MARCAS E SUAS ESTRATÉGIAS – ATLETISMO PARIS
por Idel Halfen

Assim como foi feito em relação aos Jogos Olímpicos de Londres, do Rio de Janeiro e de Tokyo, apresentamos a seguir uma análise baseada no estudo produzido pela Jambo Sport Business sobre as marcas esportivas que vestiram os 200 países participantes das competições de atletismo nos Jogos de Paris 2024.
A quantidade de equipes, considerando que o time de refugiados seja uma delas, subiu de 197 para 200. O número de atletas caiu de 2.179 para 2.018, já a quantidade de marcas aumentou de 32 para 37, sendo que 25 equipes não apresentaram fornecedores de material esportivo, as quais abrigaram 77 atletas.
A Nike se manteve como a marca mais presente, enquanto a Puma assumiu a vice-liderança, ambas tanto em equipes como em atletas.

Das 37 marcas que apareceram nos uniformes das 200 equipes que disputaram o atletismo em 2024, dez subiram pelo menos uma vez ao pódio, sendo que representantes de times sem “patrocínio” também conquistaram medalhas.
Vale lembrar que doze marcas tiveram atletas ganhando medalhas em Tokyo e treze no Rio. Tais números podem indicar que poucas marcas possuem capacidade para investir nas equipes com mais chances de medalhas, visto que, provavelmente, requerem mais verbas.
A Nike foi a marca com mais medalhas de ouro, quatro a mais do que em 2020, além disso, lidera em quantidade de prata e de bronze. A Puma permaneceu como a 2ª marca em conquistas de ouro e a Adidas ficou em 3ª desbancando a Asics que ficou na 4ª posição. No computo geral de medalhas, as três principais marcas são Nike, Puma e Adidas, sendo que dessas só a marca das três tiras cresceu em relação à edição anterior.
A análise não considerou os investimentos financeiros por parte das marcas de material esportivo, já que eles não costumam ser revelados, todavia, acredita-se que grande parte das equipes obteve apenas o fornecimento do material específico.

Em relação aos Jogos do ciclo anterior, houve 109 alterações de marcas nos uniformes das equipes. No comparativo Tokyo em relação ao Rio tinham sido 120. Nessas incluem-se também as equipes que não tinham fornecedor e passaram a ter, e vice-versa, além das trocas propriamente ditas entre fornecedores.
As principais mudanças ocorreram nas seguintes equipes: França (de Asics para Adidas), Itália (de Asics para Joma), Brasil (de Nike para Puma), Nigéria (de Afa Sports para Acitively Black), Rep. Tcheca (de Nike para Joma), India (estava sem fornecedor em Tokyo e competiu com JSW em Paris) e Ucrânia (de Asics para Puma). As demais mudanças foram em equipes com menos de 20 atletas.
As marcas que mais conquistaram times foram: Adidas e Puma (14 cada), Nike (11), Joma (9), Asics (8), Mizuno (7) e New Balance (6). Onze equipes que tinham fornecedor ficaram sem nenhum. Já as que mais perderam foram: Nike (24), Adidas (15), Mizuno (12) e Asics (9). Dezesseis times que não tinham fornecedor em 2020 passaram a ter em 2024.
Sem entrar no mérito do investimento financeiro, o estudo, que será publicado em 14 de maio no LinkedIn, sugere também, com relativo grau de assertividade, quais foram as estratégias das principais marcas esportivas.
RESERVA AMARGA
por Elso Venâncio

