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FLUMINENSE 1980, COM A BENÇÃO DE JOÃO DE DEUS

30 / novembro / 2020

por Paulo-Roberto Andel


Quarenta anos depois, o Fluminense de 1980 desperta saudades dos cinquentões em diante. E neste 30 de novembro, é o aniversário de um inesquecível time tricolor, campeão diante de adversários fortíssimos. 

Naquele tempo o Flu vivia uma crise. Não tinha dinheiro e vinha de três anos sem conquistas, algo até então raro na trajetória tricolor. Para piorar, fez uma péssima Taça Guanabara (naquele ano, uma competição separada do campeonato carioca). Por fim, perdeu seu treinador, Zagallo, que foi para o Vasco dizendo que queria ser campeão. 

Ao Tricolor, restou a reconstrução. Um time com vários jogadores jovens, todos formados nas divisões de base do clube, somados a dois reforços: Gilberto, excelente meio campista que veio do Atlético Goianiense mas tinha começado no Botafogo, e Cláudio Adão, um craque mas de futuro incerto depois de praticamente ter sido enxotado de Botafogo e Flamengo. Para liderar a equipe, ficou Edinho, craque de Seleção.

Paulo Goulart, Edevaldo, Tadeu, Edinho e Rubens Galaxe; Deley, Gilberto e Mário; Robertinho, Cláudio Adão e Zezé. O treinador, Nelsinho – uma fera de Madureira e Flamengo nos anos 1960. Mas é justo falar de Mário Jorge, jovem ponta-direita que jogou boa parte do campeonato no lugar do contundido Robertinho.

O Fluminense começou sua campanha longe das manchetes do favoritismo, mas a garotada foi ganhando espaço. Um ponto marcante da jornada foi a goleada por 4 a 0 sobre o Botafogo, devolvendo o placar do ano anterior e com uma atuação de gala de Cláudio Adão, autor de dois golaços. Depois o Flu empatou com o poderoso Flamengo campeão brasileiro (1 a 1) e virou em cima do não menos poderoso Vasco de Roberto, Guina, Paulo Cezar Caju e Pintinho (2 a 1). O Tricolor e o Cruz-maltino terminaram empatados no turno e foi preciso um jogo extra para a decisão do turno. Deu Flu na disputa de pênaltis, 4 a 1 com o brilho do goleiro Paulo Goulart nas cobranças, garantindo o time na final do campeonato.

No segundo turno, a equipe tricolor fez uma campanha irregular. Mesmo assim, não perdeu para os chamados três grandes, empatando com Flamengo e Botafogo em 2 a 2, mais o Vasco em 3 a 3. O Flamengo sonhava com a final mas o Serrano de Anapolina lhe impôs uma vitória histórica e o Vasco faturou o segundo turno. No final das contas, o Flu engoliu a seco mesmo foi diante do America, que o derrotou nos dois turnos. 

A partida final foi disputada numa tarde de chuva no Maracanã. A torcida do Fluminense repetiu o canto de João de Deus, cantado em boa parte da competição – era o tema de homenagem ao Papa João Paulo II, que veio ao Brasil naquele ano. O Vasco tinha um timaço mas era difícil encarar a garotada tricolor. Aos 22 minutos do segundo tempo, Edinho marcou de falta o gol que garantiu o título que quebrou a sequência rubro-negra no futebol carioca. O outrora desacreditado Cláudio Adão foi o artilheiro do campeonato, e Edinho foi o craque do começo ao fim, mas o Fluminense tinha muitos recursos: Mário e Zezé eram rápidos, com suas canhotas mortais e bons chutadores; Robertinho e Gilberto eram extremamente habilidosos e, para completar, o Brasil via um craque de grandes passes e lançamentos surgir no pedaço – Deley, fera! Foi o último campeonato de Cleber, tetracampeão carioca pelo Fluminense. 


Eram tempos de Maracanã lotado, clássicos para mais de cem mil torcedores, a monumental nuvem de pó de arroz e um maravilhoso time que encarou seus grandes rivais olhando de cima. O Canal 100 mostrava tudo antes das sessões de cinema. João Saldanha comentava, Jorge Curi e Waldyr Amaral narravam, as bancas de jornais ficavam alinhadas às segundas-feiras – cheias de gente espiando as manchetes do futebol carioca. E a decisão de 1980 também foi marcada pela despedida de dois ícones tricolores, que também são admirados por todo mundo até hoje: Cartola, a maior expressão da história do samba, que morreu no dia do título tricolor, e Nelson Rodrigues, cuja última crônica (ditada para seu filho, o jornalista Nelsinho Rodrigues) foi a da celebração da conquista – o maior dramaturgo da história do país morreria 21 dias depois da volta olímpica tricolor. 

Quarenta anos depois, o jovem e desacreditado Flu de 1980 é uma página eterna da história do clube. Uma equipe de enorme talento individual, muito empenho coletivo e um jovem craque de 25 anos que liderava o time de ponta a ponta, desarmando, marcando, arrancando para o ataque e fazendo gols: Edinho. Ele foi uma grande herança da imortal Máquina Tricolor e um dos maiores zagueiros da história, não só do Fluminense mas também de todo o futebol brasileiro.

Dos campeões de 40 anos atrás, há muitas imagens, mas a mais significativa é a do treinador Nelsinho à beira do campo no dia do título. Sereno, protegido da chuva por um capuz plástico no banco de reservas, ele mostrou ali a mesma categoria que desfilou antes nos gramados cariocas. Simples e tímido, mas de uma competência enorme. 

@pauloandel

2 Comentários

  1. MARCOS AURELIO DE ASSIS MARTINS

    Sou testemunha ocular deste feito. Fui a váriis jogos, inclusive a final, que culminou no gol do Edinho. (Estava atrás do gol, na INFLUENTE). Paranéns pelo texto tão fidedigno. ST4!!

    Responder
  2. Josias dos Santos Lima

    Esse time era chamado pelos outros de timinho pois a maioria veio da base , um time desacreditado pelos outros mais jamais por nós tricolores.

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