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UM ABRAÇO NA NOITE AZUL OU, O DIA DO SÃO CAETANO LAVAR A ALMA

9 / maio / 2017

por Marcelo Mendez


(Foto: Reprodução)

Na entrada para as arquibancadas do Estádio Anacleto Campanella, onde o São Caetano faria a final do Campeonato Paulista da série A2, eu encontrei Guinho no caminho:

– Ei, você é aquele cara que escreve sobre várzea, né?

– Sim, sou eu. Tudo bem?

– Tudo, cara. Eu leio la suas crônicas, vi que você foi la no Inamar. Eu li, gostei demais!

– Como é seu nome?

– Guinho…

– Guinho, muito obrigado!

– Por nada, mas ó; Escreve sobre a gente também. Sou torcedor do São Caetano desde 1990, hoje a gente vai sair daqui campeão!

– Boa sorte, Guinho.

– Valeu!

Meio que nos despedimos ou algo parecido porque depois de nossa breve conversa não vi mais o Guinho. Como tal as estrelas da noite de São Caetano, ele sumiu, ou foi para algum lugar de onde não mais o vi.

No céu fechado, nublado da cidade, eu fui acompanhar a torcida do São Caetano no jogo que poderia trazer o Azulão de volta para o seu lugar, para o lugar dos grandes, dos que são felizes. O São Caetano tinha a chance de voltar a ser campeão depois de muito tempo. Um tempo ótimo…


Copa Libertadores de 2002

Campeão paulista em 2004, finalista do Campeonato Brasileiro em anos seguidos, finalista da Libertadores da América em 2002, o São Caetano era um dos times de ponta do futebol brasileiro. Mas veio então a derrocada.

Erros na sua administração, times mal planejados e outros tantos problemas e la foi o Azulão ladeira abaixo em todas as séries que disputava. E nessa hora o que fica?

A paixão.

Fica o que tem de mais puro no coração do Guinho, do Frisco, do Barata, meus amigos torcedores do Azulão. Fica por conta da resignação de uma gente que me recebeu de braços abertos entre eles, desde quando cheguei para compartilharmos à chuva, até o minuto final da partida, em um 2×1 em cima do Bragantino que lhes devolveu o melhor dos sorrisos em seus rostos.

Em meio a uma chuva fria, cortante, castigando nossas costas, esses garotos e garotas cantaram como se fosse a ultima das noites que lhes seria concedido o direito de cantar.

De rostos molhados pela garoa forte, castigado pelo vento que muda a temperatura na cidade, de mãos juntas, colados às suas crenças pagãs e ao que se tem como fé, os garotos da Torcida Comando Azul, torciam fervorosamente.

Enquanto o placar seguia em 1×1, os rapazes de São Caetano assistiam a tudo de olhos vidrados. Sonhavam amiúde, de maneira curta, clamavam por um átimo de encanto. Por uma entidade que tomasse conta de suas almas e os levassem para muito além da razão, da quimera rasa dos sentidos. Era o clamor pela catarse que o gol gera. E ela veio…


(Foto: Reprodução)

Eram jogados 20 minutos do segundo tempo, quando Regis empurrou a bola pra o fundo das redes do Bragantino. Os meninos de São Caetano, choraram, riram, gritaram, oraram… Por conta de uma bola que balança a rede, por uma fração de alguns segundos, todas as experiências contidas no exercício de viver são ali compartilhadas por eles. Era a hora da festa!

Não haveria mais sustos, não teria mais nada que atrapalhasse o riso. O São Caetano voltava a ser campeão em campo, empurrado pelo grito de amor e fé do seu torcedor. E por falar nele, o torcedor, na saída do estádio, reencontrei Guinho.

Ele não falou nada, não me perguntou nada. Apenas me abraçou como a quem abraça um velho amigo e sem a menor necessidade, me agradeceu:

– Cara, muito obrigado por você ter vindo. Deu sorte!

Imagina. Eu que sou eternamente grato ao Guinho e a todos os torcedores do São Caetano.

Vocês me emocionam profundamente…


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