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UM PAÍS PASSADO A LIMPO

entrevista: Sergio Pugliese | texto: Marcos Vinícius Cabral | fotos e vídeo: Guillermo Planel | edição de vídeo: Daniel Planel

Era final de maio e, ao sair para trabalhar, fui interpelado pelo Naldo, dono com seu sócio Ailton do mercado Carijó há 20 anos, na esquina da rua onde moro, aqui no Boa Vista, em São Gonçalo:

– Marquinhos, você tem que dar uma moral ao País! – disse apertando meu ombro esquerdo.

Por alguns segundos, pensei em o que significava “dar moral”, porém, antes de engatar a primeira marcha, ele de bate pronto mandou:

– Você não escreve pro não sei o quê da Pelada? – perguntou em tom Hitleriano sem saber que apenas colaboro.

– Sim, querido! Escrevo. Mas o que você quer que eu faça por ele, uma matéria? – perguntei já sabendo a resposta.

Ele se virou de costas,  atravessou a rua e gritou:

– Passa na casa dele mais tarde! – sugeriu apontando  com o dedo indicador a direção da casa do lendário goleiro do América-RJ na década de 70.

Fui trabalhar e, na hora de almoçar, por volta das 13h, resolvi dar uma passada na casa do goleiro que quase foi vendido ao Atlético de Madrid depois de fazer chover com defesas acrobáticas na vitória do Mecão, em 1977, no Torneio Teresa Herrera, disputado na Espanha.

Parei com meu carro em frente à sua casa e buzinei duas ou três vezes no máximo.

O portão de madeira se abriu e era País, com seus quase dois metros de altura (na verdade ele tem 1,87) e com sua magnificência dos tempos de atleta.

A generosidade que sempre o acompanhou enquanto foi jogador de futebol ficou escancarada ao beijar a minha mão, como agradecimento, após eu ter falado que faríamos uma matéria com ele.

Em seguida, liguei para o Sergio Pugliese e ao comentar com ele sobre fazer uma matéria com o País, ouvi do outro lado da linha:

– Sen-sa-ci-o-nal, marca com ele no primeiro sábado de junho, que iremos em São Gonçalo fazer! – disse um entusiasmado garimpador de histórias.

Então, voltei à casa de País e marquei com ele, que apesar do ceticismo demonstrado em seu olhar, fez um sinal de joia com sua enorme mão.

Dito e feito.

A equipe do Museu da Pelada chegou naquele sábado (3) para uma resenha muito especial.

Na varanda de sua casa, na rua Marajó, próximo à BR-101, um pouco antes do Piscinão da cidade – desativado há anos – País falou de tudo um pouco.

E não deixou de contar, por exemplo, do começo de carreira, na década de 70, quando contra o Flamengo pegou uma falta na gaveta cobrada por ninguém menos que Zico, sendo inclusive parabenizado pelo Galinho após a partida.

E também aos risos, contou que no encontro seguinte contra o camisa 10 rubro-negro, duas faltas bem cobradas e indefensáveis, fizeram com que ele após a partida retribuísse o gesto do jogo anterior, e ao apertar a mão da jovem promessa do clube da Gávea, reconhecesse nele, o maior batedor de faltas do futebol brasileiro.

De tudo o que foi conversado, a maior mágoa foi não ter sido vendido pelo presidente Wilson Freire Carvalhal para o Atlético de  Madrid, podendo ter feito, sua independência financeira.

O papo rendeu tanto, que um dos maiores goleiros da história do América-RJ, recebeu uma caricatura feita por mim, enquanto falava de suas inúmeras defesas ao longo da conversa.

Sem contar o rico material fotográfico, que será carinhosamente digitalizado pelo Museu da Pelada.

Imperdível aos que gostam de uma boa resenha.

Marcos Vinícius, Márcio Soares Figueiredo, País e Guillermo Planel