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“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 58

por Eduardo Lamas Neiva

Após o encerramento da música de Douglas Germano houve um silêncio impactante. Porém, logo começaram a surgir aplausos e muitos elogios. Se houve também alguns descontentes, eles se calaram e se afastaram, ninguém viu, nem ouviu.    

Houve depois uma certa dispersão, mas como a bola não pode parar na nossa resenha, Idiota da Objetividade logo se recordou de outra vitória brasileira sobre a Inglaterra.

Idiota da Objetividade: – Contra os ingleses, na casa deles, em Wembley, o Brasil só conseguiu ganhar pela primeira vez em 1981, por 1 a 0, com um gol de Zico.

Garçom: – Lembro bem. Foi o primeiro jogo da excursão à Europa, um ano antes da Copa da Espanha. Depois vencemos a França, por 3 a 1, com um show de bola no Parque dos Príncipes, em Paris, e a Alemanha Ocidental, de virada, por 2 a 1, com Valdir Perez pegando duas vezes pênalti cobrado pelo Breitner, e Cerezo e Júnior fazendo dois golaços.

Idiota da Objetividade: – Que boa memória, Zé Ary! Perfeita descrição dos fatos.

Garçom: – Vamos ver aquele gol?

Zé Ary põe o vídeo para rodar no telão o gol da primeira vitória brasileira sobre a Inglaterra, em Wembley.

Logo após a exibição do gol, muitos olham para Sócrates, que sorri com a lembrança daquela exibição contra a seleção inglesa.

Garçom: – Peço licença aos senhores, mas citar Zico sem ouvirmos uma homenagem musical ao Galinho seria um pecado, não acham?

Ceguinho Torcedor: – Um pecado capital!

Músico: – Aí vamos lembrar do grande vascaíno Paulinho da Viola.

Ceguinho Torcedor: – E por associação de ideias: Roberto Dinamite!

Músico: – Aliás, outro grande amigo de Zico, o Dinamite.

Garçom: – Em breve, o grande ídolo vascaíno estará aqui com a gente. Mas vamos ouvir no nosso sistema de som “Camisa 10 da Gávea”, do Jorge Ben, com a grande Maria Alcina.

Quase todo mundo dança e aplaude ao fim. João Sem Medo retoma a pelota.

João Sem Medo: – Merecidíssima homenagem ao Zico, mas queria voltar ao ano de 59, se me permitem. Além do show do Julinho Botelho, houve o Sul-Americano na Argentina também e a seleção brasileira disputou a competição como campeã do mundo. Mas o título ficou com os argentinos…

Sobrenatural de Almeida (rindo): – O árbitro apitou o fim do jogo quando o Garrincha faria o gol da vitória e do título para o Brasil.

De sua mesa, Mané se manifesta com um gesto indicando que a seleção foi roubada naquela final. E ganha o apoio de quase todo mundo presente.

Ceguinho Torcedor: – Nas três primeiras partidas, a atuação do Brasil foi uma espécie de naufrágio. E contra o Uruguai, antes da final, vencemos no pau e na bola.

Garçom: – Opa!

Todos riem

João Sem Medo: – Na porrada e na bola. Derrotamos os uruguaios por 3 a 1. Eles baixaram o sarrafo e os brasileiros não correram da briga.

Ceguinho Torcedor: – O salto de Didi foi prodigioso. Foi realmente um voo para castigar os uruguaios, que tinham baixado o pau. Batida no futebol, a ex-Celeste, que vive de passado como uma planta de Sol, partiu para a luta corporal. Amigos, foi um sururu de antologia. O brasileiro meteu o braço. E não só o braço: enfiou o pé, deu chute, rasteira, rabo de arraia. Paulinho atravessou o campo para caçar, do outro lado, três adversários que batiam covardemente em Chinesinho. O inimigo pôs sebo nas canelas e deu no pé. Porém, o momento mais artístico da pancadaria foi a monumental intervenção de Didi. Outro qualquer teria usado meios normais, tais como o tapa, o soco, o pescoção, ou a boa e salubre cabeçada brasileira. Didi foi além. Tomou distância e correu. Havia um bolo de uruguaios. E todo o estádio parou no espanto do salto, tão plástico, elástico, acrobático. Essa espantosa agilidade carioca deslumbrou o povo. Com os dois pés, fendeu e debandou o grupo inimigo. A plateia argentina quase pediu bis.

