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A BALADA DO CANELEIRO E O SOL DA VÁRZEA

12 / junho / 2017

por Marcelo Mendez


(Foto: Arquivo Pé de Meia)

Foram inúmeras as vezes em que saí de minha casa para cobrir jogos de futebol de várzea pelo ABCD pensando em clássicos filmes de western pelos mais variados motivos. Algumas vezes, devo concordar, que pelos mais previsíveis clichês. Afinal de contas essa é uma premissa que quase sempre persegue os cronistas ludopédicos e eu não fujo à regra nesse ínterim. Pelo contrário, até gosto.

O desafio consiste exatamente no fato de tornar essa coisa que aparentemente é óbvia, em outra, mais lúdica, mais interessante aos senhores caros leitores. Mas vamos lá…

Ao pegar chão para cobrir Americano x Família Bob Marley, pela rodada inicial da primeira divisão do Campeonato de Futebol Amador de Diadema, eu cheguei a pensar em algo assim como, “Era Uma Vez no Oeste”, do Sergio Leone, ou alguma coisa dirigida por Enrico Salermo, que ressalta-se a dureza do enfrentamento na Várzea, mas não…

Com 35 graus de temperatura à sombra, o que inevitavelmente me fulminava a mente era o classicão “Duelo Ao Sol” de King Vidor. E sem dó.

Os jogos do futebol amador são marcados para as manhãs de domingo, algo tradicional, bacana, eu entendo. Quando aconteciam às 10 da manhã até que dava para suportar tranquilamente, mas agora, com as partidas começando às 12 horas, fica beirando o insuportável.

Chegando ao Estádio do Serraria o que vi foram suores em bicas, garrafas de água em proporção, canseira extrema por parte das duas equipes e nada que me saltasse aos olhos em se tratando de “duelo”.

A partida era irritadamente óbvia. No entanto, quando eu já estava por lá a me preocupar com a eminência do nada absoluto que circundava a pauta naquele domingo de calor absurdo, houve uma parada técnica: enquanto o técnico do time da Família Bob Marley berrava arquétipos de uma tática necessária, infalível, rotunda e salvadora, eis que vejo um jogador o retrucando:

– Mas eu tô sozinho lá na frente, só chega bicão! Quero a bola no meu pé, pelo menos uma!

E o técnico responde:

– Mas você precisa se mexer…

E ele:

– Mais?? Você precisa colocar um meia perto de mim!

Olhei novamente. Vi que ao se afastar da resenha tática, o jogador camisa 9 saiu resoluto conversando com seus companheiros de time, explicando da necessidade de receber uma bola limpa. O jogo recomeça.

Na primeira chance que se tem, a bola então chega limpinha para ele. Ele corta o zagueiro, levanta a cabeça e bate… Nas nuvens! Sim, a bola chutada pelo atacante vai quase por cima das grades de contenção do estádio do Serraria.

– Valeu, Moacir! – grita o torcedor.

Moacir…

Com seu time perdendo por 1×0, Moacir lutava olimpicamente. Não é um craque. Não tem a finesse de um Careca, de um Van Basten. Mas precisa? De modo algum.

Na várzea, a insistência caneleira de Moacir dá ao sujeito comum da batalha do dia a dia, uma carga onírica, épica. Moacir corria pela grama sintética do campo do Serraria, com uma dignidade inexoravelmente bela! Correu, trombou, lutou por todas as querelas de bola que chegavam a seu ataque e como prêmio guardou duas!

Sim, fez dois gols, virou o jogo e foi consagrado o herói possível de ser na manhã/tarde de domingo. Dessa forma, Moacir foi um grande, embora talvez não tenha para si um imortal diretor de cinema a registrá-lo. Mas não sei se realmente precisa disso. Moacir é Grande para além do cinema:

É um grandioso na várzea e isso também o faz imortal…

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