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BANGU 1985

7 / janeiro / 2019

por Marcelo Mendez


A história do time que vamos contar hoje começa nos sonhos do velho Senhor Eusébio de Andrade, nos teares das fabricas de tecido de Bangu, passa pelo Rio Maravilha dos anos 60, se consolida a partir dos anos 70 com um nababesco Chefão do Jogo do Bicho e termina com uma lágrima que não quer parar de escorrer pelos rostos da Zona Oeste.

Vamos ao ano de 1985 para tratar de um Esquadrão que ousou se formar para além da Zona Sul, longe do concreto Paulistano, afora das dinastias, Mineiras e Gauchas.

A série Esquadrões do Futebol Brasileiro vai até o subúrbio para falar do Bangu de 1985…

ZIRIGUIDUM 1985, UM TIME ESTRELAR

“Quero ser a pioneira

A erguer minha bandeira

E plantar minha raiz

A erguer minha bandeira

E plantar minha raiz

Nos meus devaneios quero viajar

Sou a Mocidade, sou Independente

Vou a qualquer lugar

(Eu sou)

Sou a Mocidade, sou Independente

Vou a qualquer lugar”

Quando Ney Vianna soltou a garganta para cantar os primeiros versos do samba “Ziriguidum 2001, Um Carnaval nas Estrelas”, o ano para Castor de Andrade pareceu ser bastante proeminente. Com um enredo luxuoso, metido à futurista e o escambau, a Mocidade Independente de Padre Miguel sagrou-se campeã do Carnaval de 1985


Castor de Andrade era só alegria.

O Barão do Jogo do Bicho, otimamente relacionado com todo primeiro escalão da Ditadura Militar, amigo pessoal do Presidente Figueiredo, havia tomado o comando tanto da Escola que acabara de sagrar-se campeã, quanto a frente do Bangu, time que outrora havia tido seu pai, o Velho Eusébio de Andrade, como Presidente.

Com a chegada de Castor, o Bangu deixou de ser um time mediano, coadjuvante no futebol carioca. Ele acabou com o Romantismo tanto nos negócios do pai, como também na gestão do clube. Com ele, o time passa a ser administrado de maneira profissional, firme. O time passa a ter investimentos e já no seu primeiro ano como diretor, em 1966, vem o titulo de campeão carioca daquele ano.

A partir da metade dos anos 70, Castor vira Presidente de Honra, tanto da Mocidade Independente, quanto do Bangu. Daí, chegamos na história que contaremos hoje…

O GIGANTE DA ZONA OESTE, DE VERDADE!

O Bangu havia sido um mero participante do Brasileirão em 1984.

Ali pelo meio da tabela, sem incomodar ninguém, sem chamar muito atenção. Mas o Seu Castor não era um homem muito dado à descrição e para 1985, muda isso pra valer.

Com a chegada de jogadores como Mario, Ado, Lulinha, Israel, o centroavantão João Claudio e o craque Marinho, o time de Moça Bonita entra no Campeonato Brasileiro para arrebentar e consegue de cara, com uma primeira fase irretocável.

Foram 14 vitórias, 5 empates e apenas 3 derrotas na primeira fase da competição.


Para a fase de classificação, um grupo enroscado com o Mixto do Mato Grosso, além de Vasco e Internacional. O Bangu jantou com todo mudno! Foi 3×0 no Vasco, 4×1 no Mixto, 2×1 no Inter em Porto Alegre e quando o País acordou, o Bangu estava numa das semifinais mais insólitas da história do Campeonato Brasileiro, contra o Brasil de Pelotas.

Foram dois passeios!

Em Porto Alegre, o Bangu venceu por 1×0 e no Rio, um baile de bola, 3×1 no Placar em um show de Marinho e Ado. Pois é:

Ado…

AO 11 COM AMOR

São muitos os mistérios que circundam as marquises de sonhos e odes do futebol.

Paradoxalmente, uma partida de futebol não se faz na exatidão de um ponto final, frio e calculista ao término de uma equação. Não se desvenda esses mistérios a partir de fórmulas, soluções, magias ou feitiços. O futebol tem para sim uma imprevisibilidade que o aproxima demais do que é a vida da gente. Por isso é algo grandioso, épico e também cruel.

Após aquele 1×1 da final em jogo único contra o time do Coritiba, o Bangu poderia ter sido campeão se o árbitro Romualdo Arpi Filho não tivesse feito a cagada de anular um gol de Marinho. Gol legitimo! Poderia ter virado o jogo, após o empate que veio com Lulinha. Ninguém mais lembrava do gol de Índio de falta.

O Bangu foi melhor o tempo todo. Mas o futebol tem os mistérios que falei, lembra? Ele se fez na disputa de pênaltis.

Prorrogação empatada, cobrança de pênaltis empatada, série alternada começando com o Bangu abrindo as cobranças; 5×5 no final, ninguém errou. Nas alternadas, o Bangu começa e aí chega a vez de Ado…

Era o melhor jogador do Brasil em 1985. Canhoto, habilidoso, inteligente, cotado para se transferir para grandes clubes, seleção brasileira, o camisa 11 de Moça Bonita estava voando. Quando o técnico Moisés o designou para a sexta cobrança, o craque, já sem ataduras, sem as chuteiras, sem o mesmo poder de concentração, veste todo o equipamento e vai.

Do centro do meio campo até a marca do Pênalti, Ado caminha para aquele que viria a ser o maior calvário da sua vida. A cobrança:


Rafael Camarota de um lado, bola ao lado da trave, explodindo nas placas de publicidade. Pra fora. Os mistérios todos que rondam o futebol são presentes aqui também. Não sabemos o que se passou na cabeça de Ado, a única coisa que vi dele naquela noite foi o tanto de lagrimas que desceu por seu rosto.

A dor de um cara digno, de um jogador que também é trabalhador, pai de família, torcedor e que ainda por cima tem que por fim jogar o jogo e decidir está aqui sendo respeitada por essa coluna.

O pênalti de Gomes, em seguida deu o caneco ao Coritiba. Sabemos. Mas a coluna Esquadrões do Futebol Brasileiro vai terminar hoje de uma maneira diferente, vai sair do protocolo, homenageando sim o ótimo time do Bangu de 1985, mas será dedicado para outro fim:

Ado, nós não podemos aqui dar a você o titulo de 1985. Mas com todo prazer do mundo, a série Esquadrões do Futebol Brasileiro homenageia você, glorifica as suas lágrimas, saúda a grandeza que tem em ti, para além de jogador, como pessoa ótima que você sempre foi e segue sendo.

Humildemente, esse jornalista dedica a coluna de hoje a você, Ado. Obrigado por tudo

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