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A DESPEDIDA EM SÃO PAULO, A FESTA QUE NÃO HOUVE E VAIAR ZICO, JAMAIS!

9 / maio / 2018

por Marcelo Mendez

28 de Fevereiro de 1982, o Dia…

Era um daquele domingos clássicos.

O cheiro da manhã na Quebrada, uma mistura de orvalho, com os temperos da mãe que já preparava as coisas do almoço, misturado com a fritura das bancas de pastel e das máquinas de frango, o caminho pelo bairro até o campo do Nacional era algo lúdico pra Fellini filmar. Ali nos encontraríamos, mas não para jogar. A peleja seria outra e em outro lugar.

Era a final do campeonato de Santo André na categoria mirim e o Nacional do Parque Novo Oratório enfrentaria o time da Pirelli, no estádio do Jaçatuba. Uma novidade para nós, uma molecada que cresceu correndo no terrão ao lado do cemitério e que ali, jantou todo mundo.

Chegamos na final do campeonato, com 2 gols tomados e mais de 40 feitos em 8 jogos. Os antigos da várzea que frequentavam a beira do campo apelidaram nosso time de “A Máquina” e acho que era bem pertinente. A gente entrava em campo pra passar por cima mesmo! Chegando na sede, vi a rapaziada e o primeiro que falei foi o Pedrinho:

– E aí, Marcelo? Dormiu?

– Porra nenhuma. Não consegui fechar o olho. Tem que começar logo esse jogo!

– É, vai ser difícil, time deles é bom…

 Nessa hora, o Batata, nosso volante chegou na roda ao ouvir a prosa:

 – Bom é o caralho, Pedrinho. Time bom é o nosso! Vamo logo lá ganhar essa porra!

 – Bora!

 Pouco depois, a Kombi que nos levaria até o Estádio do Jaçatuba, em Santo André, encostou. Nela, fomos nós, os jogadores, mais o seu Cido, Esquerdinha e o Ditinho roupeiro. Atrás de nós uma fila de alguns carros dos nossos pais, amigos e torcedores vieram nos seguindo. Impossível não se empolgar com aquilo tudo. Não tinha como dar errado…

Zico de presente…


 Aos 42 do segundo tempo, o placar da final era Nacional 6×0 Pirelli.

 Foi um baile de bola!

Naquele dia fiz três gols, os três primeiros. Carlão, o centroavante, fez dois e o Lidú, ponta esquerda, fez o outro, driblando a defesa da Pirelli, o goleiro, o gandula e toda a Santo André. Um golaço!

Com o apito do árbitro, festa no gramado, os pais e torcedores entraram no campo e abraçaram a gente.  Meu Pai, junto meus tios Bida e Zé, entrou junto, me abraçou, me levantou e já foi anunciando:

 – Filho, tu arrebentou! De presente, vou te levar pra ver o Brasil, quarta-feira no Morumbi!

 Nessa hora, o mundo começou a rodar na minha cabeça!

 – Sério, Pai? Eu vou ver o Zico de perto? O Éder? Vou mesmo???

 – Vai, sim! E vai comer lanche de pernil também!!!

 – Ebaaaaaaaaa!!!

 Dois tempos de uma mesma festa

O caminho para o Morumbi já era por si só uma grande viagem.

Sair do Parque Novo Oratório, para chegar do outro lado da cidade em 1982, era uma grande aventura que eu amava ver se concretizar. As luzes de São Paulo, o carro do Carlinhos, deixado lá longe, a procissão a pé, do lado de milhares de torcedores, Gentes como eu, ávidos por espetáculo, por sonhos, pela seleção que já já disputaria a Copa.

O jogo seria contra a Tchecoslováquia. Eles não se classificaram para a Copa, mas era um bom time. Além disso, a noite era toda especial.

Dia 03 de março de 1982 era aniversário do Zico, completando 29 anos, o jogo seria uma homenagem a Jairzinho, que estava se despedindo do futebol e o clima no Morumbi era ótimo. Parecia que nada seria estragado. Mas daí, um jogo precisava ser jogado…

O primeiro tempo tinha sido protocolar. O time nosso, que uma semana depois enfrentaria a Alemanha no Maracanã, jogou apenas para o gasto. Os Tchecos pouco faziam e a partida começou a ficar chata. No segundo tempo, mesmo com o gol do Zico nada mudou e a torcida começou a vaiar o jogo sem dó.


A cada bola que Roberto Dinamite pegava, vinha o estrondo das arquibancadas; “Uuuuuuuuuuuuuuuhhh”. Eu, que via tudo isso, não conseguia acompanhar a rapaziada.

Não passava pela minha cabeça vaiar o Zico. Seria algo contra tudo que eu já acreditava aos 12 anos, um atentado contra meus sonhos, um ídolo ali, esculachado por mim. Jamais!

Me coloquei numa espécie de transe e parei de ver e ouvir as coisas a minha volta. Ali no campo, distante apenas alguns metros de mim, estava o maior ídolo da minha vida. O maior dos jogadores, o camisa 10 que eu queria ser. Zico correu, suou, se esforçou o que foi possível, mas não conseguiu impedir a má sorte do placar final em 1×1 e todas aquelas vaias no final do jogo.

Indo embora, estando num clima completamente diferente daquele que foi a chegada, eu estava bem, estava feliz e pensava que muitas outras emoções viriam pela frente. Já, já começaria a Copa do Mundo.

E eu descobriria que a Tchecoslováquia seria o menor dos problemas. Quem dera fosse o maior…

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