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O MAIOR INJUSTIÇADO DO FUTEBOL BRASILEIRO

por Elso Venâncio

Garrincha, a ‘Alegria do Povo’, é o maior injustiçado do futebol brasileiro. Nos debates sobre os melhores da História, o nome do Mané é pouco citado. Perguntaram ao Gerson, seu companheiro no tricampeonato conquistado pela seleção na Copa de 1970, se Pelé foi o melhor jogador de todos os tempos:

“Não sei… Garrincha não jogou menos do que Pelé” – disse o ‘Canhotinha de Ouro’.

Na Copa do Chile, em 1962, Garrincha se tornou o maior jogador do mundo. Foi a mais brilhante atuação individual de um atleta na história dos Mundiais – à frente, inclusive, de Maradona na Copa do México de 1986.

A opinião de Paulo César Vasconcellos, comentarista do Grupo Globo, merece reflexões:

“É como se Garrincha não tivesse jogado as Copas de 1958 e 1962. Como se não tivesse feito o que fez”.

Paulinho completa:

“É um subestimado no mundo do futebol”.

No Mundial da Suécia, em 1958, após marcar três gols contra a França, na semifinal, Pelé recebeu dos franceses o apelido de ‘Rei do Futebol’. Juntos, Garrincha e Pelé jogaram 40 partidas pela seleção brasileira, entre 1958 e 1966, e nunca perderam. O ‘Anjo das Pernas Tortas’ foi o maior driblador da História. O ‘Charles Chaplin’ do futebol!

Em 1957, Botafogo e River Plate jogavam no México. Das arquibancadas surgiram gritos de ‘olé’, após os sucessivos dribles que Garrincha aplicou no lateral Vairo.

Com a namorada de infância Nair, com quem se casou, Mané teve nove filhas. Separou-se para viver um romance nacional com a famosa cantora Elza Soares, affair que durou 15 anos. Nilton Santos, seu amigo e compadre, volta e meia o buscava em Pau Grande, distrito de Magé, quando Garrincha desaparecia do Botafogo. Por lá encontrava o ídolo jogando pelada descalço, em campo de terra batida, ao lado dos amigos. Não estava nem aí para a fama ou para dinheiro. Queria apenas ser feliz.

Em 20 de janeiro de 1983, Garrincha faleceu, após vir enfrentando nas últimas décadas uma árdua e inglória luta contra o alcoolismo. No fundo, gostava mesmo era de caçar passarinhos. Não à toa, seu apelido veio do pássaro Garrincha, comum na cidade em que nasceu e viveu boa parte da vida.

Os mais jovens que se encantam com os craques midiáticos que surgiram graças às redes sociais e à globalização devem saber o que ele representa para o futebol. Muitos o consideram o maior jogador que surgiu no planeta. Superior até mesmo ao Rei Pelé.

O MAIS BRASILEIRO DOS CLUBES

por Zé Roberto Padilha

O Nova Iguaçu FC defende a essência do nosso futebol. Seus jogadores foram revelados nos mesmos laboratórios onde Garrincha e Pelé surgiram. São todos brasileiros e sempre jogaram por aqui.

Campos de terra batida, jogadores vindos das suas comunidades carentes, cujos atletas por não ter acesso à saúde, educação e um Playstation da Sony, só tem na cumplicidade da bola um sopro de esperança para reverter a má redistribuição de rendas que atingiu às suas famílias.

O Vasco buscou argentinos, franceses, e quem mais pudesse manter seu alto nível técnico e fazer bonito no estadual. O Vasco é um time, como o Flamengo, que precisou importar Arrascaeta, Pulgar e De la Cruz, o Fluminense, de Arias, o Botafogo de Savarino, que precisou acessar a Shopee para manter o nível técnico da competição.

E assim Dorival Jr. vai ter que optar. Ou busca na Europa os que chegaram craques e foram moldados a serem iguais a eles, ou vai para uma Copa do Mundo carregando o talento e o improviso dos que nos conduziram a alcançar a hegemonia do futebol mundial.

E se inspirar no Nova Iguaçu FC, cujos jogadores falam a língua da gente, fazem compras nos Supermercados Guanabara e são capazes de ousar um drible enquanto os outros o evitam.

Nossas raízes estão nos pés do Nova Iguaçu. Boa sorte para todos nós que não desistimos de ter a criação como diferencial que nos reconduziu ao topo dos melhores do mundo.

AS FINAIS DO CAMPEONATO BRASILEIRO DE 1996

por Luis Filipe Chateaubriand

No ano de 1996, as finais do Campeonato Brasileiro foram disputadas pela Portuguesa e pelo Grêmio.

A Portuguesa se classificou às finais ao superar o Atlético Mineiro nas semifinais.

O Grêmio se classificou às finais ao superar o Goiás nas semifinais.

O primeiro jogo das finais foi realizado no Estádio do Morumbi, em São Paulo, com mando de campo para a Portuguesa.