Você apostaria na recuperação do Gabigol, que chegou a ser considerado por muitos, depois do Zico, o maior ídolo do Flamengo?
O Cruzeiro demonstrou força no Campeonato Brasileiro ao entrar no G4, após ter vencido o Flamengo, em casa, e goleado o Sport Recife por 4 a 0, em ritmo de treino, na Ilha do Retiro. Kaio Jorge, um pernambucano de 23 anos que começou a fazer sucesso na base do Santos, voltou a marcar e ser destaque, sendo o responsável por Gabigol estar no banco de reservas.
Contra o Sport, Gabigol entrou aos 16 minutos do segundo tempo, já com o placar definido, e pouco tocou na bola. Estranho ver o atacante impetuoso, que chegou ao Flamengo fazendo gols e conquistando títulos, hoje disputando posição no novo clube.
Gabriel Barbosa foi anunciado pelo Cruzeiro no início da temporada, com o status de maior salário do futebol mineiro, superando o de Hulk, do rival Atlético, e com patamar semelhante ao de Memphis Depay, no Corinthians. Vale lembrar que o Cruzeiro não repetiu os erros do Flamengo, que não deu limites ao atacante. Este, por sua vez, enfileirou indisciplinas e ficou desmotivado com a chegada do desafeto Tite.
Não dá para esquecer que Gabigol foi decisivo em duas Libertadores. Na de 2019, fez os gols da vitória rubro-negra sobre o River Plate, numa das maiores viradas da competição. Já em 2022, voltou a ser decisivo, contra o Athletico Paranaense, e chegou a ser considerado, depois de Zico, o maior ídolo do Flamengo. Acabou não suportando a pressão e o protagonismo no Flamengo.
No Cruzeiro, o técnico português Leonardo Jardim tratou Gabigol e Dudu, contratados a peso de ouro, além de outras estrelas que chegaram, da mesma forma que os jovens do elenco: “Quem não jogar com intensidade vai para o banco”. O mister tem 50 anos. Começou a carreira aos 27, dirigindo a Associação Desportiva Camacha, e ficou por cinco temporadas no cargo. Em seguida, passou por alguns clubes na Europa, trabalhou na Grécia e na Arábia Saudita. Foi ele o responsável por lançar Kylian Mbappe, no Monaco. Na época, Mbappé tinha 16 anos.
O bilionário Pedro Lourenço, do Supermercado BH, pagou em torno de R$ 600 milhões a Ronaldo Fenômeno por 90% das ações do Cruzeiro. Em seguida, investiu mais de R$ 200 milhões no futebol. Recentemente, criticou o CEO, Alexandre Mattos, por erros em contratações. Dudu, ao contrário de Gabigol, se rebelou com a reserva. O Cruzeiro ainda irá pagar R$ 15 milhões parceladamente, enquanto Dudu vai jogar no Atlético Mineiro, já que, de forma surpreendente, não houve obstáculos para a transferência. Dudu vestirá a camisa 92, em alusão à maior goleada do Galo em cima da Raposa: 9 x 2.
Sobre Gabigol, para ser titular, terá que se cuidar e manter o foco. Só assim, voltará a ser o artilheiro e ídolo, que deixou saudade em muitos torcedores nos clubes pelos quais passou.
A CAMISA 9 É UMA ESPÉCIME EM EXTINÇÃO
por Zé Roberto Padilha

Se a gente não acompanhasse de perto o fato de um hábil camisa 10, um dos últimos da penúltima safra, Arrascaeta, se tornar artilheiro do Campeonato Brasileiro, ia parecer estranho.
Porém, todo mundo sabe que o camisa 9 acabou. E se não tem mais centroavante brasileiro, só Cano e Vegetti por aqui, a solução foi avançar uma peça talentosa. E colocar o bonde no banco.
Pois se o Nunes não tem mais, Reinaldo só nos sonhos e Roberto Dinamite seria até covardia se aparecesse um igual, neste momento de extinção, a solução inteligente do Filipe Luis foi avançar quem sabe jogar.
Fechem os olhos e imaginem o Flamengo sem o Arrascaeta. A bola girando de um lado para o outro, e todos eles esperando uma brecha para entrar na área. Mas vão precisar de alguém com talento para descobri-la. Sabe quem?
Neste instante, de muita posse de bola e pouca inspiração, é que Arrascaeta se sobressai. Pois se Rivelino encontrava o Manfrini para tabelar, Pelé, o Tostão. Zico, o Claudio Adão, e Assis, Washington, Arrascaeta encontrou a si mesmo.
Depois de Bebeto e Romário, perdemos gols e Copas do Mundo porque a camisa 9 é uma espécime em extinção.
E não foi por falta de tentativa. O Fluminense contratou Lelê, o Flamengo trouxe Carlinhos. Ambos foram revelações dos estaduais. E, agora. Jorginho. Que não penetram, nem tabelam. Ocupam espaços. Fecham ainda mais o acesso ao gol.
E se a camisa 9 é o novo boto cor-de-rosa, melhor conservar Arrascaeta. Arias, Savarino e Almada em barris de Carvalho. Antes que o futebol acabe.
ELA REZA
por Claudio Lovato Filho

