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O VÍCIO DA BOLA

7 / dezembro / 2017

por Evandro Sousa


Desde cedo, ainda garoto, o futebol corria nas minhas veias. A minha escolinha foram as ruas enladeiradas de paralelepípedos do bairro de Santa Teresa. Corria atrás da bola todo dia, de dia e de noite, era um vício. Nas quadras do colégio Tomaz de Aquino antes de começar a aula, no recreio, na aula de “ginástica”, não tinha tempo, nem hora, todo dia era dia de bola.

A medida que fui crescendo, passamos a jogar no Capri, campinho de terra, em um terreno de um castelo abandonado, próximo ao Museu da Chácara do Céu. Nos sábados e feriados, as peladas eram concorrida, e conheci outros viciados da bola por lá. Era permitido jogar com um pé direito ou esquerdo de umpar de conga ou kichute, alguns dividiam o par com o outro, conforme o pé, uma tornozeleira, outros tinham um “rainha”, não interessava, o importante era jogar. Guará, Vitinho, Wilsinho, Beto Negão, Sizinho, Xuxito, Gusto, Thomas “Banks” e tantos outros. Ah, Sizinho era um jogador alto, canhoto que chutava forte e tirava onda com a galera quando fazia gol. Sizinho era como chamavam o Sérgio Pugliese, que ainda é viciado em bola.

Logo conheci Seu Miguel, presidente do Santa Teresa FC, time de pelada que disputava seus jogos nos torneios do Aterro do Flamengo. Com sua Kombi, todos os domingos pela manhã, saía recolhendo os meninos, como ele chamava, para mais um jogo. A charanga do Santa Teresa e seus torcedores que desciam do Morro do Fallet para  empolgar a molecada. Mas ao mesmo tempo eu jogava futebol de salão pelo Ginástico Português, clube social, localizado no centro do Rio de janeiro


Santa Teresa FC

Ate que fui convidado para fazer um teste no Flamengo. Me deram um cartão com minha foto e o local onde eu teria que me apresentar para o teste. Me sentia jogador do Flamengo, apesar de ser botafoguense. Durante um mês e meio, toda terça à tarde, me dirigia para a Ilha do Governador e o campo do Cocotá parecia a bandeira do Brasil, só era verde no losango, o meio era careca e muita areia. O treinador era o saudoso Dida, paciente, e mais de 300 meninos a cada terça tinham vinte e cinco minutos pra mostrar o que valiam. Todo mundo corria atrás da bola e no final ele dizia quem tinha que voltar (minoria) e a tantos outros um boa sorte. Assim, fui ficando, cada vez que meu nome estava na lista da próxima semana, saía feliz da vida. Depois, fomos para outra base de avaliação em Marechal Hermes. Lá passei mais seis semanas com um grupo mais selecionado, e assim eu e mais dois garotos fomos parar na Gávea. Tive a oportunidade de ver Zico, meu ídolo, treinar exaustivamente e repetitivamente faltas até escurecer, ao ponto do goleiro Cantareli nem enxergar aonde a bola entrava. Mas a passagem não foi duradoura. Em um período de viagens do juniores, o treinador Julio César me pediu para aguardar ele chegar de viagem, mas fui treinar no Botafogo escondido. O supervisor descobriu, me deu uma bronca, fiquei envergonhado e fui embora. No Botafogo, o treinador era Joel, ele disse que eu não iria ficar e ordenou que eu fosse trabalhar e ajudar a minha mãe que tinha mais futuro. Nem Botafogo, nem Flamengo.


Estava de férias, jogava minhas peladas e em uma viagem a cidade de Caruaru, Pernambuco, onde nasci, souberam que tinha passado pelo juniores do Flamengo, e me convidaram para jogar o Campeonato Pernambucano de Juniores pelo Central SC. Fomos campeões Pernambucanos em 1983, primeiro título oficial do Central de Caruaru, e logo fui promovido para o profissional. Na equipe principal, fomos campeões do módulo amarelo da Série B do Campeonato Brasileiro de 1986. Vale destacar que durante o Campeonato Brasileiro pelo Central, fomos jogar a principal contra o Fluminense, no Maracanã, e quando cruzamos nos vestiários com o pessoal do Botafogo, que tinha feito a preliminar, cruzei com o treinador Joel Martins, aquele que havia me dispensado do Botafogo e dito que eu não teria sucesso.

Em seguida, em 1988, fui para o Santanese, clube da 3ª divisão do Campeonato Paulista.

