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GOLEIRO NO ALMIRANTE É NÁUFRAGO

12 / novembro / 2018

Rubens Lemos


Sem melodrama, vascaíno é expectativa de vida de segundo-tenente dos Estados Unidos na Guerra do Vietnã. Uma, duas, três horas. Otimista, você leitor. Eram 45 segundos o deadline de um jovem quase aspirante no front da guerra sem propósito. Vascaíno, hoje, espera pelo pior e, se combinar cerveja gelada com oração, vem o milagre da exceção.

O último Vasco de que tenho notícia é o de 2000, com Romário, Juninho Paulista, o Pernambucano que imagina ser Zidane e o azogue Euller. Meus times ficaram mesmo pelos anos 1980, Romário de cabeleira brega-quase costeleta, Dinamite e Geovani, o melhor deles.

O Vasco sempre foi uma escola de goleiros. Aprendi com meu celeste pai, vascaíno desde Ademir Mezezes e mortificado de idolatria pelo meia Walter Marciano de 1956 (Carlos Alberto, Paulinho e Bellini; Laerte, Orlando e Coronel; Sabará, Livinho, Vavá, Valter e Pinga). Pinga, um colosso em campo consumido em homônimas doses plurais pelo técnico Martin Francisco.


Segunda-feira pós-frango homérico de Martin Silva é um libelo aos sofridos de baliza do meu clube, hoje um Terceirão (de Série C, mesmo,), de grife capengando no passado. Foram dois erros do uruguaio. Até a Copa do Mundo ele foi tal Barbosa, o grande, crucificado por uma dúvida entre fechar o ângulo e sair para defender um cruzamento na final da Copa em 1950. Barbosa foi absolvido nos 7×1 de 2014. Ou nos 2×1 de galinaceos tomados por Júlio César. Contra o Holanda.

Martin Silva é um goleiro razoável. Ganhasse por defesa feita, compraria, à vista e cash, uma praia em Nassau, nas Bahamas. Goleiro em timeco aparece. Errando, curte o cadafalso da maldita missão. No jogo com o Grêmio, falhou ao assistir a bola voar feito drone pela área até Jael cabecear e, no segundo gol, caiu de joelhos tão ator quanto Al Pacino ou Dom Michael Corleone berrando após a morte hamletiana da fillha Mary em O Poderoso Chefão 3. Trageridículo.


Nem foi o primeiro. Mazarópi, o pequenino, pegou dois pênaltis em 1976 de Zico e Geraldo, dois primores do balé-bola artístico. No ano seguinte, voou e espalmou a cobrança de Tita, imprescindível para o título carioca. Em 1983, cruzamento sobre a área, em voo cego, Mazarópi deixa a bola escapar ao pé esquerdo do flamenguista Júlio César (não o fabuloso driblador, uma imitação limitada). Um toquinho, Vasco desclassificado e o goleiro ágil e de protuberantes sobrancelhas, é banido para ser campeão mundial pelo Grêmio, sete meses depois.

Nem titular Mazarópi era mais. Jogava por conta do dedo quebrado de Acácio, um gigante jogado ao fogo na decisão de 1982 em lance suicida do técnico Antônio Lopes. Acácio pegou tudo, até um balaço à queima-roupa de Zico e pôs-se ídolo. Até 1986. Um erro bisonho, em chute do tal Júlio César estraga-prazer de camisa 1 cruzmaltino, deixou Acácio na desgraça da ingratidão. Nos três anos seguintes, foi bicampeão carioca e brasileiro.


Martin Silva, remake de Helton em 2001. A cobrança de falta de Pet do Flamengo nos improváveis 3×1 da decisão não seria defendida nem se o esguio camisa 1 vascaíno estivesse com esqui e não luva no inútil salto ao impossível. Ao vazio do fracasso silencioso da própria alma.

O frango é a dignidade violada do goleiro. Displicência, arrogância, surpresa, é a sua morte por afogamento na ira da torcida. Honra pisoteada. Marcelo, vascaíno em 1964. Agachou-se a um chute tosco, do volante Carlinhos e a bola passou por entre suas pernas. Marcelo deixou o campo chorando, amparado por jogadores dos dois times e aplaudido por um Maracanã inteiro. Náufrago de si mesmo. Rendeu-se jamais. Mostrou que, do bizarro, a vida extrai o comovente, a dor de tantos contra um só.

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