Risadas em todo bar Além da Imaginação. Sem avisar, Zé Ary põe no telão as imagens com os melhores lances e a pancadaria entre brasileiros e uruguaios, em 1959. Quando todos percebem ficam estáticos, atentos a cada detalhe.

Houve um burburinho, todos se voltaram para Didi que se manteve sério, apesar dos gracejos à sua volta. João Sem Medo pegou a bola e partiu em frente.

João Sem Medo: – Na final, contra a Argentina, o árbitro Carlos Robles nos roubou um gol do Garrincha no finzinho do jogo. Ou melhor, antes do fim.

Ceguinho Torcedor: – Ele só admitia contra os argentinos faltas não decisivas. E, no último minuto, excedeu-se a si mesmo. Vale a pena reconstituir o lance: – Garrincha apanha a bola e dispara. Os 120 mil argentinos gelaram. E Robles, o nosso Robles, caiu num pânico convulsivo. Ele percebeu que Garrincha faria o gol ou, pelo menos, reconheceu esse perigo evidentíssimo. Imaginem um gol brasileiro em cima da hora e Robles tendo de reconhecê-lo! Lá no campo do River Plate, que não tinha, para proteção dos visitantes, nem essa tela de arame que o mais franciscano galinheiro exige. Ele, que naturalmente, tem família, surrupiou uns bons três minutos e apitou, apitou histericamente. Ao mesmo tempo a bola estufava o barbante argentino. Amigos, o Robles assassinou o gol brasileiro!

O público do bar se alvoroçou e vaiou o árbitro como se lá estivesse. Zé Ary aproveitou a deixa e dominou o lance com categoria.

Garçom: – Que coisa, seu Ceguinho! Mas Juiz Ladrão também tem música, então vamos colocar aqui no nosso aparelho de som, “Juiz Ladrão”, de Maracai e Muniz Teixeira, na voz da grande dupla sertaneja Lourenço e Lourival. Vamos lá, turma. Quem quiser pode dançar.

Muita gente, incluindo Garrincha e Didi, continuou a comentar sem elogios a atuação do árbitro chileno, mas logo caiu na festa promovida pela música.

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

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Um gol desse não se perde!

QUEM TE PISOU DOURADA, TE ASSISTE ESBURACADA

por Zé Roberto Padilha

Em 1975, quando foi inaugurado, o Estádio Serra Dourada era o objeto de desejo de todo jogador de futebol. Se para a Dança, a Ópera e o Ballet o palco do Teatro Municipal era o piso mais cobiçado, o Serra Dourada se tornara o mais glamouroso dos gramados brasileiros.

Foi lá que a nossa Máquina Tricolor, com quatro tricampeões mundiais (Félix, Marco Antônio, Rivellino e Paulo Cesar) realizou uma das suas maiores exibições.

Na época falavam que fomos feitos um para o outro.

Tanto tempo depois, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro, o estádio, já sob a guarda do Governo de Goiás, se apresenta com inacreditáveis buracos.

Dizem que ele, o gramado, com saudade dos que por lá exibiam a mais pura arte, com o tempo se rebelou diante dos maus tratos. E resolveu ficar à altura do futebol que praticavam.

Será?

VIDA LONGA AOS ESTADUAIS

por Claudio Lovato Filho

E ainda há quem diga que eles não têm importância e, até, que deveriam ser extintos. Imaginem só.

Pois os últimos dias calaram aqueles que os maldizem.

