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SANTO ANDRÉ 2004

30 / abril / 2019

por Marcelo Mendez


“Porque vocês não sabem

Do lixo ocidental?

Não precisam mais temer

Não precisam da solidão

Todo dia é dia de viver…”

Na música em questão, Milton Nascimento mandou um recado para Lennon e McCartney, a dupla dos Beatles que era tão presente no mundo, mas tão distante das Minas Gerais dele ali em 1969. Os Moços de Liverpool não sabiam nada do lado de cá do mundo, do nosso Lixo ocidental.

Guardemos as tais das devidas proporções mas transpondo isso para as questões ludopédicas, pra falar da bola que se joga, eu afirmo aqui que vocês, meus amigos do Museu da Pelada e do Brasil todo, não faziam a menor ideia de nós aqui, os barnabés de Santo André. Nós, que fomos forjados nas chaminés das indústrias que forravam o centro da Cidade, que crescemos na beira do Rio Tamanduateí. E nem saberiam, se não fosse 2004.

Hoje, ceis vão me dar licença aí, rapaziada; A coluna ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO vai falar de um timaço que fez vocês todos saberem aqui do nosso lixo ocidental.

Com vocês, o Santo André 2004.

A TRAJETÓRIA

Não foi fácil o pique da remada nossa.


Primeiro porque tínhamos um time e esse foi desfeito no meio da Copa do Brasil. O Ramalhão havia começado bem a competição, passou bem pelo time do Novo Horizonte de Goiás e quando começamos a querer nos animar por aqui, um convite do Sport fez sair o técnico Luiz Carlos Ferreira e com ele uma porrada de jogadores.

O Santo André teve que se reformular, precisou contar com nomes de trabalhadores, operários da bola como Elvis, Romerito, Sandro Gaúcho, jovens peitudos como o zagueiro Alex, o meia Tassio, oriundos da base campeã da Taça São Paulo em 2003, para assim, fechar com o técnico Péricles Chamusca e recomeçar uma campanha que foi nada menos do que épica.

No caminho do Santo André, foram ficando times como Guarani, Atlético Mineiro, que tomou um passeio no Bruno Daniel, um 3×0 mais um baile de bola, uma batalha Homérica com o Palmeiras, com um empate de 3×3 no Brunão e no Palestra Itália 4×4 após estar perdendo por 4×2. O time criou uma casca necessária para ir para uma semifinal insólita, daquela que vocês decerto jamais imaginariam para uma competição nacional.

O Santo André enfrentaria o XV De Campo Bom.

A PRIMEIRA ILÍADA

Assim como o Bruno Daniel foi vetado para a semifinal, o estádio de Campo Bom também não poderia ser usado. Na semi, o primeiro jogo foi no Pacaembu, o segundo seria no Olímpico. Aqui cabe uma observação; Na história do Esporte Clube Santo André, num tem essa conversa ae “Jogar Fora é complicado”. O Santo André conseguiu todos os seus feitos, os mais marcantes de sua história, longe do Estádio Bruno Daniel. O Acesso em 1981 no Palestra Itália, a arrancada de 1975 em Limeira, as batalhas contra o São José em 1978…

A História seguia seu curso na Copa do Brasil.

O Ramalhão perdia a semifinal por 4×1 para o bom time treinado por Mano Menezes. Na raça, foi buscar o empate de 4×4 e foi novamente para o segundo jogo tendo que vencer fora de casa. O jogo da volta ficou para o Estádio Olímpico, frio, gélido, vazio. O ambiente para a partida era tranquilo e dessa forma, o Santo André foi para campo e conseguiu mais uma virada histórica; 4×3 no placar e a vaga para a final.

Vaga para entrar para a história e o Ramalhão não perdeu a chance…

A SEGUNDA ILÍADA

Em instante algum o Santo André esqueceu a grandeza do Flamengo, adversário da grande final. Mas não precisa nem dizer o que as Gentes de lá tavam pouco se lixando para nosso time daqui do Abc.

A imprensa futeboleira tratava a coisa como algo protocolar; O Flamengo viria aqui em São Paulo, conseguiria uma boa vantagem para a segunda partida no Rio de Janeiro, jogaria por lá à vontade e em seguida, faria a festa, aliás, festa essa que já estava contratada. Ivete Sangalo estava no Copacabana Palace, só nos aguardo para que após a segunda partida, fosse lá fazer a festa rubro-negra. Mas esqueceram de combinar tudo isso com o Santo André…

No primeiro jogo no Parque Antártica, até o Galvão Bueno já dava como certo o festerê no Maracanã. Ninguém imaginava que algo poderia dar errado e quando Ibson abriu o placar no primeiro tempo, o amigo da Rede Globo só faltou ir lá se rebolar ao som de “Poeira”, hit de Ivete na época. Mas esqueceram de um detalhe fundamental:

O Santo André não tem medo de jogar em lugar nenhum.

Virou aquele jogo com gols de Osmar e Romerito e o Flamengo achou um gol de empate no final do segundo tempo. O Rubro Negro tinha tudo para entender o recado dado e saber que não ia jogar contra um coadjuvante de festa. Mas dae…

A HORA DA GLÓRIA

Uma bola sobrevoou a área em uma noite no Maracanã lotado.


Poderia encontrar qualquer lugar, mas resolveu ir atrás da cabeça de Sandro Gaucho. Era o 1×0 que causaria o primeiro grande silêncio do Maracanã. Pouco depois, foi vez de Elvis meter o segundo prego no caixão Rubro-Negro e dae já era 2×0, o Ramalhão campeão, festa aqui no Abc e no Maracanã.

A torcida do Santo André, acostumada com os festejos na casa alheia, num se fez de rogada em comemorar o título mais importante de sua história no Maracanã e ainda por cima, entoar o canto de “Poeira”, o hit da moça, que tava contratada lá pra fazer a festa, lembram?

Teve não.

Naquela noite, o Maraca foi azul e branco, na história, o campeão da Copa do Brasil de 2004 foi o Santo André.

Júlio Cesar, Dedimar, Alex, Gabriel, Nelsinho, Dirceu, Ramalho, Elvis, Romerito, Osmar, Sandro Gaucho, treinados por Péricles Chamusca, são os responsáveis por tudo isso.

Santo André 2004, o Esquadrão de Hoje, aqui no Museu da Pelada

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