A Portuguesa venceu por 2 x 0 gols de Gallo, no primeiro tempo, e de Rodrigo Fabri, no segundo tempo.

O segundo jogo das finais foi jogado no Estádio Olímpico, em Porto Alegre, com mando de campo para o Grêmio.

O Grêmio venceu por 2 x 0, gols de Paulo Nunes, no primeiro tempo, e Ailton, no segundo tempo.

Com os resultados, o Grêmio se sagrou campeão brasileiro pela segunda vez.

O PODER DA CRIAÇÃO

por Zé Roberto Padilha

“Não, ninguém faz samba só porque prefere

Força nenhuma no mundo interfere

Sobre o poder da criação!”

Essa é uma pérola da dupla João Nogueira e Paulo César Pinheiro. Uma pena que no futebol, ao contrário do samba, há uma força estranha pairando sobre o poder da criação. Tem anos que o futebol brasileiro não revela um camisa 10 à altura da sua história.

Se a Revista Placar tivesse elegendo o melhor Bola de Ouro na posição, os que estariam liderando seriam dois uruguaios (Arrascaeta e De la Cruz) , um Colombiano (John Arias) e um francês (Payê). Cadê os nossos?

Tenho uma pista. Nas divisões de base, onde a formação dos craques eram prioridades, agora o que importa são conquistas. Trabalhei 4 anos em Xerém. Além de formar, o clube precisa ser campeão. Levantar o Sub15, o Sub17 e o Sub20.

Resultado: os treinadores caem também. E no nascedouro, como sobrevivência, tratam de abrir mão da liberdade de criação, a ousadia de um drible, a natural “irresponsabilidade” de dar uma caneta na intermediária.

Marca! Pega! Abafa…são orientações que o Gerson , o Canhotinha de Ouro, só ouviu no profissional porque o Neca o deixava livre pra criar. Sorte nossa que, no México, seu arsenal já havia sido conquistado.

Pinheiro, nas divisões de base do Flu, deu total liberdade ao Edinho. Um zagueiro cheio de ousadia e virtudes. Hoje, se passasse do meio campo seria afastado. E multado. Jamais chegaria à seleção.

Chegou não, passou da hora de dar liberdade aos meninos que chegam ao Ninho do Urubu, Xerem, Toca da Raposa. Títulos são objetivos profissionais. Para os amadores, força nenhuma poderá impedir o poder da criação.

Caso contrário, vamos continuar indo ao aeroporto esperar mais um camisa 10 importado. Aquele que outrora dava por aqui igual chuchu na serra.

UM ADEUS SEM DESPEDIDA

por Marcos Vinicius Cabral

Leandro, nos juvenis do Flamengo, treina contra o ídolo Zico, na Gávea

No mundo real, algumas pessoas não gostam de despedida. Faz parte da personalidade delas. Mas em se tratando de um jogador de futebol, sair do tablado verde sem o gran finale e com a plateia sentada nas cadeiras de concreto das arquibancadas sem prestar o último aplauso, soa como desaforo.

Torcedores, até hoje, vivem se questionando o que leva craques de futebol a não se despedirem quando penduram as chuteiras.

Leandro, ex-lateral-direito do Flamengo e Seleção Brasileira, que neste domingo, 17 de março, celebra 65 anos, é um deles. O craque saiu de cena sem receber o merecido (e bota merecido nisto!) aplauso.

Seria o último. Mas o Peixe-Frito não nos deu esta chance. O camisa 2 rubro-negro que chegou ao Flamengo naquele 1976 como lateral-esquerdo, realizou quatros treinos e, aprovado por Valter Miraglia, se apresentou a Américo Faria com as armas que tinha (chuteira três números acima do que calçava, short apertadíssimo e meiões enlarguecidos) para vencer aquela batalha.

Américo sabia que estava diante de um grande soldado. Não teve jeito. Ele e o cabeça de área Vitor, campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes pelo Flamengo, em 1981, foram aprovados e passaram a integrar os juvenis do clube. As guerras, dali por diante, seriam a profissionalização, os títulos, e o reconhecimento.

Receber a toalha de Bolinha, roupeiro à época, para se enxugar do banho após os treinos em que o menino de Cabo Frio fazia no clube de coração, era batalha vencida.

Mas Leandro fechou as cortinas do espetáculo que por muitas vezes foi protagonista. Ator principal. Enredo escrito por um destino que esqueceu de colocar no roteiro uma Copa do Mundo. Nem sempre a melhor história leva a estatueta do Oscar como melhor filme.

No mínimo, Leandro deveria ter feito um jogo de despedida para que a torcida, não apenas a rubro-negra, mas as que apreciam o futebol do craque que foi, pudessem prestar reverências e agradecimentos pelas jogadas espetaculares, dribles sensacionais, golaços inesquecíveis e glórias alcançadas ao longo da carreira.

Pelé teve não só uma, mas várias despedidas. A mais marcante no dia 1º de outubro de 1977, quando vestindo a camisa do NY Cosmos enfrentou justamente o Santos, clube que o projetou. Na plateia de mais de 75 mil espectadores, e nomes importantes como o então presidente americano Jimmy Carter e a lenda do boxe Muhammad Ali.

