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QUEM TE PISOU DOURADA, TE ASSISTE ESBURACADA

por Zé Roberto Padilha

Em 1975, quando foi inaugurado, o Estádio Serra Dourada era o objeto de desejo de todo jogador de futebol. Se para a Dança, a Ópera e o Ballet o palco do Teatro Municipal era o piso mais cobiçado, o Serra Dourada se tornara o mais glamouroso dos gramados brasileiros.

Foi lá que a nossa Máquina Tricolor, com quatro tricampeões mundiais (Félix, Marco Antônio, Rivellino e Paulo Cesar) realizou uma das suas maiores exibições.

Na época falavam que fomos feitos um para o outro.

Tanto tempo depois, na primeira rodada do Campeonato Brasileiro, o estádio, já sob a guarda do Governo de Goiás, se apresenta com inacreditáveis buracos.

Dizem que ele, o gramado, com saudade dos que por lá exibiam a mais pura arte, com o tempo se rebelou diante dos maus tratos. E resolveu ficar à altura do futebol que praticavam.

Será?

VIDA LONGA AOS ESTADUAIS

por Claudio Lovato Filho

E ainda há quem diga que eles não têm importância e, até, que deveriam ser extintos. Imaginem só.

Pois os últimos dias calaram aqueles que os maldizem.

Vejam o que aconteceu no Rio Grande do Sul. A importância do duelo entre Grêmio e Juventude fez com que o tricolor mandasse time misto para sua estreia na Libertadores, na Bolívia. E veio o segundo heptacampeonato da história gremista, celebrado por mais de 50 mil pessoas numa linda festa na Arena.

Vejam o que aconteceu em São Paulo. Dois embates entre Palmeiras e Santos para serem guardados em lugar muito digno na longeva história de enfrentamentos entre os dois clubes.

Vejam o que aconteceu no Rio de Janeiro, com o bravo Nova Iguaçu encarando o Flamengo, sem medo e com muita competência, numa finalíssima com recorde de público no Maracanã.

Vejam o que aconteceu em Minas Gerais, com o Atlético confirmando seu favoritismo em cima de um Cruzeiro que lutava (e segue lutando) para mostrar que está voltando a ser um grande entre os grandes. E o Mineirão fervilhou.

Vejam o que aconteceu na Bahia, com o Vitória conquistando o campeonato com um empate na Fonte Nova, numa decisão vibrante e equilibrada como há tempos não se via por lá.

Vejam o que aconteceu no Ceará, com o Castelão transbordando gente num confronto que só foi terminar na decisão por pênaltis, com o Ceará campeão em cima do Fortaleza.

E ainda teve outras oito decisões no mesmo fim de semana: em Recife, Curitiba, Goiânia, Maceió, Brasília, Cuiabá, Teresina, Palmas e Criciúma. Fizeram a festa as torcidas de Sport, Athletico, Atlético, CRB, Ceilândia, Cuiabá, Altos, União e Criciúma.

E que festa. Que festas. Festas do futebol brasileiro. Festas brasileiras.

Vida longa aos campeonatos estaduais – porque, sem eles, as rivalidades regionais sofrerão abalo, e o futebol precisa que essas rivalidades se perpetuem.

Vida longa aos campeonatos estaduais – porque, sem eles, muitos clubes irão sucumbir, morrer à míngua, e não podemos permitir que isso aconteça.

Vida longa aos campeonatos estaduais – porque, neles, estão muitas histórias da infância; da gozação na escola segunda-feira de manhã, das tentativas de ir à forra no pátio durante a Educação Física ou então depois da aula, na pelada no terreno baldio.

Viva longa aos nossos campeonatos estaduais – porque eles são uma das principais causas da nossa paixão pelo futebol.

E essa paixão é parte essencial e poderosa da nossa identidade.

NADA ALÉM DO QUE DOIS MINUTOS

por Reinaldo Sá

Parafraseando o grande comunicador dos áureos tempos da Rádio Nacional, Paulo Roberto, faço aqui uma lembrança do saudoso artilheiro que, através do sorriso, escondia a sua timidez: Carlos Roberto de Oliveira, ou simplesmente Roberto Dinamite.

Na história futebolística, o craque nos emocionou com aa suas jogadas de definição rara nas tardes do Maracanã raiz, local no qual geraldinos e arquibaldos vibravam a cada jogada fatal do Garoto Dinamite.

Não demorou para se tornar uma referência cruzmaltina e, mesmo não tendo sucesso no futebol espanhol, vestindo a camisa do Barcelona, a sua volta ao país foi uma noite de gala diante dos corintianos capitaneados por Sócrates, com cinco belos gols Foi somente um cartão de visita e uma amostra do quanto o time catalão perdeu em não aproveitá-lo.

Fica o registro para a data do dia 13 de abril aonde Roberto Dinamite faria setenta anos. No mais, fica a saudade do artilheiro, com cheiro de gol e de dinamitar as redes inimigas.

JOGAVA DE “TEIMOSO”

por Ivaneguinho

por Alex Ribeiro

“É CAMISA DEZ DA SELEÇÃO! DEZ É A CAMISA DELE, QUEM É QUE VAI NO LUGAR DELE? DEZ CAMISA DEZ DA SELEÇÃO…”

Segunda-feira, pela manhã, já havia terminado a minha caminhada, resolvi passar na Sapataria Alzira, aqui em Santa Cruz, pertencente ao meu amigo, vascaíno “sadio”, Francisco. Um dos grandes admiradores e incentivadores do meu futebol, principalmente quando eu, ainda com 17 anos, jogava no Piranema.