Em 1989, contratado pela Chapecoense, fui capitão do time e muito bem recebido pelos dirigentes e povo daquela cidade. Capitão que é capitão ajuda na gestão do grupo, e em uma situação caricata me chamaram para resolver um problema com o jogador Lima, que havia se lesionado. Recém-emprestado pelo Atlético-PR, o atleta gostava da noite, e havia uma ordem para fechar a porta da concentração às 23h. Acontece que Lima se empolgou e chegou depois da hora. Como fecharam a porta e não abriram, ele escalou o muro lateral do prédio, subindo pela calha de alumínio, que não resistiu, e o jogador caiu em cima da garagem do vizinho. Resultado: lesão e demissão por indisciplina.

 Em seguida, tive uma passagem pelo Brusque, onde disputei segunda divisão do Brasileiro, antes de ser contratado pelo Joinvile, quando tive o prazer de jogar com Nardela, Moreno e outros bons jogadores.


No final de 1990, embarquei para Portugal com a promessa de que estava tudo acertado com o Braga, mas era conversa do empresário, que queria que eu fizesse teste. Quase voltei, mas fiquei dois meses treinando em um clube de Lisboa em um campo de terra, até que vesti a camisa dV Torrense, clube da cidade de Torres vedras. Assinamos por seis meses, e depois de 27 anos na segunda divisão, conseguimos o acesso à primeira, no último jogo, no último minuto. Uma festa, a cidade parou para celebrar o feito e Fiquei mais dois anos no clube.

Em seguida fui convidado para ir para Tirsense FC, clube da 2ª divisão da cidade de Santo Tirso, próximo ao Porto. Fomos campeões ganhando o acesso à primeira divisão e só perdemos um jogo, o último. Em seguida na elite do futebol português, fizemos um excelente campeonato, mas, até onde eu sei, não fomos às competições europeias por questões políticas no clube. Ganhei o prêmio de melhor médio direito estrangeiro do campeonato.

Com a campanha, fomos contratados pelo Braga com objetivo de alcançar às competições europeias. Não conseguimos, voltei para o Tirsense que tinha caído de divisão e a estrutura já não era mesma. Em seguida fui para o Marco de Canaveses, clube de uma excelente estrutura de trabalho, na segunda divisão. Acontece que antes de acabar o campeonato, faltando oito jornadas, o treinador entregou o cargo e juntamente com a diretoria me indicou para assumir como treinador. Na época, com 34 anos, fiquei assustado, mas peguei o desafio, e ainda tivemos um aproveitamento de quase 70%. Chegaram a falar que, se eu tivesse assumido antes, o clube subira.


De férias no Brasil, fui convidado pelo presidente do Central, um delegado na época, para assumir o time, pois tinha caído de divisão, estavam sem dinheiro e sem estrutura para contratar. Uma lembrança, toda vez que o presidente queria conversar comigo ele colocava as duas pistolas em cima da mesa, não para me intimidar, mas para dizer sempre que quem tentasse prejudicá-lo ganharia bala. Aceitei o desafio, com uma equipe de garotos da região fomos campeões da segunda divisão do Campeonato Pernambucano, meu terceiro título no Central e oficial do clube.

Em seguida a AGA, clube da cidade de Garanhuns-PE, me convidou para  um projeto de subida de divisão. O amadorismo era grande, mas também uma escola para mim. Conquistei mais uma vez o Campeonato Pernambucano da segunda divisão, em 2001. Montamos uma bela equipe e, além disso, ajudamos a gerenciar o clube na primeira divisão, que terminamos em 5º lugar com o menor orçamento da competição.

Fiz cursos de gestão esportiva, de treinador, depois estive no Porto de Caruaru, clube de formação que lançou grandes jogadores no Brasil e no mundo, como: Rômulo (Flamengo), Josué (São Paulo), Araújo e tantos outros. Lá fui treinador, supervisor e até coordenador técnico.

Mas teve um tempo que cansei do amadorismo, e a falta de oportunidade em um clube melhor me desestimulou. Mas como futebol é um vício, me convidaram para ser comentarista em uma rádio de Caruaru, e durante alguns anos colaborei com as resenhas esportivas. Certa vez, estava comentado um jogo entre Central x Náutico, e as cabines de rádio ficavam bem acima da torcida do Timbu. Após comentar que o time do Náutico era fraco, a torcida só não invadiu a cabine graças a Deus e aos policiais militares. O vício continua, assistindo na TV, nos campos, e hoje colaborando com o Museu da Pelada com a minha história.

 

 

 

 

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