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GOL HISTÓRICO

por Elso Venâncio

Sempre que via o famoso gol de falta de Petkovic na tevê, o polêmico cartola Eurico Miranda reagia:

“E o gol do Cocada? Por que não mostram?”

Na final do Carioca de 1988, Cocada entrou no lugar do ponta Vivinho com a missão de marcar Leonardo, que apoiava fortemente pela esquerda. Acácio havia realizado, pelo menos, três defesas espetaculares. De repente, Cocada recebeu de Bismarck em seu campo, correu pela direita lembrando o irmão Müller, puxou para a meia direita, driblou o zagueiro Edinho, que se desequilibrou, e bateu forte, enviesado, com a perna esquerda. Ele entrou aos 41 minutos, marcou aos 44 e foi expulso, por tirar a camisa na comemoração, aos 45 do segundo tempo. A bola entrou no ângulo direito do goleiro Zé Carlos, no gol à esquerda das cabines de TV e Rádio. Vitória por 1 a 0 sobre o Flamengo, com direito a gol histórico para selar o bicampeonato carioca do Vasco.

No ano anterior, 1987, outro que passou pela Gávea firmou seu nome com o uniforme cruzmaltino. Campeão mundial em 1981, Tita fez o gol do título, no mesmo clássico, após receber passe açucarado de Roberto Dinamite.

Cocada chegou a São Januário depois de passar pelo Americano e pelo futebol português. Seria o substituto natural de Paulo Roberto. Seu irmão Müller trocara o São Paulo pelo Torino, da Itália.

Houve dois jogos decisivos entre Vasco e Flamengo em 1988. No primeiro, Vasco 2 a 1, gols de Bismarck e Romário. No gol do baixinho, falha de Leandro, que atuava na zaga. Ele atrasou mal para Zé Carlos e Romário, rápido e sagaz, aproveitou o toque errado para se antecipar e dar um lençol no goleiro antes de marcar, de cabeça.

Na finalíssima, disputada numa quarta-feira, 22 de junho, o Vasco, com melhor campanha, jogava pelo empate. Os atletas do Flamengo já chegaram ao Maracanã sérios e cabisbaixos. Na escalação, o motivo do clima de velório. O técnico Carlinhos ‘Violino’ barrou o ídolo Leandro. O jovem Aldair, aos 22 anos, assumia a posição. Fez tanto sucesso que, no ano seguinte, já estava no Benfica, que o revenderia à Roma, da Itália, onde se tornou titular e capitão por mais de uma década.

Sebastião Lazaroni, técnico que comandaria a seleção brasileira, dois anos depois, na Copa da Itália, escalou seu Vasco àquele dia com Acácio, Paulo Roberto, Donato, Fernando e Mazinho; Zé do Carmo, Geovani e Henrique; Vivinho (Cocada), Bismarck e Romário.

No finalzinho da partida, Renato Gaúcho não aceitou as provocações de Romário e deu um tapa no artilheiro do campeonato. Briga generalizada em campo! Paulo César Gusmão, goleiro reserva de Acácio, deu uma voadora – que lembrou os tempos do Telecatch – em Alcindo, levando-o a nocaute.

A festa da vitória ocorreu numa boate em Copacabana. Nessa época, imprensa e jogadores conviviam de perto com os craques. O compositor vascaíno Erasmo Carlos pegou o microfone e puxou com força o sonoro grito de guerra ‘Casaca’.

NOS PERDOE, JOÃO PEREIRA LOPES, ODAIR GAMA, REMO RIGHI

por Zé Roberto Padilha

Seria fácil jogar apenas na conta da atual gestão a culpa pela devastação total do gramado (foto) de um dos clubes de futebol mais importantes do estado: o Entrerriense FC.

Não foram apenas eles, os gestores da vez, que construíram piscinas em casa. E deixaram de frequentá-lo e ainda levaram familiares e amigos para um mergulho cada vez menos social.

Muito menos os que afastaram os sócios que deixaram de comparecer às serestas. E deixarem no caixa do bar a garantia do pagamento das suas heroínas Heloisa e Vitória. Fora o 13* do Zé sem a qual o mato o cobriria.

Muito menos, foram eles que deram Playstation para seus filhos e os deixaram no quarto exercendo sua iniciação ao sedentarismo no lugar de os matricularem nas escolinhas de futebol.

O Entrerriense FC desabou debaixo do nosso teto é não conseguimos mantê-lo opulento e forte, disputando campeonatos e dando oportunidades de tantos garotos alcançarem seus sonhos, como nos deram um dia para alcançar os nossos.

Todos falhamos. E quando mais um Parque de Diversões parte, ele não deixa apenas crateras em um gramado em que nossos heróis Quarentinhas, Marianos e Traíras desfilaram sua arte. Escreveram, com uma bola de futebol nos pés e uma paixão no coração nas arquibancadas, parte da nossa preciosa história esportiva.