Lembro que precisava comprar um sapato social marrom, número 37, dificílimo de encontrar. Escasso! Contudo, ele sempre resolve essas situações e faz pra mim um precinho camarada. Enquanto ele pediu um dos seus funcionários para ver se encontrava no estoque, fiquei observando uma família jovial, constituída do papai, mamãe e um filho com idade aproximada de uns 8 anos de idade. Os pais pareciam orgulhosos e otimistas. Compraram quase todos apetrechos que fazem parte do uniforme de atletas de futebol. Chuteiras, meiões, caneleiras, bola… Só não comprou calções e camisas, porque já estavam vestidos a caráter. Camisas Cruzmaltinas!

Gostando da iniciativa dos pais, aproximei-me e passei a ouvir o assunto futebolístico. Aproveitei uma “brecha”, e disse para o meu amigo Francisco:

– Hoje as coisas estão mudadas. Antigamente, a molecada primeiro jogava descalço para pegar intimidade com a pelota.

A primeira vez que eu coloquei chuteiras para jogar (treinar) estava com quatorze pra quinze anos. Jogava no Infanto do Oriente, quando o nosso técnico Atanásio anunciou:

– Semana que vem, todos tragam chuteiras, pois iniciaremos nossos treinos calçados.

Lembro que o nosso Infantil tinha diversos “craquinhos”: Lúcio, Valtinho, Bigure, Quinha lateral, Noel também era lateral, Paulo Ruço, Djalma, Zigriu, Mário, Canarinho, Antônio e outros. Porém, naquele dia, só quem desenvolveu o seu futebol e se sentiu à vontade foi o Antônio, ponta-direita e um dos mais novos entre nós.

Curioso e impressionado, indaguei ao menino:

– Você joga em qual posição?

Respondeu-me prontamente que era atacante. Diferentemente do meu tempo, quando se faziam essa pergunta, o garoto ou os garotos, respondiam: meia-direita, meia-armador, centroavante, lateral-esquerda ou direita, alfo direito, beque central, quarto zagueiro,… Sorri-lhe, desejei boa sorte, fingi que me afastaria, fiz pose atleta, andei para um lado e para o outro e “emendei” para o guri:

– Adivinha de que eu jogava?

Ele me olhou de cima embaixo e “soltou”:

– Lateral!

Brincando com o pirralho, Eu ri e respondi:

– Não. Errou! Eu jogava de teimoso! Eu era amigo do treinador e irmão do dono da bola!

Todos, sem exceção, riram! Sem mais, nem menos, o Francisco “tomou” a palavra e passou a proferir pra mim:

– Ele está brincando. Ele jogava demais. Acompanhei a trajetória dele lá no Piranema, quando ele tinha apenas 17 anos…

Daí passou a me elogiar para os fregueses, dizendo o que eu fazia com a bola no campo. Até eu duvidei:

– Será que eu jogava assim mesmo?

Amenizei-me, pois recordei das palavras do Ratinho do Guanabara. Cracaço. Um dia ele disse-me as mesmas coisas do Francisco, e até mais! O Francisco falou tanto do meu extinto futebol, que somente um fã, um admirador e, acima de tudo, um amigão pode apreciar. Palavras tais, eu ouço dos meus irmãos e do meu cunhado Tico. Outrora ouvia do meu pai! Abaixei a cabeça e discretamente, com o olhar abaixado, eu espiava a família, que me olhava com encantamento!

INCOMUM: NUNCA COMPREI UMA CHUTEIRA. CERTA VEZ, GANHEI UMA COM TRAVAS, QUE O SEU NASCIMENTO ME PRESENTEOU. EMPRESTEI-A AO “CB MARÇAL” QUE NUNCA MAIS DEVOLVEU-ME!

IVANEGUINHO, O PELADEIRO!

O AZIÃO

por Zé Roberto Padilha

Azião, aqui onde moro, é todo aquele sujeito que você, ao cruzar o seu caminho, lhe dá bom dia, pergunta se está tudo bem e ele…para para explicar.

Se mal temos tempo para um cumprimento, imagine para ouvir depoimentos?

Certa vez, em Três Rios, terra que criou e batizou aziões, notáveis frequentadores de um bar, da Ana, resolveram fazer uma lista dos mais qualificados. Se reuniam todo sábado depois das 11h00 com papel e caneta. E chegaram a 100 nomes em uma cidade que tinha apenas 50 mil habitantes.

A lista vazou, chegou aos meios de comunicação não oficiais, alcançou a Boca Maldita e causou estragos nas relações entre parentes e amigos. Você poderia ser infeliz, fracassado e traído. Azião, nunca. Mas a expressão se manteve porque gente enjoada e sem noção permaneceram circulando sem máscaras.

Se Tite morasse por aqui, seria sério candidato à braçadeira aziã. No lugar de se focar nas suas funções, resolveu ser o Padre Terezo de Calcutá. E realizar boas ações por onde passa. Não são gestos ocultos, como deveriam, mas com a arquibancada cheia.

Na Copa do Catar iniciou seu jeito Samaritano de ser. Um torcedor que ajudou seus netos a chegar ao estádio foi convidado a participar do treino. Fez de um gesto nobre a entrega do Premio Nobel da Paz. Tinham muitos holofotes.

Mas agora aziou de vez: deu sua medalha para o técnico perdedor na final do estadual e, ontem, contestou, diante das câmeras, a expulsão do técnico adversário, o Jair Ventura.

Entre o bom Samaritano e o Falso Profeta caminhava uma civilização. Em meio aos dois, eis que surge no comando de uma nação um aziào.

Menos, Tite.