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A FILA AUMENTA EM 1982

1 / outubro / 2018

por Marcelo Mendez

Todo mundo parecia muito feliz naquele primeiro semestre de 1982.

O Brasil vivia um clima de abertura com o afrouxamento da ditadura militar, o sol era forte naquele verão, a Blitz estourava nas rádios com o hit “Você Não Soube me Amar”, Chacrinha balançava a sua pança muito contente nas tardes de sábado na televisão e a Seleção Brasileira de Futebol era só espetáculo.

Tudo ia bem pra todo mundo. Menos pra mim…

Se tratando de futebol, algo que era absurdamente importante pra mim naquele ano em que eu completaria meus 12 anos de vida, as coisas iam clamorosamente más.

Meu time de coração, meu Palmeiras, Alviverde que cantava ser imponente, já não me parecia tão imponente assim naquele ano. O time havia feito uma campanha péssima no Campeonato Brasileiro do primeiro semestre e quando fui me queixar a meu Pai e a meu tio João, eméritos Palmeirenses, imediatamente trataram de me consolar:

– Calma, Filho. É que todo mundo só pensa em Copa do Mundo agora. Depois dela, tudo vai melhorar! – diziam-me.

Bom, não sei se eu acreditei totalmente nisso há época, mas decidi esperar.

Todavia em Julho daquele ano, a Itália de Paolo Rossi varreu com nossos sonhos na Espanha. O sonho por lá, acabou. As atenções então se voltaram para os campeonatos regionais. A minha também…

Você não soube me amar…

As coisas iam de mal a pior.


O Campeonato Paulista havia começado e o Palmeiras que estreou empatando com o Marília, conseguiu a proeza de perder em casa para o Taubaté, depois perder para a Inter de Limeira, empatar de 0x0 com o Santo André…

– Ta errado isso aí, Pai!

Era um ritual. Toda a vez que o Palmeiras me aprontava eu ia me queixar com meu Pai, depois pedia liberação para minha mãe para ligar para meu tio. Oras, eles haviam me dito que isso ia mudar, num se diz uma coisa dessas para um menino de 12 anos. Fui lá e cobrei. Talvez por conta disso, eles decidiram então me presentear:

– Vamos no Morumbi, Filho. Eu, você e seu Tio João. E vamos ganhar do Corinthians!

Na hora do anúncio, fiquei tão feliz, que nem me atentei para o que o Pai havia dito; “Ganhar do Corinthians”. Uns dias depois eu lembraria…

Silêncio no opala!

Nas numeradas inferiores do Morumbi, vi de pertinho o time deles.

Tinha Sócrates, craque de bola, Zenon, Casagrande, Biro Biro, Ataliba, Paulinho, Vladimir. O nosso, havia repatriado Luis Pereira, o Grande Luizão. Mas isso não seria suficiente. O Corinthians abriu o placar com Biro-Biro e o Palmeiras empatou com Jorginho. E isso pareceu piorar as coisas.

O time deles, que estava levando o jogo preguiçosamente, pareceu ter acordado na hora de nosso gol de empate. Imediatamente, trataram de virar o jogo com um pênalti idiota cometido pelo volante Rocha. Depois disso, só desastre.


Com o Goleiro Gilmar expulso, o Palmeiras com um jogador a menos; vimos Casagrande deitar e rolar em cima de nossa zaga. O 9 deles marcou o terceiro, o quarto e o quinto gol. Um 5×1 humilhante.

Na numerada onde estávamos, a torcida corintiana do nosso lado, gritava olé, tirava onda e nós, estarrecidos, assistíamos aquela surra de bola. Com meus 12 anos, minha camisa verde número 10, meu cachorro quente atravessado, sentia um misto de tristeza profunda, com raiva. Era um absurdo, o que tinha acontecido.

No carro, enquanto voltávamos, a dupla formada por meu pai e meu Tio João, percebendo que eu não estava muito bem, tentou me consolar novamente:

– Marcelo, calma. O Campeonato ta só começando…

– Escuta aqui, vocês dois; Não me falem mais nada!

Resolutos, não me disseram. O silêncio se fez no carro.

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