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DJALMA SANTOS, MASOPUST… QUANDO O TEMPO JAMAIS APAGARÁ O CARINHO

23 / julho / 2019

por André Felipe de Lima


“O menino pobre tinha um sonho. Todo menino sonha. Uns querem ser médico, outros advogados, alguns escolhem, contudo, as profissões mais improváveis. E aquele menino tinha um anseio pouco comum. Queria ser aviador. O pai, Sebastião dos Santos, chefe de uma família modesta, com parcos recursos financeiros, sugeria outra carreira para o garoto, alertando-o para a vida difícil que ronda a porta de quem é assalariado no Brasil. “Militar é melhor, filho”. O menino fazia ouvidos moucos. Toda a vez que olhava para o céu imaginava-se no comando de um jato. Mas se o devaneio insistia, ele acordava. Ecoava a voz do pai. Ademais, tinha mais um sapato para consertar e nada de perder tempo.

“O menino sobre o qual escrevemos foi sapateiro. Quando não mexia com sapatos, vendia pipoca em portas de circo. Trabalhava de forma incansável, apesar da bronquite crônica decorrente de uma pneumonia, para juntar um dinheirinho e pagar, quem sabe, o tão acalentado curso de aviação.

“Em meio a uma montoeira de sapatos, o menino feriu a mão direita. Não podia ser mais sapateiro e tampouco piloto. O sonho, já muito longínquo, tornou-se impossível. Acabou. E foi regozijar-se jogando bola no time de várzea chamado Internacional, o da Parada Inglesa, bairro da zona norte paulistana. Gostava de jogar bola, mas não tinha nenhuma pretensão quanto a isso. Nunca se imaginou no gramado de um estádio de futebol. Seu sonho era o céu. Mas não deu.”


O trecho acima é parte da biografia que escrevi do Djalma Santos, o maior lateral-direito da história do Palmeiras e, para muitos, da seleção brasileira. Tive o prazer de entrevistá-lo, na tarde de 24 de junho de 2012, em São Paulo, para o documentário “Simplesmente passarinho”, que narra a vida de Garrincha, mas que, infelizmente, está paralisado por falta de apoio cultural. Mas essa é uma outra história. O que importa recordar agora é o papo delicioso ao lado de cinco craques da antiga Tchecoslováquia, dentre eles Jelínek e Masopust, este o maior jogador tcheco da história.

Foi tudo inusitado. Eu e minha esposa, a jornalista e pesquisadora Suellen Napoleão, havíamos agendado com o cônsul da República Tcheca uma entrevista exclusiva apenas com os antigos craques tchecos para o filme. Antes do papo oficialmente gravado para o cinema, conversava com o maior deles, Masopust, obviamente com a ajuda de um intérprete, no saguão do hotel, quando olho para a entrada do recinto, percebo a chegada de Djalma Santos. Uma incomparável emoção. Pedi ao Masopust que aguardasse um pouco, pois havia uma surpresa para ele. Abordei Djalma e disse o mesmo para ele. Quando os coloquei um diante do outro, abraçaram-se imediatamente. Ficaram ali, diante de mim, abraçados uns seculares e indefiníveis 10 segundos. A cena foi uma das mais bacanas que presenciei durante minha jornada com ídolos do futebol. Ambos não se viam desde o dia 17 de junho de 1962, ou seja, desde a data da final da Copa do Mundo de 1962. Um elogiou o outro efusivamente e recordaram alguns minutos antes da entrevista a final daquela Copa. Confessaram-se muito emocionados com o reencontro. Djalma fitou-me os olhos e disse o seguinte para mim, e isso jamais esquecerei: “A amizade não tem fronteiras… muito menos as do tempo”. O que pensar, meus amigos, após o generoso gesto de um ídolo como Djalma? Chorei solitário e silenciosamente.

Djalma foi uma simpatia. Conversou bastante comigo e Suellen após a entrevista. Parecia querer permanecer ali, conosco, recordando o monstro sagrado que foi (permanece sendo!) do futebol.


Bicampeão mundial em 1958 e 62, Djalma Santos foi um jogador magistral. O grande ídolo vivia em Uberaba, no interior de Minas Gerais, ao lado da esposa, Esmeralda. Após a aposentadoria, escolheu a cidade mineira como retiro porque a primeira esposa, já falecida, tinha primas que moravam em Uberaba. Sempre que podia, Djalma passava férias por lá.

Coordenou por 11 anos o projeto “Bem de Rua, Bom de Bola”, em que participavam mais de 4 mil crianças da região. Tudo funcionava bem até o ex-ministro dos Transportes, Anderson Adauto, assumir a Prefeitura local. “O projeto foi desfeito por causa desse negócio de política. Não gosto de me meter, não sou de lado nenhum, sou de Uberaba. Mas acabou por quê? Para não deixar lembrança do antecessor”. Apesar do fim do projeto social, Djalma continua trabalhando com crianças, como monitor de esporte de núcleos de treinamento mantidos pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Ser treinador sequer passou pela sua mente. “Meu caráter não dá para isso. O treinador precisa ser cara-de-pau.”

Todo domingo Djalma Santos levantava às sete da manhã, calçava chuteiras e dirigia o carro por um percurso de cinco quilômetros, de sua casa, na rua Martim Eminato, no bairro de Tassio Rezende, até o Uberaba Country Club. Ele e mais outros veteranos participavam de uma pelada dominical sagrada. “A gente fica só chutando. Depois do jogo, a gente assa um peixe, toma cerveja e joga um baralhinho”. E o Djalma Santos? Como sempre, inteirinho da Silva. Mas no dia 23 de julho de 2013 —exatamente o aniversário da minha esposa e companheira Suellen Napoleão — fomos surpreendidos com a partida do carinhoso Djalma para o céu, onde o craque, sem dúvidas, guarda um lugar cativo no rol dos deuses do futebol.

VÍDEOS

CONHEÇA A HISTÓRIA DO JOGADOR DJALMA SANTOS

http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/mgtv-1edicao/videos/v/conheca-a-historia-do-jogador-djalma-santos/2712959/

Homenagem ao bi campeão Djalma Santos

TV CULTURA/ UMA ENTREVISTA MUITO BACANA AO LADO DE VAVÁ E GILMAR

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