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SOMBRAS DO PASSADO

20 / setembro / 2016

por Paulo Oliveira

Encontrei umas fotos antigas que fiz em 1993, quando trabalhava no Jornal O Dia, antes do Brasil decidir com o Uruguai quem ia para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Estava publicando elas no Facebook, mas, pensando melhor, nada mais justo do que ser publicado no Museu da Pelada.


Juan Alberto Schiaffino

Schiaffino marcou o primeiro dos dois gols da memorável final da Copa de 50. O ex-jogador mostra uma bandeja que comprou no Brasil, após o jogo. Lembrança que o craque uruguaio guardou até o fim da vida. Vale destacar que o ex-jogador tinha dupla nacionalidade e jogou também pela seleção italiana.


Obdulio Varela

Obdulio Varela, el último capitán. Tive o prazer de conhecer o capitão uruguaio da seleção de 50. Sua história e presença de espírito me marcaram. Cheguei a comprar o livro “Obdulio, desde el alma”, biografia escrita por Antonio Pippo.

Obdulio gostava de beber, se divertir e não ligava para dinheiro. Não pode ser comparado com Garrincha, porém. Estilos e posições diferentes em campo.

Em casa, Obdulio contava com o apoio e a fibra de sua mulher, Catalina, que não cansava de denunciar as armações feitas pelos dirigentes. Foi ela que meteu a mão na massa, junto com parentes e alguns peões, para construir a casa onde a família morava, após pagar aluguel durante muitos anos.

Fiz várias fotos de Obdulio com a família, mas só encontrei esta nos meus arquivos. Obdulio me comoveu ao contar que depois do jogo se separou dos companheiros e foi andar pela zona sul do Rio, se não me engano pelo bairro do Flamengo.

Ele relatou que ia passando pela rua e era parabenizado pelos brasileiros. Disse ainda que terminou a noite, bebendo com brasileiros num bar, triste por ter feito o povo sofrer. Para o biógrafo Pippo declarou que teria feito um gol contra se tivesse que jogar a mesma partida de novo.

Dias depois, após o Brasil derrotar o Uruguai pelas eliminatórias da Copa, tive a mesma sensação de Obdulio. Saí para comemorar com um jornalista da Folha de São Paulo, após passar minhas matérias. Os uruguaios, ao ouvirem nosso sotaque e palavras, nos paravam na rua e davam parabéns pelo desempenho da seleção brasileira e de Romário. Passei a ter um carinho muito grande pelos uruguaios.

Conheci Obdulio em 1993, na véspera dele completar 76 anos. Ele morreu pobre – trabalhava num cassino -, aos 78 anos, em 1995.

Para Obdulio, uma homenagem através dos versos de Jorge Luis Borges:

“El que acaricia un animal dormido El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho. El que prefiere que los otros tengan razón. Esas personas, que se ignoran, están salvando al mundo”.


Tomei conhecimento que havia um mausoléu para os jogadores uruguaios campeões de 1950, no Cemitério de Buceo. Fui até lá e registrei que nem mesmo os ex-campeões eram respeitados. Algumas placas com os nomes dos jogadores tinham sido arrancadas da campa e não havia sinal de flores ou de visitantes. Os heróis mortos estavam esquecidos

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