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JOGO INESQUECÍVEL

28 / junho / 2017

por Luciano Pires

Campeonato Brasileiro de 1999. Meu Coringão vai jogar contra o São Paulo no Morumbi, jogaço que eu estava louco pra assistir. Um amigo – sãopaulino – disse que conseguiria dois ingressos de camarote para eu assistir ao jogo. É lógico que eu topei. Mas havia um problema: era no camarote oficial do São Paulo, no meio dos cartolas. Eu, corinthiano, estaria rodeado dos mais fanáticos sãopaulinos e não poderia dar um pio, sob pena de ser linchado. Achei melhor não ir, mas depois, pensando bem e diante da perspectiva de um jogão de bola, topei.

Convidei um amigo, outro corinthiano roxo, e lá fomos os dois. Mordomia total, estacionei o carro debaixo da arquibancada e subimos para o camarote para dar de cara com centenas de sãopaulinos fanáticos se preparando para o jogo. E eu e meu amigo, na moita. Fomos entrando sem dar bandeira, preocupados que alguém achasse que tínhamos cara de corinthianos e nos acomodamos, quietinhos. Do outro lado dos vidros, milhares de corinthianos xingando quem estava dentro do camarote, eu e meu amigo inclusive. Não tinha como dizer pra eles que nós éramos os mocinhos… E começa o jogo, nós dois nos policiando para não dar bandeira. Nenhum movimento brusco, nenhuma encarada, só olhando pro campo e torcendo em silêncio, até que aos 23 minutos, Nenê marca o primeiro gol do Corinthians! Olhamos um para o outro discretamente, com um sorriso mental… e a corinthianada furiosa do lado de fora esmurrando o vidro do camarote. Seis minutos depois Raí marca para o São Paulo e o camarote explode. Eu e meu amigo fingimos que comemoramos…

Três minutos depois, Ricardinho marca o segundo do Timão. E eu comecei a suar frio, reprimindo o berro. Meu amigo idem. No final do primeiro tempo Jorginho, de cabeça, empata para o São Paulo. Com 2×2, no intervalo fomos ao banheiro aliviar a tensão. Que loucura…

Começa o segundo tempo, tenso, e aos sete minutos Marcelinho cobra uma falta e coloca o Timão à frente: 3×2. A torcida vai à loucura e os corinthianos começam a escalar o vidro do camarote, falando palavrões que eu não conhecia. Os sãopaulinos emputecidos e eu e meu amigo explodindo por dentro! 

E então acontece… Aos 17 minutos do segundo tempo, pênalti para o São Paulo. O camarote enlouquece. Raí coloca a bola na marca e prepara-se para chutar. Eu tento fechar os olhos, mas não dá. Ele chuta! E o goleiro do Corinthians, Dida, defende… Uma gritaria imensa, com os olhos esbugalhados olho pro meu amigo, que também esbugalhado me olha. Os dois suavam, os músculos do pescoço tensos, um grito amarrado na garganta!! Continua o jogo, na pressão, e pronto! Outra vez! Aos 45 minutos do segundo tempo, outro pênalti para o São Paulo. O camarote vai à loucura! Novamente, Raí coloca a bola na marca e faz aquela pose característica com as mãos à cintura. Silêncio mortal. Raí corre para a bola, chuta e o Dida defende de novo!

Meu amigo não suporta, levanta e grita:

– Mas que filho da puta!

Até hoje os sãopaulinos tem certeza que ele estava xingando o Dida…

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