Ele deixa crateras em nossa porção cidadã, trirriense, pessoas de boa índole, trabalhadoras, honestas e, infelizmente, incapazes de honrar o patrimônio e a memória daqueles que tanto lutaram para erguê-lo.

Nunca será tarde para reerguê-lo. Desde que aceitemos que todos nós poderíamos ter feito um pouco mais por ele.

A PARTIDA PERFEITA

por Zé Roberto Padilha

O Estádio Rei Pelé, em Maceió, é um daqueles templos sagrados do futebol brasileiro que foram inaugurados durante o “Milagre econômico ” da década de 70. Quando você está jogando por lá a laje fecha sobre você e te engole, como no Mineirão, canalizando o eco da torcida para perto de onde você vai bater o corner. Como no Serra Dourada, no antigo Olímpico e no Maracanã.

De lá, bem longe, entre Bahia e Pernambuco, numa quarta-feira à noite, durante o Campeonato Brasileiro de 1978, jogando pelo Santa Cruz, contra o CRB, guardo uma das mais marcantes lembranças e lições da minha carreira como atleta profissional de futebol.

Em 17 anos com carteira assinada, foi ali que exibi talvez a única atuação perfeita com a bola nos pés. Qual desportista, ator, médico ou engenheiro não se lembra do dia em que acertou tudo durante a prática do seu ofício?

Naquela noite iluminada, em que Júpiter deve ter se entendido com Netuno, as cartas e os Búzios conspiraram a meu favor, devo ter errado apenas dois das centenas de passes que realizamos em média durante as partidas. Jogadas de linha de fundo? Em três das seis tentativas deixei o lateral para trás e acertei o cruzamento na cabeça do Nunes. No outro, para um voleio do Betinho e, pra fechar o placar de 3×0, um cruzamento certeiro para um peixinho fatal de Luiz Fumanchú.

Durante essa abençoada partida não corria. Voava. E enquanto saboreava minha própria atuação, pensava: mas por que justo ali, longe da grande mídia, tendo como testemunha apenas a Rádio Clube de Pernambuco e da Gazeta de Alagoas? Por que não no Maracanã em um daqueles Fla x Flu que joguei?

Se tivesse iluminado daquele jeito defendendo camisas pesadas, de empregos anteriores, certamente seria convocado para a seleção. Como aprendi a não discutir com o destino, e ele quis que fosse ali meu dia de Rivelino, que tal tentar uma bomba de fora da área?

Juro, arrisquei e a bola passou raspando a trave.

É impressionante o que pode alcançar a mente, jogava e pensava, uma vez desobstruída das limitações cotidianas que nós mesmos nos impomos.

Terminada a partida, parti para o vestiário como um atleta olímpico que alcançara um recorde e se preparava para subir ao pódio. Passei pelo meu treinador, Evaristo Macedo, que disse:

– Valeu, garoto!

Mas como valeu se eu nunca havia atuado antes daquele jeito?

E fui encontrando pelo caminho repórter alagoano, narrador pernambucano, jogadores adversários e me trataram como quem tivesse jogado uma partida qualquer.

Mal sabiam que havia treinado muito, evitado noitadas, cigarros e bebidas alcoólicas para um dia atingir a perfeição. E quando chego próximo dela, ninguém foi capaz de reconhecer. E se o meu máximo não causou a mínima atenção, entrei no vestiário bem arrasado.

Não tinha medalha, pódio, hino nacional, um abraço apertado e, muito menos, um Motorádio me aguardando. E quando me dirigi a balança na qual seu Amauri, um simpático funcionário do Santa Cruz, nos pesava, antes e depois das partidas, após conferir o que tinha perdido, ele me confidenciou baixinho:

– Que atuação, hein, Zé Roberto. Hoje, você foi perfeito!

Que alívio senti naquele instante. Não fiquei prosa ou mascarado, apenas feliz. E aliviado. Afinal, de que valeria a busca pela perfeição, em qualquer profissão, se quando a alcançamos, nem que seja por apenas 90 minutos, ninguém for capaz de perceber seu esforço e obstinação?

Depois dessa partida, até 1985, quando encerrei minha carreira no Bonsucesso, continuei a ser o Zé Roberto de sempre. Aplicado e determinado, nunca mais o Zico, um Rivelino, um Gerson, mestres que me concederam aulas com chuteiras ao meu lado.

Mas foi com seu Amauri que aprendi uma nova lição. E adotei um novo hábito.

Sempre que assisto de perto uma performance acima da média, e que me encante, faço questão de esperar o final da partida, da peça de teatro, do show do rapaz que fez o papel de Michael Jackson no Vivo Rio para lhe dar um abraço.

Só eu sei o que foi preciso para conseguir ser um dia perfeito no que fazia. E jamais me esqueci como a indiferença e o descaso são capazes de nos abater minutos depois de tal conquista.