Vejam o que aconteceu no Rio Grande do Sul. A importância do duelo entre Grêmio e Juventude fez com que o tricolor mandasse time misto para sua estreia na Libertadores, na Bolívia. E veio o segundo heptacampeonato da história gremista, celebrado por mais de 50 mil pessoas numa linda festa na Arena.

Vejam o que aconteceu em São Paulo. Dois embates entre Palmeiras e Santos para serem guardados em lugar muito digno na longeva história de enfrentamentos entre os dois clubes.

Vejam o que aconteceu no Rio de Janeiro, com o bravo Nova Iguaçu encarando o Flamengo, sem medo e com muita competência, numa finalíssima com recorde de público no Maracanã.

Vejam o que aconteceu em Minas Gerais, com o Atlético confirmando seu favoritismo em cima de um Cruzeiro que lutava (e segue lutando) para mostrar que está voltando a ser um grande entre os grandes. E o Mineirão fervilhou.

Vejam o que aconteceu na Bahia, com o Vitória conquistando o campeonato com um empate na Fonte Nova, numa decisão vibrante e equilibrada como há tempos não se via por lá.

Vejam o que aconteceu no Ceará, com o Castelão transbordando gente num confronto que só foi terminar na decisão por pênaltis, com o Ceará campeão em cima do Fortaleza.

E ainda teve outras oito decisões no mesmo fim de semana: em Recife, Curitiba, Goiânia, Maceió, Brasília, Cuiabá, Teresina, Palmas e Criciúma. Fizeram a festa as torcidas de Sport, Athletico, Atlético, CRB, Ceilândia, Cuiabá, Altos, União e Criciúma.

E que festa. Que festas. Festas do futebol brasileiro. Festas brasileiras.

Vida longa aos campeonatos estaduais – porque, sem eles, as rivalidades regionais sofrerão abalo, e o futebol precisa que essas rivalidades se perpetuem.

Vida longa aos campeonatos estaduais – porque, sem eles, muitos clubes irão sucumbir, morrer à míngua, e não podemos permitir que isso aconteça.

Vida longa aos campeonatos estaduais – porque, neles, estão muitas histórias da infância; da gozação na escola segunda-feira de manhã, das tentativas de ir à forra no pátio durante a Educação Física ou então depois da aula, na pelada no terreno baldio.

Viva longa aos nossos campeonatos estaduais – porque eles são uma das principais causas da nossa paixão pelo futebol.

E essa paixão é parte essencial e poderosa da nossa identidade.

NADA ALÉM DO QUE DOIS MINUTOS

por Reinaldo Sá

Parafraseando o grande comunicador dos áureos tempos da Rádio Nacional, Paulo Roberto, faço aqui uma lembrança do saudoso artilheiro que, através do sorriso, escondia a sua timidez: Carlos Roberto de Oliveira, ou simplesmente Roberto Dinamite.

Na história futebolística, o craque nos emocionou com aa suas jogadas de definição rara nas tardes do Maracanã raiz, local no qual geraldinos e arquibaldos vibravam a cada jogada fatal do Garoto Dinamite.

Não demorou para se tornar uma referência cruzmaltina e, mesmo não tendo sucesso no futebol espanhol, vestindo a camisa do Barcelona, a sua volta ao país foi uma noite de gala diante dos corintianos capitaneados por Sócrates, com cinco belos gols Foi somente um cartão de visita e uma amostra do quanto o time catalão perdeu em não aproveitá-lo.

Fica o registro para a data do dia 13 de abril aonde Roberto Dinamite faria setenta anos. No mais, fica a saudade do artilheiro, com cheiro de gol e de dinamitar as redes inimigas.

JOGAVA DE “TEIMOSO”

por Ivaneguinho

por Alex Ribeiro

“É CAMISA DEZ DA SELEÇÃO! DEZ É A CAMISA DELE, QUEM É QUE VAI NO LUGAR DELE? DEZ CAMISA DEZ DA SELEÇÃO…”

Segunda-feira, pela manhã, já havia terminado a minha caminhada, resolvi passar na Sapataria Alzira, aqui em Santa Cruz, pertencente ao meu amigo, vascaíno “sadio”, Francisco. Um dos grandes admiradores e incentivadores do meu futebol, principalmente quando eu, ainda com 17 anos, jogava no Piranema.

