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NOCAUTE

7 / junho / 2016

:::: por Paulo Cezar Caju ::::


Em primeiro lugar gostaria de dizer que a morte de Muhammad Ali foi um direto no meu queixo. Era uma lenda, um líder que usou a sua notoriedade e o seu espaço na mídia para gritar contra o racismo. Entre as muitas histórias que ouvimos a seu respeito, uma me comove porque vivi algo semelhante, a de não ser atendido num restaurante por ser negro. Estava com o time do Botafogo, no Sul, e demos meia-volta. É uma dor profunda e ao mesmo tempo uma vontade de sacolejar o mundo e perguntar o que está havendo com a humanidade. Mas essa perseguição nos acompanha até hoje e não podemos nos calar.

As frases de Ali não saíam de minha cabeça e fiquei imaginando como seria o maior pugilista de todos os tempos assistindo à péssima estreia do Brasil, na Copa América. Tadinho. Primeiro teria que lhe explicar que aquele goleiro com pinta de galã, que tomou um frango espetacular, entrou pela janela na vaga de um negro, cortado da seleção sem maiores explicações. Não, Ali, não quero imaginar que tenha sido por causa de sua cor, apesar de nosso técnico….deixa para lá.

Também teria que contar para Ali a história de Barbosa, outro goleiro negro que comeu o pão que o diabo amassou. Como seria Ali assistindo a esse Brasil de hoje??? O cara esteve na despedida de Pelé, do Cosmos! Encontro de reis!!! Se temos algum rei hoje, Ali? Esquece, nem time temos. Nossos jogadores são de clubes, não de seleção, e alguns nem de clube são. Ali, não me pergunte o que esse goleiro, o do frango, está fazendo ali. Me parece que é para ser valorizado, que os clubes da Europa só contratam quem passou pela seleção. Mas deve ser mais uma das balelas que ouvimos por aí.

Ali, olha, olha aquilo!!! Deve ser uma homenagem para você!!! O lateral Filipe Luís foi nocauteado pelo próprio companheiro!!!! Surreal!!! É boxe, Ali, é boxe!!!! Dunga, numa boa, porque não aproveita esse clima de boxe e joga a toalha!

 

– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 7 de junho de 2016

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