MEMÓRIAS DO TORNEIO DOS CAMPEÕES EM 1982

por Paulo-Roberto Andel

Olha, eu gosto muito de futebol, muito mesmo. Gosto de jogar e de ver. Ir ao Maracanã é uma coisa muito boa, e está mais fácil porque meus pais agora me deixam vir sozinho, inclusive à noite. Só o passeio já valeria a pena: eu pego o 434 na Figueiredo Magalhães e faço uma viagem pelo Rio. É um percurso muito bonito que serve de roteiro turístico pela zona sul do Rio, o Centro e, logo depois, Praça da Bandeira e São Cristóvão até chegar ao maior estádio do mundo.

Praticamente todo o meu dinheiro eu gasto com futebol. Também não tenho muito, é a mesada que meu pai me dá. E também vou ao cinema. Só que o futebol é sagrado. Para poder ir a mais jogos, eu vou de geral que é bem mais barato, quase o preço da passagem de ônibus. Se estiver com tempo de chuva, aí a geral é certa, porque você aguenta o primeiro tempo e, no intervalo, o pessoal da Suderj abre uma escada que vai até a arquibancada.

Eu sou Fluminense desde que nasci, gosto demais do Fluzão, mas venho ver jogos de outros times. Já assisti Vasco, Botafogo, Flamengo, America e Bangu.

Não sei por que, mas uma coisa que eu gosto muito é de chegar ao Maracanã ainda vazio, bem silencioso. Esse silêncio me faz muito bem, é como se acalmasse tudo. Gosto de ver o campo, bem verdinho, mesmo quando tem alguns defeitos. Ah, e eu gosto também de me deitar na geral vazia e ficar olhando o céu. A cobertura de concreto do Maracanã faz o desenho de um círculo, o céu parece um disco voador, é muito bonito. Claro que o estádio cheio é maravilhoso também, mas eu gosto dele deserto. É um jeito diferente de ver.

Outra coisa ótima da geral: a gente pode jogar bola antes do jogo. Outro dia teve Vasco e Botafogo, então viemos com uns amigos da escola. A gente marcou o golzinho e ficou três para cada lado. Tinha o Luiz Cláudio, que é Flamengo, o Bolaman também. O Chico, vascaíno. Não me lembro se tínhamos um botafoguense na trupe. Nossa bola oficial, a Dente de Leite. Acho que foi num sábado à tarde.

Foi uma ótima ideia fazerem o Torneio dos Campeões. Vários jogos excelentes, tem Maracanã quase todo dia. Logo mais eu vou de novo pra ver Vasco e São Paulo. Sempre alguém me pergunta por que eu vou numa partida que não tem o meu time. É que futebol é bom demais. Só de subir a rampa e passar pelo tunelzinho da arquibancada, já é uma emoção enorme.

O Maracanã é grande, é gigante. Espero poder acompanhar o futebol pelo resto da vida. Toda vez que vou ao jogo, é como se eu continuasse um sonho que nunca termina. Há pouco, o Fluminense quase foi campeão brasileiro, mas deixamos escapar a vaga pro Grêmio de virada. Foi um jogão. Perdemos, paciência. A coisa não está fácil para o Flu, mas espero que em breve a gente tenha um time que possa ser campeão. Eu tenho fé que isso vai acontecer.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 2000

por Luis Filipe Chateaubriand

No ano de 2000, o Campeonato Brasileiro foi substituído pela Copa João Havelange, devido a confusões que levaram o certame a ser jogado por centenas de clubes – eu chamava a competição de “Copa Centopeia – O Monstro de 116 Patas” – com esses clubes divididos em módulos.

Nas semifinais da competição, o Vasco da Gama suplantou o Cruzeiro e, com seu timaço espetacular, foi às finais.

Já o São Caetano, fenômeno da época, suplantou o Grêmio nas semifinais e, surpreendentemente, se classificou às finais.

Eis que Vasco da Gama X São Caetano foi uma final que não se esperava.

O primeiro jogo das finais foi realizado no Estádio Palestra Itália, em São Paulo, com mando de campo para o São Caetano.

O jogo terminou empatado em 1 x 1, com o primeiro gol para o São Caetano de César e o empate vascaíno com gol de Romário – ambos no primeiro tempo.

O segundo jogo das finais, no Estádio de São Januário, com mando de campo para o Vasco da Gama, não foi concluído, uma vez que o alambrado do local foi destruído, e várias pessoas foram arremessadas para o campo e se machucaram.

Assim, o segundo jogo das finais foi repetido, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, com mando de campo para o Vasco da Gama.

O Vasco da Gama marcou com Juninho Pernambucano, Adãozinho empatou e Jorginho Paulista fez 2 x 1, ainda no primeiro tempo.

No segundo tempo, O insaciável Romário decretou o 3 x 1 final.

Pela quarta vez, o Vasco da Gama era campeão brasileiro!