cruzeiro após se destacar na Taça Belo Horizonte atuando como meia no Siderúrgica, time amador da histórica cidade de Sabará. Ascensão foi meteórica. Entre 2010 e 2012 foram dois títulos nacionais chegando ao profissional ganhando o Brasileiro de 2013. No ano seguinte, bicampeão brasileiro profissional. À época, eleito o melhor jogador do Brasileirão na sua posição pela Revista Placar. 

Quando tudo parecia um mar de flores para Mayke, uma contusão grave em 2015 o afastou dos gramados por muito tempo. Retornou no final do ano, e em 2016, outras lesões atrapalharam a sequência de regularidade e títulos. 

Sempre com olhar de águia no mercado, o Palmeiras abriu as portas da casa para o jogador, em 2017, após ficar o segundo semestre inativo no ano das Olimpíadas no Rio de Janeiro. Em 2018, o Palmeiras contratou, em definitivo, e sua trajetória de títulos o coloca entre os mais vencedores da história do futebol brasileiro. 

Maior campeão do Brasileiro na Era dos Pontos Corridos, Mayke, tentará ser o recordista de títulos em 2024, além de superar o feito realizado há dez anos quando foi bicampeão consecutivo do Brasileiro pelo Cruzeiro. Agora, pode ser tricampeão pelo Palmeiras.

Versatilidade: Lateral que reúne repertórios no corredor direito e infiltrações na grande área adversária 

Um jogador do quilate do Mayke, com toda sua trajetória de títulos, e voltas por cima de contusões que poderiam ter comprometido sua carreira, continua sendo invisível para a seleção brasileira. O lateral-direito titular da seleção brasileira está a um palmo do nariz dos técnicos. Tite não enxergou. Cabe ao Dorival perceber. Um jogador que desempenha várias funções em campo permitindo muitas vezes que o técnico mais vencedor da história do Palmeiras possa ter um coringa que atua explorando os flancos do campo e os espaços dados pelo meio-de-campo adversário. 

A seleção brasileira “queima” mais um jogador visando a disputa de uma Copa do Mundo. Até 2026, Mayke estará com 33 anos. Isso quer dizer que o passaporte para jogar a mais importante disputa de seleções estará invalidado para os Estados Unidos, Canadá e México.