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NANÃ É ZAGUEIRÃO E ANTI-HERÓI É O DIABO!

21 / novembro / 2017

por Marcelo Mendez


A várzea da vez em Mauá…

Para mim a ida até essa cidade sempre tem um charme, um elã de algo muito especial que me acomete quando saio da redação do jornal rumo aos bons terrões de lá. Uma sensação muito boa, gostosa, me sinto muito bem.

Da janela do carro vejo seus muitos bairros, suas pessoas, sua peculiar alegria que acomete a cidade nos domingos pela manhã. Fecho os olhos, sinto o vento quente da manhã de verão de encontro a meu rosto, penso no Mississipi; O verão de lá do sul…

Com um milhão de blues cantados por Johnny Shines, encho meu coração de poesia para mais um relato que não há como ser menos épico. Não se tem uma verdade inexorável, intrínseca e inconteste para tal. São várias as formas de se ver a coisa, mas não sei. Para mim, Mauá é muito de verdade, muito intensa, muito autêntica.

Trata-se de uma cidade que se assume como tal. Popular, alegre, bem resolvida com o que há de mais prazeroso, eu diria que Mauá é a cidade hedonista da região. A Cidade que melhor se diverte. Sua várzea não poderia ser diferente.

Espalhados em varias divisões, seus times são todos formados por comunidades comprometidas e torcedores apaixonados. Em um mundo que muda a cada minuto, com as exigências do futebol elitizado batendo na porta da várzea, pode-se dizer que Mauá resiste aos profissionais e o espírito da velha tradição do futebol amador se mantém em suas canchas. Domingo último, pela final da Copa Lourencini, tive contato com um desses que sem dúvida, personifica esse espírito varzeano.

Falo de Nanã, zagueiro do Hélida Mauá.

Em uma bola que o time do Santa Rosa atacava com seu camisa 10, o craque Camisinha, tivemos o embate. Camisinha vinha com toda a sanha de pernas e requebrados pra cima do zagueiro. Este por sua vez, não piscava o olho, mantinha-se atento a tudo e tal e qual o “Homem que Matou o Facínora” do filme de John Ford, esperou o momento certo para dar o bote; Preciso, firme, na bola.

Em outro lance, o atacante veio pra dividir com tudo e Nanã, deu-lhe uma escorada no ombro mandando longe de sua área qualquer tipo de problema que o 9 adversário causasse. Olhei para ele.

Pouco riso, fala nenhuma e ar contrito. Mas esse negócio de “Contrito” para a várzea num serve. Aqui o nome é cara feia, mesmo! Nanã é o zagueirão cara de mal típico. Não fica de risinho, não gosta de gracinha, não perde tempo, não inventa moda, não perde bola para atacante, nem tempo.

Zagueiro de várzea num é dado a frescuradas. Chega quebrando mesmo. E tem que chegar…

Diria um outro que o visse que, “não se trata de um zagueiro clássico”. Eu digo que se trata de um zagueiro digno. Um homem honesto e verdadeiro, que, sabedor de seu papel de anti herói, o faz com uma dignidade comovente. Emocionante vê-lo como o que para muitos seria um vilão. Não, Nanã é muito mais que isso.

Sabedor da responsabilidade que carrega no bico de suas chuteiras cor de laranja, o zagueiro não foge as suas origens, as suas crenças, a sua gente. Com a camisa do Hélida, o zagueiro defende os amores todos de uma comunidade que luta para viver, que aguenta a dureza do dia a dia e que precisa ao menos aos domingos pela manhã, de um réquiem de paz e alegria.

Defendendo a meta do Hélida, Nanã defende o sonho dessa gente toda e eles lhe são muito gratos por isso. Ao término do match, o Santa Rosa venceu o Hélida, mas Nanã não perdeu.

Saiu de campo vitorioso, porque sua existência enquanto zagueiro varzeano é por si só, grandiosa.

Nanã, o Grande!

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