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ALBERI E O MENINO

5 / maio / 2020

por Rubens Lemos


Alberi nem é o grande ídolo do redator que vos tecla. No ABC, reverencio Danilo Menezes, Marinho Apolônio e o Franco-seridoense Dedé de Dora, monsieur dos toques elegantes, amigo que morreu dois dias depois de receber um abraço meu, lacrimejante, no hospital. Dedé não sabia que estava com câncer nem sabia que eu sabia do seu fim iminente.

Alberi me surgiu no América. Derrotou meu time. Voltou ao ABC como uma sombra do passado de um dos melhores do Brasil no meio-campo ou de centroavante. Jogando de Alberi, Alberi vencia tudo. 

Saído da adolescência, entrevistei-o várias vezes e, ao vê-lo, uma atmosfera de sol iluminava a penumbra escura de sua sala de estar modesta ou a mesa noturna de algum barzinho, ele que nunca foi chegado ao álcool.

Cantei a mim mesmo. “Foi a emoção da primeira vez.” Repetida todas as vezes ao longo dos 39 anos em que trombei com Alberi por algum motivo. Sua estampa banta é a realeza elegante de um  condutor de massas amado como pai e irmãos dos desassistidos de alegria.

Um drible, um chute, uma obra-prima como a que ele desenhou com os pés em 1982, aos 37 anos, vaiado pela Frasqueira e colocando a bola com um míssil no ato da trave de Caetano, goleiro do América. Foi 3×3 este jogo. 

O magnetismo de Alberi supera sua rara simpatia pessoal. Não é um extrovertido nato igual a Danilo Menezes, nem tem a simpatia ingênua de Marinho Apolônio. É um homem sinalizando cansaço espiritual. 

No último fim de semana, encantou-me no Twitter uma fotografia belíssima no velho Castelão nos primeiros anos 1970 em que Alberi fazia do estádio morto, passaredo de crianças em torno do seu canto de canário alvinegro.

Janser Cavalcanti Júnior é um velho amigo. Hoje executivo empresarial , jogava muita bola em nossa infância contemporânea, sendo eu perna de pau. Janser foi mascote. Eu também fui. Foi um ótimo jogador de futebol de salão, eu, jamais.

A imagem de Alberi e Janser é a conjunção lenda e crença, show de bola e gratidão, esbanjamento de craque e tensão de admirador.

Éramos melhores, nós, os meninos de antigamente. Procurávamos imitar os cobras que víamos bailando ao som da valsa carnavalesca do futebol. Jogávamos na rua, pés descalços, fé no futuro em campo profissional.

Na foto de posteridade, Alberi e Janser representam, juntos, há quarenta e tantos anos, o feitiço capaz de reproduzir o impossível replay dos sonhos bons. Da veneração abençoada e tímida de um menino pelo seu Deus em chuteiras.

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3 Comentários

  1. RICARDO MANCHESTER

    Texto emocionante ,e assim que guardamos na memória afetiva e viva das marcas que o FUTEBOL trás..

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    • Cid Andrade do Monte

      Escutei muitos jogos do ABC FC pelo rádio como também fui a algumas partidas onde Alberi jogou e deixou as suas marcas nos adversários contra os quais disputou muitas partidas desde a época do antigo Estádio Castelao. Fazia muitos gols de falta.

      Responder

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