Lembro que precisava comprar um sapato social marrom, número 37, dificílimo de encontrar. Escasso! Contudo, ele sempre resolve essas situações e faz pra mim um precinho camarada. Enquanto ele pediu um dos seus funcionários para ver se encontrava no estoque, fiquei observando uma família jovial, constituída do papai, mamãe e um filho com idade aproximada de uns 8 anos de idade. Os pais pareciam orgulhosos e otimistas. Compraram quase todos apetrechos que fazem parte do uniforme de atletas de futebol. Chuteiras, meiões, caneleiras, bola… Só não comprou calções e camisas, porque já estavam vestidos a caráter. Camisas Cruzmaltinas!

Gostando da iniciativa dos pais, aproximei-me e passei a ouvir o assunto futebolístico. Aproveitei uma “brecha”, e disse para o meu amigo Francisco:

– Hoje as coisas estão mudadas. Antigamente, a molecada primeiro jogava descalço para pegar intimidade com a pelota.

A primeira vez que eu coloquei chuteiras para jogar (treinar) estava com quatorze pra quinze anos. Jogava no Infanto do Oriente, quando o nosso técnico Atanásio anunciou:

– Semana que vem, todos tragam chuteiras, pois iniciaremos nossos treinos calçados.

Lembro que o nosso Infantil tinha diversos “craquinhos”: Lúcio, Valtinho, Bigure, Quinha lateral, Noel também era lateral, Paulo Ruço, Djalma, Zigriu, Mário, Canarinho, Antônio e outros. Porém, naquele dia, só quem desenvolveu o seu futebol e se sentiu à vontade foi o Antônio, ponta-direita e um dos mais novos entre nós.

Curioso e impressionado, indaguei ao menino:

– Você joga em qual posição?

Respondeu-me prontamente que era atacante. Diferentemente do meu tempo, quando se faziam essa pergunta, o garoto ou os garotos, respondiam: meia-direita, meia-armador, centroavante, lateral-esquerda ou direita, alfo direito, beque central, quarto zagueiro,… Sorri-lhe, desejei boa sorte, fingi que me afastaria, fiz pose atleta, andei para um lado e para o outro e “emendei” para o guri:

– Adivinha de que eu jogava?

Ele me olhou de cima embaixo e “soltou”:

– Lateral!

Brincando com o pirralho, Eu ri e respondi:

– Não. Errou! Eu jogava de teimoso! Eu era amigo do treinador e irmão do dono da bola!

Todos, sem exceção, riram! Sem mais, nem menos, o Francisco “tomou” a palavra e passou a proferir pra mim:

– Ele está brincando. Ele jogava demais. Acompanhei a trajetória dele lá no Piranema, quando ele tinha apenas 17 anos…

Daí passou a me elogiar para os fregueses, dizendo o que eu fazia com a bola no campo. Até eu duvidei:

– Será que eu jogava assim mesmo?

Amenizei-me, pois recordei das palavras do Ratinho do Guanabara. Cracaço. Um dia ele disse-me as mesmas coisas do Francisco, e até mais! O Francisco falou tanto do meu extinto futebol, que somente um fã, um admirador e, acima de tudo, um amigão pode apreciar. Palavras tais, eu ouço dos meus irmãos e do meu cunhado Tico. Outrora ouvia do meu pai! Abaixei a cabeça e discretamente, com o olhar abaixado, eu espiava a família, que me olhava com encantamento!

INCOMUM: NUNCA COMPREI UMA CHUTEIRA. CERTA VEZ, GANHEI UMA COM TRAVAS, QUE O SEU NASCIMENTO ME PRESENTEOU. EMPRESTEI-A AO “CB MARÇAL” QUE NUNCA MAIS DEVOLVEU-ME!

IVANEGUINHO, O PELADEIRO!