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OS PIONEIROS

18 / outubro / 2017

por Sergio Pugliese


Da mesma forma que o futebol de salão virou futsal e o futebol de praia, beach soccer, o soçaite, criado em 1954, foi rebatizado de Fut7 e transformou-se na modalidade futebolística da vez. Mas se os nostálgicos não se dobram aos modismos, o que dizer dos pioneiros, os precursores do esporte?

– O nome pode até mudar, mas a essência não morrerá nunca – garantiu Ary David de Almeida, considerado um dos maiores jogadores de soçaite de todos os tempos.

Ary era a grande estrela do Pioneer, primeiro time de soçaite da história, montado pelo saudoso José Luiz Ferraz, dono da construtora Santa Isabel, e que apresentava-se, nas tardes de sábado, no impecável gramado de seu terreno, em Corrêas, distrito de Petrópolis.

– Aquilo era o paraíso e o time deles, praticamente imbatível – reforçou Pedro Tartaruga, ídolo do Santo Inácio, um dos adversários que sofreu nas mãos, na verdade nos pés, dos craques do Pioneer.

Nossa equipe reuniu Ary David, Pedro Tartaruga, os irmãos Paulo e Thomas Sá, também do Santo Inácio, e Zé Brito, do Milionários, boleiros que tiveram o privilégio de participar do nascimento do soçaite, em Corrêas. Imaginávamos um encontro pacato, mas rivalidade é rivalidade e Ary David resgatou do fundo do baú uma goleada de 21 x 3 do Pioneer no Santo Inácio. A casa caiu!!!!

– Sinceramente, não me lembro disso – esquivou-se Paulo Sá.

– Nesse dia, não fui – defendeu-se Pedro Tartaruga.

Thomas Sá preferiu rir, mas Ary David, iniciou uma sessão de hipnose, praticamente uma regressão, e conseguiu ativar a memória de Thomas, que tinha argumentos convincentes, como a falta de hábito de jogar sem o impedimento, uma das regras da casa. José Luiz Ferraz também estabeleceu que as cobranças de falta seriam indiretas, a marca do pênalti ficaria a oito passos do gol e a baliza mediria cinco metros de largura e dois e dez de altura. E se Ary David era uma máquina de fazer gols com linha de impedimento, imagine sem! Naquele dia, fez um caminhão, mas pediu para o árbitro encerrar a partida quando o placar marcou 21.

– Os amigos não mereciam aquele tratamento – divertiu-se ao lado dos companheiros da vida toda.

Mas os craques do Santo Inácio não sofreram sozinhos. O escrete do Pioneer colocou muita gente na roda, inclusive profissionais como Gerson, Ayrton Povil, Pampolini, Carlos Alberto Torres, Zizinho e Zagallo, além de clubes tradicionais, como Juventus, Lagoa, Columbia e Real Constant.

– Também ganhamos do Milionários – acrescentou Ary David.

– Do Milionário, não!!! Esquece!!! – bradou Zé Britto, que numa de suas belas atuações em Corrêas, como adversário, acabou contratado pelo Pionner.

Além de Zé Britto, Ary David e José Luiz Ferraz, o Pionner também tinha Marcos André, Moacir Lobo, Valdir, Ary, Átila, Eurico Louro, Raphael de Almeida Magalhães e Rivadávia Corrêa Meyer e Luiz Fernando Secco. Mas o pessoal da alta sociedade também disputava uma vaguinha na equipe e atraía a atenção da imprensa. Empresários como Tony Mayrink Veiga, Álvaro Catão, Didu Souza Campos, Antônio Piano e o construtor Celso Bulhões de Carvalho, além de Miéle, Armando Nogueira e Luiz Carlos Barreto, eram personagens constantes da coluna de Maneco Muller, no Diário Carioca e Última Hora, e bom goleiro, que aproveitou um termo já existente, o café society, para criar o futebol soçaite.

– Não duvide que a resenha também tenha nascido lá – comentou Ary David, que participou de muitas rodas musicais, pós-pelada, com Adalgisa Colombo e Dorival Caymmi.

A rapaziada aprendeu direitinho e até hoje mantém a garganta em forma, afiadíssimo nas resenhas. Se dependesse de Zé Brito, Ary David, Pedro Tartaruga e dos irmãos Paulo e Thomas de Sá estaríamos até agora brindando uísque e cerveja, no apartamento do artilheiro Ary David, que cobriu a mesa com fotos e recortes da época. Cada imagem, uma lembrança. Sorrisos e lágrimas, heróis e pioneiros.

Texto publicado originalmente na coluna A Pelada Como Ela É em 20 de agosto de 2015.

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