Ela reza. Pelo menino. Seu menino joga bola, seu menino é jogador. Ela não entende de futebol. Nada. Quase nada. Mas ele está lá, metido naquilo, e é disso que ela entende, entende do seu menino. Ela reza para que ele não se machuque. Para que o técnico não o persiga. Reza para que ele não faça inimigos, e, se os fizer, para que eles se tornem pó, poeira no vento, antes que consigam agredir-lhe o corpo e, principalmente, a alma. Reza para que ele não caia na conversa dos falsos amigos, e, se falsos amigos um dia conseguirem se aproximar dele, que sejam como os morcegos, que fogem ao ver a luz, a luz do seu menino, que é forte, que vem de cima, que vem do lugar mais alto que pode existir. Ela reza, todos os dias, várias vezes por dia, segurando com suas mãos de jovem-velha o terço que carrega no pescoço. Assim ela reza. E, por vezes, sempre que o menino consegue um grande feito – um gol, ou mais de um, ou tem uma atuação elogiada na TV, na rádio e na internet –, ela sente que o medo, mesmo que por instantes, abandona-lhe a alma e é substituído pela alegria, pelo orgulho e pela gratidão, sobretudo pela gratidão. Ela reza porque seu amor pelo menino é tão grande que só pode ser manifestado assim, em oração. Ela reza como se a insistência de seus pedidos fosse a garantia de que Deus jamais se esquecerá dele, do seu menino. Ela reza porque ama, e seu amor é uma oração, a oração mais forte que já existiu, a oração fadada a ser aquela que nenhuma outra pode superar, a oração das orações. E ela, mais uma vez, segura firme o terço, enquanto o homem da TV diz que seu menino acabou de dominar a bola no meio de campo e que avança de cabeça erguida para cima de seus marcadores numa velocidade “impressionante”, assim diz o homem da TV, “velocidade impressionante”, e então ela sente o coração e o mundo pararem de repente, e ela apenas olha para a tela, pensando, em menos de uma fração de segundos, que tudo o que ela podia fazer está feito.
SUPERSTIÇÕES BOTAFOGUENSES
por Wesley Machado

O título parece redundante, afinal o botafoguense é supersticioso por excelência. Que o digam Carlito Rocha e Eduardo Trindade, entre outros. Alguns dizem que deixaram a superstição de lado após o incrível ano de 2024. Às vezes penso que a ficha ainda não caiu. Será que fomos mesmo campeões da Libertadores e do Brasileiro?
Este ano está bem diferente. Vamos indo aos trancos e barrancos. Em um jogo vesti a camisa do Fogão que comprei na saída no Niltão. Não deu sorte. Perdemos. Andei ouvindo jogos no rádio, que ano retrasado surtiu efeito em um clássico da rivalidade. Nada feito.
Pois que ontem parti para a casa dos meus pais com minhas duas filhas. Lá ao menos vi um gol em um empate recente mesmo tendo um gato preto passado na minha frente. Evitei ir ao banheiro porque em uma dessas saídas tomamos o gol há um tempo atrás.
O jogo se complicou e íamos empatando com o Carabobo. Só o Botafogo para jogar com um time com um nome piada pronta desses. Minha irmã saiu da sala para ver se era isso. Eu tirei o casaco. E não é que saiu nosso gol da vitória?
Meu pai não gostava da camisa branca. Mas foi de branco que conquistamos a América pela primeira vez. Um amigo só aprovava meião cinza. Mas mudamos. O que não muda é o fato de eu ser um botafoguense supersticioso. Redundante?