Cinco anos antes, Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas, mesmo que tardiamente, se despediu também quando fez o último jogo como profissional. Foi em um amistoso realizado no dia 7 de setembro de 1972 entre Olaria e Caldense, em Poços de Caldas (MG).

A reboque vieram Zico, no inesquecível 6 de fevereiro de 1990, em pleno Maracanã. Roberto Dinamite, cujo nome virou sinônimo de saudade e nome do troféu para artilheiro do Brasileirão, também disse adeus ao futebol quando conseguiu a façanha de fazer Junior e Zico vestirem a camisa do Vasco, em 1993, contra o La Coruna de Bebeto.

Já Romário contra a Guatemala, em 2005, e Ronaldo Fenômeno contra a Romênia, em 2011, amarraram o cadarço das chuteiras pelo última vez e deixaram o legado de gols. Muitos gols. Diversos, inúmeros, incontáveis.

Mas Leandro foi na contramão deles todos. Deveria ser lei ou cláusula obrigatória no contrato que jogadores representativas e divididos entre o amor ao clube e a paixão irrestrita ao torcedor numa fumaça atmosférica de congraçamento, jogassem, pela última vez, uma partida festiva de futebol.

Um adeus sem despedida, como Leandro fez, é uma bala perdida que atinge o coração do torcedor que muitas das vezes atrasou a prestação da geladeira para comprar ingresso e vê-lo brilhar com o Manto Sagrado nos ‘Maracanãs’ da vida.

Um adeus sem despedida é privar o torcedor de derramar lágrimas pelo desaparecimento físico do jogador que tanto ama.

Um adeus sem despedida é pior do que morder a maçã no Jardim do Éden e cometer o pecado adâmico que o primeiro homem que existiu na face da Terra de nome Adão fez.

Mas Leandro, que assinava contratos em brancos por amor ao Flamengo, que colocava bolsas e mais bolsas de gelo nos joelhos nos intervalos das partidas, que recusou e nem quis saber das propostas de clubes interessados em contratá-lo, surpreendentemente, disse um “adeus” sem despedida.

O Pelé da lateral-direita que vestiu apenas as camisas do Flamengo e Seleção Brasileira não teve tal jogo. Leandro, dono de uma técnica refinada, bailarino em solo verde mundo afora, marcou época defendendo o Flamengo, tornou um clássico como sendo dele – refiro-me ao Fla-Flu do Leandro, em 1985 – e aposentou as chuteiras. Fez isso na escuridão e sem a luz que resplandeceu o futebol lindo que jogou por 14 anos. Catorze este, que foi o número de gols que fez em toda carreira.

Mas o Peixe-Frito, chamado pelos amigos mais chegados, não nos deu a oportunidade em dizer: “Muito obrigado, Leandro!”. Não deu a chance de um jogo festivo pelos relevantes serviços prestados à causa do futebol. Sem um adeus, até a lembrança da última vez em que esteve em campo contra o Bangu, em Moça Bonita, pelo Carioca de 1990, foge da memória e vai se afugentar em meras estatísticas de recortes nos jornais da época e sites atuais.

Com a camisa do Flamengo, o senhor José Leandro De Souza Ferreira, nascido no dia 17 de março de 1959, na Casa de Saúde São José, no Humaitá, Zona Sul do Rio, realizou 414 partidas. Destas, venceu 239, empatou 98 e perdeu 77.

Desde a estreia contra o América, pelo Campeonato Carioca, em 22 de março de 1978, até o nefasto 7 de março de 1990, contra o Bangu, em Moça Bonita, Leandro, o Peixe-Frito, conquistou títulos, honrou o Manto Sagrado e adquiriu o respeito que só quem valoriza o Flamengo merece.

Mas se não quis dizer “adeus” em uma partida de exibição, coube a mim, Marcos Vinicius Cabral, convencê-lo a contar um pouco da história linda que construiu dentro de campo em um livro.

Em breve, eu e Sergio Pugliese estaremos lançando a obra literária que tem como título provisório ‘2 de Ouro da Nação’. O livro conta um pouco da infância do craque que nasceu no Rio e não em Cabo Frio como muitos pensam. Fala também da chegada ao Flamengo, momentos inesquecíveis como os títulos conquistados, a consagração de um dos maiores laterais de todos os tempos do futebol brasileiro, e o melancólico Bangu e Flamengo, em Moça Bonita, em 1990. Mas tem muito mais. Tem a injustiça (e única em toda carreira) expulsão contra o mesmo Bangu, em 1983. O árbitro? Arnaldo César Coelho, responsável pela proeza.

Mas Leandro mereceu joelhos melhores. Quis Deus que os problemas não fossem impeditivo para desfilar elegância e técnica refinada por mais tempo nos campos de futebol.

Uma pena, uma pena mesmo, que isto tudo foi em um adeus sem despedida.